quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

[foto via @33thirdmedia]

Ai... onde me vim meter... eheheh
Bom dia!!

(estou tão precisada dum café, que nem vos digo...)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

[foto @jcseelenmeyer]

Que te fujo. 
Que há um muro à minha volta,
 que não me chegas
não te alcanças. 
Eu não fujo, só não me movo. 
Esse muro entre tu e eu, 
és tu.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

[foto @nihan.tezer]

Vamos fugir? 
É hoje?
Fazer um mundo longe do mundo, 
onde a casa seja lar
 para onde a felicidade mande a  correspondência :))

[foto @nihan.tezer]

É nas horas mais frias
que o meu gelo derrete 
e me quebra os ossos,
filhos do tempo. 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018



[imagens de Une Femme Mariée, de Jean Luc Godard - adoro cada uma delas, e outras tantas que já tenho guardadas e outras que já fui pondo por aqui, há uma envolvência, uma cumplicidade, um calor e uma intimidade  que passa para as fotos, que reconheço tão bem...]

Amor não deve ser pensar em alguém e achar que só consegue pensar em amor, que só se pensa em dar mimo, carinho e beijos, que se tem saudades da cara e da pele. Amor é não deixar o outro sempre  sozinho... amor é saírem os dois para namorar em sítios giros, ou tornar giro qualquer sítio para namorar, é no regresso a casa deslizar para dentro de quem se quer sem cerimónias e com muita vontade. Amor não é só pensar, amor é fazer. Amor não é pensar que só se pensa em alguém em tons de amor e tesão, mas não ficar o tempo suficiente para o mostrar e fazer sentir, e nem sequer pensar nisso. Isso não é amor. Não sei o que é, mas amor não é. Talvez descubram um dia e me digam depois, ou talvez não, talvez nessa altura eu não queira ouvir nada, nem mesmo o que pudesse explicar tudo. Talvez nessa altura eu não queira nem saber que tudo poderia ter uma explicação. Espero na altura, simplesmente, não querer nada que sequer me lembre que, um dia, amei tanto. Porque o amor acaba quando não se sente amado, quando não tem por onde respirar, quando só expira, lentamente, o próprio ar, sem lhe darem nada para transformar, para trocar, para inspirar. Um dia morre, se calhar pouco depois de querer morrer, porque a própria fome de si mesmo lhe dói e o amarga. E o amor nunca pode ser amargo, ou não será amor. Aqui a dúvida está no "pouco depois"... quanto será o pouco? quando será o depois? já é? já foi?... já não quero saber de nada, mas ainda lembro.

[foto @gregbionde]

Estremeces-me brutalmente - és o único diamante que riscou a minha pele.

Frederico Mira George

[Sulcos invisíveis que só o coração vê,
rastros de amor e desejo
que me percorrem a pele deserta
 Iridescente, sinto, como um diamante à luz do sol.
Só percebo todas as cores contigo.
Só vejo quando estou cega.
Só sei sem razão.
Só sinto.
Estremeço.]


quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018


e o cansaço é tanto que se cansou de cansar-se,
alojou-se imóvel no sopé de cada amanhecer
e descansa à sombra do lado de dentro da pele,
impermeabiliza a noite de desejo
e ouve o silêncio como eco de companhia.
senta-te aqui, dá-me a mão por baixo da pele
e faz chover dia pelo meu corpo.


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018




Futuras borras de felicidade que esborratam os gestos bebidos de passados, no agora que passa a cada momento. Alguns derretem o doce no amargo, quando queriam derreter o amargo no doce. Outros pintam o fundo amargo com cheiro a canela, exótico e quente, sempre quente. Não acreditam já em fundos doces, já não vestem o café de açúcar. Nem a vida de mentiras adocicadas. 
A felicidade são momentos que nos ficam em sorrisos teimosos de quentes e aconchegantes, só têm de ser verdadeiros, não podem ser adoçados e não têm sempre de ser doces.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

[imagem @jean_jullien]

Pendurar à saída da semana as caras dos dias “feiras” e entrar no fim-de-semana inebriados de luz. Melhor ainda quando começa assim:  “estás acordada? Estou. Então abre a porta, estou aqui em baixo.”
Há muitos tipos de sol, eu gosto destes que me aquecem por dentro sem aviso, mas também, de alguma forma, sem surpresa. Tal como há pessoas que nunca partem, mesmo que a distância nos aparte. É um conforto que se aconchega nos nossos recantos e esse está sempre por dentro.
Bom dia!

