quinta-feira, 31 de dezembro de 2020



 ... não resisti...

Sorry...

(Mas eu ri-me :D e enquanto nos rirmos há esperança!)



A todos os que aqui passam espero que o 2021 seja um bom ano, que o vivam melhor e o saboreiem mais, com mais intensidade e vontade, depois de tudo o que devíamos ter aprendido neste que hoje se enterra, sem saudade ( e no entanto, talvez aquele que mais nos poderia ter ensinado, curioso, não?)

Hoje é o dia de começar a dizer que a partir de amanhã seremos diferentes, que vamos querer coisas, ter objectivos e mudarmos em nome deles ou do que raio nos lembrarmos. Neste ano, além de tudo isso, é o dia de acreditarmos que tudo vai mudar para melhor, que todos vamos ficar bem - agora sim (e a ver vamos), e não quando por estupidez de um optimismo sem quê (que me irrita até à raiz dos cabelos), ao início tantos diziam... e eu nunca percebi. Não tenho facilidade em entender querer-se deturpar a realidade porque não gostamos dela... negar o óbvio (que sabemos mas negamos), para ter uma ideia que aconchegue. Nunca entendi. 
Hoje, mais do que se calhar em todos os outro anos, vamos querer encerrar este ano e enterrar com ele tudo o que vivemos sob esta chancela, quase como esquecer que existiu. Para mim é talvez a primeira vez que não tenho vontade de um novo ano. Não porque goste deste, não, mas porque tenho muito pouca esperança no seguinte, no que se avizinha. E isso para mim é novidade. Sempre tive uma certa superstição com a passagem de ano, sempre quis passá-la bem, com quem gosto e com alegria, risos e brincadeiras, e rodeada de carinho, porque seria assim que gostaria que o ano se desenrolasse - como um prelúdio do que viria. Este ano a sensação que tenho é que o próximo será muito duro em termos pessoais, adivinho um tempo que não quero e que não sei viver. Este ano, o dividirem o tempo em fatias para dar um cheiro de recomeço, de começar de novo, de oportunidade, não me entusiasma, não o consigo ver assim, não o sinto assim. A única coisa que hoje em dia me entusiasma um pouco é o trabalho, também a única coisa que neste ano que hoje termina, se aproveitou em termos de mudanças. Há dias li uma entrevista em que se dizia que o cérebro percepciona o tempo através das mudanças a um certo nível e através do movimento, noutro - o que me fez completo sentido, no fundo, é sempre através da mudança: movimento é mudança, já o disse aqui uma vez qualquer. Mas isto fez-me pensar que nos últimos 10 anos todas as mudanças que o meu cérebro percebeu, portanto todo o tempo que sentiu passar, foi para me tirar afectos, companhia, carinho, protecção, segurança, querer-bem. Primeiro, e a abrir as hostilidades, um divórcio que me feriu em todo o processo (mas continuar casada sei-o, sem dúvida, ter-me-ia feito pior), depois perdi o meu tio ao fim de tanto sofrimento, depois um primo, depois um irmão, no meio uma doença grave e incurável para o meu pai, a lucidez e presença inteira da minha mãe com a perda do meu irmão. Entretanto vender a empresa, entrar num turbilhão de medos e emoções, e sei lá mais o quê, com todas essas mudanças. E no meio de tudo isto, abrir os olhos em muita coisa, fazer opções e cortes com enganos e mentiras, render-me ao desamor, aceitá-lo, vê-lo, perceber que passei por tudo sozinha e servida com pequenos requintes de malvadez em coisas que não merecia, algumas apelidadas de condescendências - palavra que passei a detestar - outras só indiferenças ou faltas de consideração, de justiça até e lealdade também... amor nenhum, torna-se óbvio quando todas as mudanças que colecciono nestes dez anos são estas. Quando o que percebo de tudo é isto. E caramba custou-me tanto, em cima de tudo, também isso, olhar para trás e começar a ver que o refúgio, o abrigo que eu tinha era apenas uma espécie de escape para o outro, que lhe equilibrou o mundo durante muito tempo, que o ajudou até a mantê-lo, enquanto para mim era o meu mundo, onde estava inteira - ou me sentia -, que me permitia suportar o mundo que não era meu, que não queria, tudo o que acontecia sem eu pedir, e o que eu queria que acontecesse, nunca acontecia. Há uma luz, uma doçura, que não posso esquecer no meio de tudo isto, a minha pequenitates, que foi crescendo, e foi crescendo bem, mesmo tantas vezes - ou quase sempre, infelizmente - não me ter inteira, e nunca completamente bem, feliz, com esperança... mas foi crescendo e foi-se tornando uma pessoa (que me dá cabo da cabeça, é certo) que às vezes me surpreende. Não sei o que fiz bem no meio disto tudo, ou se não fiz nada bem e ela deu a volta a tudo isso (capaz disso é ela), mas é saudável em todos os aspectos que me lembro, por dentro e por fora (tem um bocado a mania das dietas, do exercício e da comida saudável e essas coisas... mas pronto, até faz o jantar às vezes, por isso compensa :) ), um bocado arisca de beijos e abraços e mimo, por vezes muito diferente de mim, outras caramba até irrita de ser tão parecida (o que me deixa apreensiva..), e agora quase da minha altura... 
... o que levo de tudo, para onde for, é isto que senti quando bati os olhos na foto, um molho de flores apanhadas no momento, plenas de vida na espontaneidade da vontade, que guardo no bolso de trás das calças, enquanto continuo o caminho, à procura de mais cores, mais flores que me dêem vontade de apanhar e levar, que façam parte do resto do caminho. 
Não estou com vontade nenhuma de 2021, mas isso - aliás como todas as mudanças nos meus últimos dez anos - não impede nada, ele virá na mesma, e as mudanças também, porque o tempo passa e a vida move-se, altera-se, muda sobre um eixo que somos nós, e que tem de suportar todas as mudanças, algumas provocá-las, mas vivê-las todas. E é disso, sim, é disso que tenho medo. Mas talvez isso não seja diferente, tenho tantos medos há tanto tempo que talvez já não o conte em anos, mas em vidas. Guardo-os no bolso de trás das calças de ganga, aconchego-os às margaridas ou bem-me-queres, às papoilas que não arranco do chão porque não são de levar para casa, e continuo. Os cães gostam da caminhada.



