quinta-feira, 31 de março de 2022

 

Há coisas que só são estúpidas

 quando lhes tentamos atribuir uma razão.

quarta-feira, 30 de março de 2022

 Sai-se ainda de dia do trabalho agora, e apetece mais o hábito de fazer a ponte entre o trabalho e a noite, esticar as margens enquanto se fuma um cigarro ou dois. Então dá-se rumo a esse desejo e a um pedaço de silêncio. Olhamos as nuvens no horizonte, e do por do sol aprisionado imaginamos as cores quentes de que se gosta o céu pintado. As árvores abanam-se na sua dança do vento e a janela semi aberta deixa entrar o som dessa dança que nos dança nos ouvidos. Não é o meu Alentejo mas dá uma certa paz, e devolve-nos algum tempo. Algum não vem ser memórias, mas estão talvez apaziguadas, inofensivas quiçá.

terça-feira, 29 de março de 2022



 Jantar com esta vista alimenta tanto ou mais do que o que vem no prato... e nem o frio estava motivo de queixa... muito bom.

segunda-feira, 28 de março de 2022

... eu, hoje.

Ahhhhh vida de pobre!! Ontem eram três da matina e nada de pregar olho... voltas e voltas e nada... quatro horas depois pimba... salta lá da cama que pobre tem de ganhar a vida... cedinho cedinho .... bahhhhh quero dormir (no Alentejo de preferência, mas já estou por tudo, a sério...)
 

domingo, 27 de março de 2022

 



Está na hora de me pirar. Bebo um café cá fora, a olhar a vista e a pinha que não me caiu na pinha, apesar do vento estar com um certo feitiozinho hoje. Oiço no espotifas música destes meninos, que foi quase sempre a banda sonora deste lugar. Porque me apetecia a sonoridade ou talvez porque acho que combina com o sítio além do espírito (esta não é a minha preferida deles, mas essa já a pus aqui e noutros lados algumas vezes, não a vou repetir aqui repeti-a e respirei-a várias vezes nestes três dias).
Acho sempre pouco este tempo que me permito. Demoro a vir, a conceder-me, mas quando venho sabe sempre a pouco. A muito pouco, e dividido ainda com o portátil do trabalho, que aqui até parece que custa menos... E não é que não tenha para o que voltar, tenho a minha miúda cada vez mais minha, cada vez com mais piada e alma, cada vez mais uma companhia que me falta, não só por ser mãe dela e me faltar também cuidá-la, e dar mimo, mas a pessoa que se está a tornar. E digo-vos com um sentido de humor que não só me escangalha a rir, como me enche de orgulho, pela inteligência pela espontaneidade, pela perspicácia :) sim sim também sou mãe babada, pois claro. 
Bem mas agora, preparar tudo e rumar a casa, devagarinho, que este tempo de regresso também é tempo.

 Está um frio de rachar, nem com a manta a coisa se torna mais amena. As luzes apagadas aqui e lá em cima.  Oiço música ao longe, parece que há uma discoteca por aqui... surpreendo-me como se tal fosse surpresa. Escuto e há outros barulhos que não o sr. Javali a fuçar a poucos metros como ontem, e que não consigo identificar. Fumo um cigarro e vou para dentro. Já são horas é amanhã há regresso duma estadia demasiado curta. Ficava aqui mais uma semana assim. Dizem-me que se algum dia me mudasse mesmo para um destino destes me fartaria, me cansaria depressa, mas quanto mais venho menos acredito. Quanto mais me conheço mais aqui me quero. Assim, longe de tudo perto do que apetece e posso ter. Mesmo que assim, de fugida mas com pé no regresso. E se não o pé, a alma.

