domingo, 26 de dezembro de 2021

"Depois do Natal vem o domingo da Família... da Sagrada Família. Será a família uma coisa sagrada? Hoje fala-se de famílias alternativas. Sociólogos e psicólogos falam-nos de famílias mono-parentais, co-parentais, sem filhos, com filhos de outros, com pais de outros... Em tudo isso onde estará o Sagrado? O Sagrado é o Amor, o que equilibra e faz crescer: é o que humaniza. O mundo precisa de espaços sagrados e de relações sagradas: deseja famílias que o sejam. O resto parece, mas disfarça mal a violência que esconde."

Vasco P. Magalhães

É nestas alturas - ou particularmente nestas alturas - que sinto como a minha família é estranhamente disfuncional,  ou seja, funciona à sua maneira, mas é uma maneira estranha de funcionar. É também nestas alturas que a sinto mais minha, que sei que só esta poderia ser a minha família, que esta disfuncionalidade faz parte de mim, e explica-me em muita coisa, talvez fosse a única que poderia combinar comigo. Feitios complicados para onde quer que nos viremos (menos para mim, claro... ), maneiras de lidar com a vida diferentes, ainda que com sensibilidades parecidas, e veladas. Silêncios que dizem o mesmo e conseguiriam conversar entre si longas horas sem faltar assunto... e talvez conversem. Pensei um dia poder amenizar esta disfuncionalidade trazendo à família pessoas mais normais, tornando-me mais normal por casamento, mas talvez eu tenha dificuldades em adaptar-me à normalidade formatada e lisa (e a casamentos que não têm o que eu quero). Estes formatos planos apenas escondem melhor as arestas das relações, as contradições, as naturais idiossincrasias de cada um , e de todos enquanto família. A disfuncionalidade começa onde a transparência, ou a falta de parcimónia assaltam os momentos. E aí, o sangue que nos junta, que nos une, que nos faz um, é curiosamente o que não é dito, é o que se sente,  porque sentimos com o mesmo ADN maluco e disforme: disfuncional, talvez.  Quanto mais lugares vazios na mesa há, menos parcimónia se senta connosco. E mais eu penso que não haveria outra família que pudesse ser mais minha, onde eu encaixasse tão bem as minhas desreguladas intensidades desperdiçadas, ainda que tantas vezes me apeteça umas férias desta. Mas ainda assim, há uma coisa que não se consegue duvidar, é o que temos de sagrado e que equilibra o desequilibrado caos. Sagrado, porque faz o impossível, nada mais o conseguiria. Só o Amor faz milagres, não há porque disfarçar o óbvio.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021


 … do desejo para todas as quadras. :)

Como muita saúde, amor e coisas doces de todos os géneros. Aproveitem as vossas pessoas, a companhia que querem e procuram em todos os dias do ano, mesmo que nem sempre tenham a sorte da presença. 

Acendam a lareira e o coração
(quem tiver para acender, claro)

domingo, 19 de dezembro de 2021

 Levanto-me quando o sono está satisfeito e os sonhos se calam, visto a roupa do ioga que tenho falhado preguiçosa e indecentemente, abro a porta aos cães que foram dormir ao vizinho a noite passada. Dou-lhes de comer depois de algum mimo, ponho os fones e vou limpar o sitio deles. O dia tem sol, e sol na música. Nem todos os dias têm sol na música, hoje sim. Volto para a cozinha, tiro o ipod e ponho na coluna que me deram há anos e que descobriu finamente o seu lugar certo na cozinha. Arranjo uma taça de fruta que hoje não me dá preguiça de descascar e arranjar e o ipod pela boca da coluna devolve-me isto:


I'm an angel bored like hell
And you're a devil meaning well
You steal my lines and you strike me down
Come raise your flag upon me
And if you want me, I'm your country
If you win me I'm forever

A música dançou-me através da letra e pela sonoridade, que combinou bem com o meu sol, quando juntava a granola e o iogurte à taça de fruta já era o Jimmy Scott que nos fintava o ouvido na sua voz indescritível, lá do profundo azul onde canta.


Agora enquanto o café arrefece escrevo estas linhas que não dizem nada, que dão musica e falam de sol, e hoje até está sol, curiosamente.

 

Um dia cheio, uma noite num sítio que gosto. O dia encheu-se de pessoas que me fazem sentir bem, acarinhada, acolhida nas vidas de cada um, pessoas que procuraram estar comigo sem eu procurar ninguém. Ri-me, conversei, disse disparates e não disparates, vi o sol reflectido no rio, bebi vinho, à noite um Porto sob um luar mais frio a reflectir-se nas pedras. Brindei à vida, à minha e à de quem me quer bem. Não me deixaram ignorar a data, nem que tenho gente minha e carinho onde cair, se tiver de cair. Nós somos também as pessoas que nos rodeiam, e a maneira como nos rodeiam, como estão presentes, talvez também diga muito de nós. Gosto de pensar que sim, pelo menos. 

[chego ao fim destes dias e percebo que não tirei fotos. Nenhuma. Tiraram-me uma :) começa o ano da capícua. Gosto de capícuas, acho que já aqui o disse algumas vezes, mas nem sempre o que gosto é bom para mim. Veremos. ]

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

 O ano da capícua. Deveria dar sorte, dará? Tinha pensado há tempos juntar o pessoal, jantarmos, dizermos umas parvoíces em conjunto e rirmo-nos um bocado. Mas não. Não vai ser. E o ano não sei como vai ser, nunca sabemos também, claro. Os últimos dias têm sido estranhos, penso nisso aqui sentada a ver a lua pelo vidro da frente a olhar para mim, a parecer mais o biscoito perfeito de nuvem do que a lua altiva contra um azul suave. Esta é a altura em que o tríptico do ano me começa a morder, a roer a alma e rilhar os dentes. Cada dente uma mágoa que se entranha nos ossos, mas olhamos para o lado e assobiamos para calar o silêncio e chamar o futuro. Fumo mais um cigarro e piro-me daqui, fujo dos sítios que já foram em mim mais do que lugares.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

 Trazer o carro à revisão. O mesmo de há quinze anos. E, enquanto espero a boleia, penso que me apego às coisas, que pedi para fazerem revisão e repararem uma série de coisas para por o carro não como novo, mas muito bem para a sua idade. E agora estou ao sol, aqui às voltas, a ver carros à venda em segunda mão e a pensar que enquanto não desapegamos do velho não temos espaço para receber o novo, para pensar o novo, para querer o novo. Talvez seja verdade. Mas se eu gosto do velho, ele serve-me, eu sirvo-lhe e juntos vamos onde queremos (onde eu quero, vá… como aliás tem de ser, pois ;) ) para que raio havia de querer ter um carro novo? Para mostrar? Não preciso disso nem, para já, de um carro novo. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021


 Restos de um jantar. A lareira em estreia este Inverno, e eu com ela nesta arte de me deixar encantar pela beleza duma escuridão iluminada só pelo fogo que queima lenta mas persistentemente. Há muito que não o fazia, porque fazia demasiado tempo que não acendia a lareira e me deixava perder nela e no silêncio que impõe a certas horas da noite, quando o dia já está acabado e resolvido para maior parte dos mortais das redondezas. Não me canso de olhar, não me canso deste calor que conforta é parece despir tantas escuridões em mim. E acender outras. Não se brinca com o fogo, dizem. Mas alguém quer resistir a este? É preciso querer resistir… e eu não quero. E entre uma coisa e outra vai-se acabando o vinho (Plansel, óptimo, não conhecia antes de um amigo mo apresentar, e fazer parte duma oferta dele o ano passado pelos meus anos, estava em tempo de a beber convenhamos …).

domingo, 12 de dezembro de 2021

 Não é de hoje, hoje tentámos fazer em casa parecido, que é ligeiramente diferente do que costumam ser os nossos brunches. Não é hábito fazermos panquecas, mas uma vez ou outra a minha filha faz. Mas a foto tirada por ela foi para dizer que eu afinal também tiro fotos de comida… é verdade tirei, é muito raro  mas tenho um fraco por brunches, essa ideia que me arrasta para uma sensação de ronha, de uma certa lassidão, e ao mesmo tempo regalo dos sentidos. Mistura-se muito do que gosto com o tempo a mover-se connosco sem pensarmos nele, com música, com mimo, com descanso de alma. Gostei daquele brunch naquele dia, fora de casa. Foi diferente e foi saboroso também. Mas não tinha musica - ou a minha musica, melhor dizendo (hoje o shuffle quando entrei na cozinha começou com Cave e  “Into these arms “… que mais dizer?? Que mais pedir??) -, nem mimo aos cães, nem um café no fim bebido à janela com a alma virada para o mundo de dentro. Gosto mais destes.

