sábado, 10 de outubro de 2020


Não sabemos mesmo a ideia que deixamos nas pessoas. Algumas vezes surpreendem-nos em verem em nós coisas que não pensaríamos, que nem conta damos, do que fazemos, ou como. É estranho. 
Não esperava aquelas reacções à notícia de deixarem de trabalhar comigo, não esperava. Não adivinhava o que ouvi, ou o que me disseram outros que ouviram. Certo é que cada um contará a sua história e tudo pode ser virado ao contrário. Podem um dia vir a dizer que eu era branda com eles, onde há um ano me pintavam como o terror que levava pessoas a demitirem-se à beira das lágrimas. Cada um terá para si a sua verdade, a minha é que dei o litro e não deixei ninguém ao meu lado fazer o mesmo, sem que oferecesse ajuda. Contam-se pelos dedos de uma mão as vezes em que deixei quem trabalhava comigo no escritório depois de eu sair. Mas acho que lhes ganhei o respeito daquela primeira vez, mal me conheciam, a trabalhar com eles há um mês e pouco, e os defendi em reunião geral quando, pasma, vi que ninguém mais o iria fazer e a tremenda injustiça disso. Tenho muitos defeitos, mas não sou injusta e isso passa também por não deixar incólumes injustiças feitas ao alcance da minha mão. Incrível como uma única atitude, numa única situação, um único momento, uma gota no mar do tempo, pode ter mudado todo o tempo seguinte. Como teria sido se não o tivesse feito? Não sei. Sei que a partir daí me terão dado o benefício da dúvida... daquela dúvida de alguém meio estranho que faz coisas que, como me disseram depois, em todos os muitos anos que ali trabalham ninguém fez, ninguém ainda tinha feito. E eu não fiz nada, tentei não deixar que outros fossem injustos, só isso. E ontem juntei à pena imensa de deixar esta gente, e de trabalhar com eles diariamente, a pena de, afinal, eles também terem pena, me considerarem no fundo. De brincarem em fazerem um abaixo assinado a contestar mudarem-me a função e o sítio, de quererem que “lá em cima” saibam que não gostaram nada disto. De dizerem depois de eu sair que acham que mais ninguém na minha função alguma vez vá trabalhar com eles assim - a ir sentar-se ao lado deles, e resolver problemas e perceber as coisas, que era o que eu ia fazer. E no caminho brincar um tico, animar o ambiente, não sei, se calhar ser eu, só. O mesmo eu que sozinha no escritório suspirava e resmungava, outras vezes dizia mal da vida, muitas antes de atender o telefone pela cagagésima vez com um tom de quem não acabou de maldizer a porr@ do telefonema, e todos os outros antes, que não deixam uma pessoa trabalhar. E houve até quem dissesse que ia sentir saudades dos meus suspiros no escritório ao lado... enfim coisas que não esperava. Que me fizeram sorrir e questionar-me. Já esperava que algumas almas, poucas, me sentissem a falta, mas é gente minha, de antes, e já restam poucos, muito poucos, mas tão bons caramba! Que orgulho tenho neles e no trabalho deles. E de alguns gosto, sou amiga, mesmo, genuinamente. E agora não sei o que me vai acontecer. Mudaram-me de poiso, de função, estou sozinha, não levo, nem tenho ninguém meu. Estou entregue aos bichos, e chamam-lhes tubarões. E tenho medo, outra vez, como sempre, de não chegar, de não ser capaz - de me desiludir, de ser menos do que deveria ou me supõem. E a amostra de ontem deu para perceber que não vai ser fácil, nada fácil o que tenho pela frente. Agora que eu começava a estar bem, que finalmente as coisas estavam a estabilizar, tinham de me virar o barco outra vez? Estou cansada de nadar contra a corrente. Estou mesmo, os últimos meses levaram tudo de mim. Algumas coisas agradeci, outras ando a ver se as cato nos restos de mim, adormecidos, atropelados pelo tempo, ou falta dele. 
Para a semana é uma nova guerra que começa. Lá tenho de olear o arco e flecha...Vou sozinha, sinto-me terrivelmente perdida e desamparada, mas saber que deixo aqui mais esta gente a juntar aos meus, que de alguma forma parece querer-me bem, deu-me algum alento, mas caramba muito mais saudades. Porr@!

2 comentários:

  1. Artilhada já tu vais, e nós estamos cá, portanto só pode correr bem!
    Crê mais em ti, menina Olvido.

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    1. ... é o que me dizem, mas sou muito céptica comigo :D
      Obrigada, menina Perséfone:)

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