domingo, 28 de fevereiro de 2021

 Hoje o dia, depois de dar uma nega a um convite para caminhada comprida que não me apetecia tão cedo, mas ficando a pensar nos convites reiterados a Barcelona... e depois de dormir mais um tico, porque afinal é domingo!... começou assim, com música e com o cruzar-me com uma entrevista antiga do Lobo Antunes, homem que me desconcerta sempre, pela ternura infinita a par com a brutalidade crua de reacções e palavras. Assim, nesta conjugação improvável (será improvável? mesmo?) que me deixa sempre um sorriso e a vontade de pela vigésima vez tentar começar um livro dele onde eu consiga entrar. Adoro as crónicas, como toda a gente, mas os livros, os livros são outra loiça, e nem todos acho que chegamos lá. Eu ainda não, ou talvez eu não seja das que têm essa chave diferente para aqueles livros. Fiquei com vontade de comprar as crónicas para ter dele o que mais gosto, essa ternura que tão bem se absorve nas suas crónicas. Adorei as cartas de guerra "Neste viver aqui neste papel descripto" onde se vê o ser humano, a intimidade, a alma de alguém. Era capaz de me apaixonar por aquele homem, não tenho dúvidas, e o entanto esse seu mundo fechado nos seus livros, não se abriu para mim, e talvez nunca venha a acontecer. Entretanto rebaptiza-se a música "Sometimes never" e dança-se sem saber de nomes, ou de idas ou de voltas, de nuncas ou de sempres, dança-se e pensa-se nos mundos que todos encerramos, nos que nos estão vedados e nos que queremos escancarar, e abanamos a alma mais um pouco, ao som duma música que ouvimos que ninguém garante que seja exactamente a mesma, a minha filha ouviu mas terá ouvido o mesmo? :)

sábado, 27 de fevereiro de 2021

 

Uma tarde inteira de varanda, desde o sol muito quente até agora onde o calor suave, e já distante, vem da cor derramada no céu pelos olhos dentro. Uma tarde de ler, de música, de pintar unhas, estragar e desfazer tudo. De ver cruzarem-se dois casais de gente que já foi nova há muito tempo, de se cumprimentarem e trocarem duas frases, cada casal de mão dada, os únicos que vi assim, a passear unidos pelo compasso do andar que não desfaz o abraço das mãos. Talvez já não se use (ou agora se use só para inglês ver, quem sabe). Talvez eu também esteja fora de moda, talvez também não se deva parar a leitura para ver quem passa de mãos dadas. Talvez. Ou talvez certas coisas façam parte da leitura que gosto, da música e das cores... talvez, não sei, mas também não quero saber.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Acordei a correr, e cedo. E quase me esqueci. Lembrei-me agora, de chávena na mão a olhar lá para fora. Não sei porquê. Talvez porque tenha sido na rua, e eu não sabendo onde, todas as ruas se parecem. Ou porque na minha cabeça não me terá parecido longe de casa - e isto poderá ter um qualquer significado oculto, será? Mas, olhando para a rua em frente, que desce, lembrei-me, essa rua onde nos encontrámos não descia. Eu ia sozinha, o passo um pouco acelerado, quase com ar decidido como me dizem ter. Sentia a brisa fria na cara, ou isto já serei eu a romantizar, porque algo me faz lembrar, ou dá a sensação, que não era verão, não era um dia animado de pouca roupa. Não dei por mais ninguém na rua,  não sei de onde aparece ele, ou por que artes, não sei, caiu de pára-quedas duma nuvem, sabe Deus. Só sei que de repente aparece à minha frente e me espeta um beijo. Eu sei, é esquisito, eu também achei, mas só depois de acordar, no sonho foi só inesperado e como que surgido do vazio (curiosas as palavras que me surgem enquanto escrevo isto...). Infelizmente também não foi reconhecível, não sei quem era, nao faço ideia, não o conheceria, não sei se completo desconhecido ou nao - era um personagem sem rosto definido. Uma coisa que ele tinha bem definido era o beijo, de alta definição e bom, tanto, que se calhar demorei mais a reagir por isso mesmo... aquela fracção de segundo que o cérebro pensa... mas que é que eu estou a fazer? E afasto-o a tempo do beijo roubado não me roubar de mim, e bruta “então? mas que é isto???” Ou qualquer coisa do género. E tenho pena, tanta pena, não consigo lembrar-me o que respondeu, não sei a frase que usou... não sei se não me lembro ou se nos sonhos às vezes o que é dito é irrelevante, ou melhor, as palavras são, mas não a mensagem. E nos sonhos, independentemente das palavras a mensagem é entendida, e é aí que os sonhos falam- na maneira como nos fazem sentir no que se passa naquela pequena curta-metragem, por inacreditável ou inverosímil que nos pareça o argumento depois de despertos, porque durante os sonhos nada nos parece impossível. Por isso, talvez a frase que terá sido dita seja irrelevante ou talvez não seja possível a minha própria cabeça fabricá-la ou impediria a minha reacção... o que ele disse surpreendeu-me, e de tal forma, que me desatei numa gargalhada. Achei-lhe genuinamente piada. Tinha tido uma saída fantástica, com piada, inteligente, e eu rendi-me, gostei. E foi com esta sensação que saí a correr da cama, já atrasada. Ele não era giro, ou pelo menos isso não ficou registado, não tinha um rosto definido, não há registo que tivesse olhado para ele e tido qualquer reacção, não. A única reacção foi pelo que disse, pela maneira como o disse, pela audácia de me roubar, assim, um beijo, e aquele ar gaiato e sem idade que certos sorrisos têm, mas carregados com a força intensa de certos gestos, na certeza de alguma coisa. E este conjunto, esta coisa embrulhada num beijo ficou-me até agora, depois da reunião fechada, do pequeno almoço atrasado, e do resto da vida a correr paralela num rio qualquer que chegará ao destino. Eu, agora, estou ali, no sonho de que acordei.

