quarta-feira, 27 de abril de 2016

... há certos dias em que realmente só com muita paciência... 
o problema é que é coisa em que sou parca (mesmo muito, digamos), 
e ao fim de repetir pela quinta vez a mesma coisa, transforma-se a pouca paciência em muita raiva acompanhada de vontades assassinas... 
se continuam a esticar a corda ainda mato alguém à dentada ou fulmino-os com um olhar... como alguém dizia se o "olhar matasse só tinha olhos para ti"...eu aqui até conseguia dividir o olhar por várias criaturas...
Irra, que raio de gente mais estúpida e dia mais enervante!!

terça-feira, 26 de abril de 2016


De luas, desatino e aguaceiro
Todas as noites que não foram tuas.
Amigos e meninos de ternura

Intocado meu rosto-pensamento
Intocado meu corpo e tão mais triste
Sempre à procura do teu corpo exacto.

Livra-me de ti. Que eu reconstrua
Meus pequenos amores. A ciência
De me deixar amar
Sem amargura. E que me dêem

Enorme incoerência
De desamar, amando. E te lembrando
- Fazedor de desgosto -
Que eu te esqueça.

Hilda Hilst

"E te lembrando (...) que eu te esqueça", que te esgote de mim, da memória, da alma, de cada poro onde te reténs. Onde me tens e me respiras. Que um qualquer amor, que não se compare ao desamor que quero por ti - que de tanto o desejar é amor ainda e tanto: só sente desamor quem ama ainda...-, me desfoque os sentidos de ti, que me desafogue a alma do teu mar, do teu ondular que me embala os dias quando distraio os olhos no horizonte da uma qualquer parede que nunca chego a ver, do som das ondas que me fazess sentir ressoar  no âmago do ser que um corpo pode ser, desaguando sempre nos teus olhos cheios de alma que me parece minha, que não me banhes como o luar conquista o oceano inteiro só para lhe lembrar que só o reflecte, sem lua é só escuridão líquida. Que eu te esqueça não me lembrando que te esqueci - essa incoerência de desamar ser só uma forma de amar enraivecida pela solidão. O desamor é  amor só. Que provavelmente só não pode ser chamado de amor. 
Que eu seja amada sem a amargura de não ser amada por ti.
Que eu seja amada sem o desatino de não te querer amar.

terça-feira, 19 de abril de 2016


- o que é q gostas mais em mim?
- dessa tua cabeça doida...e tu em mim?
- gosto de como somos juntos. Não consigo ser assim sem ti. E assim, contigo, não me custa ser. Sem ti custa-me muito ser. Não sei explicar, como se a existência me pesasse. A minha e a dos outros...
...gosto do teu sentido de humor, das tuas parvoeiras, da tua malandrice, da tua ternura, de como me tocas, de como me olhas as vezes, de como te ris. Gosto de ti, pronto. Da maneira como te mexes, como me mexes. Das tuas inseguranças dos teus medos do que te faz frágil e da vontade de dar colo e força... Não sei explicar...
- eu só sou assim porque é tudo o tenho de ti, só consigo ser assim contigo. Só contigo me sinto assim.
- então por que é não gostas de mim pah?? 
Eheheh
(Conversas parvas e tontas)

