sexta-feira, 30 de outubro de 2020

 

Sento-me sempre na mesma mesa. Desço, já com as tralhas todas e sento-me aqui para o pequeno almoço. O sítio não é grande coisa, as vistas também não, mas escolho sempre esta mesa, colada ao vidro que dá lá para fora. Do lado de lá há sol a doirar folhas e a brisa a abanar os braços. E eu aqui, entre o chá e o croissant que é a única coisa que realmente vale a pena e eu não devia comer. Dois, ainda por cima. No dia em que aqui chegar e a mesa estiver ocupada, e os croissants faltarem vou andar neura todo o dia, dou por mim a pensar... não sei se são estes meus rituais que vou cultivando que me dão alento, ou se são só hábitos, puros e duros, que dão uma sensação de segurança e que nos destabilizam quando não cumpridos. Talvez seja a diferença entre precisar de segurança ou apreciar a beleza nos pequenos nadas, que nos sustentam o resto. Necessidade vs beleza. Gosto de pensar que sou pela beleza das coisas. Gosto de pensar que não gosto de pessoas de hábitos.

4 comentários:

  1. "Gosto de pensar que sou pela beleza das coisas."

    Eu também Vi, bom fim de semana:)

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  2. Há hábitos que também fazem parte de beleza. Um chá e um croissant numa mesa de café, uma mulher sentada a essa mesa, olhando as árvores outonais através do vidro... É bonito!

    Beijo, Olvido :)

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    1. :) se calhar a diferença está no ver, e não só olhar.
      Com o hábito deixamos de ver, olhamos pelo vidro mas escapam-nos as cores, a música do silêncio, o dia a espreguiçar-se nos nossos olhos. Há uma mecanicidade no hábito que o ritual não acomoda, não aprecia :) ... habitualmente quem olha, não vê, não repara, nessa cena que pode ter beleza para quem, como tu Maria Tu, a vir até no que não está lá. :))
      Beijo :)

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