domingo, 8 de novembro de 2020


[foto @sarvesh_chaudhari]

Já não escrevo para que me entendam, já não escrevo para falar. Escrevo agora para não falar o que não entendem. Já não escrevo para unir margens, para fazer pontes que só eu atravesso. As palavras já não são rios seguindo o mapa dum mar que cabia num bolso, e nunca saiu do sítio. Agora as palavras são o sítio onde a minha noite tem casa, onde os meus olhos se fecham, onde a alma se abre entre as linhas, é o sítio onde vive o silêncio do inexplicável indizível, do que me é intemporal. As palavras são o tempo onde ainda não morri, onde o futuro é pretérito imperfeito, ou só os dados por lançar, na mão de alguém que não conheço, nem sei, nem sei se quero. 
Já não escrevo para explicar aquilo que, ou se sabe, ou não se lê. Entendes? 
Eu sei que não.

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