segunda-feira, 18 de abril de 2016


Pai Nosso, Clara Ferreira Alves

Voltei a ler. Voltei a ler sem querer. Em casa do meu irmão, há dias, enquanto se entretiam com jogos no computador, eu abri um livro que lhe tinham dado e ele não tinha começado a ler... Abri, folheei e comecei a ler as primeiras linhas da primeira página. Tinha curiosidade de como escreveria ela, é o primeiro romance que escreve, e eu já tinha lido que lançara o seu primeiro livro. Fiquei curiosa porque não simpatizo particularmente com a pessoa quando a oiço. Surpreendi-me, continuei a ler enquanto a miúda se perdia no jogo na companhia do tio que adora, li umas trinta páginas seguidas, prendeu-me a escrita e a história. Tive de o pedir emprestado e ando a devorá-lo nos intervalos do tempo, que ou teima em não passar ou passa sem aviso. Finalmente tenho cabeça para mergulhar num livro que me roube a cabeça dos ombros. Uma das partes que me fez parar foi esta, sobre o ciúme, sobre a fidelidade. Como se não se pudesse aferir a fidelidade sem se amar, como se não se amando não pode ser infidelidade. Como se o único compromisso fosse o amor. A essência, nada mais. Tudo o resto é como se "não contasse", mesmo que conte nao se define por infiel quem não cumpre um compromisso que não sente, não na essência... E o ciúme só se sente quando se ama. Em essência.  Só quando se ama se teme perder o que nos torna melhores, o que pinta o mundo de cores que se respiram alegrando-nos a alma, um mundo que de repente nos alberga, nos integra porque temos um mundo próprio com alguém de quem fazemos parte e faz parte de nós, deixamos de nos sentir despernados do mundo, sentimos pertença. O medo de perder isso tudo, farejar, ainda que de longe, esse risco arranha-nos a existência de ciúme.
Há outra passagem sobre o ciúme - o sentir pela primeira vez ciúme -, a insegurança, o medo de não chegarmos para quem admiramos e queremos perto e a querer-nos também, não menos que colados sempre que podemos. 
Voltei a ler e isso faz-me suportar os dias melhor. E mais eu. Como se me regressasse no perder-me em pensamentos nas entrelinhas de linhas que não são minhas. Como agora.

segunda-feira, 11 de abril de 2016


Está um frio do caraças, choveu e trovejou há pouco. Fumo um cigarro e falo às gotas de chuva que passeiem no vidro sem que me respondam, e sem que lhes diga nada, na verdade. É uma conversa surda sem conteúdo decifrável, como afinal a minha vida. Talvez por isso também aí não haja resposta. Olho o céu e oiço carros ao longe, penso que na verdade estou aqui bem, ainda que fugida. Dou por mim a pensar se agora quereria aqui alguém além de mim e parece-me que não. Hoje dei por mim a pensar que acabarei assim: sozinha, que tudo na minha vida é complicado e difícil mas bom. Como a relação com a minha filha, e foi por aí que comecei a concluir isto. Acabarei só com ela mas de uma forma que provavelmente não seria possível sem estar sozinha. E olhando para a frente não me imagino com ninguém, só numa vida com ela, numa relação complicada de certeza, difícil muitas vezes, mas que sentirei boa. Onde espero conseguir passar os princípios, os valores, as pedras fundamentais do eu e da vida. E a vida nao tem de ser difícil, mas ninguém nos garante que será fácil, e não devemos trocar uma pela outra se tivermos de abdicar de nós, por isso devemos estar preparados para a dificuldade, para a escolha, para reconhecer o certo e o errado. E talvez seja isso que me faz sentir as coisas como boas, fazem-me sentir eu e bem com isso, apesar de todos as falhas e defeitos que me aponto. Como todas as coisas de que realmente gosto ou gostei, não me lembro de nenhuma fácil na minha vida, mas todas acho boas, valorizo-as, acarinho-as, sou-lhes fiel à imagem tal como as vejo e sinto. Talvez tenha crescido assim, no meio de coisas meio caóticas, difíceis, mas em que vejo uma essência boa, que me sinto eu. Pensei toda a minha vida que ter um irmão como tive não foi fácil, nada me foi leve ou facilitado, mas no meio de tudo estava uma essência boa, de princípios, de amor, de lealdade, de a todo o momento saber distinguir o certo do errado. Essa era a ordem do caos. E não o certo ou errado para os outros, mas do que nos aproxima dos outros, do afecto, do carinho, do cuidado. Do amor afinal. E não imagino a minha vida doutra forma, com outra ordem, menos caótica, mais fácil, mais simples, mas menos certa para mim, menos sentida.

