sábado, 31 de março de 2018

[imagem @jesuso_ortiz]

Fazendo a primavera. Aos poucos fazendo bem-me-queres, pétala a pétala, sol a sol, num céu azul que mal quer aparecer, parece que brinca às escondidas como quem desfolha pétala a pétala: bem-me-quer-mal-me-quer-bem-me-quer... olha, se me deres um céu azul por dia dou-te margaridas, adoro e nunca te querem mal (mas, por via das dúvidas, não as desfolhes...).
Bom dia.

sexta-feira, 30 de março de 2018

Ahhhhh... isso explica muita coisa... 
assim já faz sentido o pessoal que se vê na noite
 que invariavelmente parece optar pelo álcool por companhia... 
faz sentido, sim senhor. 
Eheheh
... tenho de começar a ponderar essa via, 
talvez assim qualquer companhia pareça boa... quem sabe. 
Isso e parecerem mais lindos, bonitos e interessantes, como dizem,
com o avançar dos copos, quer-se dizer noite.
(as coisas que se aprendem, hein?)

quinta-feira, 29 de março de 2018

Ahahahahaha
Encontrei isto e desatei-me a rir... as coisas de que se lembram. 
Se algum dia me dissessem uma coisa destas, ou parecida, eu ia ter de me desatar a rir, não haveria como não. Depois, conforme de quem o ouvisse, e se o moço não gozasse da intimidade necessária e suficiente, responderia que realmente as capacidades ópticas do mocinho não andariam a permitir ver muito bem, mas que não seria comigo que passaria a ver melhor... agora ouvido da pessoa certa, era coisa para ter outra piada e não se esgotava na gargalhada ;)))

Bom dia

quarta-feira, 28 de março de 2018

... e é isto.
Bom dia!
Hoje a noite está fresca mas não está fria, não há vento e as estrelas hão-de brilhar igualmente límpidas no céu negro, para lá da névoa que agora as esconde. Vim fumar o último cigarro no degrau da varanda e penso como há coisas que nunca saberei, de que nunca terei resposta, e que hoje isso me inquieta menos. Talvez porque se acumulem ou talvez seja do tempo que se vai acumulando. Ou só do hábito, não sei. Tudo perguntas sem resposta, e as perguntas sem resposta devem ficar enterradas no passado, nos dias que já foram, porque nunca terão futuro, não há dia de amanhã para elas. É sempre hoje, é sempre agora para uma pergunta sem resposta. Essas perguntas deviam acabar, não num ponto de interrogação, mas com o ponto de interrogação. Como se este fosse o epitáfio dum pensamento que não pode ser continuado. Morriam com a sua expiação em palavras, davam o último suspiro e deixavam quem perguntou respirar um futuro limpo, quase sem memória. Quase.

terça-feira, 27 de março de 2018


Parem de me fazer cócegas!! 
[Fotografia de Andrea Zampatti ]

... falta aqui um espelho para ensaiar este passo...
[fotografia de Chris Martin]

...Ahahah muito boa!! E ela acreditou??? 
Ahahah pára, já não me consigo rir mais!!
[fotografia de Brian Valente]

Hum??? O quê? A sério? Não acredito... Páscoa já? 
Mas ainda ontem era Natal... 
ainda ando a digerir os doces e vão começar com os chocolates??
[fotografia de George Cathcart]

Bom dia!!
Boa maneira de começar o dia ;)

segunda-feira, 26 de março de 2018

[imagem Carlo Giambarresi]

Espreita o sonho em bicos dos pés, por cima da realidade, 
poisa os cotovelos no horizonte azul e come o sol com as mãos. 
O melhor da vida não tem etiqueta.
Bom dia!

domingo, 25 de março de 2018

[foto @quemejor3]

Primavera em tubos de ensaio - vamos ensaiar as cores no olhar? 
Experimentar nos gestos a leveza das nuvens claras de algodão? 
Pendurarmos os problemas por resolver em molas de cores de rebuçado, 
e sorrir a doçura dos primeiros dias de sol primaveril? 
Vamos esquecer a vida só um bocadinho para conseguir viver um tico? 