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

[foto @bnwmag]
As pessoas que dizem as outras lúcidas e fortes porque se aguentam às broncas ainda que todas torcidas por dentro mas de espinha direita são as mesmas que as fazem sofrer. Que as obrigam a ser fortes. E lúcidas. Porque podem, porque elas aguentam. Porque são fortes. Porque as que dizem doidas e coitadas e que ficam fora de si, as que se desintegram de tanta falta de conteúdo, essas não podem ter contrariedades, coitadas, porque há quem diga que se desfariam, coitadinhas. E eu penso que quem se aguenta às broncas (ou parece que se aguenta) tem sempre mais broncas... E que lá porque se aguentam às broncas não são parvas ao ponto de comer por boas todas as desculpas... mas isto para dizer que o mundo é duma injustiça feita de uma ironia intrínseca. Se te fizeres de frágil e coitadinho vais tendo o que queres, e és poupado. Se te fizeres de forte porque não gostas de favores nem de coitadinhos... coitado de ti. Só a dignidade distingue uns dos outros, se calhar.
O que não me parece nada lúcido é este marulhar de pensamentos ao pequeno almoço...
[foto @mary_dgaf94]

"Do tacto pouco se fala, e quase sempre em sentido figurado. O tacto é, contudo, o mais interessante dos cinco sentidos, o menos embotado por excessos de informação, o menos sujeito a ideias de gosto, pré-concebidas por outros, o que ainda nos pode dar prazeres em estado mais puro, menos sujeitos a racionalizações, na fronteira entre o medo e a entrega." 

Miguel Martins

Talvez por isso o toque, a pele, engane menos, quando é realmente sentido sente-se, como se fizesse a alma emergir à flor da pele que nem se sabia ter, ter assim. Toca além da superfície, ouve no mais puro silêncio, vê além dos olhos, sabe mais que a razão. Podemos duvidar do que vemos, do que ouvimos, desconfiar até do que chegamos a pensar certo, mas a pele, a pele sabe, não duvida e não quer saber porque sabe. Sabe pelo corpo todo. Sabe com todas as razões de que não sabe, mas sente, e tantas vezes grita silêncios, vê na mais escuridão absoluta, ouve os murmúrios inconfessáveis da alma. A pele não sabe por que é que sabe, só sabe que sabe. E não pensa.
Há quem chame química a essa coisa de pele, a esse efeito inexplicável que derrete o medo e funde a entrega que se estende na pele até ao abismo dos (teus) dedos.

(ontem à noite andei a pesquisar coisas deste senhor, poeta contemporâneo português que não conhecia, e gostei, gostei muito - estranha-se e entranha-se com a mesma facilidade)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018





(esta não deu doutra maneira)

Tríptico de fecho de dia... eu que andei distraída o dia todo e só ao final do dia me apercebi que hoje era dia dos namorados, aqui deixo três canções deste senhor que me fazem acreditar (e quero continuar a acreditar ainda que nem todos os dias seja tarefa fácil...) que há coisas bonitas e intensas que podem acontecer e ser vividas. É certo que se calhar não é para todos, mas quando é...
Três músicas que me lembram três faces lapidadas dum mesmo diamante, todas com o seu lugar no amor e ainda outras que mais lhe cabem.
Que tenham tido um dia bom (agora, a esta hora, já é ontem, mas amanhã também, e depois, já agora), os namorados, os enamorados e os não enamorados :)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018