 

domingo, 27 de dezembro de 2020

[imagem @gregbionde]


São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me

Ana Hatherly, in “Um Calculador de Improbabilidades”

E no entanto a porta continua fechada, contigo do outro lado. Comigo noutro lado. A porta que nos separa é a única coisa nossa. O que não fomos, o que não somos, do que desistimos. Só aí nos encontramos. 
E entre nós... uma porta fechada. Em que eu não bato, e onde vens abrir-me. 
Só que, sabes, não há nenhuma porta. E eu esqueço-me, porque está fechada, porque vens abrir-me sem eu bater.

sábado, 26 de dezembro de 2020

... aquela hora... em que agradeço esta vista e poder estar aqui e deliciar-me com este tríptico de cores, depois de um dia cheio de sol de dezembro. Não saí de casa, não me apetece, a minha esplanada privativa, e o sol que lá mora à tarde, guardou-me em casa. Tomei lá o meu café, fumei lá o primeiro cigarro a seguir ao café, com silêncio só por fora. O sol e o café souberam-me muito bem... mas esta altura é sempre difícil para mim. Por muito que goste do dezembro - ou talvez precisamente por isso, sim por isso - nos últimos anos tem sido difícil. Era sempre um tempo tão bom, tão meu, tão eu. 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020



 Hummm ... já vos cheira a Natal?

Pois! Agora vem em frasquinhos...



 [Lawrence Durrell, in Quarteto de Alexandria - Balthazar]

“cheio de um alívio que era quase insuportável” 

Há realmente sensações assim, momentos assim que nos fazem inteiros, que só se sentem se andarmos feitos de fragmentos há demasiado tempo. É de tal forma avassalador que só pode querer confirmar que é falso. Como se sentir um tal alívio, uma tal plenitude e satisfação, só confirmasse o quanto ainda  se sofre terrivelmente daquilo que nos queremos livrar, esvaziar, acabar. Como apenas servisse de prova do seu contrário. Alívio devia traduzir um vazio onde antes algo nos ocupava e pesava, “cheio de alívio” não é um vazio que nos tranquilize, é um momento falso. Que às vezes tanto precisamos - como algumas mentiras - mas de que não restará nada. 

domingo, 20 de dezembro de 2020



Acende uma pessoa a lareira, mune-se dum livro com intenções de o terminar de ler e é isto: vem uma moça de quatro patas, frita-miolos e tapa-lareiras, usufruir do calorzinho, tapar-mo a mim sem dó ou vergonha, e virar-me as costas. ‘tá certo. Bahhhh 

sábado, 19 de dezembro de 2020



 Há prendas que chegam espontâneas, dias depois mas combinam com lareira e um copo de vinho. E vontade de pôr outras caras nas memórias do futuro. Há sonhos que apagamos com a vontade de outros dias. Com a certeza de que baixamos a fasquia e ainda assim estará sempre tão acima do que tivemos. já só queremos alguém que nos ame, e saber que um décimo do que demos já faria tanta felicidade a quem o quiser... 

Há uns tempos alguém do trabalho me dizia para escrever uma carta a mim mesma, onde dissesse da esperança do futuro e dos medos do presente, que dissesse de mim e do que quero, ou pelo menos, do que sei não querer. Para escrever e fechar, só voltar a ler daqui a anos, e que quando o fizesse ia perceber o efeito do tempo e da vida, onde acertei e onde errei. Onde me enganei ou onde me enganaram o engano. Gostei da ideia. Vou escrever-me e guardar nos rascunhos para o meu dia de anos de aqui a dois anos. Deliciava-me saber como estou errada em quase tudo. É estranho quando torcemos pelo nosso próprio engano. Agora vou comer chocolate e apreciar o silêncio. E escrever-me.

 

enrolei as minhas pernas nas dele, ainda de olhos fechados e com um sorriso a acordar-me no corpo. Enrolo as pernas para que não me fuja e para o saber ali, depois da noite inteira, para dias inteiros. abro os olhos e pergunta-me então, estou muito velho? o cabelo já quase branco e muito curto, a barba curta e com o mesmo tempo, e os olhos a olharem para mim, iguais por dentro, ou eu não sabia de diferença nenhuma. abracei-lhe o rosto com as mãos e dei-lhe um beijo. estava na mesma, o beijo não mudou, era um beijo sem tempo. e dei um e outro e mais outro até já não contar tempo, mas risos e pele e calor. afasto-me um pouco para voltar a olhar-lhe os olhos entre as minhas mãos e mergulhar-lhe no olhar, e percebo que não sei o que vê, se vê o mesmo que eu vejo, ou que eu não vejo quando o olho... penso o que verá? e é isso que me acorda: a minha idade nos seus olhos, sou eu que estou velha. escrevi algures, ou pensei, - às vezes não sei da diferença -  que o amor é o único antídoto da idade. Não cura, mas não deixa que nos seja uma doença. talvez só como alguns os amores, não parecem sofrer de tempo ou espaço, sobrevivem desde que se respire. e às vezes sonham-nos, invadem-nos a mente enquanto dormimos, indefesos, de muros baixados e  sem tino no que (nos) faz a cabeça. acordei. não havia pernas onde enrolar as minhas. desenrolo palavras sobre mim mesma para não enrolar o dia, para libertar as pernas para o caminho. o meu caminho.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

 José Tolentino de Mendonça

Talvez. A noite é o silêncio que melhor nos guarda, nos esconde e nos revela, mas agora procuro a madrugada, aquele fiozinho de tempo que separa a noite de um novo dia. Aquela luz que quebra a noite, que rompe o dia, que traz ainda a noite dentro, como uma memória que vai esmaecendo no espreguiçar do dia, no abrir dos olhos para fora.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020



 “I Will remember the kisses 
Our lips raw with love and how 
You gave me everything 
You had and I offered 
You what as left of me.”