(tico - palavra catita que engraçou comigo, coisa dos dizeres alentejanos, onde me queria agora e mais depois. e às vezes tenho um tico de saudades das conversas com quem ma ensinou. tudo no meu alentejo me lembra essa doçura lânguida que me encanta.)

sábado, 24 de março de 2018

[foto @mara.paris]

Sussurras-me rente ao calor da pele - gosto, linda por dentro e por fora,
 lindona, sorriso lindo, beijo bom... e eu, 
eu oiço tudo o que não dizes. E não sei do que falas.

sexta-feira, 23 de março de 2018

[foto Chema Madoz]

[porque me faltam ainda os teus abraços impossíveis de serem mais genuínos, e porque não quero perder o que me fez crescer contigo. três anos. pensei levar-te flores, mas para quê se podemos conversar no silêncio de qualquer lado e as flores são coisas que já não vês, quero só partilhar o silêncio como quem conversa até o que não pode ser ouvido, dizer-te do medo que tenho que a minha filha não cresça contigo e te esqueça. Encontramo-nos na viagem do olhar pelos campos. como tantas vezes, em tantos dias, nos de sol e nos nebulosos. nos de chuva pequenina também,  como hoje. Ainda me ecoam as tuas palavras, sabes? " ela gosta, gosta muito de mim, trata-me com muito carinho" - dizias ao ocupante da cama vizinha... Sabias tu que as devias dizer? Percebi, naquele momento, que a língua universal do carinho chega a todos os mundos - até a esse teu, especial, diferente dos outros, onde eu não sabia entrar -  e que ele a percebeu tão antes de eu ter consciência dela... coisa incrível, de enorme generosidade, o dizê-lo, o senti-lo, o sabê-lo e fazê-lo saber. De repente falta-me o bocado maior que me construiu o carácter, o que me fez quem sou, o que me fez (talvez sem saber) aprender que a língua do carinho é a única que se percebe sem ter de se usar o entendimento. Quem me fez a vida de modo à vida me fazer assim.
Ele gostava de mim e eu não sabia. eu não era uma segunda mãe, quando a nossa mãe faltava - eu era eu. 
Deixei que o silêncio da eternidade guardasse o que nunca disse. Agora a língua do carinho não basta para me calar o silêncio que grita que agora é tarde. tão tarde. falta-me uma parte que me justifica. falta-me aquela pessoa também  para que me entendam inteira enquanto pessoa. falta-me aquela pessoa para eu ser a pessoa que ele me fez, também, ser. Falto-me mais uma vez.]

quinta-feira, 22 de março de 2018



As pessoas voltam sempre ao que verdadeiramente são, para o bem e para o mal. Por muito que tentem disfarçar, e eventualmente até consigam durante uns tempos, o que são volta-lhes sempre ao de cima. E ainda bem, de certa maneira, ainda bem. Quem não tem bom fundo, quem não é bem formado, nunca o será. Poderá adaptar-se, ou até tornar-se melhor, se a vida o obrigar a isso, mas nunca se afasta muito do seu próprio registo, da sua própria natureza, das suas fundações - a essência não muda. Quem não tem dignidade não a aprende, por muito que leia quem a tem, por muito que a tente representar; quem não tem ideias próprias copia as dos outros e chama-as de suas; quem não sabe pensar dedica-se a ler quem sabe (que já não é mau, convenhamos, e até é um elogio :) ) e a repetir o que lê, mas há coisas que por muito lidas que sejam não se aprendem, como há coisas que não se forçam, ainda que se disfarcem - ou tentem disfarçar - de espontâneas... Mas os disfarces cansam-se, e a natureza de cada um deixa-se sempre ver através de todas as máscaras.
Até no melhor teatro cai o pano...

E ainda bem.

E talvez, então, para o bem e para o mal, eu volte a ser o que já fui, ou que ainda serei debaixo de tantos anos, dias e noites que me asfixiam partes de mim que me faltam e que quero, e que quero dar a quem me faça bem e eu goste muito, estupidamente, também por isso, e isso seja deixar-me ser eu e não condescender à vida pelo meio caminho.



quarta-feira, 21 de março de 2018

... então é minha. 
Também é minha.
Preciso muito dela, para que os dias saiam do anonimato nebuloso do tempo.
Para que parem o tempo fazendo-lhe sentido, sentindo.
Preciso, mas nem sempre a encontro.
Às vezes ela encontra-me, pensa-me, respira-me, sorri-me.
Como se nessa distracção da vida, a vida me visse.
[foto @waynefisherphotography]

"Não, não é. O amor não é cego, nós é que somos cegos para ele. A gente olha e não vê. E, quando vê, já passou a ocasião. Tanto faz que seja, porque tivemos alguém que julgávamos que queríamos, como porque não tivemos quem só depois percebemos que afinal a gente queria. E o pior ainda não é isso. O pior é a gente, mais tarde, saber que nos era indiferente alguém que julgámos desejar muito."