Cada vez que estavam juntos era uma despedida - como se fosse uma despedida. Nunca sabiam quando iriam estar juntos outra vez, ou sequer se voltariam a estar, tal eram as voltas que o mundo dava numa vida de malabaristas ironias e desencontros cruéis. Ali juntos, entre beijos, pele a passear devagar pelas mãos, e cheiros quentes que respiravam alma, houve a força violenta de um abraço que agarra, que quer ficar, que quer prender o tempo, quer prender os dois no tempo que não foge, naquele tempo - aquele tempo antes de se despedirem. Ele abraçou-a como se quisesse fazer sua a pele dela, o cheiro dela seu, como se não fosse possível separarem-se. Como se quisesse engoli-la, absorvê-la, para que nunca pudesse ficar sem ela, porque seria ficar sem si mesmo. Essa ideia rasgava-lhe o sossego e instalava-se em medos que ainda não conhecia. Como se, para ele, ela estivesse, de algum modo, sempre ali, para abraçar quando ele fosse abraço. Para ser um momento sempre que tivesse tempo. E tentou dizer-lhe alguma coisa, com ambas as mãos a amparar e emoldurar o rosto dela, mergulhando nela com um olhar onde cabia a angústia dum abismo,  procurava as palavras para lhe entregar. Ela pôs a mão sobre a sua boca, sorriu, agarrou-o com delicadeza pelo olhar, afugentou abismos e disse-lhe que não dissesse nada. Nada. Que deixasse que fossem o silêncio, que o silêncio os preenchesse, que eles fossem silêncio em todos os silêncios. Que fossem o silêncio inteiro em cada pequeno vazio. Que fossem, e estivessem, em todos os silêncios: quando, separados, o mundo os calasse, esse silêncio eram eles, ali e assim, pele na pele; quando se calasse o mundo eles descansariam o olhar no silêncio que era cheio deles; quando falassem sem vontade, esse silêncio disfarçado era vontade de serem eles; e quando tivessem de ouvir sem querer ouvir, esse silêncio era o refúgio onde se escondiam. E juntos, sempre que não encontrassem as palavras para dizer o amor, esse silêncio, era o amor deles.

[Cada dia que não nos beijamos todas as palavras são em vão. Cada dia que não nos vemos o ruído ensandece. Encontramo-nos no silêncio. Tanto. Até já.]

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018


[foto @rebelcircus]

... a peruca fez o carnaval. Escolhemos mal o restaurante, éramos as únicas ali que sabíamos que era carnaval... foi engraçado, e bastante discreto com perucas de cores eléctricas... foi chocante :))... Ainda assim os empregados não pareciam notar-nos a avaliar pela quantidade de vezes que fizemos sinal para nos atenderem. Também podia acontecer estarem envergonhaditos com a nossa escolha capilar... é assim, só preconceitos neste mundo...  o certo é que demos umas gargalhadas, dissemos alguns (muitos) disparates, pusemos a escrita em dia e carnavalámos um tico. 
Não nos disfarçámos, só nos esquecemos de ir ao cabeleireiro... e optámos pelo pret-a-porter ;))... 
(ainda que não tão abrangente como as mocinhas da fotografia... ) 

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018


hihihih.... pois amanhã se calhar é o dia quase todo de pijama!! 
... mas se há coisa de que não me poderia mascarar era de preguiçosa... estou sempre a assumi-lo, não engano ninguém. Tenho em minha defesa - e uso-o sempre que preciso - que quem inventou a roda era (de certeza) criatura que procurava ter o menor trabalho possível a cumprir as tarefas. Se fosse muito zeloso do cumprimento estrito de ordens, de seguir rigorosamente o instituído e fosse todo direitinho fazia as coisas como todos os outros... portanto, a roda só pode ser obra de um preguiçoso ;))) 
Mascarem-se de coisas giras e com sentido de humor e boa disposição, ao menos para isso o carnaval servirá de mote!! Divirtam-se!

domingo, 11 de fevereiro de 2018

[foto @mannatjphoto]

Às vezes ardem-me os poemas
na ponta dos dedos,
como um incêndio.