Charles Bukowski

E pergunto-me o que de mim restou que agora possa oferecer... se quando dei tudo o que nem sabia ter, não chegou,  o que me restou chegará a alguém? E o curioso é que, agora, quando leio estas linhas do Bukowski, os sapatos onde me ponho,  não são os de quem deu tudo a quem estava quebrado, mas quanto do que me quebraram poderá ter restado para dar a alguém. E isso, pode não parecer, mas é uma grande diferença. Para mim é uma enorme diferença, começar a calçar sapatos que querem mudar de tempo. 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020



Tudo o que muda,
para se manter fiel a si mesmo. 
Tudo o que sabe mudar,
 para manter a essência. 
Tudo o que é essencial. 

Tudo muda menos a essência,
 a essência é o que permanece.
Qual é a tua?
Sabes?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020



[imagem @sarvesh_chaudhari] 

Almoço a olhar para o mar, a imensidão que se estende pelo olhar, para lá do horizonte e do desconhecido. Agita-se o vento, sacodem-se vontades e ajeitam-se as estrelas, ainda encobertas pela luz que não deixa ver caminho. Distraio-me com a janela do vizinho, que me faz respirar terra firme. Este mar por navegar que me afoga, trago-o nos meus olhos por descobrir, e só o trago porque naveguei mares proibidos, céus por mapear e sorrisos por regressar... ensinada que estou de descaminhos, só me resta caminhar por este mar adentro, que me engole incerto do seu tamanho e do meu caminho. Não me lancem amarras, deixem-me enfunar as velas do sonho e afogar no que ainda não vivi.





 My thoughts, exactly.

Sem tirar, nem pôr. Sempre me regi pelo que aqui encontrei tão bem resumido. Não me faz sentido correr atrás, pedir, suplicar, dizer que não sou capaz de viver sem ele, de pôr entre a espada e a parede alguém que deseje que goste de mim, que me queira - porque se me quiser não será nunca preciso nada disso. E eu, gostando muito da pessoa, ou até demais, só a quero se me quiser, se me gostar, ou não será a pessoa certa para mim. Quem se humilha, ou precisa de alguma espécie de chantagem para obrigar, para forçar qualquer coisa que devia ser uma vontade natural, não sei como, depois, se conseguir o que quer, não duvida sempre se o resultado teria sido o mesmo caso não o tivesse feito - se não tivesse manipulado todos os factores que podia - se não duvida a todo o instante que o resultado não é fruto da vontade e do gostar de alguém, mas apenas de alguma inércia, facilidade, receios vários e alguma espécie de indiferença que cede a pressões. Eu duvidaria sempre, talvez também por isso, nunca fui capaz de o fazer.

domingo, 6 de dezembro de 2020



 Ontem não saímos de casa. Quando íamos para esticar as pernas, a chuva chegava triunfante como um encontro para o desencontro. Desistimos duas ou três vezes, nem mesmo a quatro patas parecia com muita vontade de apanhar com chuva no lombo em troca duma esticadela de pernas... a modos que trocou a chuva pelo meu colo e estivemos a ver séries, a ler, sempre com uma chávena de chá por perto, e até me deu vontades de doces e fui fazer uns queques (expresso, daqueles quase tudo pré-feito) com pepitas de chocolate... ontem foi assim. Hoje não pode ser, há que vencer a preguiça. Ontem lembrei-me que sempre tive por hábito ao fim de semana sair para pelo menos tomar um café com o nariz ao frio, ou fora de casa, vá. Hoje há que passar nos meus pais, esticar as pernas e as vistas, tomar um café quente encasacado, trabalhar um tico porque ontem apontei no tecto... e ouvir a chuva cair ao longo do dia, presente como uma memória teimosa que nos acompanha como uma sombra. Mas desta gostamos, sorrimos-lhe e até lançamos as mãos abertas ao céu, para sentirmos na pele a simplicidade dessa beleza... Que me traz de enxurrada as saudades dum bom beijo debaixo de chuva fria, da pele quente despida de frio. Mas hoje vamos arrumar a preguiça num canto sem deixarmos de viver devagar, e com tempo - ou sem, se calhar sem - o que nos faz levantar do sofá, mas não nos obriga.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020



Já não é dor, é a constatação de ter sido, 
sem ser ainda a de já ter deixado de ser.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020



 Ahahahah 

Bendito bom humor, do inteligente, do irónico, daquela pitada de sarcasmo que me prende e torna dependente deste riso, desta (boa) disposição. Estar com alguém com um humor assim é uma benção. 

Tenho saudades de me rir assim (e de fazer rir também, muito) em conversas de horas a fio. 

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

 


Dezembro, o meu mês. Um mês do frio e do fim, onde o sol quando brilha se sente mais, e onde o fim anuncia um novo livro em branco. O mês da lareira, das mantas como segunda pele, até do natal, a que já não ligo, francamente. E dantes gostava, das luzes, dos enfeites, dos cheiros, agora não ligo, acho tudo meio postiço... Já não enfeito a casa maior parte da vezes, o que dantes me dava algum gozo, mas agora nem por isso. Mais um dezembro, e este definitivamente diferente em demasiadas coisas, menos numa, é o meu mês, ainda, e o meu preferido.

