sábado, 31 de outubro de 2020

 Não sou só eu que ando a precisar de colo, a fazer-me falta. O resto das meninas cá de casa também - o que dei por mim a estranhar, porque são todas muito independentes e meio ariscas. Deve ser da casa, ou de mim, se calhar a culpa é mesmo minha, sei lá... Mas, o certo é que parece que sentem a diferença de me ver menos, de me ter menos. A que é minha filha, liga-me e estamos ao telefone - normalmente sem dizer grande coisa, ou só disparates, ou até caladas com a outra do outro lado a fazer alguma coisa - tempos infindos, quando chego a casa não é de grandes manifestações, mas encosta-se mais vezes a mim, e diz muitas vezes que não quer que eu vá (outra vez) para longe. A miúda que eu pensei tantas vezes por que não era como as outras sempre à roda das mães, agarrada e a dar beijinhos... e eu amaldiçoava-me porque não sabia onde tinha errado fazendo-a tão independente... agora, às vezes, nas manhãs de fim de semana volta a enfiar-se na minha cama... ela que sempre fugia do mimo que queria dar-lhe, agora parece que lhe falta. As outras meninas, de quatro patas, a mais velha, que é mais minha, arisca como só ela, senhora do seu nariz e espaço, quando estou no sofá põe-se ao meu colo, e claro esmaga-me, porque é grandinha, pois. Também parece querer aproveitar o sofá, é certo, mas não o fazia, agora faz muitas vezes. As ariscas e independentes também precisam de colo, talvez o procurem menos, talvez façam mais de conta, talvez se façam de fortes, talvez sejam, mas a falta de mimo não é porque não sobrevivam ou desmoronem sem ele, é porque gostam, é porque gostam de sentir proximidade, pertença, e isso é coisa que a distância nos lembra. Quando se gosta, claro.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

 

Sento-me sempre na mesma mesa. Desço, já com as tralhas todas e sento-me aqui para o pequeno almoço. O sítio não é grande coisa, as vistas também não, mas escolho sempre esta mesa, colada ao vidro que dá lá para fora. Do lado de lá há sol a doirar folhas e a brisa a abanar os braços. E eu aqui, entre o chá e o croissant que é a única coisa que realmente vale a pena e eu não devia comer. Dois, ainda por cima. No dia em que aqui chegar e a mesa estiver ocupada, e os croissants faltarem vou andar neura todo o dia, dou por mim a pensar... não sei se são estes meus rituais que vou cultivando que me dão alento, ou se são só hábitos, puros e duros, que dão uma sensação de segurança e que nos destabilizam quando não cumpridos. Talvez seja a diferença entre precisar de segurança ou apreciar a beleza nos pequenos nadas, que nos sustentam o resto. Necessidade vs beleza. Gosto de pensar que sou pela beleza das coisas. Gosto de pensar que não gosto de pessoas de hábitos.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 Irra quero ir para casa. Há dias em que a esta hora já se precisa de colo. Tinha trocado o almoço por isso. Alimentava-me mais. Para o resto bolachas serviam  para fazer de conta e enganar o estômago.... mas a alma, como enganamos a alma?

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 [imagem @jesuso_ortiz]

Acendes a tua?

Acendes os dias de manhã com a tua luz do dia?

Como? Levas a tua filha à escola e achas aquele caminho de cinco minutos um luxo que te ilumina, e faz amanhecer a luz do dia?

Sentas-te na tua antiga secretária, que continua tua em part time, e bebes um café enquanto o escritório está deserto? Deixas a chávena, e aquele cheiro quente, entre as mãos, a aquecer a luz fria e cinzenta do céu, que a janela da frente te serve?

Escreves qualquer coisa, que te lembre que gostas de palavras e de escrever, quando estás com esta sensação estranha, que te segura e tantas vezes te faz cair, de sentir pequenas coisas, assim como a luz do dia e o luxo de amar incondicionalmente? Esta sensação que te abandona a um café amargo, puro, quente, que já não queres com açúcar, mas mexes com palavras.


terça-feira, 27 de outubro de 2020

 Uma fresta de luz duma cidade emprestada, as paredes escuras dum quarto que nunca nos viu rir ou chorar, uma cama que me é estranha mas me acolhe, com calor. A escuridão será igual em todo lado? A luz não é, mas a diferença não estará no sítio. Provavelmente nem na luz. E esta fresta rasga a escuridão maciça de alto a baixo. E eu pergunto-me onde andarão todas as outras, por finas que sejam, por frágeis que pareçam, podem sempre mais do que sabem... isso sei.