Alexandra Malheiro


[Para os esfriar sonho que pego no teu coração.
Eu não esfrio, mas ele aquece.
Lembro-me que é um sonho,
que não tenho o teu coração.
Acordo sem deixar o sonho,
mas deixo-te cair aos meus pés, sem partir.
E parto. Deixo-te inteiro no chão, e parto.
Mas há partes de mim que ficam.]

sábado, 10 de fevereiro de 2018


[foto @olhamecoimbra]

...tanta prioridade trocada. 
Primeiro beija-me. Depois, depois pensamos no resto. Mas beija-me como se isso fosse a tua liberdade a cada dia, e uma pequena revolução a cada instante, e luta, luta por podermos continuar a beijarmo-nos assim. 
Há primeiros beijos que são autênticas revoluções. Alguns nem são os primeiros, continuam a ser uma revolução de vida silenciosa. E cada beijo é liberdade, liberdade de amar e mostrar, haverá liberdade melhor? E a única luta é com o tempo que não pode ser nosso.
Agora beija-me outra vez e cala-te.

[foto (a que eu mudei ligeiramente a luz) de Alaska, aqui]


Atrás desta janela esconde-se uma menina que veio do frio
Olha as vidraças de olhos fechados por fora
Mergulha o olhar crente nos tons salmão do céu 
para ver saltar de nuvem em nuvem 
os sonhos que enfrentam a corrente da vida 
tu-cá tu-lá, partida e inteira
conta, na ponta dos dedos, as vidraças 
e embala com a música das árvores que subiu
os feixes luminosos dos dias que partiram 
Imperfeitos como a melancolia 
que perfeitos torna os tons do outono.
Cada vidro partido é uma sombra em ruínas. 
Em cada aresta há um corte ferido de poesia,
que ela cura com sangue de luz
 

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

[arquivo Marina Tavares Dias, roubado daqui]

Eh pahh... devia haver um matutino, ou mesmo vespertino (para mim era mais adequado...) para nos dar conta das boas notícias aqui da bloga... então a Miss Smile voltou e ninguém me avisa??? Mas que raio de solidariedade é esta??... inexistente pois... aqui há dias se não fosse o Patife bater-me à porta aqui do tasco, eu também ficava na ignorância e com umas belas gargalhadas a menos... não me parece bem, caríssimos, não parece mesmo...
Fica aqui a notícia para bem de quem gosta de coisas boas para ler ( e é distraído como eu), que há um sorriso assegurado pelas leituras aqui, e uma gargalhada certeira para gente desempoeirada aqui.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

[foto de Andrew A. Amundsen]

Dantes o sexo não era a melhor parte. Dantes não havia uma parte melhor, esta ou aquela, não havia partes - estar juntos, sem partes, em qualquer parte, era sempre o todo. E era o melhor. E era tudo.
E o melhor que eles tinham, agora, era o sexo. E eles, agora, nem sequer tinham sexo, realmente, verdadeiramente. Era uma coisa sem casa, sem tecto, mas em qualquer canto onde coubessem os dois e o desejo. E o sexo que não era sexo, era uma coisa de pele e de prazer. Sem pele, sem corpos colados em nudez, mas com tanto prazer, cumplicidade, intimidade. Quando as mãos, os beijos e o silêncio dizimavam todos os muros, eles encontravam-se como dantes, davam-se inteiros, abraço feito mundo. Momento nascido eternidade. E era a melhor parte. Agora havia partes. Como se o todo se tivesse partido. Em partes. E o sexo era a melhor parte. Mas nem havia sexo. Só partes. Partes de tudo que faziam outro todo em tudo. 

[imagem de Chema Madoz,

Se nos teus olhos bordejasse a linha do horizonte quando me vês, 
pegava nela e cosia-te o olhar ao meu coração.
Não precisaria de coser nuvens de algodão aos meus sonhos 
para que não chovam lágrimas que me queimem o amor.



