terça-feira, 31 de maio de 2016

           Mario Benedetti

(acontece a muita gente, parece-me...)


Há dias em que me passa tanta coisa pela cabeça que os dedos não conseguiriam acompanhar mesmo que a preguiça não me tolhesse os movimentos. Hoje foi um desses dias. Que me lembre não falei com ninguém excepto o senhor J. do café e a senhora da loja. Nem com a minha filha consegui falar, ninguém me atendeu... Falei comigo demais e tenho o problema das respostas, não me sei responder, ou então, tenho respostas a mais para conseguir saber onde se esconde a verdade. Acabei de ver um filme que deu à tarde e houve cenas que me levaram a outras cenas de outras vidas, que fazem parte da minha vida interior, essa que não se cala, ainda que morta. 
Agora estou aqui na varanda a fazer companhia a uma vela que acendi, começa a chover neste preciso momento, mudo-me para o degrau da varanda e levo a vela, protejo-a da chuva que a apagaria. Não se acende uma vela para deixar a chuva apagá-la. E isto, isto de repente faz-me nascer um sorriso pela ironia de algumas metáforas. Há quem acenda velas mas não queira a companhia da luz dançante, a razão que levou a que fossem acesas. 
Tapemos a luz. Tapá-la não a apaga, so vemos um pouco pior, tudo se torna mais escuro, mas aquece-nos a mão. 
Qual é a tua luz? A luz da tua vida?... Haverá uma luz acesa para ti? Por ti? É o problema das respostas, sempre o problema das respostas... Não se vê luz ao fundo desse túnel.

Estas linhas, mal descosidas de pensamentos dispersos, nem a preguiça deixou escapar, só porque aparecersm quando estava com as letras à mão. O sorriso deixei-o no bolso coladinho à ironia da vida que me lixa todos os dias, mas com classe. Já que me lixam, que o façam com classe. Faz toda a diferença.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

... tipo um metro e oitenta estava de bom tamanho, 
também não peço mais...
... mas a coisa não está fácil, não...
ihihihihi

Bom Dia!!

sábado, 28 de maio de 2016

quinta-feira, 26 de maio de 2016


O último cigarro do maço diz-me que tenho de tomar banho e sair de casa. Que o dia está cinzento lá fora, mas não está mais colorido aqui dentro depois de me pôr a arrumar passados, enrolá-los e deixá-los à espera da transferência para o arrumo. Fosse tudo tão fácil na vida, mesmo que trabalhoso. Realmente a G tinha razão, não fazia sentido aquela foto como a sombra de um farol extinto sobre o meu sono. Enquanto tirava agrafo a agrafo para guardar para o futuro o que ficou do passado, pensava que passados temos muitos, temos tantos quantos olhares lançamos sobre o que já foi, o que já fomos, o que já tivemos e vivemos. Às vezes o mesmo passado são muitos passados. Há dias que nos deixam cheios de dores, outros de sorrisos ternos, outros de raivas surdas ou das que fazem gritar. Tantos passados, às vezes, para um mesmo momento vivido. Vivido uma vez - só se vive cada coisa uma vez, mas revive-se, de cada uma dessas coisas, passados inúmeros, diversos, é até contrários. Como o futuro, há tantos futuros como cada disposição com que acordamos para cada minuto, cada hora, cada dia, cada estação do ano ou da alma. Só o presente é único, mas cada passado que recordo, cada futuro que anseio ou temo, são tão reais como estar agora, aqui, a preguiçar no sofá, ainda de pijama, a adiar um banho e o pôr o pé fora de casa. Tudo é real, mesmo quando nos mentimos, mesmo quando nos mentem, mas só o momento é único.
Talvez por o presente ser único, ainda que seja apenas uma sucessão de momentos, se sinta como indecifrável. É a tentativa de o decifrar, de lhe conhecer as razões e os porquês, que nos dá tantos passados quanto futuros. 

quarta-feira, 25 de maio de 2016

E é o que se me oferece dizer nesta véspera de feriado 
mesmo antes de sair do escritório rumo a casa, 
onde jantarei com um prato na mesa ... e talvez vários a voar.... who knows...