Jorge de Sena, in Sinais de Fogo

[A multidão que aqui vejo, tanta gente que identifico e aqui cabe... só o verbo "ter" se desdobra e recurva para abarcar outros, como amar, adorar ou desejar... mas a essência do que é dito permanece imutável... Alguém que quis alguém que, quando teve, afinal já não queria, era tarde, e não, não "vale mais tarde, que nunca"... porque depois não vale nada. Porque depois a indiferença vale tudo, naquela altura em que daríamos tudo para, afinal, ter visto aquela pessoa que não percebemos a tempo que não podíamos perder e já perdemos. Tudo fora de tempo, tudo tarde, ou cedo demais.
O fogo cruzado dos amores com intensa falta de pontaria, que mata quase todos por lhes não acertar, e salva quase nenhuns dos que acerta.  E chegar ao fim e perceber que andámos sempre enganados, trocados, perdidos, num reconhecimento póstumo e impotente.
Andarei, também eu, perdida no que está diante dos meus olhos? ou terá o amor de morrer para que o saiba, nessa certeza fria e inerte,  por dentro das veias? ]

terça-feira, 20 de março de 2018

[Foto de Chema Madoz]

Não quero as palavras que me remexem as entranhas; ando fugida das palavras que falam as forras do meu ser por ser e sido; estou cansada das palavras de mãos mudas e quietas, incapazes. Estou farta das frases ocas, das vírgulas disfarçadas de pontos finais que nunca o foram, dos parágrafos que não mudam de linha, dos capítulos que se sucedem sem nada suceder que faça este meu mundo ceder. Exausta do livro que tem a mesma história reescrita vezes sem fim com o mesmo fim, que é só uma vírgula e uma página por acabar.
Mas volto sempre às palavras como quem esbarra no destino sempre que lhe tenta virar costas. Como quem entra num novo capítulo, quando pensava ter fechado o livro pelo lado de dentro.

sexta-feira, 16 de março de 2018

[foto @melwitharosee]

Acordei de manhã cheia de um abraço por dar. Passei o sonho todo com a sensação de querer um abraço sem saber como o pedir. Queria só um abraço porque as vezes a vida corre e depois os abraços que queremos dar, fogem e ficam para sempre. Como este com que acordei hoje, foi um abraço por dar que me ficou já depois dos olhos abertos e da vida supostamente ter recomeçado. Queria um abraço daqueles em que me queria sentir confortável e segura, protegida. Como se naquele abraço não houvesse abismo que me deixasse cair. Como se não se pudesse cair daquele abraço, como se ali eu pudesse descansar. Talvez por isso não o dei, não consegui, não soube como pedi-lo e acordei sem ele. Fiquei a pensar se estarei a fazer o que devo, se não te magoo com isso, se faço bem, se farias o mesmo no meu lugar, e como o farias. Sinto falta que me digam o que fazer e como, às vezes é um fardo demasiado pesado decidir, fazer e arcar com o que vier. Sozinha. Saber que não temos ninguém que nos ampare, que não nos deixe cair depois de tropeçar, que nos abrace ao fim do dia e nos deixe acreditar que tudo está bem ou vai ficar bem. Que ali estou segura, que não me faltará aquele abraço que me embrulha do mundo e me protege, num “está tudo bem” que se sente com a alma.
Fui levar a miúda e no regresso pensava que ao menos agora ninguém me falha, sei que a tenho de levar, sei que tenho de fazer o jantar, ir às compras, pagar as contas, ir buscar a miúda, tratar da cadela, trabalhar todos os dias, não contar com ninguém e assim não me desiludir... e aguentar as consequências do que decido, sem saber tantas vezes se soube decidir. Acho sempre que a tarefa é uns números largos acima do meu, que me sobra responsabilidade onde me falta capacidade. Que as exigências não têm a minha medida. Que a minha medida precisava dum abraço que a fizesse a medida certa... 

quinta-feira, 15 de março de 2018

"The greatest enemy of knowledge is not ignorance, 
it's the illusion of knowledge."

