quinta-feira, 31 de maio de 2018


A estrada muda, serpenteia a terra na frescura próxima do mar, e ali na cortada de Porto Covo o sorriso cola-se aos lábios, ao ritmo da música abanam-se os ombros, o corpo, rimo-nos à ideia dos moinhos de Quixote a rodopiar ventos à nossa esquerda, que não queremos combater, abrem-se as janelas ao azul estendido no céu e há qualquer coisa que me faz sentir abençoada, sortuda afinal de contas. Há dias em que me regresso, reconheço-me nos caminhos, percorro-os como quem volta ao que nunca deixou de ser. 
E porque sim, porque me apetece, porque maior parte dos desejos são fáceis de satisfazer, resolvo ir sacar umas amêijoas na companhia dum copo de vinho branco, em frente ao mar, numa esplanada deserta, só para mim. Aprecio a brisa e o marulhar... a vida como ela pode ser. 
...Chega um esperto e redesenha a paisagem com uma caravana... a sério. Não há forma de acautelar a nossa sorte da estupidez alheia... mas ele ficou com a melhor vista. A estupidez é relativa... se calhar até a sorte. 



[foto via @cuddleupnow]

Um bom correio da manhã  :))
Gosto deste.

Bom dia!

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Pois...


O dia e a noite são dois amantes incansáveis, de turnos trocados. Quando se tocam fazem o tempo mais bonito, as horas mais doces, ao amanhecer, ao anoitecer. De dia o sol ilumina e aquece. À noite, a cada lembrança do sol, a lua brilha e inunda de luz a escuridão que guarda o céu.
Beijam-se só nas despedidas e seguem os seus caminhos sozinhos. Sempre.
É nas horas desse eterno desencontro que me encontro, mas, de quando em quando, nos entretantos, encanto-me. Com a lua ou com o sol, mas sempre com o amor que os faz brilhar, em que se anseiam, se desejam, enquanto não se beijam os beijos de despedida. 
Regressam-se quando se despedem. Despedem-se a cada regresso.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Auchhhh!!
E de que maneira...
...mas difícil de encontrar.
Felizmente ou infelizmente, eis a questão...

segunda-feira, 28 de maio de 2018

[foto @illy_ibiza]
Segunda-feira.
Cara de segunda-feira.
Pois.

[agora, por causa disto, lembrei-me duma conversa com uma amiga que, com um casamento de merd@, dizia “os fins de semana são um suplício... só quero que chegue a segunda feira” - pardon my french... mas é a expressão que mais dá ideia do que é, não é só difícil, não é só complicado conciliar feitios, não é só falta de comunicação, acho que é tudo e há anos que a oiço dizer isso... e não percebo, juro que não percebo, o desperdício de vida. Juro. Para mim é desperdício de vida, é escusado dar desculpas e merdinhas (mais uma vez pardon my french...) , mas se calhar sou eu que também não uso e abuso das bengalas em relações mancas - ou mesmo quase paralisadas - para as ir aguentando e levando melhor... ou vale a pena ou não vale a pena, qualquer outra coisa é uma pena...]

[foto de Flavio Franja, via @33thirdmedia]