Bom domingo :)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Nestes feriados a miúda tem a explicação de manhã e então tenho de a levar. Vi uma esplanada com sol no caminho, e onde paro as vezes, e achei que era um bom sítio para tomar um café e ler um tico… coisa que eu fazia tantas vezes há algum tempo atrás e que agora parece pré-histórico, mas é só pré-pandemia. E podia te-lo feito mais, mas mudamos de hábitos, substituímos por outros, esquecemos, talvez. Mas há hábitos que são mais que isso, mais que mecanismos quase automáticos, há hábitos que são rotinas procuradas, como rituais. Isto acontece quando se gosta, quando o que nos leva à repetição não é o mero hábito, mas o prazer, o gosto, a consciência dele. Essa, que tantas vezes tanta gente perde e depois dizem… é preciso perdermos para darmos valor. Aquele clichê que tem muita verdade. O perder faz ganhar a consciência desse gostar, desse querer. Mas nem sempre é precisa a perda, nem devia. Eu hoje já saí de casa com o livro, só pensei que a esplanada seria outra, mas calhou esta. O ritual, o prazer, é este bocadinho comigo, para ler, para escrever sobre nada, para tomar um café e jogar pensamentos fora.

[Ooops… I did it again :))) ]

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

 Neste final de dia, debaixo duma árvore despida com o frio a entrar pela janela, dou por mim a pensar que ando afastada de escrever. Ou talvez não, talvez não seja isso, talvez ande a afastar-me de me ler. Porque uma coisa leva à outra. Dou por mim nestas últimas semanas a repetir a frase “ a única coisa que sei fazer é trabalhar” para evitar o resto tudo. A vida talvez, ou o que não queríamos que ela fosse, mas perante isso só sabemos fazer uma coisa: trabalhar para gastar o tempo que não gastamos como gostaríamos. E talvez isso seja a vida, ou só uma forma de mediocridade a que nos habituamos. Mas não paramos para pensar para não o concluir. Carro parado, a respirar o frio que o isolamento não me deixava experimentar fora de casa. E de certa forma já nem sei se sentia falta. Às vezes o mundo fecha-se, ou nós fechamo-nos e dizemos que foi ele, as circunstâncias e o contexto e … e… mas parte seremos nós a fechar, a perder interesse. A passar o dia a trabalhar para não o perceber. Porque perante tudo isto, a única coisa que sabemos fazer é enfiar a cabeça no trabalho, e depois na cama. É certo que depois os sonhos tramam-nos, porque a única coisa que eles sabem fazer é trabalhar-nos, ou seja, sonhar. 

[Mas disso não vou falar agora, mesmo tendo um sonho a perseguir-me desde o fim‑de‑semana. Escrever… dá nisto, faz assentar-nos na pele, no olhar, na maldita consciência, o que anda em suspensão nas entrelinhas curtas, muito curtas dos dias.]

quinta-feira, 25 de novembro de 2021


do fundo do armário:
as botas, há muito oferecidas
por quem me roubou caminho,
mas não me encolheu o passo,
nem me tolheu horizontes.
esgravatadas do profundo do tempo
voltaram a pisar o chão
e a levantar-me do frio descalço
dos dias que passaram
sem memória do tempo, do frio ou do chão
ainda sabem andar, de memória,
mas já ando melhor descalça
Não são as botas que andam,
são os meus pés

domingo, 21 de novembro de 2021

 

[foto @pauelini]

Um domingo destes.
Não uma manhã, 
um domingo,
assim. 

Nuvens lá fora a guardarem o sol,
Cá dentro.




Por que me descobriste no abandono?
Com que tortura me arrancaste um beijo?
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono?

Com que mentira abriste meu segredo?
De que romance antigo me roubaste?
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo?

Por que não me deixaste adormecida?
E me indicaste o mar, com que navio?
E me deixaste só, com que saída?

Por que desceste ao meu porão sombrio?
Com que direito me ensinaste a vida?
Quando eu estava bem, morta de frio

Chico Buarque

E eu, aqui, morta de sono, 
pergunto-me porque beijo todos os dias 
o beijo que não dou. 
Pergunto-me porque me falam tanto tantas linhas 
se já emudeci, 
E aqui, quase morta de medo,
Pergunto-me como ainda há tantas perguntas 
do que não tem resposta, 
Pergunto-me porque há muito deixei de questionar-me, 
e continuo feita de perguntas e de densos silêncios,
 de noites sem estrelas e sem sono, mansas mas duras. 
De desejos bravios, mas sossego na pele
Pergunto-me porque estou bem e não estou, 
porque nada me falta e tudo me falta - ou quase. 
Porque não quero e quero. 
Porque sou e tu não és.
Porque és, e apenas foste.
E eu aqui, morta de frio.
Porquê?

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

 


Wow... 
...que vista! adorei. Um jantar bom, uma noite daquele frio que nos faz aconchegar em nós, enroscarmo-nos no calor do corpo que a alma aquece. A garrafa de vinho ajudou, 'tá bem. Depois um cigarro lento, com a lua por testemunha, e uma volta pelas ruas do centro ao som de Benjamin Clementine, e combinou tão bem :) Um intimismo que nos sorri em silêncio, onde todos os nossos segredos conversam vidas inteiras que ainda nos esperam, ou talvez não. Há fins de dia, e noites inteiras que sabem saber tão bem.

domingo, 14 de novembro de 2021

[foto @jordanioo]
(o baloiço o ultimo reduto de toda a meninice... que eu ainda adoro, mas tantas vezes vazio demais)
 