segunda-feira, 16 de maio de 2016


As vezes penso que há pessoas que não podem ficar juntas porque seria injusto para o resto do mundo. Juntas talvez vivessem uma felicidade que, de tão rara e plena, seria um atentado à normalidade do mundo - um desequilíbrio. Tem alturas que penso que é um privilégio experimentar essa estirpe de felicidade, que poucos a terão experimentado, poucos terão atingido tais graus de loucura e entrega de alma aberta. Acho até que seria injusto para ele, eu seria com toda a certeza mais feliz, aliás, sei-o. Duvido que ele alguma vez tenha experimentado esta felicidade que falo, que senti. Ou melhor, não, não duvido, sei que pelo menos comigo nunca o experimentou, nunca o sentiu como eu, nunca abriu a alma para que o pudesse sentir, nunca se atirou do precipício sem asas de voo testadas. Nunca sentiu comigo a felicidade que experimentei, nem a infelicidade que me deu tantas vezes de beber. Não tenho, nunca tive, sobre ele o poder dessa felicidade nem dessa infelicidade, dois pratos do mesmo amor, duas intensidades finamente calibradas entre si - justamente equilibradas. Tivesse ele sentido o que eu sinto e estaríamos juntos, não haveria como não estarmos. Escolher não estarmos seria uma sanidade impossível no meio de tanta loucura. E o mundo não seria justo para todos os que não fazem ideia do que é entregar-se ao voo livre sem asas, sem rede, sem nada, senão a felicidade de sentir uma mão na sua, senti-la a mão certa e bastante, o equilíbrio no vento que a vida sopra. Acreditar no voo e não na queda.  Não, não seria justo.
Justo é vê-lo de braço dado com outra mulher e saber que não é, nem nunca será, meu; é pensar nisto tudo enquanto arranjo uma varanda que nunca será jardim. Talvez seja justo pensar assim, talvez me seja mais fácil aceitar esta justiça do que a injustiça que me sentencia à infelicidade, quando a minha felicidade anda de mão dada a outra mão. Talvez o equilíbrio das injustiças resulte mais justo do que o desequilíbrio da justiça. Aceito as coisas justas, contrario as injustiças. Mas a minha varanda nunca será jardim. Ainda que a sinta o meu jardim.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

[foto @lalovenenoso]

Tenho a pele trancada ao toque mas permeável ao negro do mundo.
Talvez as paredes da minha pele sejam demasiado finas para que o mundo de fora não me invada. Talvez a separação entre o de fora é o de dentro seja esbatida, ou tenha sido já demasiado batida. Talvez todos os contextos que me rodeiam me estejam a enegrecer por dentro, a corromper a alma. Demasiados lutos para fazer, demasiadas dores para apaziguar.
Há dias melhores, em que a cabeça obedece ao ritmo do dia, em que procuro forças onde não sei que as tenho, mas ainda que fingidas vão aparecendo e fazendo o seu trabalho - fazer-me escapar dos pensamentos que fazem sentir.  Raros dias a luz entra-me fugidia pelas janelas da alma e esses são dias bons, onde uma paisagem me enternece, onde uma música me entra directa no sorriso, onde uma brincadeira, uma palavra, me aquece a alma pelo caminho da ternura que esconde, onde um sorriso simpático me faz ter fé nas pessoas. Raros, são raros, mas no meio de tudo isto aparecem para me lembrar que a vida já fez sentido, que eu já tive esperança nas pessoas e na vida, que já acreditei que era capaz de muita coisa, que podia viver duma forma que não me definhasse a alma. Agora vou tentando remendar a alma, fechá-la, trancá-la, endurecer as paredes da pele para me defender do mundo tão feio como o vejo, como o sinto. Tento que não me adoeça o corpo em sintonia com a alma, mas as paredes da minha pele são demasiado finas.Vejo pessoas feias, pessoas más, pessoas manipuladoras e indiferentes, ainda que felizes, com as vidas que procuram e querem. Recompensadas por tudo o que não deviam ter feito.
Onde está o mundo bonito, as pessoas com alma, as mãos com gestos atrapalhados de amor? Onde estão para os beber, para os deixar entrar e ficar, afastando as dores que estão a fazer ninho em mim? E o pior, o pior é saber que o pior está para vir e saber que não sou capaz de nada, que tudo me vai sendo tirado aos poucos, dando mais vazio ao vazio que sinto, que não sei combater. Talvez não saiba lutar por nada, só aceitar e fechar-me no abraço dos meus próprios braços, na minha própria pele. Uma pele demasiado fina. Escrevo para purgar os pensamentos, e um pouco de dor, mágoa, incompreensões que já não procuro entender, que aceito apenas como a face negra da humanidade. Aceito tudo com a resignação da falta de forças, de não ter nada por que lutar que possa vencer. Escrevo para a seguir tentar dormir e não voltar a sonhar tudo de que fujo durante o dia: as frustrações, os medos, as impotências face à vida que me acorda todos os dias sem dela conseguir despertar. 
Morreu-me dentro quem me despertava a alma, quem a fazia sentir acompanhada, grande, viva, agora a caminhada é enterrá-lo, continuar a enterrá-lo, juntamente com todas as outras mortes que me doem, que vivem em mim.