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

 Ora cá está uma estreia... não, não levei com a frigideira, nem sequer com o rolo da massa... mas sim, é o meu primeiro dia em teletrabalho. Gostei de poder acordar mais tarde e chegar cedo, da vista da janela ter árvores, de se tiver fome nao ter de comer bolachas ou esoerar pelo almoço, e de poder tomar o café do almoço na varanda... podem repetir (só está previsto mais um dia, de resto nem na cidade posso ficar, bahhhh... quanto mais na doçura do lar...) que assim sempre faço menos de io-io, durmo mais um tico (tipo hora e meia...) e trabalha-se na mesma. Não precisa de ser sempre, falta-me o “cumbibio” com algumas pessoas, e parecendo que não, a viagem ao fim do dia, nos dias de regresso, apesar de cansativa, relaxa-me. 

domingo, 29 de novembro de 2020

 


E é este o mote dos fins de semana cá em casa. Esta disputa de mimo e atenção. Porque se a filha pede, a mãe não pode deixar de pedir, pois... mesmo sendo mais arisca, e ser muito menos de mimos que a filha... há que marcar, e não perder, território!! A modos que é isto, estas caras, perdão, focinhos de fim de semana. Isso e a música ambiente que mais se ouve ser: “sai” “está quieta” “não se corre dentro de casa” “ não sejas chata, deixa-me” “Oh mãe tira-a(s) daqui” e risos das parvoeiras, a que acabamos por não conseguir resistir, e desmanchamo-nos fatalmente, ou só o derradeiro “ lá para fora, já chega!”. Até termos saudades deste circo, e abrirmos a porta outra vez...

sábado, 28 de novembro de 2020





 Sábado de manhã, depois da ronha e do primeiro café em casa - que agora serve também de aspirina, porque antes dele as dores de cabeça não me largam, mas só aparecem ao fim de semana, curiosamente. Saímos de casa, que não tem jardim, só uma varanda que adoramos, e vamos ao pão. E ao jardim, este, a uns metros de casa. Temos a sorte de a poucos metros termos dois jardins diderentes onde esticar as pernas e mergulhar no verde. No caminho deixo-a correr, vingar-se dos dias em casa, no quente mas numa quietude que não lhe cabe nas pernas. Depois, uns metros à frente, vamos abastecer-nos de pão para a semana. Senta-se a guardar o poste para ele não fugir, claro, atrelo o poste a ela e entro, atenta de ouvido para ver se reclama com alguém. Tudo tranquilo, na volta mais uns sprints no jardim, já libertas da trela do tempo. E de pés e olhos presos neste tapete, vejo esta imagem. E guardo-a.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020



 Se eu tivesse um escritório que chamasse meu,  onde estivesse todos os dias, ou quase, em vez de andar cada dia num sítio, sem poiso fixo e com muito stress e irritação, punha isto pendurado na parede. Bati os olhos nisto e ficaram lá, mesmo depois de já olharem para outro lado - e há tanta coisa assim, não é? ... olhamos para outras coisas, mas os nossos olhos estão postos onde teimaram poisar e fazer sítio... mas adiante, esta frase é brilhante, como tantas coisas desta senhora. E neste momento é um lema de vida, de combate, de postura... E eu não sei se estou à altura. E a frase lembra-me isso, mas que tentar e falhar é sempre menos cobarde que nos pouparmos à derrota, porque essa não derrota, não é uma vitória, é apenas uma máscara para o definhar sem oposição, para uma paz podre com demasiadas baixas por falta de combate. É apenas outro nome para a morte por agonia.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

[foto @in_somnia_]

 Dizem que o imitar, o copiar, é o maior dos elogios. Eu concordo. Nos últimos anos apercebi-me algumas vezes de coisas desse género, desde expressões roubadas daqui e doutros sítios, até formas de apreciar a vida em câmara lenta, a alguns gostos e coisas que alguém me confirmou dizendo que realmente tinham ido beber muita coisa a mim, comprovadamente. E deve tê-lo dito feliz, ainda que fosse uma cópia, não tendo o original era melhor do que aquilo que tinha... ainda que no dia que faltasse a fonte onde ir beber, ou copiar, bom, voltava tudo ao mesmo, mas, claro, nos entretantos a cópia nunca chega ao original... E hoje, chego ao escritório, ao meu antigo escritório, aquele que ninguém ao início queria, que era filho dum Deus menor, e que me deram a mim, sem que disso me tenham ouvido reclamar. Tinha desvantagens, mas também tinha algumas vantagens, que eu via mas eram percebidas por outras pessoas como não o sendo, e agora, mal me mudei para outras guerras, depressa alguém se mudou para ali... que afinal ali era melhor. Agora, o dia em que trabalho aqui arranjo-me em qualquer lado, não há crise e também tem vantagens... Acontece, que com isto tudo, ponho-me a pensar, que também esta criatura parece querer-me seguir as pisadas, pisar onde eu pisei, replicar o meu caminho. As pessoas esquecem-se que ao fazer o caminho temos de decidir por onde ir, que passos maiores e que passos mais pequenos dar, que direcção tomar e como, e que as coisas têm, ou ficam, com a nossa forma de ser. Quem imita, quem copia, quem quer absorver o lugar por osmose e replicação, esquece-se disso. A relação de proximidade que criei com esta gente, o que consegui fazer com eles e deles, não tem que ver com o sítio onde estava a trabalhar, e que até era visto como desvantagem por quem não o quis na altura, tem sim com a empatia criada, com a forma de trabalhar, e às vezes brincar. É a forma como somos, não como copiamos...  ou quem copiamos. Pode ser um elogio, mas às vezes irrita um bocadinho... e o que faz certamente é passarmos a olhar as pessoas com alguma pena, o que é uma pena. Porque francamente não precisam disso... bom, algumas.