Ontem acordei para uma nova realidade com o choro do minha filha no quarto, do outro lado do corredor. Levantei-me e fui ter com ela: o primeiro desgosto de amor, ou qualquer coisa que lhe cheira a isso mas lhe sabe mal, pelo menos na manhã de ontem. Muitas mais virão, a história é sempre assim. Como virão outras tantas de coração a transbordar e o brilho dos olhos a ofuscar o sol mais límpido. É assim, resta perceber que é, e tentar equilíbrios, gerir desgostos, prolongar os sorrisos. Um choro pegado, contínuo, uma dor que rasga por dentro, a mágoa do engano, o punhal de mentiras frescas. Não importa a idade, é tudo o mesmo, só que quando desfloram essa ignorância, essa primeira vez dói mais. A alma ainda estava intacta nessas dores. As primeiras feridas, como o primeiro amor, marcam mais, sentem-se mais, até demais. Dei-lhe o mimo que sei que não cura, como sei que nada cura estas dores nestes momentos, mas dei-lhe amparo em abraços, e aconchego como colo. Dei-lhe o que gostaria tantas vezes de ter tido, quando as manhãs me acordavam assim, ou parecido. Não importa a idade, é tudo o mesmo, só varia o numero de cicatrizes que cada um conta, e o que isso altera na alma, que é pouco, ou devia ser. Arranjei-lhe programa com as amigas à tarde para sair de casa e tentar distrai-se e poder dizer tudo o que a mim não sentia poder dizer. No fim do dia vieram para cá, fiz o jantar para todas e ela voltava a rir-se e eu a saber quanto duram esses risos e o que às vezes custam. Foi dormir, eu bebi uns copos de vinho no sofá, vi uns episódios duma vida que me arranca da minha e que procuro cada vez mais, adormeci, acordei, fui para a cama às cinco da matina. De manhã acordo antes dela, sei (desconfio) que vai acordar na mesma, ou parecido, espero pelo sinal. Não tarda. Entra-me no quarto a chorar,  com o telemóvel na mão: Olha mãe, olha isto...  Não importa a idade, é tudo o mesmo, e talvez seja bom sinal (será mesmo?) quando é assim, enquanto puderes manter os sentimentos e as emoções sem idade talvez a alma tenha menos rugas, mesmo que riscada de cicatrizes. É um equilíbrio difícil, talvez seja preciso que a alma seja grande(ou que não tenha tamanho, talvez), seja forte, resistente à dor e muito teimosa de sonhos... serão todas o mesmo? Acho que não. Oiço a minha filha, aninhada nos meus braços, entre soluços destroçados e risos roubados, e rezo para que a alma dela não seja como a minha. Não estarei para sempre do outro lado do corredor, e custa tanto quando não está ninguém. Tanto. A minha filha ainda não sabe. Não importa a idade, é tudo o mesmo. 

sábado, 6 de novembro de 2021

[foto @abdulgapurdayak]

Bom dia! 
Hoje apetece sol, folhas estaladiças debaixo das botas, ar fresco e aquele banquete das cores de Outono. Um café numa esplanada, um livro para mergulhar, que há tempos que não leio a sério. Depois voltar para o sofá, acender a lareira talvez, que já apetece e, há dias, sentir-lhes o cheiro no ar, deu-me vontades. E o dia começou mal, de madrugada com uma dor de cabeça monstra, que me obrigou a levantar para tomar um comprimido - um comprimido, eu, que só tomo sob ameaças... ou quando acho que estou a morrer... - agora apetece-me o dia, com a cabeça já dona de mim e não a dor. Talvez essa seja a grande diferença, quando deixamos as dores - quaisquer dores - tomar conta de nós nada nos apetece e a dor parece fazer sentido. E agora banho e rua.

 

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

 É assim tão difícil amar? O que será preciso? Ter filhos, irmãos, pais, ser? Um coração maior onde caiba mais, onde caiba tudo? Ou um mais pequeno onde só caiba o que é tudo? Amar é ter um horizonte além do próprio umbigo? Ou encontrar o nosso umbigo em cada horizonte? É ver realmente o outro, ou olhá-lo e vermo-nos, voltarmos a nós? É conhecer o outro, ou reconhecermo-nos? É gostarmos do outro em nós, ou de nós no outro? É sentir felicidade por fazermos alguém feliz, ou por nos estar agradecido? E para amar, será bastante apenas existir, respirar? Ter nascido? Será que todos somos capazes de amar? Ou é preciso ter sido acarinhado protegido e amado? Ou temos de acreditar, acreditar na humanidade, no bem, no outro? Será que é coisa que morre com quem sabe amar? ou morre antes de morrermos? Será que se perde, que nos roubam, que nos podem matar essa capacidade, quando nos amputam dos sonhos em troca desilusões? O que é um sonho, senão o acreditar na possibilidade de algo que nos faria feliz? Amar é acreditar? Mas acreditar não é já assumir que não há razão, ou saberíamos ao invés de acreditar? Então Amar é ter fé? Em quê? Em quem? 


E não, não perguntem porque só me pergunto, não sabem que toda a resposta é apenas uma pergunta adormecida?

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

 


Ontem encontrei um amigo. Estava feliz, está a viver uma história que queria. Há tempos tinha-me dito que não sabia se ia correr bem, mas que o que já tinha vivido com aquela pessoa, já ninguém lhe tirava. Os momentos que viveu, e que recordava, já ninguém os poderia apagar, roubar, tirar, diminuir. Como um saldo de felicidade intransmissível e eterno. Como dizia Kundera, cada segundo tem o peso da eternidade (ou qualquer coisa assim…). Pelo menos aqueles que recordamos e nos recordam de nós, acrescento eu. Hoje de manhã, enquanto guiava, lembrei-me disto. Percebi-o perfeitamente quando o ouvi dizer : “o que eu vivi com aquela pessoa já ninguém me tira”. Verdade.  E enquanto fazia pisca para mudar de direcção, a caminho sei lá de onde, ou em que direcção, lembro-me de pensar, há dias, ainda há dias, mesmo que poucos e cada vez menos, que a única coisa que eu queria é que me pudessem tirar isso. Em que a única coisa que queria que me pudessem tirar, era isso, só isso, isso que é impossível alguém tirar. Às vezes, ter sido feliz por momentos é um castigo e um fardo. Um saco demasiado pesado para se carregar. Que ninguém nos tira.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

 

[imagem @diego_cusano]

Ora, abóbora para isto… amanhã já acordo com o guinchar do despertador a horas que não apetecem… entretanto hoje o que fazemos? Trabalhamos, pois, e fazemos um tico de ronha para nos lembrarmos que a semana só começa amanhã, e vai acabar mais depressa que o costume. 

domingo, 31 de outubro de 2021

[onde apanhei isto, dizia que o artista foi o P183, e eu quando há a informação, dou sempre os créditos a quem de direito]

 E eis que um mês antes dum aniversário capicua, tenho de ir mercar uns óculos. Pois, estou pitosga. Lembro-me muitas vezes de brincar que o braço já não chegava para afastar as coisas, e oferecer-me para segurar, na brincadeira… ainda me rio quando o recordo, agora sou eu que não vejo nada de jeito…Agora já não por falta de qualidade no objecto de atenção, mas porque nem consigo aferir a qualidade do mesmo… enfim dizem que é a idade. Deve ser, começa-se a ver menos ao perto, a ter que estabelecer uma certa distância para perspectiva… tem alguma lógica, mas não dá jeito nenhum. E não gosto de me ver de óculos de ver, mas paciência, não é sempre. Já precisava as vezes para ver ao longe, agora também ao perto. O que não me apetece ver perto é mesmo a próxima terça-feira… irra que isto está cada vez mais difícil, não há meio de me pirar daqui e fazer outra vida… mas hoje é domingo, dia de sofá, filmes, canídeos aos pés, chuva que escorre no lado de fora das janelas. Mantas que aconchegam. E ir comprar uns óculos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Já não apanho o pôr-do-sol, mas a noite já estendida no céu. Um cigarro de fim de dia, um pedaço de dia quando já é noite, mas a noite ainda não entrou em nós, e devagar começamos a acomodá-la, nos olhos, na alma, no tempo das coisas que não nos apanham.

terça-feira, 26 de outubro de 2021

 
Hoje é daqueles dias que só se navegam a balde… e mesmo assim…
 o que se perdeu de sono compensa-se em café…

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

É algo irónico, ou só profundamente incompreensível, quando uma pessoa de brunches, amante da cama de manhã, tem de acender a luz quando acorda e toma o pequeno almoço ainda sem o sol saber em que dia está… definitivamente não sou pessoa que começa os dias de madrugada. A luz da madrugada, nos meus olhos, é paisagem que chama o sono reconfortante, fecha o dia bem aproveitado, melhor ainda se não houver uma porta a bater. 

domingo, 24 de outubro de 2021

 
… just don’t ask…

Mas são as melhores, por várias razões :))

Pelo menos, eu gosto sempre de recebê-las, são genuínas ainda que normalmente parvas, às vezes quase ilegíveis, mas a intenção normalmente lê-se bem :)

Bom domingo, boa preguiça!