sábado, 24 de outubro de 2020

 
O fim de semana, começo de tanta coisa, do que se quer manter, apreciar, gostar e viver devagar. Quebrar regras também, porque não? Almoçar ao pequeno almoço, alongar a cama até ao sofá, esticar a preguiça com o tempo, marinar a ronha. Mimar o tempo e o mimo que queremos dar no tempo que temos, dar mimo até à terrorista de serviço, que não tem limites à destruição da casa, e que me dá cabo da paciência e das mãos quando tenho de lhe dar palmadas - que de tão dura a bicha tenho ideia que é só a mim que me dói, e a destruição não abranda... mas depois há este mimo, este chegar-se e encostar-se, esta paz, este respirar-me ao ouvido segredos inimagináveis como o de às vezes se tornar um doce ternurento, e fazer-nos duvidar da realidade e da nossa sanidade mental roubada a cada asneirada...Manhãs assim, de coisas nossas se lhes dermos o tempo, a música e a luz necessárias. E assim as tempestades do mundo, acalmam em nós, como esta bicha terrorista, tão tranquila com o focinho encostado a mim, em cima da cama tão proibida de subir... mas é fim de semana, o mundo hoje é diferente cá dentro. É o nosso.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 

Sentei-me aqui para ver a lua enquanto fumava um cigarro destinado a descansar-me a cabeça do dia, a desligá-la. O descanso é talvez desligar o necessário, abandonarmo-nos ao inútil, ao que não tem razões. À lua faltava-lhe estar no ponto pestaninha em que a prefiro, em que, olhando-a, sorrimo-nos. Há certas coisas que são como janelas para alcançar a alma. Às vezes andamos a ver onde pomos os pés, passamos e nem notamos. Não vemos. Não damos pela ausência da alma até que um dia sentimos os danos. Chegamos a casa, e no seu vazio procuramo-nos, às vezes encontramo-nos, olha-se para qualquer coisa que nos sacode, uma visão que nos lembra quem somos, no vazio, na ausência, num céu aberto que nos entrega um fio de luar, e desfiamo-nos. Agora o cigarro acabou e uma manta cobre o céu. Talvez a lua sentisse frio. Ou eu.

domingo, 18 de outubro de 2020

[foto @nicoladavisonreed]

Dos domingos de perder a cabeça...

... os que fazem perder a cabeça quando pensamos no dia seguinte, e aqueles que nos mostram que definitivamente há maneiras tão melhores de perder a cabeça, num domingo pacato... como perder a cabeça em alguém que nos faz esquecer tudo... sem razão nenhuma, só porque sim, porque estar absorve tudo, todo o tempo. É de perder a cabeça, mas entre risos, cumplicidades e corpos, encontrar o resto todo :)) 


Bom domingo 

sábado, 17 de outubro de 2020

[ Filipa Leal ]


Sempre ao contrário.

Entras ao contrário onde devias sair ao contrário.

Pela minha mão.

 Hoje não quero saber de nada que não seja do meu mundo, quero habitá-lo em pleno, degustá-lo, matar saudades, sentir-me eu sem as roupas que nos cobrem e protegem. Hoje não quero ter de me defender de nada. Quero só ser e estar, sem dar conta, porque é isso que mais conta.

[há pessoas que nos deixam, mas o que nos deixam não permite que alguma vez realmente os deixemos. É assim em muita coisa, feliz ou infelizmente, mas neste caso concreto é felizmente a Mafaldinha que não nos deixa. No dia não assinalei essa perda do que Quino ainda nos poderia dar, mas gostei de ver tantas tirinhas da Mafaldinha a povoar os ecrãs - o que nos deu não se perderá e qualquer dia serve para o lembrar.]

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

 

Levantei-me à hora que tantas vezes fechei a luz e ouvi a porta bater, ainda mal o sol tinha pestanejado e eu fechava os olhos a correr, duas horas, para depois ir trabalhar, quase sempre atrasada. Agora é assim, começo onde dantes acabava, apanho dois acidentes e muito tempo de filas. Mudou. Tudo. Para melhor? dou por a perguntar-me, sem saber porquê, entre os carros e os ponteiros do tempo... Não ter uma porta a fechar-se por fora é bom, mas todo o começo disto está a ser arrancado a ferros. Perdida e completamente sozinha, a minha versão amigável está a chegar ao fim, não tem assim muita resistência a maus-tratos (por incrível que isto me soe agora...) e parvoíces atiçadas, se é para partir, parte-se. Não tenho muito a perder. Não preciso disto. Conjugação muito perigosa, esta. Confirma-se, não fui feita para lidar com filhos da mãe. E não tenho pachorra. Estou entre mandar tudo às urtigas ou pegar em tudo e fazer ponto de apoio para os mandar à m... obrigando-os a gramarem-me na minha pior versão... dilemas, senhores, dilemas.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

 

[foto @picsbykimoverpelt]

Este pessoal é quase todo munido duma simpatia assassina... quase que dá para me sentir capaz de candidatar-me a moça com melhor feitio do mundo... ou deste mundinho, vá... Valhamedeus irra...