Pego no último cigarro do dia para fumar, penso em fechar o portátil, não me apetece escrever, mas não fecho, venho para aqui. Não sei porquê, porque não me apetece escrever, mas talvez o ecrã branco me faça companhia numa conversa que não existe, mas de que às vezes preciso. Para dizer o quê? Não sei. Normalmente as letras vão-me guiando e caindo, sem eu dar conta, nos sítios que me faltam, como se soubessem o seu caminho e o meu dizer. Que quererei eu dizer? que tenho a miúda a dormir tranquilamente no sofá ao meu lado porque adormeceu há horas e resolvi esperar até eu mesma ir e fechar tudo? Que tenho aos pés um dos cães porque a outra - com a mania das independências que lhe assiste - já foi dormir para os seus aposentos quando a hora dela lhe chegou ao pêlo? Não sei, não sei o que quero, ou preciso, dizer. Fico por aqui, com as letras a dançarem-me nos dedos à musica dos meus pensamentos, como se, abraçada ao meu próprio corpo inteiro, me aninhasse num canto e me deixasse ficar, sozinha, a ouvir duas respirações que dormem e onde não me apetecem invasões, estranhos. Onde só deixo entrar esta solidão que se sente não sendo sentida, numa estranha mistura do que é e não é. Do que quero e não quero. Como um não que é um sim, e um sim que arrasta um não. Um meio caminho sem caminho, por onde me passeio alegremente numa tristeza ainda por entristecer, sem norte, como se não o precisasse. Estranha sensação esta, de tristeza por entristecer. Mas é essa a sensação, que não chega a ser triste, pelo contrário. 
Não é a frieza da solidão que me invade, porque não é vazio que sinto, nem é a noite, dentro do dia que já foi, que me impele, é só esta vontade não sei de quê, não sei de quem, não sei porquê. Talvez dum sentido que me assente e oriente, que eu navegue ou me navegue a mim, nem sei. É suposto nesta vida seguir-se um caminho ou é o caminho da vida que nos (per)segue? Será que a vida também vai encontrando, sem eu dar disso conta, o sítio onde cair? Como as palavras? Mas não onde me faltam, ou estas palavras não caíram aqui, provavelmente. E uma conversa existiria, mesmo que não fosse precisa.

sábado, 26 de maio de 2018

[imagem @jesuso_ortiz]

E chove outra vez...
E eu perdi o meu guarda chuva destes, 
que torna a chuva quente e doce.
Melhor que a melancolia dum dia de chuvinha lenta vista pela janela, 
é talvez um guarda chuva dos tais, onde se resguarda o essencial e não sobram restos.
E eu, que gosto tanto de sentir a chuva na pele e no cabelo,
às vezes anseio por um guarda chuva destes que me (res)guarde.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

[foto @kaewcactus]

- vou começar a comprar cactos para ver se resistem, todas as flores que compro na primavera, nenhuma sobrevive ao inverno... ou a mim, ainda não percebi...
- não, nem penses, os cactos não têm uma energia boa!!
- energia boa? Para ter energia boa tenho nas tomadas pah!!
- ... és sempre a mesma céptica!... não negues à partida uma ciência que desconheces, já dizia a outra...

(Pois sim, ‘tá certo, mas acho que vou mesmo ponderar dedicar-me aos cactos, mesmo sendo seres que afastam qualquer intenção de toque. Aliás deve ser por isso que não definham tão rapidamente, tenho cá para mim. Espertos hein?)

terça-feira, 22 de maio de 2018


[foto @veziphoto]

beijo lembranças
sorrio esperanças
trinco a escuridão
que me tranca
num abraço passado
e a tarde comove-se
em cores lentas
que rasam a pele
do mundo
na minha

segunda-feira, 21 de maio de 2018

[Fabrício Carpinejar]

Mesmo.
É mesmo isto que concluo.

(e lembrou-me uma troca de comentários há dias que tivemos aqui, achamos as pessoas certas conforme as sentimos, conforme nos sentimos tão nós mesmos com elas, sem subterfúgios ou necessidade deles; não as sentimos mais ou melhor por serem as certas...)

Bom Dia!!

Anaïs Nin, Uma Espia na Casa do Amor

Quando não temos nada para dar, fugimos? Dando abandono?
Quando não sabemos como fazer-nos inteiros no outro que se dá inteiro, mordemos? Como quem quer da carne fazer a alma da sua própria carne? Sem conseguir?

domingo, 20 de maio de 2018



Às vezes distraio-me e esta Primavera entra-me no olhar.
Como quem, de relance, se sente ter sido observada demorada e intimamente, minuciosamente quase.
Como se me apanhasse distraída de mim, num tempo sem estação ou apeadeiro, que corre sem se mover, e, sem aviso ou cerimónia, me entrasse dentro ainda em movimento de sonho. Numa inércia de magia, onde a luz da cor é o beijo e começa tudo.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

[via @cuddleupnow]

A verdadeira ternura
não se confunde com mais nada.
E é silêncio.