terça-feira, 5 de abril de 2016

...pois não.
Quero uma vida diferente.
Queria ser diferente, ainda que não queira deixar de ser eu...
...por muito impossível que isso pareça, ou mesmo seja.
...mas finalmente quero levantar-me, estou cansada de me arrastar, de sofrer, de me magoar, de deixar que me magoem, de duvidar-me mais que aos outros e valorizar-me menos.
Hoje estou assim, se é tempo de muita ou pouca dura não sei, mas sei que desde ontem à noite que estou cansada de estar cansada. De me repetir, de não sair do sítio onde só se dão voltas sem se rumar a uma qualquer direcção, a uma qualquer espécie de vida.
[foto @moniblanco]

Há muito tempo que não vinha apanhar este frio nocturno da varanda. Hoje apeteceu-me, às vezes não sei porque regresso a alguns antigos hábitos, revisito-os propositadamente, talvez para ver se encontro algo de mim no sítio onde me deixei. Sei que agora nem olho os carros que passam, ou se olho não é para procurar ninguém, é apenas para ver movimento doutras vidas. Aqui só restei eu e memórias desarquivadas.
Depois, estou aqui sentada e lembro-me de me dizer que me adorava e não precisava de mais nada para ser feliz senão os gestos simples de amor que gostaria de poder entregar-lhe. Como se o amor se falasse por gestos e nos entendêssemos assim perfeitamente. Em amor. Num amor que não existe, os seus gestos calaram-se, emudeceram e cegam-me todos os dias de vazio. E eu aqui, neste vazio sentada, com eles a gritaram-me por dentro, a berrarem-me à alma. Como se eu os pudesse ouvir.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Eu sou realmente uma desgraça... Levanto-me, tarde claro, vou à cozinha arranjar um pequeno almoço grande, que serve de almoço, tomo um café na cozinha e resolvo passar pela sala só para fumar um cigarro... Até as oito da noite... Realmente se a preguiça pagasse imposto eu tinha de trabalhar todos os dias, até nos feriados, para conseguir pagar tanta preguiça... Vi dois filmes. O segundo, português, gostei muito. Dei por mim a meio do filme a pensar que falo sempre na poesia da vida, e esqueço-me que devemos é tentar uma vida em poesia, com todos os pequenos gestos não a serem poemas, que paramos para ler e apreciar, mas apenas os sinais, as provas, de se viver em poesia, em sorriso de alma em paz doce. O filme nem uma vez fala de poesia, eu é que tenho uma noção estranha de poesia, como que um modo de olhar o mundo à sentir, como que uma maneira de chorar sorrindo as vezes, outras, sorrindo uma dor que nos rasga. Do filme apenas tiro que há pessoas que esperam sempre o melhor dos outros, talvez seja isso o que chamo vida em poesia, olham para as pessoas e vêem, e acreditam no melhor que elas têm. A poesia transforma tudo, já dizia Amélia Prado, numa das poucas frases que me ficam e nao esqueço, e que aqui pus nao há muito tempo, por falarem tanto o que penso, que se lhe tirassem a poesia, uma pedra era apenas uma pedra. Com poesia uma pedra pode ser um coração quente por despertar, pode ser um arrependimento que arrastamos, uma culpa que nos aparece em cada cruzamento da vida, podemos até ser nós à espera que alguém veja em nós um coração, poesia talvez. Gostei até do título "os gatos não têm vertigens", gostei e fiquei no fim com aquela sensação que a minha vida não vale nada mas podia valer, que não valho nada, mas poderia valer para alguém com poesia no olhar. Alguém que tivesse tempo de me olhar e de me ver até o que não tenho, mas principalmente alguma coisa boa que possa ter, que possa fazer alguém sorrir com a alma e abraçar-me com a vida inteira.