(ando tão preguiçosa há tantos fins de semana, tenho-me baldado a tudo o que não devo… e há uma culpa de doce travo nesse permitir-me mas culpar-me… idiossincrasias)

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

 Enquanto o sol ainda se espreguiça, ainda sem os olhos bem abertos, a terra respira. Por cima do verde que se estende pela janela em movimento, há uma névoa quase espessa que a terra expira e despede. Quando o sol acordar e ja andar pela casa, não haverá tempo sequer para respirar, a terra será simplesmente verde. Será simplesmente. 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021



[ foto @tk.photo_ ]

Que me encostes à parede
Que te coles a mim 
Que te sinta crescer em desejo e urgência 
Que as tuas mãos sejam  remédio e a tua vontade cura
Que a febre seja nossa e intransigente 
Que o teu arfar quente seja música com fundo
Que não me deixes solução
E que o problema sejas tu
Que te deixe sem saída 
E o teu sítio 
Seja sempre
Eu
O que eu queria?
Sabes lá tu…
O que eu queria?
… Que tu existisses

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

 


Uma folha no chão, no meio das outras, à espera da chuva, do sol, do vento que a arraste dali ou ali a deixe ficar. De alguém que nunca a veja, ou de alguém que goste de vestir os livros por dentro, com folhas ou outros pedaços que marcam o tempo de cada um, de alguém que depois de a guardar no meio das páginas dum qualquer romance improvável a visite num serão calmo, num fim de tarde onde as cores ardem no horizonte, numa noite de chuva, num tórrido dia de verão. Sempre com um sorriso e uma memória. À espera de alguém que veja longe bem de perto, e a queira para se lembrar dum dia doce de outono, a estação que lhe veste a alma em todas as estações. Olho, olho-me, e essa folha sou eu. Penso em que livro vou guardar-me, enquanto olho a encosta da minha cidade, vestida de névoa e chuva miudinha. O Outono voltou, já o sentem?

sábado, 16 de outubro de 2021

 Acordo e penso que passou. Levanto-me enfio-me na cama da miúda, abraço-a sinto-lhe o cheiro dos cabelos. Discretamente, quase para não se dar conta, a cadela sorrateira sobe para os pés da cama. Não passou. Não sei sequer o quê, mas sei que não passou quando sinto lágrimas silenciosas que não autorizei caírem de terreno seco e árido, aos olhos secos de tanta gente. Há em mim vários lutos mudos e calmas revoluções que não controlo, e nem sei se conheço. Não passou, só me falta descobrir o quê.

 Há pessoa que estão sozinhas, e há pessoas que são sozinhas. Há pessoas que de tanto estarem sozinhas tornam-se sozinhas. Dizem que nascemos sozinhos e morremos sozinhos. Acho que ninguém nasce sozinho,  ninguém, ainda que se possa morrer sozinho. Entre uma coisa e outra,  depende, haverá de tudo, mas diria que são poucos os momentos em que verdadeiramente nos sentimos acompanhados, acompanhados com compreensão, carinho, amparo, aconchego até, ou então isto é só um pensamento de quem é sozinho, ou se tornou sozinho. Já não sei.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

 Devemos aprender a desistir. Desistir de alguns amores, algumas amizades, empregos, sem desistir do Amor, da Amizade, de fazer algo que gostemos e podermos viver disso. Aprender que as desilusões são o apurar de essências, só fica o essencial, o que vale a pena. Saber desistir é mais difícil do que dizem as bocas do mundo, e tantas vezes é preciso mais coragem do que continuar e insistir. Desistir implica reconhecer um fim, confronta-lo, digeri-lo, assumir derrotas tantas vezes. Não é para todos. E ainda não sei se é para mim.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021


 Ahahaha… coisas de mocinhas com um certo feitiozinho…

Fartei-me de rir quando recebi isto :))

Bom dia!


quarta-feira, 13 de outubro de 2021

 Dum lado a lua, ladeada de árvores, do outro uma faixa de réstias de luz a ser engolida lentamente pela terra. Os meus olhos pesados de sono cansado e cheios do silêncio das coisas já ditas. Rituais e sítios que não se despediram de nós. Um cigarro lento que cose o dia à noite antes de rumar a casa e pensar na vida que não me apetece lembrar, aqui assim, nesta nota de tempo semi breve.

domingo, 10 de outubro de 2021

O nascer do sol, ou o surgir por trás da serra, o amanhecer e toda aquela festa de cores adiantou-se aos nossos olhos e a alguém que se atrasou (e não fui eu, desta vez não fui eu). Talvez não tenha sido bem o nascer do sol, foi uma espécie de renascer, mas todos temos direito, né? Todos os dias, até. Isto se levássemos esta coisa de viver a vida com bons modos.
E trabalhar amanhã, vontade, cadê ‘ocê? Hum?
 

sábado, 9 de outubro de 2021

 Sozinha agora, sentada na rede com o nariz no ar e olhos perdidos no céu despido de lua, mas nem por isso nu. Não tenho frio, minto, o corpo não tem frio, a alma parece precisar de manta. Nem este manto negro a agasalha. Oiço cães na aldeia que ladram, água a correr perto e de vez em quando uma bolota aos trambolhões cai da alguma árvore até tocar o chão no último restolhar de folhas e ervas. Como tudo na vida antes de chegar ao chão vai tendo vários choques pelo caminho. Olho o céu de novo, nesta noite límpida se frio e aqui as estrelas não caem, ficam-me só nos olhos que se lembram de noites alentejanas em que contava as estrelas que caíam céu afora e que eu trazia no bolso para aquecer a alma em desejos pedidos e perdidos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

 

[ Julio Cortázar, in Desoras]

Porque escrever fica as coisas no tempo no seu tempo, no nosso tempo, que revisitamos depois, quando deixa de ser tempo, ou o nosso tempo. Assim, ali, está sempre presente, somos sempre o que fomos, sentimos agora o que já não sentimos, como essa terceira dimensão onde tudo cabe, e não cabe em mundo nenhum. Coisas que não aprendemos a esquecer, mas escrevemos para aprendermos a respirar o tempo e o deixarmos ficar nas palavras e não nos ombros.

 
“These boots are made for walking “….

Não exactamente, mas também serve quando se quer, e para descansar são boas :))

[está um calor que não se pode… daqui a nada parece-me que vou experimentar águinha gelada… eu podia fazer disto vida. Trabalhar por quê?? Hummm?]

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Pequeno-almoço. Cães à volta, sossegados. 
Planos para passeio, tempo de Outono: de dia, verão, já a noite quer-se agasalhada. 
E isto. 
"Bem que se quis 
depois de tudo 
ainda ser feliz".

... como não? como poderia ser de outra maneira? mesmo sem caminhos para voltar (ou principalmente), tanto faz, o desejo de alguém ser  nosso maior prazer é o mundo inteiro num instante teimoso, que se espera que nos volte a surpreender nalgum virar de esquina da vida e nos dê a volta de volta à vida.
Entretanto, toma-se o pequeno almoço devagar, tira-se um café, voltamos a ouvir a música, e pensa-se o que raio fez a vida da nossa vida - que pessoas nos passaram pela vida e como, o que nos deixaram, e o que nos levaram  - e o que nos pode fazer ainda, mas o destino  de alguns é querer sempre mais, melhor, tudo o que valha a pena, como o nosso desejo ser o melhor prazer de alguém, numa manhã de férias, ou qualquer uma. E eu serei um desses alguns, suponho.

