quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 

Sentei-me aqui para ver a lua enquanto fumava um cigarro destinado a descansar-me a cabeça do dia, a desligá-la. O descanso é talvez desligar o necessário, abandonarmo-nos ao inútil, ao que não tem razões. À lua faltava-lhe estar no ponto pestaninha em que a prefiro, em que, olhando-a, sorrimo-nos. Há certas coisas que são como janelas para alcançar a alma. Às vezes andamos a ver onde pomos os pés, passamos e nem notamos. Não vemos. Não damos pela ausência da alma até que um dia sentimos os danos. Chegamos a casa, e no seu vazio procuramo-nos, às vezes encontramo-nos, olha-se para qualquer coisa que nos sacode, uma visão que nos lembra quem somos, no vazio, na ausência, num céu aberto que nos entrega um fio de luar, e desfiamo-nos. Agora o cigarro acabou e uma manta cobre o céu. Talvez a lua sentisse frio. Ou eu.

2 comentários:

  1. "Às vezes andamos a ver onde pomos os pés, passamos e nem notamos."
    Completamente de acordo.

    Bom fim de semana, Vi:)

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    1. Temos de olhar mais para dentro e para cima :) andamos distraídos do essencial um dia destes ainda acordamos desalmados ;)... não podemos deixar que isso aconteça.

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