domingo, 15 de novembro de 2020



 ... Outras é uma forma de sentir, de nos deixarmos sentir, de sentirmos - normalmente com alguém. É sentirmo-nos nós, encontrarmo-nos numa voz como um eco da alma que trazemos, e que parece que reconhecemos pelo eco... pensamos que não, mas demora muito a encontrarmos a nossa própria voz, o que somos debaixo de tudo que fazem de nós, de tudo que nos fizemos e o mundo construiu, dia após dia. Conhecermos os cantos escondidos de nós mesmos é uma descoberta que custa muita vida, e talvez só isso, e pouco mais, se deveria chamar realmente viver. O outro não é a nossa casa, mas é a porta para entrarmos em nós. Ainda assim, a ideia mais bonita é essa: de alguém ser a nossa casa, de o habitarmos, de deixar que vivamos nele, protegidos, guardados. Alguém que nos traga dentro sempre, um peito para o nosso coração viver. Alguém que encontramos e nos faz regressar a nós, à nossa forma mais bonita, melhor, que mais gostamos. Amar o outro é talvez amarmo-nos com os olhos dele. Como se ele fosse a nossa casa, onde chegamos para, confortavelmente, fechar, por dentro, a porta ao resto do mundo.

... que corra riscos, sim... e que “os” tenha no sítio quando chega a hora de assumi-los... ahhhh coisa mais atraente e sensual e sexy... e...e humm....

... agora, muito diferente é aquele que não tem a inteligência para distinguir assumir riscos com tendências suicidas... este moço só pode querer morrer, só pode... 

Bom dia, esbeltos e espadaúdos, 

belezas estonteantes de audácia dessa vida! ;))

[bom mesmo é ter gente que nos manda estas pérolas em modo de cumplicidade para nos rirmos :)))) ]

sábado, 14 de novembro de 2020

 
O teu nome ainda me enrola a língua
Ainda se embrulha na minha pele
Ainda me baralha o sono com sonhos
Ainda faz soar músicas  
nas músicas que já não oiço
Ainda me cai com este semáforo
que me arranca ao tempo 
que já não sou
E caio em mim, sem ti
Como sempre
é tarde
Não há outro nome


quinta-feira, 12 de novembro de 2020

 


É um bom lema. Um dos que, seguindo-o, fico com a casa cheia de garrafas... mas para já, um café, sim. Ainda é hora de acreditar que algumas coisas podem ser mudadas, e que podemos ser nós a operar essa magia. Lá para a tarde, mágica só mesmo a vontade de fugir...

domingo, 8 de novembro de 2020


[foto @sarvesh_chaudhari]

Já não escrevo para que me entendam, já não escrevo para falar. Escrevo agora para não falar o que não entendem. Já não escrevo para unir margens, para fazer pontes que só eu atravesso. As palavras já não são rios seguindo o mapa dum mar que cabia num bolso, e nunca saiu do sítio. Agora as palavras são o sítio onde a minha noite tem casa, onde os meus olhos se fecham, onde a alma se abre entre as linhas, é o sítio onde vive o silêncio do inexplicável indizível, do que me é intemporal. As palavras são o tempo onde ainda não morri, onde o futuro é pretérito imperfeito, ou só os dados por lançar, na mão de alguém que não conheço, nem sei, nem sei se quero. 
Já não escrevo para explicar aquilo que, ou se sabe, ou não se lê. Entendes? 
Eu sei que não.

[ Lawrence Durrell, in O Quarteto de Alexandria - Balthazar ]
 
Será? ... as coisas não ficam incólumes ao tempo, às intempéries da vida, à ausência demarcada e à solidão, ainda que escolhida. As coisas não ficam simplesmente com as  extraordinárias melodias guardadas até ao dia em que, face à visão do piano abandonado, se queiram de novo ouvir, tocar, viver. As coisas por mais maravilhosas que sejam, ou essas ainda mais - sim essas ainda mais -,  são sensíveis à dor, ao abandono, à traição que toda a falta de lealdade, e de verdade, revela. E se não forem, bom se não forem, são maravilhosamente superficiais e supérfluas, são cantiguinhas que se trauteiam para preencher o silêncio, sem o ofuscar. Não se guardam em pianos destinados a grandes partituras, e que nos lembram experiências maravilhosas e, às vezes, as dores rigorosas que se seguiram. E depois disso, ainda que o piano seja o mesmo, nada soará igual.

sábado, 7 de novembro de 2020

[foto @manoleili]

De luas, desatino e aguaceiro

Todas as noites que não foram tuas.
Amigos e meninos de ternura

Intocado meu rosto-pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre à procura do teu corpo exato.

Livra-me de ti. Que eu reconstrua
Meus pequenos amores. A ciência
De me deixar amar

Sem amargura. E que me deem

A enorme incoerência

De desamar, amando. E te lembrando

– Fazedor de desgosto –
Que eu te esqueça.

Hilda Hilst

Incoerência essa, de desamar, amando, e sem amargura, com o tempo a apagar as dúvidas e a acomodar certezas incómodas, difíceis, doridas. Mas sem amargura, com o travo de acidez que deixam na boca todos os beijos que não se deram no abismo apodrecido dos que se deram imerecidos, feridos de engano original, amando no desamor de outros. E agora é só continuar, só mais do mesmo, mas no seu inverso. Espelhos que a vida traz, um atrás do outro, sem partir.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

 

Há quem já acorde convencido, há até quem já nasça absolutamente convicto disso... depois há outros que todos os dias acordam e tentam convencer-se de que os outros não são todos batman, e se forem não há por que também não sejamos... só temos de nos convencer disso.