Anna Akhmatova

Silêncio que não incomoda, que não grita,
que nutre, que beija, que conversa,
que diz tudo da ternura 
em ternura.

quinta-feira, 17 de maio de 2018



Hoje, encostada à banca da cozinha enquanto esperava que a máquina de café aquecesse e me brindasse com o café-despertador da manhã, fui deslizando pelo feed de já não sei que plataforma, e passei por uma publicação dum som conhecido que de repente me bateu como perfeito para o dia, não sei porquê, é daquelas coisas que não se explicam, fiquei cheia de vontade de os ouvir, de os fazer banda sonora do caminho para o trabalho, que quando a Primavera começa a despontar menos tímida pela paisagem é sempre um regalo de alma, uma sensação boa. Nesta altura valorizamos mais o céu limpo e a luz mais brilhante, o ar mais quente e leve. Quando entrei no carro mudei o CD para este som que me faltava e que me apetecia, levantei as persianas do mundo, protegi-me, sem me esconder, atrás dos óculos de sol, liguei o carro e aí viemos nós. Assim. Há coisas que nos combinam tão bem e percebemos de repente, e queremos de repente, para aproveitar lentamente, no vagar do gostar muito. É tudo parte do processo.

quarta-feira, 16 de maio de 2018


[foto @kittykisses]

amor,
não te quero mero reflexo,
não te quero simétrico
de gestos e afectos meus
quero assimetrias dialogantes
provocantes, tocantes.
quero o amor
que se espelha côncavo
na convexidade do outro,
amor desigual e equivalente,
equidistante na falta de distância

amor,
quero que nele te reconheças, 
e eu te sinta,
abraçado em nós
que escancara as asas do mundo
nas nossas mãos

quero que espelhes amor,
amor, percebes?


terça-feira, 15 de maio de 2018

Um pedaço de caminho, dos que dá gosto olhar e saborear ao fim dum dia como hoje, de "lócura" quotidiana. Já me chegam os finais de tarde, saboreados lentamente, com as cores do céu à direita do sorriso que me centra, com a música no rádio, e o silêncio de tudo o resto que não me voa por dentro. Um cigarro, ou dois, queimados com este silêncio de fundo e os restos do dia - eu comigo e com as pessoas que trago para a solidão dos momentos meus. Este bocadinho, antes de ir para casa continuar o dia e o quotidiano, para estar comigo e deixar-me estar, deixar o tempo parar-me nas palmas das mãos quietas de afazeres. Estar bem. Sabe-me bem. Mesmo sozinha. Acho que realmente cada vez gosto mais de estar sozinha, é quando nunca me sinto só, ou quase. Onde não me exigem nada, onde só o céu pede para ser olhado e eu quero olhá-lo, onde tudo se conjuga sem arestas, deixando a vida repousar noutros planos. E isso sabe tão bem. Ser só eu. Será que só sozinha se consegue isso? Talvez não, mas ainda estou para descobrir...

[foto @olhamecoimbra]

Enganas a ti mesmo,
para que enganando
achares que não mentes.
Enganas-te.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

ehehehhe...
... do pessoal que gosta de fotografia...
 ...e não é que é tudo verdade?!!


domingo, 13 de maio de 2018

[foto @iamhertribe]

 ... céu cinzentão este, onde raio mora a primavera? Quero uns olhos onde veja primavera todos os dias. Uns olhos em flor. Um riso feito de céu limpo, e mãos que refazem a vida a cada dia.
...  onde pára a primavera? 

