domingo, 26 de dezembro de 2021

"Depois do Natal vem o domingo da Família... da Sagrada Família. Será a família uma coisa sagrada? Hoje fala-se de famílias alternativas. Sociólogos e psicólogos falam-nos de famílias mono-parentais, co-parentais, sem filhos, com filhos de outros, com pais de outros... Em tudo isso onde estará o Sagrado? O Sagrado é o Amor, o que equilibra e faz crescer: é o que humaniza. O mundo precisa de espaços sagrados e de relações sagradas: deseja famílias que o sejam. O resto parece, mas disfarça mal a violência que esconde."

Vasco P. Magalhães

É nestas alturas - ou particularmente nestas alturas - que sinto como a minha família é estranhamente disfuncional,  ou seja, funciona à sua maneira, mas é uma maneira estranha de funcionar. É também nestas alturas que a sinto mais minha, que sei que só esta poderia ser a minha família, que esta disfuncionalidade faz parte de mim, e explica-me em muita coisa, talvez fosse a única que poderia combinar comigo. Feitios complicados para onde quer que nos viremos (menos para mim, claro... ), maneiras de lidar com a vida diferentes, ainda que com sensibilidades parecidas, e veladas. Silêncios que dizem o mesmo e conseguiriam conversar entre si longas horas sem faltar assunto... e talvez conversem. Pensei um dia poder amenizar esta disfuncionalidade trazendo à família pessoas mais normais, tornando-me mais normal por casamento, mas talvez eu tenha dificuldades em adaptar-me à normalidade formatada e lisa (e a casamentos que não têm o que eu quero). Estes formatos planos apenas escondem melhor as arestas das relações, as contradições, as naturais idiossincrasias de cada um , e de todos enquanto família. A disfuncionalidade começa onde a transparência, ou a falta de parcimónia assaltam os momentos. E aí, o sangue que nos junta, que nos une, que nos faz um, é curiosamente o que não é dito, é o que se sente,  porque sentimos com o mesmo ADN maluco e disforme: disfuncional, talvez.  Quanto mais lugares vazios na mesa há, menos parcimónia se senta connosco. E mais eu penso que não haveria outra família que pudesse ser mais minha, onde eu encaixasse tão bem as minhas desreguladas intensidades desperdiçadas, ainda que tantas vezes me apeteça umas férias desta. Mas ainda assim, há uma coisa que não se consegue duvidar, é o que temos de sagrado e que equilibra o desequilibrado caos. Sagrado, porque faz o impossível, nada mais o conseguiria. Só o Amor faz milagres, não há porque disfarçar o óbvio.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021


 … do desejo para todas as quadras. :)

Como muita saúde, amor e coisas doces de todos os géneros. Aproveitem as vossas pessoas, a companhia que querem e procuram em todos os dias do ano, mesmo que nem sempre tenham a sorte da presença. 

Acendam a lareira e o coração
(quem tiver para acender, claro)

domingo, 19 de dezembro de 2021

 Levanto-me quando o sono está satisfeito e os sonhos se calam, visto a roupa do ioga que tenho falhado preguiçosa e indecentemente, abro a porta aos cães que foram dormir ao vizinho a noite passada. Dou-lhes de comer depois de algum mimo, ponho os fones e vou limpar o sitio deles. O dia tem sol, e sol na música. Nem todos os dias têm sol na música, hoje sim. Volto para a cozinha, tiro o ipod e ponho na coluna que me deram há anos e que descobriu finamente o seu lugar certo na cozinha. Arranjo uma taça de fruta que hoje não me dá preguiça de descascar e arranjar e o ipod pela boca da coluna devolve-me isto:


I'm an angel bored like hell
And you're a devil meaning well
You steal my lines and you strike me down
Come raise your flag upon me
And if you want me, I'm your country
If you win me I'm forever

A música dançou-me através da letra e pela sonoridade, que combinou bem com o meu sol, quando juntava a granola e o iogurte à taça de fruta já era o Jimmy Scott que nos fintava o ouvido na sua voz indescritível, lá do profundo azul onde canta.


