quarta-feira, 27 de abril de 2022

 
Chegar foi uma aventura, chovia a potes e já de noite... ela dormia, e a cadela olhava para mim como que a perguntar para onde raio estávamos a ir que nunca mais chegávamos... finalmente, e depois dum caminho que me pareceu demasiado comprido e dificil, já céptica das indicações e do gps, chegámos. Íamos experimentar o chamado glamour duma tenda no meio da natureza... a parte da natureza confere, a do glamour... bom, depende do conceito de cada um. Uma coisa era indiscutivel, ali, no meio de coisa nenhuma, o silêncio e a escuridão eram os donos daqueles primeiros momentos. Dormimos. Nunca tinha dormido num sítio onde a escuridão tinha mesma exacta medida de olhos abertos ou fechados, era incrível, eu abria e fechava os olhos e o negro era o mesmo, sem réstia de luz, claridade ou sombras. Onde não há luz não há sombras, só nós. No dia seguinte o frio e a "casinha" ao lado da tenda era de tal forma arejada que não arriscámos uma pneumonia em troca dum banho, adiámos para quando o sol estivesse mais alto e quentinho. O pequeno almoço animou-nos e a simpatia de quem nos recebeu também. A quatro patas sempre animada com tanto para cheirar e explorar foi quem desde logo se notou que iria curtir mais o fim de semana e a aventura, ainda que apesar de todos os esforços não tenha conseguido afinfar nenhuma lagartixa, por muito que se tenha esforçado no seu estilo de caçadora não praticante. À noite o céu era de cortar a respiração, duma imensidão e nitidez como não me lembro de ver -  vantagem de não se avistar civilização, ou luzes que o denunciassem. Dava vontade de inspirar aquilo tudo, de respirar fundo, de mergulhar naquele silêncio, fazer arte dele e do céu que nos faz tão, mas tão insignificantes. O brilho das estrelas naquele fundo tão negro deixou-me de nariz no ar ao frio bastante tempo.  O suficiente para lembrar outros céus onde perdi a conta às vezes que fechei os olhos para formular desejos, até deixar de ter desejos e continuar a ver estrelas a rasgarem o céu até desaparecerem nalgum sitio onde deixaram os meus desejos, perdidos à sua sorte, ou à minha (e bom... já se sabe, né?). E lembrei-me disto e sorri, pensei que se alguma me caísse ali, naquele momento, no regaço do olhar não teria desejo para lhe entregar... e depois passado instantes voltei a sorrir quando uma estrela rasga o céu para se perder algures escondida do meu olhar, e eu sem desejo que iluminasse a ironia... mas acabei por desejar alguma coisa, agora de olhos abertos. Agora sempre de olhos abertos - postos no céu, é certo, mas abertos. Escrevi qualquer coisa nessa noite, mas perdi tudo, rede era coisa rara e talvez isso seja bom algumas vezes. Mas as palavras raras, e saídas debaixo daquela malha negra e brilhante de estrelas, perderam-se... talvez tenham encontrado outros caminhos, ou não chegaram a ser caminho.

Os dias seguintes foram de passeio e de lamber com os olhos as paisagens que me encantam a cada vez que me perco pelos encontros com o Alentejo. Passeios de carro, alguns a pé, revisitar algumas praias, voltar ao Sacas, aos croissants deliciosos em Milfontes, música sempre pelo caminho e vários dedos de conversa. 

 Depois o regresso, cada vez mais com olhos postos numa volta que se quer breve e prolongada (e em placas "vende-se"). Mas não, acho que não me voltam a apanhar no glamour duma tenda... agora o resto das férias, já em casa, têm sido dedicadas à bricolage e a um sem numero de coisas para fazer que até me apetecem fazer, ou então é esquecer o regresso ao trabalho que me apetece... isso e não me lembrar que tenho de aturar gente doida...

quarta-feira, 20 de abril de 2022

 Paro o carro e procuro no silêncio as palavras que perdi pelos dias. As que não disse, as que me roubaram momentos e me reduziram o silêncio a uma densidade admissível. Tenho agora poucos momentos que dêem tempo para as palavras me aconchegarem, procuro-os pouco e talvez procure não os procurar, não os precisar. Mas depois, depois penso onde fico eu no meio destes dias assim, onde não tenho tempo para me falar, para navegar a densidade dos silêncios onde repousa a nossa essência. Os dias são paradoxalmente demasiado leves por rasparem apenas a superfície, e demasiado carregados de trabalho que não deixa os pensamentos respirarem fundo, como se além do fazer não houvesse mais horizonte. E agora, aqui sentada, acho que tento recuperar os horizontes, e o silêncio que alimenta essências.

