[ Lawrence Durrell, in O Quarteto de Alexandria - Balthazar ]
Será? ... as coisas não ficam incólumes ao tempo, às intempéries da vida, à ausência demarcada e à solidão, ainda que escolhida. As coisas não ficam simplesmente com as extraordinárias melodias guardadas até ao dia em que, face à visão do piano abandonado, se queiram de novo ouvir, tocar, viver. As coisas por mais maravilhosas que sejam, ou essas ainda mais - sim essas ainda mais -, são sensíveis à dor, ao abandono, à traição que toda a falta de lealdade, e de verdade, revela. E se não forem, bom se não forem, são maravilhosamente superficiais e supérfluas, são cantiguinhas que se trauteiam para preencher o silêncio, sem o ofuscar. Não se guardam em pianos destinados a grandes partituras, e que nos lembram experiências maravilhosas e, às vezes, as dores rigorosas que se seguiram. E depois disso, ainda que o piano seja o mesmo, nada soará igual.
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