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Devia aprender francês... nunca atinei com a coisa... 

... admite-se professor, preferencialmente alto e espadaúdo, com sentido de humor - imprescindível - e ainda melhor se versado em algumas coisas francesas tidas por icónicas (não, não falo da torre Eiffel ou afins..)... se conhecerem alguém, avisem, sim? ;))

domingo, 11 de outubro de 2020

 Revisitamos  velhos hábitos por quê, para quê? Procuramo-nos onde nos perdemos, o que perdemos? Talvez seja o último sítio onde ainda estaremos, o último onde nos conhecíamos onde sabemos ter estado, onde pela última vez nos tenhamos ouvido ainda. Depois o silêncio e mapas sem norte. Como se a nossa voz tivesse emudecido, se tivesse perdido de nós. Aqui, ou num momento que foi este mas já não é. E já não estamos. Mas visitamo-lo. Porquê? Para quê?


Munições. O Balthazar (e o Lawrence Durrell) que me perdoe, mas vou pô-lo na prateleira até que Sun Tzu me ensine como não morrer já. O sol está bom, vamos lá afiar os ouvidos para um mundo diferente, que não é meu, mas que vou ter de (pelo menos) atravessar, quiçá fazer casa durante uns tempos. Uma moça tão pacífica como eu.. Valhamedeus.

sábado, 10 de outubro de 2020


Não sabemos mesmo a ideia que deixamos nas pessoas. Algumas vezes surpreendem-nos em verem em nós coisas que não pensaríamos, que nem conta damos, do que fazemos, ou como. É estranho. 
Não esperava aquelas reacções à notícia de deixarem de trabalhar comigo, não esperava. Não adivinhava o que ouvi, ou o que me disseram outros que ouviram. Certo é que cada um contará a sua história e tudo pode ser virado ao contrário. Podem um dia vir a dizer que eu era branda com eles, onde há um ano me pintavam como o terror que levava pessoas a demitirem-se à beira das lágrimas. Cada um terá para si a sua verdade, a minha é que dei o litro e não deixei ninguém ao meu lado fazer o mesmo, sem que oferecesse ajuda. Contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que deixei quem trabalhava comigo no escritório depois de eu sair. Mas acho que lhes ganhei o respeito daquela primeira vez, mal me conheciam, a trabalhar com eles há um mês e pouco, e os defendi em reunião geral quando, pasma, vi que ninguém mais o iria fazer e a tremenda injustiça disso. Tenho muitos defeitos, mas não sou injusta e isso passa também por não deixar incólumes injustiças feitas ao alcance da minha mão. Incrível como uma única atitude, numa única situação, um único momento, uma gota no mar do tempo, pode ter mudado todo o tempo seguinte. Como teria sido se não o tivesse feito? Não sei. Sei que a partir daí me terão dado o benefício da dúvida... daquela dúvida de alguém meio estranho que faz coisas que, como me disseram depois, em todos os muitos anos que ali trabalham ninguém fez, ninguém ainda tinha feito. E eu não fiz nada, tentei não deixar que outros fossem injustos, só isso. E ontem juntei à pena imensa de deixar esta gente, e de trabalhar com eles diariamente, a pena de, afinal, eles também terem pena, me considerarem no fundo. De brincarem em fazerem um abaixo assinado a contestar mudarem-me a função e o sítio, de quererem que “lá em cima” saibam que não gostaram nada disto. De dizerem depois de eu sair que acham que mais ninguém na minha função alguma vez vá trabalhar com eles assim - a ir sentar-se ao lado deles, e resolver problemas e perceber as coisas, que era o que eu ia fazer. E no caminho brincar um tico, animar o ambiente, não sei, se calhar ser eu, só. O mesmo eu que sozinha no escritório suspirava e resmungava, outras vezes dizia mal da vida, muitas antes de atender o telefone pela cagagésima vez com um tom de quem não acabou de maldizer a porr@ do telefonema, e todos os outros antes, que não deixam uma pessoa trabalhar. E houve até quem dissesse que ia sentir saudades dos meus suspiros no escritório ao lado... enfim coisas que não esperava. Que me fizeram sorrir e questionar-me. Já esperava que algumas almas, poucas, me sentissem a falta, mas é gente minha, de antes, e já restam poucos, muito poucos, mas tão bons caramba! Que orgulho tenho neles e no trabalho deles. E de alguns gosto, sou amiga, mesmo, genuinamente. E agora não sei o que me vai acontecer. Mudaram-me de poiso, de função, estou sozinha, não levo, nem tenho ninguém meu. Estou entregue aos bichos, e chamam-lhes tubarões. E tenho medo, outra vez, como sempre, de não chegar, de não ser capaz - de me desiludir, de ser menos do que deveria ou me supõem. E a amostra de ontem deu para perceber que não vai ser fácil, nada fácil o que tenho pela frente. Agora que eu começava a estar bem, que finalmente as coisas estavam a estabilizar, tinham de me virar o barco outra vez? Estou cansada de nadar contra a corrente. Estou mesmo, os últimos meses levaram tudo de mim. Algumas coisas agradeci, outras ando a ver se as cato nos restos de mim, adormecidos, atropelados pelo tempo, ou falta dele. 
Para a semana é uma nova guerra que começa. Lá tenho de olear o arco e flecha...Vou sozinha, sinto-me terrivelmente perdida e desamparada, mas saber que deixo aqui mais esta gente a juntar aos meus, que de alguma forma parece querer-me bem, deu-me algum alento, mas caramba muito mais saudades. Porr@!

