quarta-feira, 31 de outubro de 2018

[foto @snake72]

Há quem diga que só ama verdadeiramente quem amadureceu. Que o verdadeiro amor é coisa de gente madura. Eu dou por mim a pensar que só amadurece quem tiver capacidade de amar. De sair de si. O que nos amadurece é doer-nos a tristeza de quem amamos, é rirmos a alegria dos que chamamos nossos, é a todo custo evitar-lhes sofrimentos e semear-lhes o que colherá felicidade, é tremermos de medo quando o risco não é nosso. É crescermos para fora de nós, é sairmos do nosso umbigo, alargarmos o mundo para além da pele que forra o nosso. Enquanto não amarmos não amadureceremos, podemos até fazer o que de nós é esperado ou não fazer nada do que esperam, mas será feito por obrigação ou mero prazer, por vontade ou preguiça, por culpa ou insensatez. Talvez amadurecer seja a aprendizagem de fazer-se por amor, por amar.

[e não sei, mas parece-me que anda por aí muita muita criança fora do tamanho. Será amar uma coisa rara? Ou caiu em desuso? Ou não dá jeito? ]

sábado, 27 de outubro de 2018

[imagem via @ourclickdays]

Sábado. Dia bom para pôr a escrita em dia. A escrita de dentro que não se dá a ler, a escrita que se esconde no silêncio das frases que não dizemos, que calamos, que guardamos para escrever quando o por dentro, sozinho, se põe a falar com os sonhos que morreram, com os medos que todos os dias acordam, com o futuro que vê no horizonte a arder e que já queima por dentro. Conversas com a dor que está para vir e já chegou, conversas que queremos acalentar com uma alegria que o sol aquece porque faz florir a alegria nos corpos, como nas flores. Vamos ajeitando os dias, compondo as horas, com aquela ideia essência dos girassóis e procuramos o nosso sol longe do horizonte que preferimos não ver, mas que vai chegar - sabemo-lo como a inevitavilidade do sentir, mesmo o estúpido, ou principalmente esse -, que nos apanhe com um girassol numa mão e tantas palavras guardadas por dentro da outra. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

ahahhaha... 
Muito bom!!
...quem se lembra destas coisas deve ser muito interessante de conhecer...
Já me ri, já valeu a pena!!

Bom dia.

[acho que hoje vou finalmente inscrever-me no ginásio, temos de nos dar a volta, não é mesmo? neste caso também tenho de dar a volta à minha preguiça... mas vai daí talvez se vejam por lá pessoas interessantes, duvido, mas nunca se sabe...]


[foto (espectacular) de Arno Rafael Minkkinen]

Não existem no mundo palavras que falando de mim não sejam minhas.
É talvez uma forma de solidão.
 Talvez não das piores, ou se calhar sim... afinal, palavras 
não não só letras, são pensamentos, são lembranças, são expressão de sentires.



[a semana que passou foi-me tão dura por tantas, tantas, razões, 
ferida duma solidão aguda que deixa marcas, tanto que só quero estar sozinha quieta calada,
 não estou preparada para que comece mais outra, não estou, não quero. 
O tempo parece só um coador de desilusões.]

domingo, 21 de outubro de 2018

Domingos. 
Ia dizer domingos de manhã, mas não, não estaria certo porque poderia ser a qualquer hora do dia. Domingo é dia de ronha preguiçosa, de respirar a vida devagar, de acelerar o coração a sorrisos com mãos. De viver. Ia dizer domingos de manhã, mas não, estes são domingos perfeitos.

Era bom uma noite de sono a escuridão, como esta que vejo no céu, aqui sentada nas minhas palettes a ouvir e a ver a chuva cair, uma escuridão fechada, um sono sem pesadelos de que se quer acordar,  e sem sonhos que fazem do acordar para a realidade um pesadelo. Há dias, tal como me acontece de vez em quando, acordei a chorar  - tenho essa coisa de o subconsciente me fazer chorar a sonhar, castigando-me por recusar-me a chorar acordada - , e quando comentei que não tinha dormido bem, que tinha tido sonhos esquisitos, disseram-me que devia tentar programar os sonhos, antes de adormecer pensar só nas coisas com que queria sonhar, coisas boas, e que se pensasse com  muita força (como é que se pensaria com muita força?) talvez sonhasse com essas coisas. 
Fiquei a pensar que se quiser muito que o coração pare, se pensar nisso com muita força e vontade, se ele parará... ou se ele só faz o que lhe apetece. Como os sonhos, ou os sonhos como ele. Fazem o que querem, como querem, o resto não interessa, os outros não interessam, eu não interesso. Mesmo que o sonho seja meu, ou o coração. Talvez nalguns casos a propriedade não dê direito à disposição e pleno usufruto. Não sei. 