[foto @gregbionde]

O que eu gosto, o que me encanta, o que me incendeia e arrebata, é essa força da onda movida por dezenas de cavalos selvagens galopantes, que quando arrancam já razão nenhuma os pára - não importa a roupa, não importa o sítio nem a hora, tudo passa a cenário, e a cena é o palco principal donde não se tiram os sentidos, onde nenhum sentido se distrai e a razão é a única traída. Chamem-lhe tesão, chamem-lhe desejo, chamem-lhe loucura, que rótulos há muitos e de nada servem, eu só sei que esta onda que me arrasta do mais fundo de mim para o mais fundo deste sentir, desta coisa, deste furacão indomável que nasce na brisa do seu primeiro toque e acaba com o coração galopante, devastado de prazer mas de alma descansada, como quem cumpriu a razão da sua existência. O instinto da alma, a essência da alma, é amar - há uma sensação de chegada, de finalmente ser inteira de alma até aos ossos. E até os ossos serem alma.
E é isto que me fica, que se guarda cá dentro para sair em palavras que me tiram o sufoco do peito. É isto que me vai às raízes dar de beber, que me acorda a seiva da vida nas veias, no respirar, no brilho que estende o olhar, e que agora, aqui, me saiu de rajada. E há um prazer e uma enorme tristeza nisso, nem tudo é igual, por mais sorridentes que alguns olhos me olhem e se mostrem ponte para alguma coisa, nem tudo me serve à exacta medida da alma, do ritmo galopante do coração que deseja, mas isso será sempre a minha tristeza. O estar provavelmente condenada a ficar contigo até ao fim, sem ti. Em ti, mas noutro.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

[foto @eternal_noir]

Não me digas a que vens
Deixa-me adivinhar pelo pó nos teus cabelos
que vento te mandou.

É longe a tua casa?
Dou-te a minha:
leio nos teus olhos o cansaço do dia que te venceu;
e, no teu rosto, as sombras contam-me o resto da viagem.

Anda,

vem repousar os martírios da estrada
nas curvas do meu corpo — é um
destino sem dor e sem memória. Tens

sede? Sobra da tarde apenas uma
fatia de laranja — morde-a na minha
boca sem pedires. Não, não me digas
quem és nem ao que vens.
Decido eu


Maria do Rosário Pedreira




[não me digas ao que vens, que não te creio.
Não me digas quem és, se te sei.
Sei-te e não te creio quando creio que te sei.
Não sei se te sabes se não me crês.
E não nos crês quando nos sabes.
Sabes que nos queremos.
E no entanto não queres crer.]


Esquece-te. Esquece-te da vida que tiveste. Esquece-te do amor que sentiste. Esquece-te de cada sonho desfeito. Esquece-te que te esfarelaram o verbo amar e, em troca, te muniram de descrença para esgrimir os verbos de cada dia. Esquece-te de tudo, para que, um dia sem saberes como, possas aprender tudo de novo como se nunca tivesses esquecido nada. Como se nunca tivesse havido nada que pudesse não ser esquecido para lembrar. 
Esquece. Para que em ti possa nascer essa morte fecunda.

Poiso aqui estas letras e parte de mim já morreu, enterrada com estas palavras neste sítio sem chão, onde hão-de florescer os meus pés.


[de como o olhar gelado dos campos aquecem as palavras que se nos derretem nos dedos]

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018


[imagem @alexandradillonartist]

... acordar de cabelos em pé!!... E depois perceber - ao som de uma boa música e com os campos, vestidos de frio solarengo, percorridos pelo olhar atrás duns óculos escuros - que uma força misteriosa nos planta um sorriso que nos aflora os lábios, porque não, não temos vocação para piaçaba da vida, e a sensação de dia de m&€@# esvai-se por entre os dedos da paisagem que a música dedilha aos nossos olhos.  Aumentamos o volume e o pé direito obedece ao mote. O dia rebela-se e revela-se.

domingo, 4 de fevereiro de 2018



... venci a preguiça. Acendi a lareira. 
Tão bom... 
Não há nada como ler  sob o embalo crepitante do fogo que arde. Às vezes por dentro. 
Muitas.

(bom, na verdade, há - conversar perto, noite fora, sentidos adentro... 
...de preferência partilhando um copo de bom tinto...)