[sempre adorei esta música, esta letra, e há alturas em que faz ainda mais sentido, ou eu quero que faça, se calhar]

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

 


Dia de andar de um lado para o outro a despachar algumas coisas que precisavam ser feitas. Pelo meio um café com o meu pai e a minha filha. Depois o final do dia, as voltas na cidade, o trânsito que leva as pessoas onde precisam chegar, e eu sem querer chegar a lado nenhum.  Depois parar, ver a luz desaparecer no horizonte, olhar as mesmas árvores a despedirem-se mais uma vez das folhas que deixaram de ser novas, fumar um cigarro e deixar-me ficar. Um carro que pára ao meu lado, depois outro que deixa livre o vazio ao lado da janela. Quando não sabemos onde queremos ir, onde devemos chegar, deixamo-nos ficar no tempo que corre e chega, sem sabermos. E nunca chega.


 O Verão já foi, está aberta a época de chuva, e com ela dos casacos de pele. Um bom cabedal é sempre uma coisa boa e jeitosa para ter à mão. Cai bem nesta altura, né? E até noutras, até noutras.

[Paul Éluard ]


O beijo à altura dos céus 

O céu à distância de um beijo

O que estará mais perto?


 

domingo, 3 de outubro de 2021


Almoço de famelga, aniversário 50+1 de uma prima. O ano passado não houve comemorações nem ajuntamentos, então este ano foi neste espirito comemorar o que o ano passado roubou, mais um! O sítio absolutamente espectacular, fiquei com vontade de ir e ficar. Curiosamente, num espaço que há anos tinha andado a pesquisar para uma passagem de ano em grupo. Agora foi parar às mãos dessa minha prima por voltas do destino. Fiquei de usufruir de desconto para família :)) um sitio onde se ouve o rio correr e se pode ver da janela de leitura (juro que aquela janela comprida, enorme, de parapeito largo para sentar ou deitar em almofadas, não poderia ser para outra coisa aos meus olhos... bom, talvez namorar também seja uma boa opção, mas os meus olhos desabituaram-se de ver amor, agora vêem só livros em tempo comigo, ainda mais que dantes), um sítio perfeito para esta altura do ano. Encantei-me foi o que foi. Ontem foi um dia bom, apesar da chuva para cima e depois da chuvada para baixo. O dia acabou com duas garrafas vazias já na minha mesa de jantar e conversa até às quatro da matina, soube-me tão bem. O vinho, as gargalhadas sonoras, a companhia, a chuva a cair do lado de fora da janela, iluminada pelas luzes da rua penduradas nos postes que me conhecem de tanto olhar para eles nos mais variados momentos e horas da vida. Ontem foi um dia doce, que acompanhou maravilhosamente o tempo melancólico de Outono, e o verde que a natureza esbanja aos nossos olhos com toda a sua força.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

 


… tenho os dois neste momento e preciso das duas. Umas férias para desligar do mundo e ligar-me ao essencial de mim. Paz e descanso precisam-se. Muito.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

 
Já. E não é bom, não é uma boa sensação. Ter vontade de esbofetear alguém que não tem sistema nervoso… ou qualquer sistema que seja… ahhh senhores a vida custa a quem tem de aturar gente parvinha… irra! Que sorte a minha, qualquer dia estou como eles… também é só menos um hamster… 
… who’s counting, anyway?

domingo, 26 de setembro de 2021

 

É isto. E esta vontade de birra também. Porque as vezes apetece, e não há grandes alternativas de comportamento adulto perante tanta estupidez. Pelo menos aqui na santa terrinha. Mas fui votar. Só não sei para quê, suponho que foi votar para poder dizer que tentei evitar mais um desastre, ou que contribui para um desastre menor ou pelo menos mais incerto… mas a vontade de fazer birra ninguém ma tira.

sábado, 25 de setembro de 2021

 
Dias cinzentos têm outras cores, e um tempo doce que corre devagar.  
Seda de cabelos entre os dedos, risos soltos presos à pele, a cama desfeita em calor, 
e uma luz de prata entra pelas janelas que só o olhar aquece.
Há dias que deviam ser sempre assim. 
Vidas que se interrompem para viver.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

 
O Outono no seu esplendor. Lindo. Demais. As cores, as misturas, o pôr-do-sol, as folhas a caírem e porem tudo a nu. Um postal de melancolia. A minha alma tem estas cores, é toda Outono quase sempre. 

[@davidbenolielphotography]

Quando bruscamente, nas trevas da noite,
Ouvires passar o tropel invisível das vozes puras,
O coro celeste das sublimes harmonias,
Abandonado definitivamente pela fortuna,
Desfeitas em pó as últimas esperanças,
Esvaída em fumo uma vida de desejo.
Ah! não sucumbas lastimando um passado
Que te traiu, mas como um homem
Que se prepara há muito tempo,
Despede-te corajosamente
De Alexandria que te abandona.
Não te deixes iludir e não digas
Que foi sonho ou um logro dos teus sentidos,
Deixa as súplicas e os lamentos para os poltrões,
Abandona vãs esperanças.
E como um homem que se prepara há muito tempo,
Resignado, altivo, como te compete
E a uma cidade como esta,
Abre a janela e olha para a rua
E bebe a taça inteira da amargura
E a derradeira embriaguez da multidão mística
E despede-te de Alexandria que te abandona.

Konstandinos Kavafis
[justine, lawrence durrell]


não é Alexandria que te abandona
as noites, os cheiros, o desejo,
os sonhos em vão
és tu que deixas que te abandonem
que o pedes, que o provocas
foste, sem saber, há muito,
quem a abandonou
quando já não a distinguias de ti
se ela estava em ti, ou tu nela
se te inebriava, ou se te querias inebriar dela
se ela te envolvia, ou se te envolvias com ela
se a amavas, ou amavas como a amavas
tão única como o amor que lhe tinhas,
que tinhas

envolvente de tão intensa
embriagas de desejo
não abandonas
preparas-te para que Alexandria 
te abandone
e fiques nela onde fores
o que Alexandria tinha de ti
era teu
sempre foi 
só teu
o sonho, o cheiro, o desejo
as noite que agora te não cegam,
e vês o tempo 
e tão longe já Alexandria,
um amor como os outros

não abandonas,,
nunca abandonaste
nunca se abandona onde já não se está.

domingo, 19 de setembro de 2021

 Hoje foi dia de dar passeio aos cães, depois de dormir o que me faltava dormir e fazer toda a ronha que me apeteceu. Voltar a casa ao fim da tarde, pegar no carro ir comprar cigarros e pão e ver as últimas cores pela janela do carro enquanto fumo um cigarro e penso que a segunda feira não me apetece. As semanas passam a correr, mas o fim‑de‑semana parece sempre ultrapassá-las em velocidade… não percebo este fenómeno…

sábado, 18 de setembro de 2021

 

[foto @bird.ee]

Hoje foi dia de começar o dia numas mãos  quentes que nos percorrem o corpo e nos trazem a ele, ao mesmo tempo que nos faz abandoná-lo, esquecê-lo.  Uma hora que aquelas mãos nos dão a nós, nos devolvem, para a cabeça vaguear entre as sensações da pele e as mil e uma coisa que nos passam pela cabeça, umas para resolver outras só para dissolver em suaves prestações. Aquelas mãos ou outras, o facto de serem de homem já não me faz confusão, nem sei se faz diferença, mas suponho que sim, terão um toque diferente. Também foi dia de acordar com dor de cabeça de fim‑de‑semana a seguir a semana difícil, e ainda é… e é dia de tomar café com o meu pai numa esplanada por aí enquanto o tempo não passa e tanto já trespassou. Hoje é dia de ser dia e aproveitar o que os dias podem ter ou nós lhes podemos dar…ou tirar.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

 