E se, de repente, um desconhecido te roubar um beijo, isso é... um sonho :))

( e se realmente se parecesse com este moço aqui de cima, realmente, teria parecido (ainda) mais um sonho)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021


(...)
És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.
(...)

Miguel Torga

és tudo o que não existe,
a não ser quando estás,
quando estás, tudo é possível
impossível, só não estares
e não estando tu, tudo é impossível
as pedras riem como tu,
a pele roga a deus
que lhe mate os instintos
e a fome, de que se quer faminto
contenta-se com pão
como alimento de um sonho
que não existe.
como tu.



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 Ahahahahah

É sempre bom começar o dia com coisas parvas destas!!

(e é muito boa esta!!!...)

 

Acabei o Quarteto (O Quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrell). Deixo aqui, para mais tarde recordar e reler, os dois últimos trechos que me mereceram dobrar o canto superior da página. Este último “Clea” tem várias páginas com o mesmo tratamento.

Gostei daquela ideia de se ir mudando o penso à ferida até ela sarar. Talvez haja coisas realmente assim, e têm o seu tempo. Não se encurta, nem se prolonga além da cicatriz. Já a ideia que o futuro arranja maneira de modelar-se, nascer do vazio, acredito nisso, ou talvez não seja tanto crença, mas instinto de sobrevivência. E experiência empírica, até. E a pergunta... será que se pode gostar mais do pensamento de alguém, do que a sua presença física? Será? Que as palavras são mísera consolação, já sabemos, e acrescento outra frase, tão boa, doutra página assinalada, também deste último livro:

“As palavras são apenas os espelhos dos desenganos; 
contém em embrião todos os desgostos do mundo.” 