... todos os dias são Domingo.
Mas o Domingo é mais.
O amor seria o mesmo de sempre, só com menos mundo, mais ronha, mais preguiça, mais calor, mais corpo no corpos - mais beijo nos beijos. Mais alma no sorriso, mais sorrisos na alma.
Tempo de estar e ser junto, tão bem, que faz o tempo curvar-se, e para sempre deixar de ser tempo.

sábado, 3 de fevereiro de 2018


[foto @benedettodemaio]

"Navegar é preciso, viver não é preciso"

Principalmente ao fim‑de‑semana, principalmente entre os teus cabelos, e sonhos e vontades e ondas que não sabemos nadar. Mas olhamos, como se soubéssemos. O medo só chegaria se sequer molhássemos os pés, se aos pés aflorasse essa brava intenção.. Até lá sonhar é seguro e ninguém te segura. Inseguro é lutar e tentar e entrar no mar. E, às vezes, não saber voltar.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Um dos meus sete pecados mortais: 
a sede de amor absoluto que me devora. 

Miguel Torga

[Eu, pecadora, me confesso,
que desta água bebi e beberei
e dessa mesma sede morrerei.
Ámen]

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018


[fotografia Nadine Abdel Aziz]

Em modo vampiresco logo pela manhãzinha. À espera que me tirem sangue. E o vampiro é uma vampira, afinal. Nem nisso tenho sorte pah...
Não sei há quantos anos não faço análises, provavelmente desde que tive a minha filha, ou seja, para aí uns dez anos, tal é esta coisa de gostar de médicos e afins... e nos últimos cinco anos fartei-me deles, e de hospitais, daquele cheiro asséptico que perfura as as narinas e se aloja na alma em medos tantos. Fartei-me de desgraças e doenças. E de morte, de mortes. Esgotei-me delas, esgotei-me nelas e nas ausências sem vazio. Se não me dói nada para quê médicos? Para encontrarem alguma coisa que não me dói mas que depois me leva a paz? E eu agora aqui, assim, em modos de tenho medo e não sei de quê. Ou sei. 
[foto @ rafafans]

"A maioria da gente é outra gente.
Os seus pensamentos são as opiniões alheias,
suas vidas uma imitação, suas paixões uma imitação."

Ela tem, desde sempre, um aguçado instinto de sobrevivência, sabe o que quer, como quer. O que ela faz com alma é fingir o que não é, isso brota-lhe das entranhas como a lava fervente dum vulcão em erupção. Só essa força é genuína, é real, é quente, é viva - tudo resto é uma máscara fria, calculada, desalmada. Até o calor, que se quer humano, é mero teatro, até o beijo é encenado, até o amor é só uma história lamechas que não entende, mas imita. Imita, imita até à exaustão, a lamechice. Onde ela põe a alma toda é na representação calculada do que nunca será a quente, do que nunca foi, ou será, sem máscara. Do que não é. Talvez gostasse de ser, talvez inveje quem é, mas ela não o é. Nunca será. Então observa, copia, imita.
Não sabe ser senão o horizonte onde quer chegar, como quer que a vejam, a admirem. O horizonte, aquela linha imaginária que é só distância e à distância, perto não é nada, sequer é linha ou horizonte, é apenas chão rasteiro que se deixa pisar.
Os olhos faíscam-lhe de gáudio enquanto julga pisar aqueles que um dia ousaram olhá-la de frente - ousadia com que nunca olha o espelho -, apenas para vê-la baixar os olhos, temerosos do confronto com o que nunca será. O riso queima apenas de escárnio - de longe, só de longe, que a cobardia ronda sempre perto -, sentindo-se maior, poderosa, insuflada; o fogo está-lhe nos pés quando, espezinhando quem pensa não conseguir igualar, os faz de atalhos dos seus desígnios, sem olhar a meios ou princípios, pois ela é uma mulher de fins numa dança pretensamente graciosa, mas apenas pretensiosa. Há quem, de olhos desavisados, se desfaça em elogios, uns enganados, outros ocos e tantos apenas encenados também, numa imitação de admiração.
Ela só finge com alma e dedicação o que na alma não tem. Finge a alma que não tem, e é a única coisa que genuinamente sabe fazer: fingir, imitar, repetir o alheio, copiar. Ela não é o caminho, é a força de chegar, não importa como. E chega vazia, como nunca deixou de ser. Mas aplaudida, tantas vezes.

[Wilde e as suas frases fabulosas e intemporais...]