Escrevinhei para aqui o que penso desta coisa das vacinas e de como parece que levei uma sova dum comboio de alta velocidade e de como detesto que me retirem o direito de opção, de decidir e avaliar os meus riscos e assumi-los. Há muita gente que de bom grado entrega as decisões da sua vida, e claro a responsabilidade pelas consequências, não é-o meu caso, até quando é para deixar alguém decidir por mim, isso tem de ser uma decisão minha. Nisto das vacinas não foi, foi compulsório, indirecta e veladamente, mas foi. E não gosto. E não, não sou negacionista, apenas questiono muitas coisas e não sou adepta de carneiradas. Não tenho certezas, mas quem decidiu por mim também não as tem, mas as consequências serão minhas. Não gosto. Disso, de hoje parecer que a minha cabeça não cabe na caixa, das náuseas e de me doer o corpo todo. E não ter sido consequência de decisão minha. Irrita-me…Mas dizia eu, escrevinhava eu p’raqui e desapareceu tudo. Isso também me irrita sempre que acontece. O dia está a correr mesmo bem, portanto.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

 Cai como furiosa, resmunga alto de tempos a tempos, tomou conta do azul do céu e pintou-o de cinza encharcado. E eu oiço-a cair, vejo-a escorrer pelo vidro da frente e a toda à volta. Não abranda nem descansa, dá outros nomes à via rápida e oferece piscinas para escorregar. Parece inverno, mas ainda não. É já noite, e a noite ainda não chegou. É só para nos trocar as voltas, ou gozar com quem não teve férias e ainda as queria tirar. É nestas alturas que sabe bem estar em casa, mas a mim, e agora, não me apetece. Apetecia-me sair do carro e lavar a roupa no corpo, ou lavar a alma com a roupa colada à chuva. Sempre gostei de chuva, e de botas, e de chuvadas tropicais. Suponho que falta a parte tropical, porque para as botas não deve faltar muito…

sábado, 11 de setembro de 2021

 A noite está maravilhosa, as pizzas comeram-se aqui fora na varanda, acompanhadas desta temperatura dócil e deste tecto negro salpicado de magia, tudo balanceado pela luz duma vela que dança nas sombras. Agora fuma-se um cigarro antes de escolher um filme para ver. E olho a lua, corada, a aninhar-se devagar no colo dos telhados das casas iluminadas…Não é preciso muito mais. Temos o suficiente, só temos de ter as pessoas certas para se tornar extraordinário. 

 
E sabe tão bem recebê-la…

… é quase tão bom como querer, e poder, mandá-la. E provocar, e brincar, e haver sempre espaço e tempo para isso.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

 Hoje precisava desta paisagem dourada como a encontrei há dias, mas não as cores são frias e coadas pelas nuvens. Precisava daquela tranquilidade que o por do sol nos dá, mas hoje não há maneira da tranquilidade assentar arraiais no espírito. Paro e parece que o coração não desacelera. Fumar um cigarro ou dois e deixar a brisa leve entrar.

 

Realmente, neste momento era mesmo uma benção. Ainda que promessas, valham o que valem, e não valem nada.

Há muitos tipos de fdp neste mundo, mas seguramente os que o são melhor, que são os mais fdp, são aqueles que sempre que pudemos ajudámos e defendemos. E são os mais difíceis de reconhecer e deles tomarmos consciência. Eu já devia saber, eu sei (aquela frase do meu tio ecos muitas vezes na minha cabeça, hoje é só mais uma: “nunca ajudes um fdp que o gajo nunca mais te perdoa “. É verdade)

domingo, 5 de setembro de 2021

 



Domingo de manhã, agora, na minha cozinha, enquanto batia os ovos do pequeno almoço e contornava os cães espalhados pelo chão da cozinha. A música é um mundo onde às vezes conseguimos morar e descansar, saborear o tempo. Hoje, aqui, agora por exemplo.

sábado, 4 de setembro de 2021

 Começar o dia devagar, a meia luz, com um toque quente e firme, não demasiado leve nem o seu contrário, apenas a medida certa numas mãos que nos percorrem enquanto nos deixamos levar àquele limbo entre o adormecer e o acordar dos sentidos. A mente vagueia, ou perde-se, não sei por onde, frases soltas pela cabeça, imagens por sossegar, esquecimentos por esquecer, mas o corpo regressa como que em vagas de consciência de si, ou de mim. Deixo ir e vir cada pensamento, como um fluir que não prendo nem busco. Fico a pensar, de olhos fechados... a pele também tem uma linguagem, mesmo que ande muda por algum tempo. E tem memória, adormece por vezes, mas também sonha acordada. Saio de lá leve e lenta como uma manhã de domingo, como um feriado no meio duma semana caótica, exactamente o que se quer. Para a semana há mais. Não viajo como se a vida dependesse disso, não tiro mais de três semanas de ferias por ano, tenho um carro com a idade da minha filha adolescente, não gasto dinheiro em marcas de roupa, não faço muita questão em jantar fora (embora cozinhar não seja um prazer...), mas há muito que queria uma rotina de massagens... acho que decidi que não é desperdício, que não devo poupar em mim (já muita gente, de muitas maneiras , o fez por mim), que me faz bem, e que me sabe bem. Acho que cheguei lá, a esse ponto. Finalmente.

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

 
Os dias já estão a encolher, a luz já anda apressada. Parece que sai mais cedo para o outro lado do mundo. É uma pessoa tem de correr para ainda a apanhar colorida nas árvores, dourada na paisagem nesta hora perfeita de despedida. 
E eu dou por mim a semear a alma nos instantes em que o olhar se perde em horas antigas, mas já só aceita colher futuros. Talvez também a vida já ande apressada.
[ está um mocinho aqui parado, uns metros  à frente, numa bicla a olhar o horizonte comer o sol até ao fim… e fiquei curiosa com o personagem, que será que pensa? Será uma alma desassossegada? Perguntará o mesmo de mim?]

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

[foto @therealdanaleigh]

As ondas cansadas,
cada vez mais cansadas, 
Fazem marés menos cheias,
cada vez menos cheias.
O momento esvazia-se mais depressa,
cada vez mais depressa.
E a porta para aquela outra dimensão, 
onde tudo é possível,
e impossível de conter em nós,
cada vez mais estreita, menos iluminada.
Mais fechada.
A idade entorpece-nos 
mas engrandece-nos, 
e fechamos melhor a porta,
conscientemente.
Não é de entrada,

mais vale não sair.

[foto @vorosmate]
 

Dias há em que só apetecem coisas simples, sem ruído, sem complicação. Sem cores, gente, ou palavras a mais. Como um deixar fluir natural, sem puxar ou empurrar, sem esforço ou deliberação. Só assim, simplesmente ser e estar, sem mais. Uma contemplação sem peso, quase como um olhar sem ver, como a leveza duma existência sem consciência de si. Um abandonarmo-nos sem deixarmos de ser. Não desejar nada e ser sensação envolvente de ter tudo, mergulhar no essencial, e ser parte dele. Era o que me apetecia hoje, uma simplicidade destas, uma tarde que fluiria ao ritmo da alma. E hoje a minha está sonolenta, ou adormecida, mas quase em paz. Quase.

 
[António Cabrita ]

… quando não é amor, são.

… quando é, é amor e ponto final.

terça-feira, 31 de agosto de 2021


 Outro ano. Mais um. Também aqui tudo na mesma, e tudo tão diferente. Outras pessoas, outra equipa, outras condições. O mesmo eu, ou talvez não. O último já não sei há quantos foi. Era mais nova, ou sentia-me. A paisagem, essa é a mesma e a fauna não é muito diferente, mas vale a pena passar os olhos… nalguns até passear os olhos... há pessoal aqui no ginásio de vidro a exercitar a saudinha visível. Bolas… e eu hoje baldei-me. 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021


"Pena é não haver um manicómio para corações, 
que para cabeças há muitos."

Florbela Espanca

... Ainda que não cheguem... 
Pena não haver um comprimido que cure os corações malucos...
ainda que talvez sejam os mais sãos.