Stephen Hawking

quarta-feira, 14 de março de 2018

[foto @kat_in_nyc]

Não está frio, já dá para fumar o último cigarro no degrau da varanda. Oiço a chuva miudinha cair e cheira a inverno, a frio, à melancolia dum certo abandono solitário. E eu aqui, na varanda, outra vez, com a vida baralhada de, e por tantas, razões. Quantas vezes há um ano me perguntei... onde e como estarei daqui a um ano? Bom, estou aqui, quase na mesma. Mais lúcida, e ao mesmo tempo com mais medo de tudo, com mais incertezas de vida, de futuro, e igualmente sozinha, ainda que tão menos só...  enfim, o tempo vai passando, e eu também, só não sei para onde. Um dia terei a resposta. Quando o tempo chegar. Há respostas que já não quero, perguntas que já não faço. Essa ainda procuro. Onde estarei daqui a um ano? E como?

terça-feira, 13 de março de 2018

[foto @alongruber]

As coisas mortas no auge ficam para sempre, cruelmente cristalizadas na sua perfeição, cruamente desfiguradas em superlativos únicos. Das que deixamos morrer aos poucos restarão só as acomodadas imperfeições que arrastámos até serem o fim. Cinzas do que foi, do que fomos, a velhice gasta em todas as coisas. Quando acontecer não há volta que traga regresso - depois de se ter dado tudo, não resta nada para dar, esgotamo-nos, esvaziamo-nos. E o vazio não pode amar.

segunda-feira, 12 de março de 2018




“Um grande amor aquele vazio inominável, em que se debatiam tantas atitudes contraditórias de atracção e de repulsa? Na verdade, eu detestava a Mercedes e desejava-a sequiosamente. Não. Amava-a profundamente, e não a desejava senão como uma ocasião de precisamente esquecer, nos braços dela, que a amava. Tanto. Tão dolorosamente. Tão enciumadamente. Tão orgulhosamente. Tão envergonhadamente de continuar a amá-la e desejá-la.”

Jorge de Sena, in Sinais de fogo 

[Será assim o amor? De atitudes contraditórias? De detestar e desejar e amar?
É um pouco assim que sinto amor, entre detestar tanta coisa e ao mesmo tempo amar por algumas dessas mesmas razões, que não me beneficiam ou facilitam a vida, mas que aprecio, e todas as outras sem razão nenhuma... ama-se só porque sim, porque o amor nos tem, e mais nada. Há algo que aqui é dito que me faz muito sentido, é quando estamos nos braços de quem amamos que nos esquecemos que amamos, como se precisássemos desses momentos para descansar do amor que temos vivendo-o. Se calhar só se descansa do amor vivendo-o. Ou talvez nesses momentos não tenhamos consciência de que amamos, porque o amor nos absorve, nos consome, nos engole -  entregamo-nos inteiros e nada resta de tão nosso que chegue para ter consciência lúcida do que for. Talvez por isso esses momentos sejam de liberdade total, libertamo-nos até de nós e da consciência dum amor que nos leva, ainda que momentaneamente, a consciência de ser. E isto é coisa para ser uma sensação viciante.

Falha-me a vida, tão indiscutível e rigorosamente como um relógio que nunca perde o tempo certo do tempo, e eu volto a mergulhar em palavras que não são minhas para escapar à minha vida e encontrá-la nas palavras dos outros.]

[foto @qiurii]

"Confiança, orgulho, ternura, contentamento, um quebranto de cansaço e também um desejo reacendido só de pensar nela e não de pensar no que fizera com ela: tudo isso eu sentia, me dava um andar leve, quase dançado, e era inteiramente novo. Eu já sentira, noutras ocasiões, um pouco disto ou daquilo; não sentira porém, tudo e tão intensamente (...) Era como se, na vida, nós, de vez em quando, após uma experiência nova, descobríssemos que ainda crescíamos, que ainda não tínhamos deixado de ser crianças. E que havia, dentro de nós, possibilidades infinitas de plenitude. (...) Mas não era que deixássemos muitas vezes de ser crianças, não. Nem uma experiência nova. Não tinha sido afinal uma experiência nova. Tinha sido, pelo contrário, a mesma experiência de sempre, como nova. E nisso estava toda a diferença. (...) de cada vez que acontecia uma experiência destas, era como se um novo grau de consciência e de sensação nos relegasse a uma memória distante e imprestável tudo o que antes, igual experiência tivesse sido. Todavia, distante e imprestável, não por inútil, e sim por superada."