sábado, 26 de março de 2022


 ... e quando se deixa o resto para trás, às vezes reencontram-se sítios bons, gargalhadas novas ou renovadas, longas conversas em baloiços velhos (e um que mal se segurava mas não deixou cair ninguém...), praias desertas com a banda sonora original depois de esplanadas à pinha com música além dos decibéis aconselhados (ou que eu aconselharia) numa paragem para café e observações da fauna local, ou emprestada de Lisboa como era o caso... O sol nunca queimou mas também nunca nos deu frio. Às vezes vimos para estar sozinhos e estamos com pessoas que nos fazem tão bem e nos entendem tão bem como estarmos só connosco. É talvez paradoxal, estranho mesmo até certamente, mas as pessoas que mais gosto são aquelas com quem estou como se estivesse sozinha, estar com essas pessoas é estar comigo inteira, e são as únicas que são capazes de me arrancar da solidão, se e quando a sinto. A solidão, aquela verdadeira, que mais não é que saudades de alguma parte de nós a que não chegamos sozinhos, estados de alma que precisam de alguém que nos leve pela mão até aquele ponto de nós. Talvez porque a certo ponto já são parte de nós, e é lá que às vezes nos encontramos de novo. Não trocava a minha solidão por nenhuma companhia que só faça número, mas me deixe mais só que sozinha. Porque há essa grande diferença. E continuaria aqui, sozinha ou com quem não se estranha partilhar o silêncio das ondas sem ter de se dizer qualquer coisa, porque é suposto para alguém. Mas não para mim. E agora fazer o jantar. Para mim :)

 


[Alejandra Pizarnik, Antologia Poética]
Descobri a cadeira que vou comprar para a minha varanda... é espectacular!! Adoro!.. o balançar, o conforto, tudo. Sentei-me ali depois do ioga, hoje no deck aqui mesmo em frente, do outro lado do vidro, ao som dos passarinhos. Um concerto in locco, sem ser gravado para o efeito de acompanhamento zen :) Estava um bocadinho fresquinho lá fora, mas fui deixando de o sentir. O que senti mesmo é que estou muito empenada e tenho de deixar de ser preguiçosa, senão qualquer dia mal me mexo. Depois sentei-me cá dentro, ali naquele balançar que embala, e deixei-me ficar, a olhar a paisagem, a ouvir o espotifas, e acabei por ir buscar a Alejandra para companhia. Gosto muito de alguns dos poemas dela. Se eu escrevesse assim, não precisava de falar mais. Há frases dela que guardo sem esforço de memória "partiu de mim um barco levando-me" "tão longe pedir, tão perto saber que não há". E há coisas que sei que não há, duvido que alguma vez haja, ou até que tenha havido. Estou descrente, ou só lúcida - ainda mais lúcida. Viajo já com o copo vazio, provavelmente... Já não sei onde a descobri, a Alejandra, mas sei que foi por acaso, na net. Deparei-me com coisas assim, destas, que me leram por dentro de alto a baixo, e fui atrás de mais. Tristeza só ter encontrado em português esta pequena antologia dela. Curioso pensar que muitos dos poetas que mais me arrebataram suicidaram-se, viveram todos para além das fronteiras que o ser aguenta, e nem as palavras lhes serviram de válvula de escape... mas serve-me a mim muitas vezes a intensidade deles tão impressa por dentro dos sentidos das palavras, serve-me para sair de mim e encontrar-me. E aqui me vou lendo nos poemas que ela escreveu. Acho que a poesia serve para isso: para nos lermos. Talvez por isso ao longo da vida vamos lendo as mesmas coisas de forma diferente. Porque nós somos sempre os mesmos, mas o olhar, o nosso olhar sobre o mundo, vai mudando. As formas talvez sejam as mesmas, os contornos tornam-se menos definidos, mas as cores... ahhh as cores, as cores nós fabricamos por dentro, só nossas, e sim essas vão variando, tenho a certeza. Quem poderá dizer que o branco dos nossos quinze anos é o mesmo de agora? O nosso olhar, como a nossa compreensão e incompreensão das coisas, vai aprendendo, vai-se moldando, vai-se construindo e desconstruindo em cima dos pilares da nossa essência. A maneira como vemos as coisas vai mudando. Oxalá assim seja com muita coisa. Que tudo passe a ser sombra da sombra que pensávamos não ser. E cuidado, muito cuidado, com quem percebe que nada é o que é agora, que só a sede não tem dias, e que há coisas que não há... e pedir está sempre fora do alcance. Por orgulho, ou melhor, muito melhor, por lucidez.