 Tinha prometido à miúda que hoje íamos ver  ao shopping as calças que ela queria, estavam em saldos e aproveitávamos. Fomos. Ela foi experimentar e eu vi umas calças de ganga que em saldos tinham um preço aceitável... recuso-me a dar muito dinheiro por umas calças de ganga (por isso também em calças de ganga não tenho nada de marca), então fui experimentar também. A mocinha depois, como manda o figurino, foi lá perguntar se estava tudo bem, ou se precisávamos de outros números ou modelos... e eu perguntei.. então filha, gostas? e a mocinha para nós: Filha? A menina é sua filha? e eu.. é, sim... E a moça... ahhh a sério? pensava que eram irmãs.... ahhhhh carago já ganhei o dia! eheheheh bem sei, que a moça tem mérito em ser boa comercial, pois claro, mas soube-me bem. Até porque já hoje o tinham dito com umas fotos do fakebook (as únicas que tirámos nas férias, e em casa)... pronto, comprei as calças. Porque gostei delas, claro, mas soube-me bem, pois, ouvir aquilo :) é aproveitar, que daqui a nada já não o vão dizer, não, se agora já é puxado... enfim, mas ganhei o dia :D e umas calças de ganga novas ;) Menos mal... Mau mau é quando estas coisas já nos deixam mais bem dispostas... isso sim já diz muito...

[caramba não me apetece nadinha ir trabalhar amanhã... raios... tenho de mudar de vida!]

sábado, 28 de agosto de 2021


 E quando a luz começa a inclinar-se, quase aconchegante, em tudo o que vemos abrem-se as portadas da varanda para o sol entrar, entao arrastamos o tapete de ioga para a frente daquela brisa que anuncia o fim de tarde. Às tantas, já quase no fim da sessão, vem esta mocinha deitar-se ao lado do tapete. E às tantas estamos as duas deitadas: uma a olhar para o azul do céu, outra encucada com uma mosca que ali anda a tentar passear. E não apetece sair daqui. Essa é que é essa.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

 


É mais ou menos este o aspecto. E não, não é estilo, é para tapar as olheiras até as orelhas e tentar afugentar o sono…Isso e estar agora a tomar o terceiro café do dia, e desconfiar que não seja o último... E tudo isto se podia aguentar de cara alegre e feliz, não fosse a falta de sono dever-se a, pela segunda vez esta semana, fechar o computador as duas e meia da matina e depois a cama não acolher em braços um sono descansado. Não, quando finalmente vou para a cama, só vejo horários e números e sei lá o quê. Tudo menos sono. Então levanto-me dedico-me aos rascunhos e a fumar mais um cigarro, de luz fechada e olhos que não querem fechar... até hoje de manhã, altura em que só queriam estar fechados. Dormir quatro horas por noite não costumava ser um sacrifício… aliás, noites boas era dormir duas horas, menos boas dorme-se mais. Agora não é para as dedicar a trabalho, horários e afins, não…. Preciso doutro café. E de outra cara, já agora...



Porque te tenho e não
porque te penso
porque a noite está de olhos abertos
porque a noite passa e digo amor
porque vieste a recolher tua imagem
porque és melhor que todas tuas imagens
porque és linda desde o pé até a alma
porque és boa desde a alma a mim
porque te escondes doce no orgulho
pequena e doce
coração couraça
porque és minha
porque não és minha
porque te olho e morro
e pior que morro
se não te olho amor
se não te olho
porque tu sempre existes onde quer que seja
porém existes melhor onde te quero
porque tua boca é sangue
e tens frio
tenho que te amar amor
tenho que te amar
ainda que esta ferida doa como dois
ainda que busque e não te encontre
e ainda que
a noite pese e eu te tenha
e não.

Mario Benedetti

E não.
Porque não.
Porque não há razões
para tudo o que é.
Só porque sim
Porque não há razão
para o que não é.
Porque não há razões 
que me encham da razão que tenho. 
Que sei
E não.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

 De regresso de antigos caminhos, que percorria dantes todos os dias, a paisagem parece não ter mudado, o verde continua verde, as curvas continuam curvas… e acabo a parar onde parava num reviver de um ritual que já não tenho, ou não tenho assim. A luz dourada que vai baixando e pintando os eucaliptos ainda tem encontro marcado a esta hora do dia, quando o descanso começa a acordar e queremos adormecer memórias. Entretanto o cigarro entretém o silêncio e conto desencontros e coincidências, enquanto converso emoções mudas.


 Um dia vou surfar uma coisinha destas…

… montar uma prancha dsetas.

Experimentar desequilíbrios bons, que acabam em mergulhos melhores… profundos ou superficiais, o mar é o mesmo, e é sempre refrescante.
Ainda tenho idade, hummmm acho eu, para adoptar novos hobbies, ideias e actividades no geral, desde que goste delas e me apeteça…

… mas bem sei, hoje não é o dia.

Bahhhhh 

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Apanhei isto numas coisas antigas, fartei-me de rir com os comentários parvos (aqui adaptados e destacados em fundo vermelho) que acrescentei a um texto que apanhei em algum lado na altura, não sei se na altura mais alguém se riu, ma eu ri-me a escrevê-lo e a relê-lo ontem à noite. Deixo aqui como amostra de parvoíces passadas e gargalhadas futuras. Na altura escrevia algumas parvoíces destas e tenho saudades disso, talvez até estes comentários deveriam ter outra assinatura, ainda que eu seja sempre eu, foi um eu de outra fase, que hoje revisitei e voltei a ser um bocadinho, e gostei, talvez eu não tenha mudado assim tanto, afinal, só me faltará o mote, se calhar... mas a emissão retomará a (a)normalidade habitual já de seguida, não se apoquentem. :)


As mulheres e o sexo: gritonas, mandonas, ordinárias e religiosas


No que toca ao seu comportamento na cama, as mulheres dividem-se em quatro (só??? desconfio um bocado deste começo, não sei se o mocinho tem canudo na matéria... não aparenta curriculum à altura.... só pode!) grupos diferentes: as gritonas, as mandonas, as ordinárias e as religiosas.


Gritonas - são o maior grupo (pois, já ouvi dizer...), que é formado pelas mulheres que dão gritos durante o sexo. Convém esclarecer que os gritos não são neste caso frases completas, nem sequer palavras, mas apenas sons à solta, sem qualquer construção gramatical específica. São os célebres "ahn, ahn, ahn"; o sempre muito escutado "oh, oh, oh"; os "ai, ai ai" ou o mais raro "ehhhhhh..."

Normalmente, os gritos começam com uma vogal, e aqui o "o" ganha clara vantagem (ohhhhhh a sério??? isso aparenta uma certa desilusão, não?... eu a pensar que era o AAAhhhhhhhhh), seguido a curta distância pelo "a" (ahhhhhh....bom...), e ambos muitíssimo destacados do "e". Há alguns casos em que os gritos começam por "u" (uhhhh... serão vaias, mocinho?...não sei, just say'n) ou "i" ( e...e...e mais qualquer coisa... que não chega?), mas são muito marginais, e julgo que só foram escutados por uma única vez numa ilha do Pacífico.

Quanto ao volume dos gritos, há basicamente dois subgrupos: o primeiro é o das Mulheres Sensurround, cuja gritaria nos faz trepidar (pode ser bom, se calhar...); o segundo é o das Mulheres Stereo, que gritam virando a cabeça alternadamente para a esquerda e para a direita (ele é optimista, eu acho que elas estão a dizer que não... ou estão em negação, ou o gajo pensa que está no bom caminho...mas não nãããoooo), de forma a criar um efeito sonoro digno de recordação (alguém com um sorrisinho parvo de recordação?....).