sexta-feira, 11 de maio de 2018


Olho os meus pés fincados na terra como se lhe pertencessem, de repente vejo-os tão longe como se o tempo fosse muito alto, e a distância ao coração um mar que a vida lavrou sem deixar mais que um rasto de espuma diluído na imensidão - como se o instante nunca tivesse sido um agora que permanecesse. Sinto o coração tão longe da terra, como uma península perdida, desgarrada,  agarrada a mim pelo fino caule duma flor silvestre que resiste sem saber porquê, ou como. Podia ser um bem-me-quer, talvez tenha o sonho de sê-lo, mas é só uma fina e frágil forma de vida selvagem que se recusa a enterrar-se na terra, e lhe foge atravessando o cimento dos dias que a querem soterrar.

terça-feira, 8 de maio de 2018


Às vezes, aos meus comuns porquês, respondem-me  "é uma coisa que se sabe, e pronto",  "sabe-se, é assim", acrescentando "é senso comum". E no meu silêncio digo-me que então, rara, só muito raramente, terei isso de comum, de ser comum (de a resposta me calar). E o não ser comum,  comummente - quase sempre -, serve para toda a gente. Todos somos únicos, raros - é comum.  Então o raro e o comum é talvez uma coisa do momento e do lugar, uma perspectiva, que sendo tudo, não é nada, é o que quisermos. Somos todos e não é ninguém. 
Estamos numa era em que todos querem ser "eles mesmos" e "diferentes" e "especiais", e eu só quero - quase sempre - não ter perguntas que o senso comum não convence. O que em mim é comum é querer ser como toda a gente, não me sentir rara, estranha, incomum, fora de sítio, desencaixada - cheia de perguntas que o senso comum respondendo raramente me convence. 
Se calhar o melhor é ser-se comum sem escolher, sem essa consciência, porque por opção consciente não se consegue ser - ou é raro.

domingo, 6 de maio de 2018

 Continuo a dar-lhe a mão, não sei por quanto tempo ma dará, mesmo relutante muitas vezes, porque já não tem idade, acaba por ma conceder com um sorriso malandro escondido. Por enquanto. Outras vezes recusa, na afirmação duma independência adolescente e arisca. 
Continuo a perguntar-me se sou a mãe que ela precisa, se estou a ampará-la no que deve ser amparada e a exigir no que lhe será exigido. Tento que cresça aprendendo a ser um ser humano digno, com sentido de justiça, a saber, ou tentar, pôr-se no lugar do outro, tentando saber compreender o que pode ser compreendido, mas não deixando que isso a torne terra fértil para abusos que lhe doerão nas entranhas. É um equilíbrio difícil. E é difícil fazer entendê-lo, e ao mesmo tempo deixá-la estabelecer, ao longo do tempo, essa fronteira, que será a dela, que a definirá e à sua vida. Em que será ela em qualquer lado dessa linha, e que espero eu, um bom ser humano em qualquer lado. Melhor que eu, ainda que eu não seja melhor mãe que a minha  foi, que é ainda, de três filhos que já não tem.

quinta-feira, 3 de maio de 2018


[foto via @33thirdmedia]

No vértice de um segundo,
o momento cai, desaparece,
morre inundado de tempo,
o seu reflexo permanece
para cá de si mesmo. 
(...)
Those three words
Are said too much
They're not enough

If I lay here
If I just lay here
Would you lie with me and just forget the world?
(...)
Snow Patrol - Chasing Cars

Esquecer o mundo é fácil, 
partilhar esse alheamento é fácil. 
Difícil é esquecer que nos esquecemos
e deitarmo-nos com isso
para acordar dentro do mundo,
como um parto para que não nascemos,
parido em gritos que ferem o ar
que nos obrigam a respirar.

terça-feira, 1 de maio de 2018

[foto via @macro_drama]

Uma espécie de domingo fora de horas.
Por que será que o fora de horas aparenta sempre assentar melhor que a hora esperada e certa? 
Saber ainda melhor?
Será que o que nos está fora do programa nos faz reprogramar (-nos) melhor? 
Parecemos sempre esperar o que não esperamos, 
para que a surpresa nos arraste?