E eu, que gosto tanto de palavras, da sua dança, das suas imagens, das tantas mensagens que podem descoser as suas linhas, e da beleza disso tudo - de como pode ser sublime essa comunicação, esse código -, serei talvez um alvo privilegiado, facilitado. E, no entanto, curiosamente, hoje dei por mim a olhar para os bichos cá de casa, e a pensar exactamente isso. Sem palavras temos de aprender a conhecer o outro pelos gestos, pelas atitudes, pelas teacções, e através dos silêncios. A observar o outro, a comunicar com menos enganos e ruídos, duma forma mais genuína, mais verdadeira - mais reduzida ao essencial, e o essencial é o mais difícil de verbalizar, mas não de comunicar, não? Mas então à distância... não se pratica, né? O resto são ruídos... ou podem não passar disso.

Gostei mais dos últimos dois quartos do quarteto, sem dúvida nenhuma. Foi em crescendo esta leitura. Venha o próximo! Já me apetece e já sei qual ;)

domingo, 21 de fevereiro de 2021

 E hoje o shuffle trouxe-me isto, precisamente quando o meu olhar se despedia das cores do sol no horizonte, à hora que mais gosto da minha varanda, da minha sala - quando as cores aquecem a alma, tanto quanto o olhar. E gosto da música, da sonoridade, e da envolvência de sensualidade e meio-pecado que a embrulha, nessa confusão que (só) pode ser deliciosa e fatal... tudo tem o seu preço.


 Será?

Será que hoje o sol não se desmente?

Será que hoje vamos conseguir fazer uma passeata até ao jardim? Será?

A pintarolas já está farta de estar em casa, mesmo ao meu colo, quentinha e com mimo,  já anda tristonha. Não gosta de filmes e as frases de livros que às vezes paro para pensar mesmo que lhas leia, é com aquela displicência  no focinho que acolhe as palavras. Não consigo perceber se ela já percebeu tudo há muito tempo, ou se não há nada para entender, porque as coisas não são feitas para entender, mas para viver. E isso é só sentir... e ela sente que precisa é de esticar as pernas e respirar o lá fora, o imenso, o sem portas. Com ou sem sol, mas com sol é mais quentinho e luminoso :) mas antes tomar um banho rápido (mais ou menos, vá) e trincar qualquer coisa. Sol, não desampares já o nosso pedaço, sim?

sábado, 20 de fevereiro de 2021


"And is he dark enough? Enough to see your light?"

adoro.
adoro isto.
a letra - tanto. a música.
a melancolia. 
a angústia, limada, quase desespero a desespero, 
em esperança.

"And is he bold enough to take you on? Do you feel like you belong? And does he drive you wild? Or just mildly free?"

enquanto o tempo corre 
como a chuva cai miúda, mole e fria 
por cada janela, por cada caminho, por cada dia.
cai bem com este tempo. 
fala a mesma língua.
que eu entendo fluentemente

"What about me? What about me?"

 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

 

Acho que vou fazer um poster... assim para, sei lá, me dar alento, inspiração até. Fico aqui a olhar para isto e penso... sim senhor, era mesmo isto... mas não... olho e não, era bom pois, mas nunca vai acontecer... nunca vou ter uns abdominais destes... vá, pronto, também não era preciso tanto, eu não sou moça de exageros... mas há coisas em que é muito melhor ter mais olhos que barriga, né?

... e pronto agora vou ao meu ioga, acalmar a respiração e trabalhar para um corpinho zen. Ou sonhar, pronto, que às vezes é preciso uma ginástica do caraças para isso oh oh...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

 De repente senti muito a falta de música. Percebi que andava a ouvir pouca música, sem as viagens já nem rádio oiço. Então nos últimos dias tenho-me desforrado no Spotify para pobres. A minha filha, na sua ironia sarcástica adolescente, até me perguntou se eu tinha descoberto a coisa com este confinamento... é tão engraçadinha a miúda... mas enfim, tenho ouvido música, e incrivelmente tenho feito todos os dias - com custo e combatendo a preguicite aguda que me assiste - uma meia hora de exercício, ou como diz a minha filha uns “Workouts” na aplicação que ela usa, e que sendo para pobres ( há quem alegue forretice), eu também passei a usar. Ora basicamente acho que estes dias de férias, ou pseudo-ditas, deram para isto. Se me distraio e continuar assim, ainda chego ao fim do confinamento, não digo que a tempo da praia, mas a tempo de empurrar muito melhor o andarilho quando isto acabar... na altura não sei se ainda terei ouvido para conseguir ouvir música (ou o que quer que seja)...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