Jorge de Sena, in Sinais de Fogo

[Quando de repente tudo o que está para trás parece reduzir-se a nada, a um mero caminho até aqui, agora, onde percebemos a possibilidade da plenitude em cada poro. E o depois, onde voltamos ao nada que encontrámos, depois de tudo, no antes. Voltamos ao antes sem nada ser como dantes. De repente os vazios substituem o que entendíamos por bom, por razoável, por normal. Agora é tudo nada, o normal é nada, é pobre, é anormal.]

Havia alguém que me dizia que eu devia ser das únicas pessoas que conhecia que mal acabava de ler algo, era capaz de me pôr a falar, ou a escrever, do que tinha lido, entendido e sentido. E foi um hábito, ou uma espécie de ritual de encerramento da leitura, que ganhei há anos. Muitas vezes, depois de acabar de ler um livro, vou rever as partes que marquei, que me fizeram parar e mastigar devagar, porque me disseram mais que o resto, porque me falaram mais ao ouvido do coração, porque talvez fossem mais minhas. Por vezes vou registando esses trechos ao longo da leitura, outras espero acabar o livro (como desta vez, na maior parte dos excertos) para então me dedicar aos que quero deixar registado para a minha memória futura. Deixo-os aqui, como tantas das coisas que me tocam ou me passam pela cabeça ...

domingo, 11 de março de 2018

[foto @tarasovm]

"(...) aquele corpo que, como a minúcia me fez entender, não era tanto a Mercedes como o meu próprio corpo realizado noutrem. Não a metade ideal que se procura. Não a mulher pela qual, em nós, somos homens. (...) Mas eu mesmo como amor que se materializa, como realidade que se torna espaço e forma, como sexo que perde a sua solidão de instrumento, para adquirir a independência de uma solidão autónoma e imprevisível, em que o sexo não é uma parte que estrutura e que domina um corpo, um eixo em torno do qual roda a vida, mas um centro onde ela se detém, um todo em que ela se concentra como coisa viva, e não como coisa vivida.
(...) Ela levantou-se, e começou a vestir-se. Quando se penteava, eu pensei que, de facto, eu não podia amá-la. Ela era o meu amor. Nada me ficava com que ter-lhe afecto. Eu fechei tranquilamente os olhos, certo de que, assim, eu a teria sempre, tal como ela queria ser sempre minha."

Jorge de Sena, in Sinais de Fogo

Estas últimas linhas lembram-me uma frase, das que colecciono entre as mais bonitas,  que me disseram em resposta a eu dizer que tínhamos estado muito tempo longe, que tinha estado sem ele, que ele tinha estado sem mim... que não, que nunca tinha estado sem mim, que estava sempre com ele, nele, porque me pensava e me lembrava todos os dias, bastava-lhe parar um pouco ou fechar os olhos, que era impossível ele ficar sem mim, eu estava nele. Será isto amor? a impossibilidade de nos dissociarmos totalmente? porque estamos no outro e o outro em nós? Mesmo quando não estamos perto? Será o amor essa coisa que se forma com duas almas, aquelas duas almas em que um encara o outro como amor, quase sendo impossível de dizer se se gosta ou não, se se ama ou não, porque, se é já amor o que nele os dois juntos são, como dissociar qualquer das partes, para saber se ama ou não ama?
... e é tão bom. Há tanto tempo que andava com vontade dum fim de semana assim, só para mim, para fazer o que me apetece, ou para não fazer tudo o que me apetece... ficar só no sofá enrolada na manta com um livro, música, a lareira se vencer a preguiça, os cães aos pés e a alma livre do tempo, do ter de ser, do deve ser, do a fazer. E devia fazer algumas coisas, mas vou dar-me aquele gostinho enorme de não as fazer, de ter esse pequeno poder de decidir não fazer, de decidir o meu tempo e a minha vida - há um certo prazer acrescido e delicioso em não fazer o que se devia fazer, o que se pensara fazer, mais do que apenas não ter o que fazer e aproveitar... E hoje, porque hoje posso. Lembra também aquele gostinho de quando deixamos o despertador tocar só para o poder calar e continuar a dormir com um sorriso nos lábios, numa satisfação duma vitória que não foi a jogo :) 

Bom domingo 

sábado, 10 de março de 2018

[foto @silverspies]