É igualmente interessante examinar o ritmo dos gritos femininos. Há o ritmo Techno, um "oh-oh,oh-oh" muito acelerado; há o ritmo "Super Slowmotion", um "ahhnnnnnnnnnnnnnnn" lento e prolongado (só para quem tem boas caixas toráxicas para aguentar...devem ser gajas bem fornecidas de pulmões, claro), quase desprovido de climax (coitadinhas.... tsss tssss); e há o ritmo Fadista (este deve ser assim.... o mais erudito sei lá...) , um "óoooooh" sofrido e inesperadamente amargurado dadas as circunstâncias (inesperado... dizes tu).

Por fim, há o ritmo mais animado, que está no Top das preferências masculinas, o ritmo Classic Remix. No fundo, trata-se de uma mistura de tons antigos da música pop com as sonoridades mais modernas da house, do tipo "ahnn...ah-ah-ah, ohhhnn, oh-oh-oh, oh...ohhh, ah....ahnnn..." (hum hum... estou a ver que não faço ideia do que seja, mas devo ser a única aqui...)

 

Mandonas - Este grupo é obviamente formado pelas mulheres que dão ordens durante o sexo (alguém tem de pôr ordem na situação, ora!). É o segundo grupo mais numeroso, e tem crescido claramente nos últimos anos, talvez devido à auto-confiança elevada das mulheres (ou à necessidade de orientação dos mocinhos, quiçá).

A ordem mais escutada pelos homens é a chamada Ordem Imperativa de Localização Vaga (OILV), com o inimitável grito "Vai, Vai, Vai!" (é mais um hino à motivação, diria eu, tipo cheerleader do próprio espectáculo...mas se ele precisa de motivação desta... não sei não...). Depois, há a Ordem Confirmativa de Penetração Eficiente (OCPE), com o não menos famoso "Isso, isso, isso!"(tipo aviso à navegação... se bem que não sei como não desconcentra o gajo, mas pronto... vocês nã0 se desconcentram nestas coisas facilmente, tá visto...)

Em terceiro lugar, aparece a Ordem Imperativa Oral (OIO), com o sempre bem vindo "Quero chupar-te!" (este gajo não sabe o que é uma ordem!!! uma ordem é: chupa-me!... esta gente...pfffff... depois admiram-se de precisarem de orientações...)Segue-se a Ordem Generalista Ordinária (OGO), com o célebre "fod..-me!" (isto sim, já me parece mais uma ordem, mas se nos durantes, algo corre mal, porque a ela parece-lhe que ele ainda não está a fazer a coisa certa, ou como deve "de" ser...), que por vezes se transforma numa Ordem Perfeitamente Localizada mas Ordinária (OPLO), com o imperial "Fod...-me aí!" (parece-me plausível...  há que especificar, não vá baralhar-se....)

Por mais surpreendente que isso possa parecer, há igualmente mulheres que dão ordens a uma terceira pessoa, que neste caso é a sua própria vagina (que portanto o mocinho entende como uma terceira pessoa... hum hum... 'tá certo...). Incluem-se nesta situação a chamada Ordem Castigadora Vaginal (OCV), com o famosissímo "Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe!"; e também a ligeiramente aterradora Ordem Castigadora Vaginal Nazi (OCVN), com o formidável "Rebenta com ela!" (hummm sem comentários de tão parva que a coisa é já de si...)

 

Nota: devem contar-se também neste grupo as mulheres que usam a chamada Ordem de Pré-aviso de Orgasmo (OPO), que é quando elas gritam: "Está quase, está quase!" (lá está mais um aviso à navegação, tipo torre de controlo, a dar conhecimento do ETA... talvez para ninguém chegar atrasado, ou adiantado, quem sabe)

 

Ordinárias - Este terceiro grupo é formado, como o nome indica, pelas mulheres que só dizem palavrões durante o sexo. Embora ainda minoritário, também tem aumentado bastante nos últimos anos. As classes altas e as classes médias incorporaram na sua linguagem diária não só o "ó pá" e o "tchau", mas também o calão durante o sexo (deve ser uma espécie de inbbbbeja do vocabulário alargado do pobinho... ou o reconhecimento da sua utilidade empírica, sabe-se lá).

Assim, são já muito habituais as mulheres que largam vários "fod...-se" durante esses tórridos momentos, bem como aquelas que usam o termo "cara...o" a torto e a direito, seja para referenciar o dito cujo e o que desejam fazer com ele (há que chamar os bois pelos nomes, né? chamar Joãozinho, ou Zézinho, talvez aniquile qualquer esperançazita da coisa se dar... digo eu, sei lá), seja apenas para libertar a tensão acumulada desde a última vez que viram um (pois, se libertam a tensão a chamar-lhe nomes, em vez de se agarrarem à coisa, se calhar vão voltar ao mesmo... ou não...). 

Evidentemente, é expectável que estas mulheres misturem os palavrões com gritos parecidos com os do primeiro ou do segundo grupos. Por vezes, acontece mesmo que, no espaço de breves segundos, uma mulher salta do grupo Gritonas para o grupo Mandonas (é assim, somos polivalentes!!), e desse, num micro-segundo, para o grupo Ordinárias (e valentes, também...).

A situação verifica-se quando ela, ainda um pouco inibida, vai libertanto uns "ahhnss" e uns "ohhss" e de repente começa a transformar-se e, no auge da excitação, larga um convicto "ah, ah, ah, vai, vai, fod...-me!" 

Para além dos palavrões referentes ao acto, há também o uso dos palavrões referentes aos intervenientes específicos. Há mulheres que, mal um homem as aquece, começam logo a baptizá-lo de forma vernácula (chamam-lhe aquecedor, queres ver?...). "Ó meu cabr..., (ahh afinal não, mas pode acumular, certo?...) estás a gostar?" é um exemplo muito escutado.(com quem esta gente se dá... caredo!!!)

Por fim, há o Palavrão de Auto-Marketing, que é quando as mulheres começam a chamar palavrões a si próprias. "Sim, sou uma put..." ou "adoro ser a tua put..."(não será isto assim a insinuar que no fim tens de dar qualquer coisinha??? não sei, estou só a especular...) são frases que já quase se tornaram verdadeiros lugares comuns e de que convém desconfiar, pois já todos nos habituámos a auto-promoções (jezzzuzzzzz...para isso ser promoção.... antes de serem putas eram o quê???... valhamedeus) permanentes.

 

Religiosas - Este é o último grupo e é bastante raro em Portugal (a sério? como assim? cá não se ajoelha e reza o Pai nosso fervorosamente? ou essas não são, assim.... religiosas?), embora exista muito nos Estados Unidos da América, que como todos sabemos é um país religioso (hum hum pois claro, aposto que deve ser por isso) . Assim, por lá é comum ouvir-se a exclamação "Oh my God, oh my God!" (mocinho com larga carreira internacional...que até domina o inglês!) Ao que parece, as americanas lembram-se do Altíssimo (não não és tu, deixa de ser convencido... é o DEUS mesmo, o do céu...convencido) quando estão a ter prazer. 

Com Hollywood a mostrar repetidamente situações destas, a expressão foi rapidamente incorporada no vocabulário nacional, e já se ouvem algumas portuguesas que libertam um convicto "Oh, meu Deus!"(lembraram-se que deixaram o fogão aceso, ou a máquina a torcer muito tempo... deve ser isso...e ele a pensar que é para ele...)

São as Mulheres Divinas, não porque sejam melhores que as outras, mas porque para um homem é sempre bom saber que há pelo menos uma mulher no mundo que acredita que ele é um pequeno deus na caminha (pois pequeno deus, e na caminha... 'tá certo... mas vá, pronto acabou a parvoeira...que as mais discretas não têm piada que mereça tempo de antena... ou o mocinho não conhece nenhuma)."