quinta-feira, 31 de agosto de 2017





pobres
dos que nenhuma vez olharam
ou foram olhados
assim.

gil t. sousa
falso lugar, 2004

[pobres dos que ainda não sabem que há olhares que permanecem depois de se fechar os olhos, e até que se olha melhor de olhos fechados, que se vê mais profundamente, melhor, verdadeiramente quem amamos. Que depois de se olhar de certa forma alguém, essa forma não desenforma, e sempre que poisamos os olhos, ou a ponta dos dedos, ou os lábios, ou a vida toda nesse alguém, vemos o mesmo. Mesmo de olhos fechados.]

quarta-feira, 30 de agosto de 2017



Toca "she" na rádio e esta luz, depois do sol se aninhar atrás do horizonte à procura doutro dia, é deliciosa. A luz desta música é esta, se tivesse de a pintar, e soubesse, era esta. "She is the reason I survive"... ora bolas, lindo.
E não há como os planos para seremm furados, telefonema, passar noutro lado... Não me apetece e aqui também já tarda, daqui a nada os últimos fiapos de luz cosem-se à noite, restam só as luzes da cidade a compor a paisagem e o tempo. E é nestas alturas que só mais um cigarro se torna a desculpa perfeita para a imobilidade. Desculpas...
[imagem @jesuso_ortiz]

Porque o dia acordou em mim quando ouvi esta música.
Porque me fez o olhar em flor de bem-me-quer e a pele em paixão de agarrar 
...e o corpo, o corpo, ondula-se e sorri, porque esta música tem esse efeito em mim. Ainda, apesar dos anos e de eu ser miúda das primeiras vezes que a ouvi. Ou talvez por isso mesmo.


Bom Dia

terça-feira, 29 de agosto de 2017


Começar o dia na esplanada costumeira, o que não é costume. Uma prenda que tinha de ser comprada, a iniciação para os mais pequenos de um autor que não é dos meus preferidos, mas que é larga e profundamente apreciado. O próximo será, espero, de alguém que gosto. Temos de deixar que os outros tenham opinião e devemos ajudar a que se forme, dando acesso à variedade e deixando-os depois ter as suas preferências, as suas escolhas. Que podem não ser as minhas. A liberdade é isso, poder escolher - respeitar a liberdade (que enche tantas bocas...) é respeitar as escolhas e, acima de tudo, deixar escolher. E eu, que não tenho no conceito de liberdade uma bandeira indiscutível sem fronteiras, como pareço perceber em tanta gente (que depois até nem sabe respeitar as escolhas dos outros ou o direito a elas...),  tenho este princípio por fundamental, que muitas vezes me tem saído caro.
Hoje o dia começou de maneira diferente, e é bom quando os dias iguais começam assim, no meio dos livros e com um café diferente que dá os bons dias a quem já escapou por um triz... e eu acrescento desde que não seja da vida. Dessa convém não escapar, e por larga medida ;)

Bom dia.

domingo, 27 de agosto de 2017


... cheira a mar.
Cheiro o mar
Mas não cheiro a mar
Ondas ondulam beijos na areia
Enrolam e desenrolam à minha frente
Embrulho-me de pés secos 
Entro no mar 
Esqueço onde deixei os pés.
Verdade.
As pessoas ficam-nos pelo que nos fizeram sentir, bom ou mau. Quando é bom, muito bom, viciamo-nos nessa sensação e procuramo-la depois nos cantos onde já não estamos, e depois disso onde gostaríamos, ou pensamos, que poderíamos vir a estar, mesmo sem sabermos onde ficam.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017


Ahahahah

Depois de ler isto, dizer à tracção às quatro lá de casa, em volume sonoro generoso, que asneiras fez e que não pode voltar a fazer, e as caras que ela faz, tudo ganhou uma nova dimensão... :D

Bom Dia!

quinta-feira, 24 de agosto de 2017


[foto @tarasovm]

Às vezes acho que os homens preferem ficar com criaturas que precisam deles para mudar lâmpadas do que simplesmente para conseguirem ser mais felizes. É mais fácil saber quando a lâmpada está fundida e é preciso mudar, do que manter acesa (sem se saber como) a felicidade no olhar de alguém.

Bom conselho, autêntico ouro sobre azul. 
Resta conseguir, e saber, como fazer tal proeza a todas as horas, nas horas que as coisas boas nos vêm misturadas nas memórias que acordam sem razão, nas horas que sem querer um sorriso se lembra de voltar a sorrir quando ouve uma música, quando passa naquela curva que tem aquele beijo de berma de estrada a meio duma viagem, quando se ouvem expressões (as vezes silenciosamente, só com a cabeça a brincar connosco), que eram a nossa língua e isso me inquieta e nem deus, qualquer que seja, me vale... Nas horas em que a tristeza aperta, ou a incompreensão rasga horas a fio, ou a noção clara da desconsideração gritante, aí é fácil, aí nada-se nesse azul a braçadas longas e vigorosas. Até nos sentimos renascer. O pior é conseguir sequer molhar o pezinho quando o que foi bom, por artes de memórias e outras magias, nos inunda, nos afoga a razão e nos traz ancorado o coração. Estúpido.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017