sábado, 20 de outubro de 2018

[foto @ryanmuirhead]

Tenho coisas a bailarem-me na cabeça, coisas para escrever que não me apetece escrever. Tenho preguiça de seguir as palavras para um sentido. Com um sentido, um fim. Sinto-as e basta, baralho-as para que não me baralhem, sei o que dizem, sinto-o, mas não o digo. Nem o quero guardar, quero que se desfaçam, que se gastem, que me desapareçam, que se percam, não as escrevo, não quero. Não me apetece, tenho pensamentos a esvoaçar-me por todo o canto de cada hora, mas não quero ouvi-los, nem sabê-los. Quero esquecer-me que sei. Tanta coisa. Quero esquecer tudo sem saber ter esquecido o que quer que fosse. Como se nunca nada, nunca nada de coisa nenhuma. Apetecem-me distâncias de dentro para para fora, mas não sei caminhar sem mim. Ainda que me sinta despida pelo avesso, nua por dentro dos olhos, descalça de alma. Mas ainda assim, estar vazia de mim, não é não ser eu. Antes fosse.
[via @cuddleupnow]

Às vezes uma imagem diz(nos) tanto que só o silêncio compreende.

sábado, 13 de outubro de 2018

[foto @moniblanco]

Há uma vontade avassaladora de sair de mim mesma. De me deixar para trás, com a certeza de que não quero nada do que fica sem mim e que mais inteira me sou se me desfizer dos pedaços que lembram o que fui. Sem alguma vez ter sido alguma coisa, alguém. Ninguém quer em si a certeza de nunca ter sido. Mas há sempre alguém que no-la dá.
...but I like the way you think...
Bom dia!!

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Houve um amigo que há uns anos me dizia que eu devia ter sido muito maltratada, e isto foi coisa que nunca esqueci - o notar-se, o ver-se através de mim as mágoas que acumulei, por deixar alguém maltratar-me enquanto dava tudo de mim. Não gostei e não queria ser vista assim.
Hoje em dia não sou maltratada, nem bem, não sou tratada... só sei que acordei com a sensação que preciso é dum bom trato e o resto que se trate (para não dizer outra coisa...)

Há soluções tão fáceis, fôssemos todos fáceis. Fôssemos todos pessoas de fáceis soluções, de optimismos inconscientes, superficialidades saborosas, imunes à dor de magoar os outros e que se lixe,  e haveria tantos dias melhores.... porque cada um trata de si, essa é que é essa, e o resto que se fod@... quando puder. Se não for com um, é com outro, pouco importa.

Bom dia.
[foto de Chema Madoz]

Tentei medir o tempo
passando-o pelo buraco duma agulha.
 Não coseu nada. 
Passou sem deixar fio. 
Ninguém sabe quanto andou, 
mas a agulha era fina e afiada, 
isso sabe-se.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Acabei Os Enamoramentos (Javier Marias) - que não me fez fechar o livro para pensar o que li vez nenhuma, lê-se bem, mas nada demais - e comecei este. Gosto do tom deste livro, os outros que li dele (Mario Benedetti) não tinham este tom tão cândido e ao mesmo tempo com humor, talvez porque neste o personagem é a criança, pelo menos por enquanto, mas já me ri com ele. Com ele, aqui sozinha. 
Gosto sempre muito dos livros dele, a poesia, então, nem se fala. Tão doce e tão humano, por paradoxal que pareça, nos dias de hoje um humano ser doce e parecer ser gente...
De regresso ao trabalho, custa tanto mas tem de ser... mas vontade nem um tico. 

sábado, 6 de outubro de 2018

...quem diz vodka 
(e eu até sou uma moça adepta de vodka), 
diz vinho, branco no caso. 
Não é a resposta, talvez não, 
mas tem dias que mudam as respostas... 
já eu tenho mais perguntas que respostas, 
não sei se muda alguma coisa...
o céu parece-me o mesmo, 
não deu por falta da estrela que ontem lhe caiu...
Ontem fiquei a olhar este céu imenso à espera de ver uma estrela cadente, uma que fosse. Como um sinal ou uma prova de Alentejo (sempre que aqui estou deixo os olhos vaguear pelo céu já noite mais que cerrada ) e nada. Nada mesmo, não vi nem uma. Hoje sentei-me aqui outra vez, debaixo deste céu cheio de pontinhos tremeluzentes, que não sei unir nem deslindar, e de nariz no ar e mão no copo de vinho agarrei uma a escapar-se, a cair céu adentro. Hoje, hoje que não pedi nenhum desejo. Talvez também isso seja um sinal... mas de quê?
Sei que estou aqui oiço cães ao longe e cigarras e o silêncio das estrelas. Mais nada. E de repente, apetecia-me conversar, acho até que me apeteciam coisas que nunca tive... mas com quem? 
Só tenho perguntas assim, sem resposta, talvez seja da garrafa de vinho mais de metade vazia, ou da escuridão inteira que não me adormece, ou da vida que sempre me fica por acontecer... mas porquê?