 As noites são tão calmas agora, sento-me aqui, enrolada na manta sem frio e sem céu, depois duma tarde acelerada e corrida. Nem tudo correu bem e há uma angústia ansiosa que se instala e teima em não me largar. Olho para a televisão mas é quase ruído de fundo e desisto. Venho fumar um cigarro e dissecar a angústia, o dia, a responsabilidade. Mas não sei tratar isto, nunca soube, talvez por isso procure tanto uma tranquilidade que me é tão cara, que me refunda no mundo. Às vezes parece tudo tão complicado, e normalmente importa tão pouco. Tenho consciência disso. E respiro fundo mas no fundo está tudo igual, ainda não domestiquei a insegurança, a ansiedade, a angústia por coisas pequenas. Ao menos isso a idade, os anos, deviam devolver-nos... uma espécie de que se lixe, fiz o melhor que pude, e uma certa inconsciência apaziguadora que anule os graus assassinos de exigência a que nos submetemos, ou melhor, que nos impomos. 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

[Lawrence Durrell, in Clea, O Quarteto de Alexandria ]

 Começar o dia a ler a vida como devia ser pensada. E pensar que vou ter pena de acabar este quarteto, e diria que a segunda metade é a melhor. Espero que com a vida também seja assim. Por já termos mais de tudo o que se passou, por percebermos melhor que todas as verdades são perspectivas sobre factos. E que primeiro é preciso saber e “compreender inteligentemente” o que se quer da vida, e depois tentar encontrá-lo sem o procurar de facto...como os acasos que nos acontecem e que talvez estivéssemos, sem saber, à espera e desejosos que acontecessem. Mas aqui, a magia é o esperar “sem saber”, não consciente ou inteligentemebte, ao contrário do saber o que se quer. Já a sabedoria é a consciência que o maior obstáculo somos nós, como nos boicotamos tantas vezes, curiosamente, da perda de algo de que abdicamos à partida para o evitar. Irónico, não? 

Segundo dia de férias em confinamento. Semi-ferias, porque mandam-nos de férias mas pedem-nos para trabalhar, curioso não é? Inteligentemente não sabem o que querem ou sabem?

 ... Respira fundo no silêncio. 

E o que vês?

O que vês na tua escuridão?

Vês que te ilumina? O que queres, desejas, procuras? Ou o que te ensombra,  que temes, de que queres fugir, esquecer, evitar? ou as duas coisas, que pode ser só uma?

O que quer que seja que vês, é o que mais tens por dentro, e te persegue.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

[imagem @virgola_]

 Uma pessoa não sai de casa e nem se apercebe... Depois senta-se aqui sonda as redes sociais e lá compensa o esquecimento... é dia dos namorados. Pois é, portanto aqui deixo esta imagem, que de todas as que vi por aí, foi a que chamou o meu nome por dentro... Realmente esta coisa dos cabelos brancos, dos anos que passam pelo corpo, do navegar calmo da alma que o corpo guarda num mundo diferente, onde o tempo não se mede em dias, ou em anos, mas em dores, em angústias, desilusões, e também saudades, felicidades, alegrias e risos, talvez me esteja a mudar a graduação dos óculos com que vejo o mundo. Mas curiosamente continuo a querer as mesmas coisas, e a acreditar que são as certas, que para mim são as certas. 