sexta-feira, 25 de março de 2022

 Cá fora, enrolada numa manta, olho para cima, acima de mim está uma pinha que não tarda me cai na pinha venha o vento de feição e intenção. Ao longe oiço cães a ladrar enquanto carros passam a rasgar os barulhos da noite, que são silêncio. Este silêncio dos sítios de sossego, de lonjura, de tranquilidade doce. Daqui a uma hora as luzes daqui de fora desligam, vão dormir, os carros também. Os cães provavelmente continuarão a ladrar. Eu provavelmente aqui estarei outra vez, o olhar de soslaio a pinha que me quer acertar na pinha. Ao longe a tocha enorme continuará a queimar e a iluminar o horizonte, ainda que escondida por trás dum manso pinheiro. Assim são as coisas. E as metáforas que tão bem lhes assentam.

 

Acordo com a dor de cabeça da praxe. Sinto a cabeça pesada como o cinzento que cobre o céu e o puxa para os ombros da terra. Tem sido assim nos últimos dias, passa depois de tomar o café e o tempo assentar no dia que começa. Hoje, além do dia de ontem ter acabado só depois das oito da noite no trabalho, ainda sonhei com trabalho. Têm razão. Eu agora é só trabalho. E casa, e pouco mais. Mas tem de ser mais. Hoje vou tentar recomeçar esse mais, esse pouco mais. Cortar no trabalho (prometo-me tentar a partir de agora... e já me lembrei que à tarde vou ter de ligar o computador e fazer coisas...) e voltar a querer tempo para mim. Para me aproveitar, a minha companhia, falar com o meu por dentro outra vez. Não viver a correr, sem sequer fazer planos, e não fazer só planos, vivê-los. Voltar a passear por aí no sossego das paisagens, às vezes com a miúda, outras com a tracção às quatro patas, outras sozinha, como hoje. Não sei explicar porquê, mas andei a adiar voltar a passear sozinha. Talvez a pandemia me tenha habituado a ficar em casa, e achar isso confortável. Dizem-me que sou das pessoas que melhor deverá ter lidado com o confinamento, e eu tendo a concordar... não me fez grande mossa, fiz o que já fazia e gosto de fazer, só que em casa: ler, ouvir música, escrever (cada vez menos), devorar séries, apanhar sol quando o há, aproveitar o sossego, e na pandemia as ruas andavam tão sossegadas. Quando passeava a cadela à noite era um sossego e uma tranquilidade, só às vezes ensombrado por alguma sensação de eventual insegurança tal chegou a ser o deserto das ruas. Só as razões para tudo isto eram más, e a paisagem e os caminhos não se comparam com os que aproveito quando vou sozinha uns dias por aí. O serpentear das estradas nacionais para qualquer lado, o mar que espreita tantas vezes, descobrir alguns sítios quase vazios (e hoje não saber voltar se quiser), parar onde quiser se quiser e quando quiser. Comer um peixinho grelhado numa esplanada vizinha do mar, se o sol convidar. Sentar-me a olhar o horizonte que parece infinito para me sentir pequenina. Sei lá, tanta coisa que já fiz e tenho saudades. Tenho às vezes saudades de mim. Mas algo me andava a prender os passos, o primeiro passo talvez. É sempre o que custa mais, o começar, o arrancar, um principio de qualquer coisa. E hoje vou, à tarde, depois de almoçar com a minha miúda, já estar de olhos postos no meu olhar a sul, como quem deixa o resto e ruma a si. Levo três livros: poesia da Pizarnik, Al Berto para petiscar e o Kundera que comecei e não continuei. Olho para isto e penso que esta escolha é um jogo de espelhos comigo, talvez para me lembrar que eu sou várias coisas, e que me fazem falta, por muito que as tente enterrar debaixo de horas de trabalho, e de outros eus também meus. 
Vou, levo música, três livros, um olhar cheio de vazios, e só levo quem me está dentro. E levo gente a mais, ainda assim me confesso. Raio de penduras :))

domingo, 20 de março de 2022

 