sexta-feira, 5 de outubro de 2018



Este lusco-fusco, estas cores quentes que me aceleram o passo do coração, estas estradas serpenteadas que me fazem curvar com prazer, num misto de vontade da vagareza do deleite e a tendência de carregar no pedal... se houvesse razões para uma pessoa se apaixonar por lugares, talvez estas fossem as minhas pelo Alentejo. Fujo para aqui e descanso-me do mundo. Quase não falo, e ouvir só a música no carro e pouco mais. Desde ontem o mundo desacelerou, começa na viagem  como se se fosse acomodando à pele, a colá-la, quase a absorvê-la, hoje ganhou outras cores, ontem sossego hoje passeio. Não me canso disto. Pode ser perigoso.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

[foto @jordanioo]

...vontade de um sítio assim. 
A vista a baloiçar nas ondas e o corpo no baloiço. Apetecia.
À vista, só a alma do lugar.

[foto @nicoladavisonreed]

“Pousei as minhas mãos num rosto e retirei-as feridas pelo amor.
Agora,
o esquecimento acaricia as minhas mãos.”

António Gamoneda

[sem olvido restam as mãos vazias a prender ausências]

quarta-feira, 3 de outubro de 2018


[foto @cela65]

“Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido... Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.
A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. 
dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira.
E valê-la também.”

Elogio ao Amor, por Miguel Esteves Cardoso

Este é um texto que deve ser lido e relido, para nos lembrar do fundamental, para nos apontar o óbvio, que fica soterrado no lixo dos dias, nas acomodações, nos afectos pequeninos e convenientes, na falta de gestos carregados de emoção e intenção, vontade. Para nos lembrar que é possível, ainda que raro. E que há quem valorize, quem não aceite menos que um sentir sentido, mesmo que difícil, e quem ache que qualquer coisa serve desde que pareça ser uma relação onde há afecto, mesmo que só pareça para quem vir de fora.
Convém elogiar o amor puro, aquele que não é alinhadinho e penteadinho, todo organizado, planeado e mais-que-justificado, que quase podia ter a imagem cotada em bolsa. O amor puro é despenteado, é louco às vezes, destravado, não se sabe justificar nem por que leva a fazer coisas autenticamente e perigosamente estúpidas, é aquele que enche o peito de coragem sem sabermos como ou porquê, que nos faz ir sem perguntar como, ou por onde. Que nos faz fazer e pensar depois. É aquele que consegue arrancar cabelos a um careca. Porque é capaz disso. Não perguntem como. E se sabem do que o MEC fala, não perguntam, lêem e sorriem, o sorriso dos que sabem. Alguns nunca saberão. O amor assim não é para todos. Talvez bem. 

[às vezes temos de (re)ler coisas assim para remetermos os números e a vida ao seu lugar, para nos recentrarmos, para saber quem não somos e o que não queremos, para distinguirmos a vida dos dias e para percebermos também porque, ainda assim, nos sabe tão bem estar sozinhos - “viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra.” .]

terça-feira, 2 de outubro de 2018

[foto @ryanandray]

Ansiedade pelo desconhecido, medo de mim mesma, do que não sou, de não ser capaz, de não saber o que e como fazer. Vergonha por dever saber, dever ser melhor. Muito melhor. 
As pernas prendem-se e entravam-me na cama todo o dia, mesmo depois de me levantar e andar, não me mexo, não me quero mexer, não quero que dêem conta da minha existência. Nem eu. Conto as horas para comer kms para longe daqui, como se isso me livrasse dos dias por vir, dos problemas para resolver tão maiores que eu.
Há dias em que o desespero me cai das mãos, vertido em cada um dos minutos do dia - não o agarro e não me foge.
[foto @raywychin]

O meu olhar só vê a superfície do que não conhece, 
se conhecer, atravessa a superfície como se não existisse, 
só olha o que vê por dentro. 
Só vê o que olha de dentro. 
Só vê como conhece. 
Há outra maneira de ver? 
Haverá outra maneira de não ver?

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

...hummm então é isso... 
eu não assusto ninguém, está explicado... bahhh