terça-feira, 10 de maio de 2016


[foto @gabrielerigon]

  Às vezes acordo com vontade de achar alguma piada à vida, algum sentido, alguma coisa. Normalmente não encontro, é cada vez mais raro o dia em que algo em mim brilha, reluz duma vida qualquer que um dia eu me convenci, e senti, que tinha. Devia estar louca. Não tenho nada, não é meu, senão não me faltava quando mais preciso, acho que roubei essa vida no fundo do brilho do olhar de alguém. Falta-me isso, falta-me tudo, como se me apagassem a luz, como se já não houvesse caminho, como se o ar fosse apenas um remédio para me manter viva sem cura.

segunda-feira, 9 de maio de 2016


Entra no meu carro depois de me pedir boleia. Pediou-me boleia ainda estava eu de costas para ela a entrar para o carro, virei-me e conheceu-me... diz oh ainda por cima és tu, agora tens mesmo de me dar boleia! Não a via há anos a não ser ao longe assinalando os encontros pr acenos e pouico mais, vou sabendo de algumas coisas e pela manutenção do sentido de humor pelo facebook. Senta-se e fecha a porta, sempre leve e animada como a conheci, com uns olhos verdes vivos e um sorriso alegre quase permanente na expressão. Tem agora, à volta dos olhos, desenhadas as teias do tempo que se vai embrulhando na vida, mas que não lhe embargam a voz sempre enovelada de animação, de vida - a animação que admiro e gosto por em mim a ter em falta. Acomoda-se, puxa o cinto, e diz-me:

- Pahhh estou deprimida sabes o piropo que me atiraram hoje?
- Nope... diz lá.
- A "senhora" está óptima.... "a senhora"??... "a senhora" pahh?? a sério??? "está óptima"?? mas kéistooo???... senti-me atingida na minha auto-estima por um insulto!!.... estou velha, é o que é!!
- Olha para a próxima o melhor é sair no Porto... lá somos todas meninas... mas, olha, sabes a mim o que me disseram?? ... estava um gajo meio a melgar-me, mas sem chatear na verdade, e vem um amigo dele e pergunta "ele está a insistir um bocado, mas realmente é porque és um escândalo..." ahahahha
- Um escândalo?? Olha, estás a ver? Ficaste melhor servida do que "a senhora" aqui...
- Escândalo?.. a sério? mas desde quando a escandaleira é uma coisa boa, é que eu não fui avisada!?... eu que adoro que não dêem por mim, que levo a discrição quase ao ponto da transparência.. escandâlo??... não é piropo que se apresente, acho que o pessoal anda com medo de exagerar nos piropos, não vá a gente mandá-los prender ou assim... ehehhehe

E rimo-nos pronto, já o sol tinha descolado do horizonte e a viagem até porta de casa dela fez-se entre galhofa, perguntar da vida uma da outra, descobrir que estamos as duas separadas, que fomos as duas quem quis a separação, as duas com prole e todos os problemas associados, e conversa sem dizer nada de jeito... o que bem vistas coisas, é uma coisa muito boa. Fui bem disposta para casa e com vontade de mais encontros destes às seis da manhã...