Também é curioso ver como as pessoas vão chegando às mesmas conclusões - é tudo tão fácil quando nunca se sentiu a alma penhorada por um sentimento que não controlamos, não é? o pior é depois... - , quando passam por coisas, que se entranham e se plantam na alma de tal forma, que depois se tornam raízes de todo o alimento dos sonhos. É curioso também ver que alguns estão a começar a percorrer um caminho que eu já pisei, descalça e sozinha, e que o reconheço, agora de fora. E sorrio uma tristeza madura, agradecida por já ter os pés cicatrizados, e angustiada por imaginar as dores que os outros de o percorrer, quanto a isso nada haverá a fazer (se for mesmo esse o caso, talvez não, talvez corra bem, às vezes corre não é? e quando corre mal nem todos sofrem no mesmo grau), mas ao menos penso que não terão de o fazer sozinhos. 

...Mas nada disto é para os namorados de hoje, para esses só o desejo de que pratiquem muito :)) namorem - e com vontade -  hoje e todos os dias, mas hoje têm (mais) uma desculpa para fazer uma coisa qualquer gira, uma surpresa, uma brincadeira, uma cumplicidade a dois, que só vocês sabem e guardam no meio das casas agora cheias de gente... vá pode ser giro, a sério. :)) brinquem muito uns com os outros, riam-se, namorem, dêem muitos beijos, aproveitem o colo e o sol, passeiem de mão dada abraçados no silêncio confortável do amor. :)

Sejam namorados felizes, em vez de querer um dia dos namorados feliz à custa de fretes.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

 Que cores...

E o sol, meio envergonhado, a esconder-se atrás dos ombros da cidade...




contento-me com coisas
pequenas que de repente se tornam
muito grandes onde nem sei
de mim nem quero

Bénédict Houart


É tão bom não saber de nós, e mais ainda não querer... leio isto, e é o que sinto. Não saber de mim é não me pensar, não me duvidar, não me olhar ou procurar. E isso soa-me a paz, a tranquilidade, a sossego de alma. Uma calma estúpida, sim, por vir de não ver, não me confrontar,  e não de ver que gosta do que se vê - é uma diferença abissal, em tudo, perspectiva de vida, exigência própria, cobardia, carácter.
Mas esta sensação que nos toma de pequenas coisas que nos conquistam inteiros por momentos, nos abarcam e fecham num momento, em que tudo o resto se resume a nada é um oásis no deserto dos dias. E aí, nesses ínfimos momentos de infinitude, não sabemos de nós, mas sentimo-nos inteiros (talvez por isso), e então não pensamos em querer mais nada. Para quê? 
Há coisas em que mais, estraga :) 

... quem nos dera pequenos infinitos todos os dias.

(e ao escrever isto lembrei-me dos pequenos absurdos de O'Neill. é que precisamos todos, e às vezes chega para salvar).

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

 Hoje sonhei que estava a ficar com o cabelo branco. Estava ao espelho e constatava que aquela meia dúzia que me acompanha há uns anos se tinha multiplicado, que começava realmente a notar-se, isso de estar a ficar com o cabelo branco. E olhava e olhava e não sabia bem o que pensar ou sentir, mas na verdade quando acordei o que achei curioso foi que não punha a questão de o pintar. No sonho, isto é. E depois, acordada. Devo ter pintado o cabelo, até hoje, umas três vezes e sempre por curiosidade de como ficaria, e sempre temporário, com produtos que vão saindo com a lavagem. E fiquei a pensar, será que daqui a, sei lá, um ano vou ter de começar a pintar o cabelo? Então e se não pintar? Tenho pouco e fino e se ele desiste de mim com essa ofensa? Humm...? E depois? E agora, enquanto o almoço faz plantei-me à frente do espelho, e a verdade é que já tenho uns quantos, e vários compridos, do tamanho dos outros, dos que não são ovelhas brancas... acho que ainda não se nota, mas eu já noto qualquer coisa... uma relutância em negar o tempo, mas o tempo o dirá. Negar o óbvio torna-se muitas vezes apenas ridículo, outras revela-se uma necessidade. Às vezes acumulam-se as duas... Por enquanto acho que olho para o facto - e ele para mim - com um olho aberto e outro fechado, entre o espanto e a naturalidade, a incredulidade e a aceitação.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021



COMÉDIA

Vazio. Queixa-se
de vazio.
E nisto esvazia o outro
tão cheio
disto tudo.