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

 
Eheheh... certo!

... Mas se vires que aquela porta não te leva a lado nenhum, ou leva-te onde não te interessa, tenta outra, ou procura uma janela...

Por exemplo esta porta que me leva a estar aqui a estas horas eu dispensava... podiam fechá-la e perder a chave que eu não ia chorar de saudades... Bom Dia! :)

 
[foto @_georgemayer]

Há pessoas, que na sua opacidade, se tornam tão transparentes. Não no que querem, mas no que escondem e como deixam pressentir aos atentos o que serão capazes de fazer para ter o que querem. O que quer que isso seja. E basta isso para revelarem o que na verdade interessa: que não interessam.

Depois há aqueles que parecem mauzões... parecem.

domingo, 4 de outubro de 2020

É bom e recomenda-se ;))

...ainda mais se seguidor de Mae West: 
“Quando sou boa, sou óptima, quando sou má, sou melhor ainda”
Um bom lobo mau é coisa para não se ficar indiferente... ;))
Bom dia, lobinh@s !

sábado, 3 de outubro de 2020

Despir a semana. Dobrá-la e arrumar numa gaveta longe da vista e das mãos, até segunda de manhã, preferencialmente. Deixar a vida ao ar, deixar o tempo deslizar pela luz devagar, esquecer o que foi e o que há-de vir. Enrolar-me numa manta, escolher filmes para ver em catadupa, ou escolher um só filme de fim de semana,  (chamada temporada de uma qualquer série - vi ontem que já saiu a Outlander :)) e além de distrair faz um bem aos olhinhos, que só visto :D) que dure todo o fim de semana, nos intervalos ler o livro de cabeceira na varanda, ouvir chover, ou só deixar-me dormir no sofá de sempre. Passear a bicharada, saborear o silêncio, entrar no Outono a beber as suas cores,  entregar os sentidos àquela lassidão doce que este tempo traz (ou eu sinto)... era tudo o que me apetecia. Ir ao supermercado não estava incluído, despachar mails de outros assuntos que não são trabalho, mas também são, só que diferente, também não, nem andava lá perto, pagar contas certamente ainda menos, fazer as contas para negociar processos seria coisa para estar mesmo a anos luz... Irra que há coisas que se despem mas não há maneira de ficarmos nus.... bahhhhh estou cansada e farta, quero um fim de semana de jeito, e prolongado ”faxabore”... pode ser?

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Será? 
Nunca concordei, e agora chego à conclusão que, se calhar, o que leva é não ter tempo para pensar o que queremos que o tempo leve, ou que seja levado duma qualquer maneira... o que dizem que o tempo leva desaparece muito melhor quando não damos tempo, por não o ter, e nem sequer o vemos passar... talvez porque vamos com ele. Se paramos o tempo de que fugimos apanha-nos. Ou está em nós. Ainda não sei.