Agora enquanto o café arrefece escrevo estas linhas que não dizem nada, que dão musica e falam de sol, e hoje até está sol, curiosamente.

 

Um dia cheio, uma noite num sítio que gosto. O dia encheu-se de pessoas que me fazem sentir bem, acarinhada, acolhida nas vidas de cada um, pessoas que procuraram estar comigo sem eu procurar ninguém. Ri-me, conversei, disse disparates e não disparates, vi o sol reflectido no rio, bebi vinho, à noite um Porto sob um luar mais frio a reflectir-se nas pedras. Brindei à vida, à minha e à de quem me quer bem. Não me deixaram ignorar a data, nem que tenho gente minha e carinho onde cair, se tiver de cair. Nós somos também as pessoas que nos rodeiam, e a maneira como nos rodeiam, como estão presentes, talvez também diga muito de nós. Gosto de pensar que sim, pelo menos. 

[chego ao fim destes dias e percebo que não tirei fotos. Nenhuma. Tiraram-me uma :) começa o ano da capícua. Gosto de capícuas, acho que já aqui o disse algumas vezes, mas nem sempre o que gosto é bom para mim. Veremos. ]

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

 O ano da capícua. Deveria dar sorte, dará? Tinha pensado há tempos juntar o pessoal, jantarmos, dizermos umas parvoíces em conjunto e rirmo-nos um bocado. Mas não. Não vai ser. E o ano não sei como vai ser, nunca sabemos também, claro. Os últimos dias têm sido estranhos, penso nisso aqui sentada a ver a lua pelo vidro da frente a olhar para mim, a parecer mais o biscoito perfeito de nuvem do que a lua altiva contra um azul suave. Esta é a altura em que o tríptico do ano me começa a morder, a roer a alma e rilhar os dentes. Cada dente uma mágoa que se entranha nos ossos, mas olhamos para o lado e assobiamos para calar o silêncio e chamar o futuro. Fumo mais um cigarro e piro-me daqui, fujo dos sítios que já foram em mim mais do que lugares.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

 Trazer o carro à revisão. O mesmo de há quinze anos. E, enquanto espero a boleia, penso que me apego às coisas, que pedi para fazerem revisão e repararem uma série de coisas para por o carro não como novo, mas muito bem para a sua idade. E agora estou ao sol, aqui às voltas, a ver carros à venda em segunda mão e a pensar que enquanto não desapegamos do velho não temos espaço para receber o novo, para pensar o novo, para querer o novo. Talvez seja verdade. Mas se eu gosto do velho, ele serve-me, eu sirvo-lhe e juntos vamos onde queremos (onde eu quero, vá… como aliás tem de ser, pois ;) ) para que raio havia de querer ter um carro novo? Para mostrar? Não preciso disso nem, para já, de um carro novo. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021


 Restos de um jantar. A lareira em estreia este Inverno, e eu com ela nesta arte de me deixar encantar pela beleza duma escuridão iluminada só pelo fogo que queima lenta mas persistentemente. Há muito que não o fazia, porque fazia demasiado tempo que não acendia a lareira e me deixava perder nela e no silêncio que impõe a certas horas da noite, quando o dia já está acabado e resolvido para maior parte dos mortais das redondezas. Não me canso de olhar, não me canso deste calor que conforta é parece despir tantas escuridões em mim. E acender outras. Não se brinca com o fogo, dizem. Mas alguém quer resistir a este? É preciso querer resistir… e eu não quero. E entre uma coisa e outra vai-se acabando o vinho (Plansel, óptimo, não conhecia antes de um amigo mo apresentar, e fazer parte duma oferta dele o ano passado pelos meus anos, estava em tempo de a beber convenhamos …).