Duas janelas para o mundo. Um livro e uma janela, um tempo indeciso entre o sol piscar os olhos e a chuva dobrar a esquina, o cinzento pinta as paredes das ruas, e a casa torna-se íntima cúmplice e quente. 
Um livro a dez páginas de acabar e a inquietação de escolher o seguinte, qual o próximo mundo por onde vaguear, por onde parar para ver paisagens e interrogar-me vidas que não pensei. Frases que fazem cócegas à alma, este ambiente perfeito de fechar o livro e pensar no que nos ficou das palavras, enquanto bebemos qualquer coisa quente, um café, um chá, um sonho por adoçar. Tanto por onde escolher quando se quer outra vida na vida que escolhemos. Para fugir dela e assim gostá-la melhor. 

sexta-feira, 9 de março de 2018

[foto via @33thirdmedia]

...talvez seja uma boa ideia!..
...para os dias que correm, ou melhor, que vão caindo do céu...
Bom Dia!!

terça-feira, 6 de março de 2018




"pus a mão na boca para
amordaçar a dor, mas
era tão mais forte que
mesmo a mão gritou."

Bénédicte Houart



A dor, como o amor, não se amordaça.
Não se prende nem se aquieta.
Gritam ecos nocturnos
que o sol mais radiante não emudece. 
Falam diferentes línguas pela mesma boca. 
E mordem-nos com dentes de punhal,
enterram-se fundo até onde somos
essência encolhida e entorpecida,
à espera que a vida passe sem nos atingir.
Para não amarmos, para não doermos.
... isto tudo e gargalhadas, daquelas que de tão persistentes fazem doer a barriga, 
deixam-nos de barriga cheia de bom humor e boca doce sem açúcar.
A felicidade deve ser encontrar na mesma boca boas conversas, gargalhadas e beijos, 
e essa boca sorrir para a nossa com verdade dentro. 
A única verdade é amar.

segunda-feira, 5 de março de 2018


Está uma moça a correr o feed do Instagram em procura de fotografias bonitas para pôr aqui, quando se depara com esta pérola publicada por um (muito bom) amigo (e maluco também...) com a seguinte pergunta: “meio cheio ou meio vazio?”... seguido de alguns comentários com piada. Eu acrescentei o meu, e deu nisto:
-encorpado sff e que não dê dores de cabeça :)))
- sempre bem encorpado, minha querida ;)
-... para compensar o ser meio... pois. :D
Ahahahah
Fartei-me de rir sozinha no sofá por causa de meio copo de vinho... é o que dá ter amigos doidos, mas com sentido de humor :))))

domingo, 4 de março de 2018

... do pecado que já não mora ao lado e já mora na minha boca...
 e tantos ainda para eu ir parar ao inferno de vez!! ;)) 
... mas muito regalada de doce...
E finalmente refastelada outra vez no meu sofá...  ahh coisa boa! 
E (hoje) ainda mais doce...

sábado, 3 de março de 2018

Levar o meu irmão ao aeroporto, ensonada, com o cabelo ainda a dormir, e os sonhos na ponta das pestanas, desejar-lhe boa viagem e dar-lhe um beijo rápido que dura toda a viagem. Os regressos começam com cada partida, cada passo é um caminho de volta. Do que tem volta, do que quer volta. E agora penso nisto, dentro do carro com as janelas pintadas de um azul que se espreguiça e parece um nascer traquina com algo de prenúncio doce. O vento sopra nos ramos e ouve-se pelas frestas, já a barriga ronca, e eu faço silenciosamente tempo para as horas de pequeno almoço e contas ao regresso à cama, quente e de braços abertos para o meu sono limpo de sonhos e preguiça requintada de pequenos nadas.
Levanto o nariz das letras, as luzes da rua apagam-se, o azul amanhece-se, mais leve, e a noite parte a caminho do seu regresso.

sexta-feira, 2 de março de 2018

... mas falta algo nestes Legos, 
não encaixam lá muito bem.
O lado certo da loucura parece estar nos dois lados. 
O errado também. E o coração em todo o lado - o louco...

quinta-feira, 1 de março de 2018

Eheheh
Há sítios que, não tendo este aviso, 
nem um touro corredor desta estirpe, 
deviam ter um sinal parecido...
Há que saber do que fugir e a que velocidade vem...

[andamos assim, em modo de parvoeira activo, sem querer parar para olhar para dentro. há avisos que faltam, mas também há luzes que sabemos que se acendem logo que desligamos o mundo de fora... e não me apetece... há touros à espreita que nos apanham nas curvas dos dias cinzentos... há que estar atenta e não parar de olhar para fora.]
Bom dia!