 Esta sensação que me falta, que sempre me faltou, ausência tão sentida há tanto tempo. Este amparo, esta segurança que aconchega a vida aos dias, isto de que sinto sempre ter sido órfã. E depois esta sensação que me come lentamente alguns dias, de saudades não sei de quem, de falta não sei de quê, como? Porquê?... se sempre faltou o essencial? Se todas as vezes que a vida me abanou, de todas as vezes que me abala, são os meus próprios braços que me envolvem, os meus medos que me amparam, as minhas faltas que me aconchegam as noites? Como é que se anseia por algo que nunca se teve? Que não se conhece? É como amar alguém que não existe, mas que conhecemos. De alguma forma conhecemos. Só nos falta encontrá-lo. O que só é possível se não procurarmos.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

 Sento-me cá fora, a ouvir pingar aqui e ali, sem frio nenhum, a tentar acalmar o que me parece queimar por dentro. Acendo um cigarro e penso no sono que vou ter de manhã, para ver se o chamo para perto. Mas o sono é a calmaria da água, não se dá com o fogo. Amanhã será um dia daqueles, com mais guerra do que eu gostaria e que me cansa antes de começar. Não sei por que raio aceitei tudo isto. Mas se o meu medo era eu não chegar, não ser suficiente, agora o medo é de não saber descer ao nível e descobrir não haver forma de resolver doutro modo. Afinal a competência mais precisa é aquela que não quero ter, nem estou disposta a ter. E na verdade nada disto é muito importante... Bonito.

domingo, 1 de novembro de 2020

[imagem @jesuso_ortiz]

 Enfeiticem-se :))

Tudo o que queremos é ser bem enfeitiçados... 

[ I put a spell on you... sussurra a Nina tão bem :) que parece feitiço, 
e combina na perfeição com este Outono do outro lado do vidro e por dentro da pele]


 Noite conversada, à distância mas da mesma garrafa. Duas, na verdade. Há maneiras diferentes de passar a noite das bruxas, mas esta, sem bruxas, não é má. Amanhã vou pagá-la com uma valente dor de cabeça, mas valeu a pena.

sábado, 31 de outubro de 2020

 Não sou só eu que ando a precisar de colo, a fazer-me falta. O resto das meninas cá de casa também - o que dei por mim a estranhar, porque são todas muito independentes e meio ariscas. Deve ser da casa, ou de mim, se calhar a culpa é mesmo minha, sei lá... Mas, o certo é que parece que sentem a diferença de me ver menos, de me ter menos. A que é minha filha, liga-me e estamos ao telefone - normalmente sem dizer grande coisa, ou só disparates, ou até caladas com a outra do outro lado a fazer alguma coisa - tempos infindos, quando chego a casa não é de grandes manifestações, mas encosta-se mais vezes a mim, e diz muitas vezes que não quer que eu vá (outra vez) para longe. A miúda que eu pensei tantas vezes por que não era como as outras sempre à roda das mães, agarrada e a dar beijinhos... e eu amaldiçoava-me porque não sabia onde tinha errado fazendo-a tão independente... agora, às vezes, nas manhãs de fim de semana volta a enfiar-se na minha cama... ela que sempre fugia do mimo que queria dar-lhe, agora parece que lhe falta. As outras meninas, de quatro patas, a mais velha, que é mais minha, arisca como só ela, senhora do seu nariz e espaço, quando estou no sofá põe-se ao meu colo, e claro esmaga-me, porque é grandinha, pois. Também parece querer aproveitar o sofá, é certo, mas não o fazia, agora faz muitas vezes. As ariscas e independentes também precisam de colo, talvez o procurem menos, talvez façam mais de conta, talvez se façam de fortes, talvez sejam, mas a falta de mimo não é porque não sobrevivam ou desmoronem sem ele, é porque gostam, é porque gostam de sentir proximidade, pertença, e isso é coisa que a distância nos lembra. Quando se gosta, claro.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

 

Sento-me sempre na mesma mesa. Desço, já com as tralhas todas e sento-me aqui para o pequeno almoço. O sítio não é grande coisa, as vistas também não, mas escolho sempre esta mesa, colada ao vidro que dá lá para fora. Do lado de lá há sol a doirar folhas e a brisa a abanar os braços. E eu aqui, entre o chá e o croissant que é a única coisa que realmente vale a pena e eu não devia comer. Dois, ainda por cima. No dia em que aqui chegar e a mesa estiver ocupada, e os croissants faltarem vou andar neura todo o dia, dou por mim a pensar... não sei se são estes meus rituais que vou cultivando que me dão alento, ou se são só hábitos, puros e duros, que dão uma sensação de segurança e que nos destabilizam quando não cumpridos. Talvez seja a diferença entre precisar de segurança ou apreciar a beleza nos pequenos nadas, que nos sustentam o resto. Necessidade vs beleza. Gosto de pensar que sou pela beleza das coisas. Gosto de pensar que não gosto de pessoas de hábitos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 Irra quero ir para casa. Há dias em que a esta hora já se precisa de colo. Tinha trocado o almoço por isso. Alimentava-me mais. Para o resto bolachas serviam  para fazer de conta e enganar o estômago.... mas a alma, como enganamos a alma?

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 [imagem @jesuso_ortiz]

Acendes a tua?

Acendes os dias de manhã com a tua luz do dia?

Como? Levas a tua filha à escola e achas aquele caminho de cinco minutos um luxo que te ilumina, e faz amanhecer a luz do dia?

Sentas-te na tua antiga secretária, que continua tua em part time, e bebes um café enquanto o escritório está deserto? Deixas a chávena, e aquele cheiro quente, entre as mãos, a aquecer a luz fria e cinzenta do céu, que a janela da frente te serve?