sábado, 16 de abril de 2022


 Não acredito em grandes mudanças apenas em grandes embustes, mas há coisas que vão mudando sem darmos conta - essas sim, são as que mudam, lentamente e de dentro- os gostos também se alteram nalgumas coisas, devagarinho... dantes eu não gostava de vestidos compridos... agora adoro, são os meus vestidos de verão, leves, com brisas de movimentos que lhes dão vida, além de corpo. As minhas cores não mudaram, são geralmente escuras, entre pretos, terra e fogo... que não o vermelho óbvio, que nunca constou da minhas preferências: o óbvio e o vermelho, isto é. Nas unhas também nunca fui de modas, preto, castanho, vermelho escuro ou vinho em vários tons, ou então quase branco. Nunca fui dos amarelos, verdes, laranja, azul eléctrico ou cueca, ou outros chamativos do olhar. Mas hoje experimentei este azul cinza... e ainda não sei bem se gosto, mas sei que há uns anos atrás nem teria vontade de experimentar... devagarinho os gostos mudam, olhamos outras coisas e vemo-las diferentes em nós, ou percebemo-nos diferentes aí. Não sei. Entre mãos ainda tenho livros, ainda procuro outras mãos para agarrar caminhos, para me agarrar, ainda quero deixar-me mudar devagarinho para ser cada vez mais quem gostaria mais nada de ser e como. Nessa altura não sei que cores andarei a experimentar, ou se gostarei cada vez mais dos regressos reforçados de mim. 

sábado, 9 de abril de 2022


 Uma coisa ou outra. 
Mas eu apostava na outra, da maneira que isto está...  


 Este ano ainda não tinha tirado a foto da praxe. Vergonha, talvez. O ano passado só aviámos 9 livros, sendo que o do Afonso Cruz nem conta bem, de tão levezinho que é. Acabei o Quarteto da Alexandria, e gostei, gostei do MST, a sério que gostei e aprendi umas coisas... ainda que seja um formato diferente, mas deu-me uma fome imensa de fazer o que fez e descreve ao principio, ir para uma vila de pescadores no fim do mundo deixar que a paisagem que vê lhe ponha as palavras por ordem de escrita. Fiquei com uma vontade imensa duma licença sabática dessas, para mim, para as palavras, para as paisagens. Uma especie de retiro alentejano dos meus, mas prolongado e afastado - ainda mais. O Julio Machado Vaz é já quase um hábito, gosto de o o ouvir e de o ler, aprendo sempre. Há frases daquele livro que muita gente devia ler, muita gente devia reflectir. A louca da casa foi uma surpresa ao reconhecer muito do que se diz ali, por as vezes parecer que há ali coisas e sensações que conheço bem. As frases que acordam connosco e não nos largam, palavras com que sonhamos e a que nos agarramos para não esquecer não sabemos o quê... gostei do livro. O livro seguinte, do sentido da dor, li porque me recomendaram, não me fez pensar, não consegui ver o que acho que deviam querer que eu visse. Não é por a dor ter um sentido que faz mais sentido senti-la, não consigo ver ou sentir isso assim. O Perez-Reverte, autor do livro que mais recomendo e o livro com a personagem feminina que mais me marcou, não me impressionou com os seus cães assassinos de profissão. Lê-se bem, está certo, mas não há muito mais ali que dizer além dumas ilações básicas de como o instinto de sobrevivência é rei e senhor de todas as criaturas. As desoras do Cortazar, como em muitas coisas do Cortazar, umas são geniais outras parecem mas ficam longe... não poderei dizer muito mais deste livr porque já não me lembro... e isso quererá dizer alguma coisa, né?
Este ano acho que ainda não acabei nenhum, e já vamos em Abril. Ando miseravelmente a mastigar o Kundera que li na minha adolescência e agora parece empastelar-se nos dias, e eu, sem vontade de coisa nenhuma, vou-o deixando empastelar e ganhar pó. Não pode ser, eu sei, mas algo me anda a faltar, e sono ando a ter de sobra. Não sei se o vírus afinal não era do sono... hoje dormi mais de doze horas. Fora de brincadeiras, há anos que não dormia tanto. Qualquer dia pareço um bebé :))
Hoje já tenho carta de alforria... e está sol, pasme-se. ;)

domingo, 3 de abril de 2022

 
Ahhh... sermos positivos, porque coisas boas atraem coisas boas, o positivo atrai o positivo (não só desafia todas as leis que conheço da física, como os fundamentos da minha racionalidade, mas desafios, desafios é o que precisamos!!)... Ahhh precisas de pensamento positivo, vais ver, precisas de ser mais positiva...e então começas a ver Luz ao fundo do túnel ... e é a loucura a felicidade, a emoção!! Começam a acontecer coisas boas só de pensares nelas e acreditares (e a sério nem precisas pertencer a um culto e pagar o dízimo, é só dizimar toda e qualquer racionalidade e lucidez e estás pronto!). E então mando uma mensagem: querias tanto que me tornasse mais positiva que te fiz a vontade no teste covid, conta?? 

(pelo menos riu-se, para isso contou...)

sábado, 2 de abril de 2022


 Não, hoje não. Ontem também não... coitadita tem de passear mais, também acho. E eu também. Passear mais. Hoje foi dia de massagem, depois brunch fora de casa, num sítio onde ainda nao tínhamos ido. E agora café. Pela primeira vez café com a miúda pequenitates num café. Dantes vínhamos as duas mas o café era só um... desde que vinha no carrinho, passava para o meu colo e adormecia enquanto eu bebia o café e as vistas e a fauna local. O tempo passa afinal.