[ foto @tarasovm]

Já não me lembro da última vez que almocei sozinha, e faz-me falta o tempo sozinha. O tempo de ter longas conversas comigo, com as minhas palavras. Tenho-me agora demasiado sem palavras, sinto-me falta nisso, disso, e fico pior quando leio coisas antigas, onde parecia que as palavras me encontravam, me diziam exactamente na correcta e desmedida medida em que não me sei conter, como uma veia da alma que me alimentava e, ao mesmo tempo, me purgava . Agora é como se não achasse a ponta do novelo, como se ele me fugisse a cada tentativa, como se as palavras me escorressem do olhar sem as ver, e com isso o novelo se intrincasse cada vez mais. Cada vez mais em dias cada vez mais planos e lisos.
Ponho-me a pensar no que tenho a fazer, no lado pragmático da vida, nos afazeres das mãos que prendem a cabeça, e parece que isso me leva sempre à encosta sombria da vida, onde a vida é mais escassa, ainda que a frescura da sombra se possa desfrutar melhor, falta-lhe muita coisa. Falto-me demais e gosto-me menos assim.
Hoje há empresa, e depois supermercado e depois casa e varanda. Ontem adormeci na varanda, pela brisa da noite com o dia cansado esgotado no corpo. Acordei, despi-me e assim me enfiei nos lençóis, só eu e o calor que o corpo tranca sem deixar que outras mãos o respirem, o transpirem. A pele nua, só vestida de mim, de alma desabrigada em solidão. Este corpo que sinto cada vez mais meu, cada vez mais eu. 
Onde ando eu que me perdi de mim onde agora me acho mais eu?

segunda-feira, 21 de agosto de 2017




"Non! Rien de rien,
Non! Je ne regrette rien.
Ni le bien, qu'on m'a fait,
Ni le mal, tout ça m'est bien égal!

Non! Rien de rien,
Non! Je ne regrette rien.
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!"

Não, não sou moça de arrependimentos. Tenho muita dificuldade em olhar para trás e identificar algo de que me arrependa. Não costumo fazer nada importante assim tão irreflectido, por puro impulso, por isso tudo o que fiz sei porque o fiz, e sei exactamente qual a razão que me levou a fazê-lo, mesmo aquelas coisas em que terei chegado à conclusão estarem erradas, mas essa conclusão é posterior, é estando depois em posse de mais informações, que não tinha quando decidi, quando fiz o que fiz a cada momento. Por isso não há como me arrepender, não há como criticar as minhas decisões à luz do momento em que foram tomadas, ou melhor, eu não as critico, certamente haverá muito quem critique e fizesse diferente de mim, mas eu, eu fazendo o meu balanço, não me arrependo; e a única crítica que geralmente me faço é de acreditar demasiado nas pessoas e de me dar inteira quando me entrego a alguma coisa - sem me proteger, como me dizia alguém há dias. 
Não me arrependo. As coisas mais estúpidas que fiz na vida foi por amar e acreditar que se pode amar sem razão, sem esperar troco contado ou por contar - até sem esperança. Dar, porque nada mais nos faz sentido senão sentir, sentir mesmo sem rótulos, sem querer, ou sem ter por onde fazer caminho que nos leve a algum lado. Amar só por poder amar, poder entregar o amor imenso que nos cresce por dentro quando olhamos alguém. Sentir só, e acreditar que também sentem, e isso ser a única coisa que faz sentido, e a única de que não é possível alguém se arrepender. Ou pelo menos eu. Por muito que tudo para trás tenha doído, por tudo o que terá sido, e ficado, incompreendido. Por muito que tenha matado em mim tanta coisa e tornado amores possíveis em impossíveis por insuficiências várias. Ainda assim, fui sempre eu, disso não há como me arrepender. O que sobrou fui também eu - este eu. Desfeito, refeito, demasiado imperfeito. Mas eu. Para o bem e para o mal. Da próxima vez serei eu também, mas espero que desta vez para o bem...


[foto @omomarts]

Bom dia!
(é tão bom quando o nosso dia começa à hora que se quer, em que os lençóis navegam a pele até que ela acorde, quando finalmente o sono nos larga o corpo, quando a ronha já se esgotou devagar e docemente como quem se espreguiça de vida... e o dia se emaranha no olhar sem pressas.... Há um sorriso que nasce na pele e se reflecte no olhar... podia ser sempre assim, não?)

sábado, 19 de agosto de 2017


Eheheh...
A constatação do óbvio... com muita piada. 
Haja sentido de humor.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017


... é tão bom estar longe, dizer muitos disparates, discutir ideias e rir e fazer (muitas) tontices... faz-nos sentir mais o que somos e quem somos. É bom conhecer gente diferente, alguns que podem ficar para a frente, outros que pertencerão sempre a estes momentos. 
Noites boas, tropicais, exóticas, do calor que se cola a pele e escorre gargalhadas e conversas que nos depuram a essência. As essências. O tempo que pára sem nunca deixar de correr (demais).