Dizem que a Primavera chega hoje. Deve ser muito low profile a moça, quer chegar sem dar nas vistas, só pode. Eu aqui, de pijama ainda, não espero que me bata à porta, ou à janela. E digo-vos já me preparei para ela, até já me muni de vestidos leves de primavera esvoaçaste... mas não, nada até ver. O céu está tapado e sem sorrisos quentes. Eu ainda de pijama, depois do brunch das preguiças, no sofá a olhar a falta que a primavera começa a fazer. Não ao tempo, não ao céu, mas falta a primavera da alma, ou o outono, acho que estacionei há muito no inverno fechado, sem gorro, sem cachecol que abrace, e sem chuva que acorde ou guarde nas mãos. E palavras, palavras que aconcheguem e aqueçam a lareira a crepitar sozinha na escuridão duma noite que dura todo o dia.

quinta-feira, 17 de março de 2022

[alejandra pizarnik]
 

Estranhamente 
fui desperdiçando silêncios 
viciados em palavras. 
Até guardar silêncios 
que não suportam
palavras usadas.
Todas as palavras puras
estão silenciosamente 
por usar
Gastei-as todas
em silêncios que não vivi

terça-feira, 8 de março de 2022


 É que nem tive coragem (ou tempo) de dizer que não sou apreciadora do dia, e que nunca me lembraria sequer do dia, menos ainda de esperar flores e coisas... pimbas... toma lá e agora toma o pequeno-almoço :)))) 

sábado, 5 de março de 2022




Até agora foi isto... acordar com fome sem pão em casa. Calçar umas sapatilhas e a farda para o ioga daqui a pouco debaixo de um casaco, óculos escuros a filtrar a manhã já alta, atrelar a doida da ninja e sair de casa. Deixá-la correr como se o chão amanhã pudesse fugir, ou já daqui a pouco, na pressa de gastar o ar que o sol aquecia. Elegante de corpo e corrida, destrambelhada de maneiras e pateta por natureza dá gosto ver a criatura correr de ponta a outra do jardim enquanto os meus pés quietos se aquecem ao sol. Depois das primeiras energias esgotadas rumamos ao pão e contra todas as expectativas a doida não se portou mal... sentadinha a guardar o poste que lhe mandei enquanto fui comprar o pão e cheirar o sabor do pão quente. Regressámos, e foi direita dar a cheirar à mãe os cheiros que trazia, mas ela estava filada no cheiro do pão que o saco guardava. Não foi dia do costumeiro brunch,  hoje só fruta, chá e torradas de bolo de Ançã que a minha filha já comia antes de nascer e que adora, mas que hoje não comeu. Depois de repente atentei numa mensagem no chá... das que a mim me dizem pouco, de energias positivas e bla bla bla, quando virei a outra fez-me mais sentido, mas continuo a sentir que há mensagens que nunca poderão ser mensagens expresso, parangonas boas aos ouvidos que mais das vezes não passam disso mesmo. A banda sonora faz-me sorrir neste trecho que aqui deixo:

Do you think you can tell
And did they get you to trade your heroes for ghosts
Hot ashes for trees
Hot air for a cool breeze
Cold comfort for change

Não sei se vai ser um bom dia, acordei faladora e bem disposta cheia de preocupações por dentro dos olhos, mas este pedaço de dia soube-me bem. Agora ioga e banho!
Bom dia!

 

sexta-feira, 4 de março de 2022


 ... onde faltam vírgulas e pontos finais. onde as reticências são abusadas em divagações lentas ou imaginações urgentes. onde todos os sentidos têm sentido, sentindo-se. lê-me ao ritmo certo, onde o meu é o teu, numa dança a dois, duma música só nossa. pautas ainda por escrever, feitas de silêncios e entrelinhas, onde todos os significados significantes são entendidos sem explicação. lê-me onde não digo nada, onde muda me espero e tu me adivinhas. lê-me a pele na tua. Estou cansada desta aliteracia quotidiana. destes best-sellers de trazer no bolso de histórias take-away da carochinha que nem chegam a casa. dá-me algo que eu queira ler com a pele, e revisitar cada página todas as noites e ponto final.
parágrafo.
mudar de linha.
de livro.
de tudo.