Escreves qualquer coisa, que te lembre que gostas de palavras e de escrever, quando estás com esta sensação estranha, que te segura e tantas vezes te faz cair, de sentir pequenas coisas, assim como a luz do dia e o luxo de amar incondicionalmente? Esta sensação que te abandona a um café amargo, puro, quente, que já não queres com açúcar, mas mexes com palavras.


terça-feira, 27 de outubro de 2020

 Uma fresta de luz duma cidade emprestada, as paredes escuras dum quarto que nunca nos viu rir ou chorar, uma cama que me é estranha mas me acolhe, com calor. A escuridão será igual em todo lado? A luz não é, mas a diferença não estará no sítio. Provavelmente nem na luz. E esta fresta rasga a escuridão maciça de alto a baixo. E eu pergunto-me onde andarão todas as outras, por finas que sejam, por frágeis que pareçam, podem sempre mais do que sabem... isso sei.

sábado, 24 de outubro de 2020

 
O fim de semana, começo de tanta coisa, do que se quer manter, apreciar, gostar e viver devagar. Quebrar regras também, porque não? Almoçar ao pequeno almoço, alongar a cama até ao sofá, esticar a preguiça com o tempo, marinar a ronha. Mimar o tempo e o mimo que queremos dar no tempo que temos, dar mimo até à terrorista de serviço, que não tem limites à destruição da casa, e que me dá cabo da paciência e das mãos quando tenho de lhe dar palmadas - que de tão dura a bicha tenho ideia que é só a mim que me dói, e a destruição não abranda... mas depois há este mimo, este chegar-se e encostar-se, esta paz, este respirar-me ao ouvido segredos inimagináveis como o de às vezes se tornar um doce ternurento, e fazer-nos duvidar da realidade e da nossa sanidade mental roubada a cada asneirada...Manhãs assim, de coisas nossas se lhes dermos o tempo, a música e a luz necessárias. E assim as tempestades do mundo, acalmam em nós, como esta bicha terrorista, tão tranquila com o focinho encostado a mim, em cima da cama tão proibida de subir... mas é fim de semana, o mundo hoje é diferente cá dentro. É o nosso.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 

Sentei-me aqui para ver a lua enquanto fumava um cigarro destinado a descansar-me a cabeça do dia, a desligá-la. O descanso é talvez desligar o necessário, abandonarmo-nos ao inútil, ao que não tem razões. À lua faltava-lhe estar no ponto pestaninha em que a prefiro, em que, olhando-a, sorrimo-nos. Há certas coisas que são como janelas para alcançar a alma. Às vezes andamos a ver onde pomos os pés, passamos e nem notamos. Não vemos. Não damos pela ausência da alma até que um dia sentimos os danos. Chegamos a casa, e no seu vazio procuramo-nos, às vezes encontramo-nos, olha-se para qualquer coisa que nos sacode, uma visão que nos lembra quem somos, no vazio, na ausência, num céu aberto que nos entrega um fio de luar, e desfiamo-nos. Agora o cigarro acabou e uma manta cobre o céu. Talvez a lua sentisse frio. Ou eu.

domingo, 18 de outubro de 2020

[foto @nicoladavisonreed]

Dos domingos de perder a cabeça...

... os que fazem perder a cabeça quando pensamos no dia seguinte, e aqueles que nos mostram que definitivamente há maneiras tão melhores de perder a cabeça, num domingo pacato... como perder a cabeça em alguém que nos faz esquecer tudo... sem razão nenhuma, só porque sim, porque estar absorve tudo, todo o tempo. É de perder a cabeça, mas entre risos, cumplicidades e corpos, encontrar o resto todo :)) 


Bom domingo 

sábado, 17 de outubro de 2020

[ Filipa Leal ]


Sempre ao contrário.

Entras ao contrário onde devias sair ao contrário.

Pela minha mão.

 Hoje não quero saber de nada que não seja do meu mundo, quero habitá-lo em pleno, degustá-lo, matar saudades, sentir-me eu sem as roupas que nos cobrem e protegem. Hoje não quero ter de me defender de nada. Quero só ser e estar, sem dar conta, porque é isso que mais conta.

[há pessoas que nos deixam, mas o que nos deixam não permite que alguma vez realmente os deixemos. É assim em muita coisa, feliz ou infelizmente, mas neste caso concreto é felizmente a Mafaldinha que não nos deixa. No dia não assinalei essa perda do que Quino ainda nos poderia dar, mas gostei de ver tantas tirinhas da Mafaldinha a povoar os ecrãs - o que nos deu não se perderá e qualquer dia serve para o lembrar.]

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

 

Levantei-me à hora que tantas vezes fechei a luz e ouvi a porta bater, ainda mal o sol tinha pestanejado e eu fechava os olhos a correr, duas horas, para depois ir trabalhar, quase sempre atrasada. Agora é assim, começo onde dantes acabava, apanho dois acidentes e muito tempo de filas. Mudou. Tudo. Para melhor? dou por a perguntar-me, sem saber porquê, entre os carros e os ponteiros do tempo... Não ter uma porta a fechar-se por fora é bom, mas todo o começo disto está a ser arrancado a ferros. Perdida e completamente sozinha, a minha versão amigável está a chegar ao fim, não tem assim muita resistência a maus-tratos (por incrível que isto me soe agora...) e parvoíces atiçadas, se é para partir, parte-se. Não tenho muito a perder. Não preciso disto. Conjugação muito perigosa, esta. Confirma-se, não fui feita para lidar com filhos da mãe. E não tenho pachorra. Estou entre mandar tudo às urtigas ou pegar em tudo e fazer ponto de apoio para os mandar à m... obrigando-os a gramarem-me na minha pior versão... dilemas, senhores, dilemas.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

 

[foto @picsbykimoverpelt]

Este pessoal é quase todo munido duma simpatia assassina... quase que dá para me sentir capaz de candidatar-me a moça com melhor feitio do mundo... ou deste mundinho, vá... Valhamedeus irra...

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Devia aprender francês... nunca atinei com a coisa... 