domingo, 12 de dezembro de 2021

 Não é de hoje, hoje tentámos fazer em casa parecido, que é ligeiramente diferente do que costumam ser os nossos brunches. Não é hábito fazermos panquecas, mas uma vez ou outra a minha filha faz. Mas a foto tirada por ela foi para dizer que eu afinal também tiro fotos de comida… é verdade tirei, é muito raro  mas tenho um fraco por brunches, essa ideia que me arrasta para uma sensação de ronha, de uma certa lassidão, e ao mesmo tempo regalo dos sentidos. Mistura-se muito do que gosto com o tempo a mover-se connosco sem pensarmos nele, com música, com mimo, com descanso de alma. Gostei daquele brunch naquele dia, fora de casa. Foi diferente e foi saboroso também. Mas não tinha musica - ou a minha musica, melhor dizendo (hoje o shuffle quando entrei na cozinha começou com Cave e  “Into these arms “… que mais dizer?? Que mais pedir??) -, nem mimo aos cães, nem um café no fim bebido à janela com a alma virada para o mundo de dentro. Gosto mais destes.

Bom domingo :)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Nestes feriados a miúda tem a explicação de manhã e então tenho de a levar. Vi uma esplanada com sol no caminho, e onde paro as vezes, e achei que era um bom sítio para tomar um café e ler um tico… coisa que eu fazia tantas vezes há algum tempo atrás e que agora parece pré-histórico, mas é só pré-pandemia. E podia te-lo feito mais, mas mudamos de hábitos, substituímos por outros, esquecemos, talvez. Mas há hábitos que são mais que isso, mais que mecanismos quase automáticos, há hábitos que são rotinas procuradas, como rituais. Isto acontece quando se gosta, quando o que nos leva à repetição não é o mero hábito, mas o prazer, o gosto, a consciência dele. Essa, que tantas vezes tanta gente perde e depois dizem… é preciso perdermos para darmos valor. Aquele clichê que tem muita verdade. O perder faz ganhar a consciência desse gostar, desse querer. Mas nem sempre é precisa a perda, nem devia. Eu hoje já saí de casa com o livro, só pensei que a esplanada seria outra, mas calhou esta. O ritual, o prazer, é este bocadinho comigo, para ler, para escrever sobre nada, para tomar um café e jogar pensamentos fora.

[Ooops… I did it again :))) ]

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

 Neste final de dia, debaixo duma árvore despida com o frio a entrar pela janela, dou por mim a pensar que ando afastada de escrever. Ou talvez não, talvez não seja isso, talvez ande a afastar-me de me ler. Porque uma coisa leva à outra. Dou por mim nestas últimas semanas a repetir a frase “ a única coisa que sei fazer é trabalhar” para evitar o resto tudo. A vida talvez, ou o que não queríamos que ela fosse, mas perante isso só sabemos fazer uma coisa: trabalhar para gastar o tempo que não gastamos como gostaríamos. E talvez isso seja a vida, ou só uma forma de mediocridade a que nos habituamos. Mas não paramos para pensar para não o concluir. Carro parado, a respirar o frio que o isolamento não me deixava experimentar fora de casa. E de certa forma já nem sei se sentia falta. Às vezes o mundo fecha-se, ou nós fechamo-nos e dizemos que foi ele, as circunstâncias e o contexto e … e… mas parte seremos nós a fechar, a perder interesse. A passar o dia a trabalhar para não o perceber. Porque perante tudo isto, a única coisa que sabemos fazer é enfiar a cabeça no trabalho, e depois na cama. É certo que depois os sonhos tramam-nos, porque a única coisa que eles sabem fazer é trabalhar-nos, ou seja, sonhar. 

[Mas disso não vou falar agora, mesmo tendo um sonho a perseguir-me desde o fim‑de‑semana. Escrever… dá nisto, faz assentar-nos na pele, no olhar, na maldita consciência, o que anda em suspensão nas entrelinhas curtas, muito curtas dos dias.]