domingo, 6 de dezembro de 2020



 Ontem não saímos de casa. Quando íamos para esticar as pernas, a chuva chegava triunfante como um encontro para o desencontro. Desistimos duas ou três vezes, nem mesmo a quatro patas parecia com muita vontade de apanhar com chuva no lombo em troca duma esticadela de pernas... a modos que trocou a chuva pelo meu colo e estivemos a ver séries, a ler, sempre com uma chávena de chá por perto, e até me deu vontades de doces e fui fazer uns queques (expresso, daqueles quase tudo pré-feito) com pepitas de chocolate... ontem foi assim. Hoje não pode ser, há que vencer a preguiça. Ontem lembrei-me que sempre tive por hábito ao fim de semana sair para pelo menos tomar um café com o nariz ao frio, ou fora de casa, vá. Hoje há que passar nos meus pais, esticar as pernas e as vistas, tomar um café quente encasacado, trabalhar um tico porque ontem apontei no tecto... e ouvir a chuva cair ao longo do dia, presente como uma memória teimosa que nos acompanha como uma sombra. Mas desta gostamos, sorrimos-lhe e até lançamos as mãos abertas ao céu, para sentirmos na pele a simplicidade dessa beleza... Que me traz de enxurrada as saudades dum bom beijo debaixo de chuva fria, da pele quente despida de frio. Mas hoje vamos arrumar a preguiça num canto sem deixarmos de viver devagar, e com tempo - ou sem, se calhar sem - o que nos faz levantar do sofá, mas não nos obriga.

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