... admite-se professor, preferencialmente alto e espadaúdo, com sentido de humor - imprescindível - e ainda melhor se versado em algumas coisas francesas tidas por icónicas (não, não falo da torre Eiffel ou afins..)... se conhecerem alguém, avisem, sim? ;))

domingo, 11 de outubro de 2020

 Revisitamos  velhos hábitos por quê, para quê? Procuramo-nos onde nos perdemos, o que perdemos? Talvez seja o último sítio onde ainda estaremos, o último onde nos conhecíamos onde sabemos ter estado, onde pela última vez nos tenhamos ouvido ainda. Depois o silêncio e mapas sem norte. Como se a nossa voz tivesse emudecido, se tivesse perdido de nós. Aqui, ou num momento que foi este mas já não é. E já não estamos. Mas visitamo-lo. Porquê? Para quê?


Munições. O Balthazar (e o Lawrence Durrell) que me perdoe, mas vou pô-lo na prateleira até que Sun Tzu me ensine como não morrer já. O sol está bom, vamos lá afiar os ouvidos para um mundo diferente, que não é meu, mas que vou ter de (pelo menos) atravessar, quiçá fazer casa durante uns tempos. Uma moça tão pacífica como eu.. Valhamedeus.

sábado, 10 de outubro de 2020


Não sabemos mesmo a ideia que deixamos nas pessoas. Algumas vezes surpreendem-nos em verem em nós coisas que não pensaríamos, que nem conta damos, do que fazemos, ou como. É estranho. 
Não esperava aquelas reacções à notícia de deixarem de trabalhar comigo, não esperava. Não adivinhava o que ouvi, ou o que me disseram outros que ouviram. Certo é que cada um contará a sua história e tudo pode ser virado ao contrário. Podem um dia vir a dizer que eu era branda com eles, onde há um ano me pintavam como o terror que levava pessoas a demitirem-se à beira das lágrimas. Cada um terá para si a sua verdade, a minha é que dei o litro e não deixei ninguém ao meu lado fazer o mesmo, sem que oferecesse ajuda. Contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que deixei quem trabalhava comigo no escritório depois de eu sair. Mas acho que lhes ganhei o respeito daquela primeira vez, mal me conheciam, a trabalhar com eles há um mês e pouco, e os defendi em reunião geral quando, pasma, vi que ninguém mais o iria fazer e a tremenda injustiça disso. Tenho muitos defeitos, mas não sou injusta e isso passa também por não deixar incólumes injustiças feitas ao alcance da minha mão. Incrível como uma única atitude, numa única situação, um único momento, uma gota no mar do tempo, pode ter mudado todo o tempo seguinte. Como teria sido se não o tivesse feito? Não sei. Sei que a partir daí me terão dado o benefício da dúvida... daquela dúvida de alguém meio estranho que faz coisas que, como me disseram depois, em todos os muitos anos que ali trabalham ninguém fez, ninguém ainda tinha feito. E eu não fiz nada, tentei não deixar que outros fossem injustos, só isso. E ontem juntei à pena imensa de deixar esta gente, e de trabalhar com eles diariamente, a pena de, afinal, eles também terem pena, me considerarem no fundo. De brincarem em fazerem um abaixo assinado a contestar mudarem-me a função e o sítio, de quererem que “lá em cima” saibam que não gostaram nada disto. De dizerem depois de eu sair que acham que mais ninguém na minha função alguma vez vá trabalhar com eles assim - a ir sentar-se ao lado deles, e resolver problemas e perceber as coisas, que era o que eu ia fazer. E no caminho brincar um tico, animar o ambiente, não sei, se calhar ser eu, só. O mesmo eu que sozinha no escritório suspirava e resmungava, outras vezes dizia mal da vida, muitas antes de atender o telefone pela cagagésima vez com um tom de quem não acabou de maldizer a porr@ do telefonema, e todos os outros antes, que não deixam uma pessoa trabalhar. E houve até quem dissesse que ia sentir saudades dos meus suspiros no escritório ao lado... enfim coisas que não esperava. Que me fizeram sorrir e questionar-me. Já esperava que algumas almas, poucas, me sentissem a falta, mas é gente minha, de antes, e já restam poucos, muito poucos, mas tão bons caramba! Que orgulho tenho neles e no trabalho deles. E de alguns gosto, sou amiga, mesmo, genuinamente. E agora não sei o que me vai acontecer. Mudaram-me de poiso, de função, estou sozinha, não levo, nem tenho ninguém meu. Estou entregue aos bichos, e chamam-lhes tubarões. E tenho medo, outra vez, como sempre, de não chegar, de não ser capaz - de me desiludir, de ser menos do que deveria ou me supõem. E a amostra de ontem deu para perceber que não vai ser fácil, nada fácil o que tenho pela frente. Agora que eu começava a estar bem, que finalmente as coisas estavam a estabilizar, tinham de me virar o barco outra vez? Estou cansada de nadar contra a corrente. Estou mesmo, os últimos meses levaram tudo de mim. Algumas coisas agradeci, outras ando a ver se as cato nos restos de mim, adormecidos, atropelados pelo tempo, ou falta dele. 
Para a semana é uma nova guerra que começa. Lá tenho de olear o arco e flecha...Vou sozinha, sinto-me terrivelmente perdida e desamparada, mas saber que deixo aqui mais esta gente a juntar aos meus, que de alguma forma parece querer-me bem, deu-me algum alento, mas caramba muito mais saudades. Porr@!

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

 
Eheheh... certo!

... Mas se vires que aquela porta não te leva a lado nenhum, ou leva-te onde não te interessa, tenta outra, ou procura uma janela...

Por exemplo esta porta que me leva a estar aqui a estas horas eu dispensava... podiam fechá-la e perder a chave que eu não ia chorar de saudades... Bom Dia! :)