terça-feira, 15 de agosto de 2017


Pausa para café, descanso e galhofa. 
Depois lê-se isto:
"Coffe and love are best when they are hot" 
True.
;)

domingo, 13 de agosto de 2017

 Banho tomado... cabelo molhado, e um cigarro a sós... há dias que não tenho este luxo...um bocadinho de mim para mim.
... Estou cansada e o calor aqui é de desfazer ossos, acabei o cigarro, o cabelo está quase seco, e esta deusa continua a olhar para mim tanto como olho para ela, mas não há comunicação. Às vezes há olhares que não se entendem, se calhar são só vazios e não têm nada para dizer, mesmo que pareça que sim. Não são feitos no mesmo mundo.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017


... fazer das feridas 
cicatrizes com estilo... 
... e (ainda) ganhar espinha!!   ;)

Bom Dia!

quinta-feira, 10 de agosto de 2017


... e é isto.
Como típica tuga...

Bom dia!
Deito-me na minha varanda, embrulhada numa manta quente de histórias, 
e ponho-me a contar as estrelas que não vejo.

(E talvez a vida sejam apenas diferentes versões disto)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

segunda-feira, 7 de agosto de 2017


As nuvens vão-se desfiando enquanto dançam a música do vento. Parecem fumegar nesse desfiar de movimentos sobre o azul onde as estrelas, agora adormecidas, se escondem na luz.



... às vezes acontece-me surpreender-me num espelho inesperado e não me reconhecer logo, como se a imagem que os outros vêem de mim - quando a vejo -não pareço eu. 
Eu, que me vejo só no avesso da pele, em pensamentos que se falam para dentro, em coisas que não saem desta caixinha que é o corpo, que guarda a alma e a expande com todos os sentidos da pele, tudo aquilo que nos identifica como pessoas e, principalmente, para nós mesmos - aquilo que não se vê. 
É como com a voz, quando ouvimos a nossa voz gravada nunca parecemos nós - ou melhor, nunca nos parece a voz que temos por nossa. A mim, com o corpo, com a aparência, acontece-me o mesmo. Acontece-me olhar para um espelho fora da órbita normal, ou fora da órbita da minha atenção, e, quase em sobressalto, dou conta que sou eu. Muitas das vezes a surpresa não é boa, mas essas vezes curiosamente não me chocam muito, já as outras sim. E hoje aconteceu isso, com a luz rasa de fim de dia, com o sol já a abraçar o horizonte, com aquela luz dourada que acalma o meu próprio horizonte, dei pelo reflexo de mim no retrovisor do carro. E gostei. Gostei da cor, gostei do cabelo caído em desarranjo, gostei da simplicidade do fio que tem a esfera precisamente numa covinha que gosto - havia um filme que me marcou, um dos filmes da minha vida, que falava precisamente nessa covinha, não naquilo que alguém chamava de saboneteiras, também elegantes, entre o pescoço e os ombros, não, era aquela covinha singela de que ele não sabia o nome e não sabia como seria possível um lugar tão bonito de feminilidade não ter nome, e que no filme ele reclamava para ele. Nunca me esqueci da covinha do filme do paciente inglês.
...Gostei de ver a imagem do espelho e afinal era eu. Curiosamente era eu, estranhamente era eu. Não que fosse uma imagem muito bonita, ou marcante, ou de assinalar, só me surpreendeu ser eu. Havia qualquer coisa que eu gostava ali, e que depois, analisando mais atentamente, era algo tremendamente meu, e melhor que isso, eu gostei dela... a simplicidade, a pele nua, as orelhas despidas, o cabelo despreocupadamente caído com a espontaneidade do momento. Muito eu, e incrivelmente, era mesmo eu, acabei por registar o mais próximo da imagem que vi no retrovisor, porque me passou tudo isto pela cabeça. Porque às vezes não me pareço o meu corpo e não me reconheço nele. Outras sim, outras ainda, depois de o reconhecer meu, gosto, pelos motivos mais estranhos, nas alturas mais improváveis, como ir há dias de jipe (sim, acho que sou mesmo mocinha de jipe, ando a pensar cada vez mais nisso e na quantidade de coisas que eu não tinha descoberto de mim), com o meu irmão, acabado de chegar, ao supermercado da vila a uns Kms de distância. 
Gostei. Estranho, hum?

Bom dia!

sexta-feira, 4 de agosto de 2017


-Quem és tu Zé Gato??
-.....

(Mas o que é a criatura está a fazer à minha cauda?... estou tramada...)

...olha também eu. Está visto. Não me safei. E agora estou o protótipo da cota-encalhadinha-mor... filha, cadela e gata. Sim... tudo meninas, parece que esta casa não aceita machos... parece o destino a falar alto.

Bom dia!

quinta-feira, 3 de agosto de 2017


Ahhhhhh já tenho saudades...
Dolce fare niente...
E sabem que mais? Não me safei. Estou metida em sarilhos... eu não bato bem, cada vez tenho mais provas disso... valhamedeus e a minha santa estupidez...

terça-feira, 1 de agosto de 2017