Daniel Jonas


Vazio é um sítio onde deviam estar coisas, ou que já estiveram. O mais difícil é esvaziá-lo, reduzi-lo a nada, à ausência das ausências, das faltas, das falhas. Ao pré-vazio. 
O verdadeiro vazio está cheio de coisas a lembrarem de o lembrar.  E não sem o sentir todo - tudo o que nos desgasta, nos esmaga, nos enche e falta -, atravessa-nos a alma até aos ossos, despojada de tudo menos do que a queríamos esvaziada. 
Uma gota de água no vazio pode transbordar. E é a ironia que faz o riso.

domingo, 7 de fevereiro de 2021

[não sei de quem é a foto, mas apaixonei-me por ela, e sei dum sítio onde ficava bem, assim a preto e branco e em dimensões generosas, pendurada na parede ]


Domingo. A amálgama de ternura que a paixão deixa nos corpos, esparramados e estarrecidos. Embrulhados e envolvidos em silêncios como hinos ao amor, diálogos inconfessáveis e inexplicáveis, orações de pele a um deus só nosso. 

Há dias - ou momentos até, que são como dias inteiros -, que não se explicam, onde cabe o tempo de gostar e desejar, pleno, inesgotável, que correm a vida toda, imóveis, completos. Como se amanhã fosse outra vez domingo, por momentos, e sem ninguém saber. Ou daqui a pouco, entre ir deitar o lixo e ir buscar lenha. Ou entre uma linha que se lê e outra que nos perdeu. 

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Uma esperança disfarçada de lobo.
Não será a vida toda isso?
Querermos ser o que sendo, nunca somos,
a não ser quando alguém nos mostra, nos sente, nos prova, nos é.
E é tão difícil e assusta, o sermos melhores, o sermos o melhor que poderemos ser, mas sê-lo apenas na entrega. Mas parece a única esperança, se dobrarmos o lobo. 
[foto @ezgipolat]

Quando lês a palavra amor em quem é que pensas, sem saber que pensas?  Quando te falam de colo, onde vais parar sem dar conta?  Quando ouves a palavra riso, quem é que aparece, na tua cabeça, a rir ?  Quando vês um beijo, que boca sentes na tua?  Quando, à noite, fechas os olhos com quem dormes?

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

[foto @wieselblitz]

 Aiiiiii que sono...

Esta coisa de estar metade em layoff mas trabalhar o mesmo não é bonito, é só parvo. Acordo com a sensação que não, nunca aprendo. Bem ou mal, as pessoas mudam muito pouco. E o meu sono não muda nada.... porque é que só gosto mesmo de dormir de manhã? ... que raio! Ontem à noite podia ter ido para a cama cedo, não era?...mas não, não apetece. Apetece é ir agora...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 ... porque temos de ter qualquer coisa que anime, e dizem que uma imagem vale mais que 1000 palavras (mas eu acho que é mentira, é o gesto que vale isso tudo e mais)

... porque há coisas em que vale a pena arregalar as vistas, e fechar os olhos.

... porque adoro mãos, mas gosto de pescoços assim, e dum peito para descansar dos dias e percorrer com a ponta dos dedos todas as noites.

... porque o moço tem partes fotogénicas, e nota-se. 

... e porque ficaram-me os olhos aqui e a alma bateu asas, perdida em imagens e em sítios que vejo daqui.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021



 Hummmm...

Há dias em que realmente não sei responder a isto ...

... e apetece não desperdiçar gentileza, e deixar o martelo fazer a gentileza de expressar o nosso apreço...