terça-feira, 30 de julho de 2019


“ Um dos erros da vida, embora seja certamente uma excelsa virtude nas religiões monoteístas, é aceitar as coisas tal e qual elas se nos apresentam.
A resignação – pois é disso que se trata – é contentarmo-nos com aquilo que existe. Escusa até de ser mau, até pode ser bom. Mas vir ao mundo e depois sair dele sem ter alterado nada é uma tristeza porque perdemos uma oportunidade de adaptar as coisas ao nosso gosto particular, individual.”

Miguel Esteves Cardoso (crónica da Fugas desta semana)


Assim sendo, não sou monoteísta. E não sabia. Mas realmente nunca fui de endeusar ninguém.  Talvez seja nadaísta. Se calhar é isso. 
Adaptar as coisas ao nosso gosto, ao que somos, gostamos e acreditamos, não aceitar simplesmente o status quo, parece-me um bom mantra, ou mote. E principalmente não nos queixarmos e criticarmos se nada fizermos pela mudança. 
Li esta crónica do MEC ( que não tem nada a ver com o assunto, é sobre o gelo perfeito que agora se comercializa) depois duma discussão com alguém que simplesmente não mandou passear uma pessoa (recomendada por mim... ainda por cima que vergonha valhamedeus)  que estando no desemprego, sugeriu que o período de experiência no novo trabalho fosse pago "por fora".  Claro, para não perder o subsídio de desemprego (e na verdade quem está com dúvidas não é quem vai empregar, que anda há mais de seis meses à procura de alguém com alguma experiência...)... E eu que me passei, que me indignei, fui chamada de exagerada... ahhh e tal é normal, disseram-me... ao que respondi que da próxima vez que se indignarem com o que os políticos alegadamente fazem e do se aproveitam,  e do que roubam ao que todos pagamos com impostos, lembrem-se que pelos vistos não se podem, nem devem indignar, porque na medida do seu possível, fazem o mesmo. Alimentam o que criticam, e aceitam-no como generalidade, como normal. 
Fui eu que recomendei a moça, e sentia como responsabilidade tentar arranjar-lhe um emprego, mas realmente nada a fazer, e agora não me sinto minimamente culpada por afinal estar no desemprego... parece que é onde sempre quis estar... isto há cada uma valhamedeus! Fico doida com certas coisas... cambada de monoteístas, é o que é!

apetecem-me palavras
para entreter a boca enquanto
não as espanta o grito que
já espreita debaixo da língua

Bénédict Houart


[apetecem-me. 
apetecem-me palavras desfiadas de sentidos
mas não as procuro, não me apetece. 
fogem-me como os pensamentos que não poisam, 
sempre em voos longínquos que não quero atentar, decifrar, 
sequer saber do seu destino. 
não quero ser o silêncio que mastigam,
nem  acordar o grito que não quero adormecer. 
Não o quero saber, sentindo-o; 
nem desconfiá-lo, sabendo-o. 
quero que me fuja como as palavras que não me apetece procurar, 
para dizer que nada mais quero deixar dito.]

sábado, 27 de julho de 2019


“Gosto de ver o teu nome no visor do meu telemóvel”. Escreveram-me ontem, depois duns tempos a trocar mensagens. E não me sai da cabeça. E pergunto-me porquê. Aquilo tocou-me. Não sei explicar, tocou-me duma maneira que não sei explicar. De que talvez até tenha fugido de pensar. De como há coisas que nos magoam e procuramos não ver. É um misto de sensações e coisas que me remexeram o por dentro. O meu nome no visor: coisa tão simples. Que é agradável a alguém. Talvez como o sorriso que tantas vezes eu não dava conta que sorria ao ver todos os dias, ou quase, o visor do meu telemóvel. E depois esta sensação, a certeza, que durante tantos anos não fui tratada como merecia, como me dei. E fui eu que deixei.

quinta-feira, 25 de julho de 2019


Uma pessoa que gosto muito deu-me isto há uns dias.
Disse que era para eu trazer para o meu escritório novo.
Para saber para onde quero ir, para me dar alento.
O meu monte no Alentejo, diz-me.

...e agora parece que começa a ser de muita gente, 
deu para estar na moda aparecer em todas as capas de revista...
 não há direito... 

mas eu olho para o quadro que me deram
 e apetece-me. ainda. a paz, 
a tranquilidade em tons de dourado sobre a terra. 
Disse-o, e quando me questionaram sobre esse gosto, face à presença de tal quadro no escritório:
“ e consegue? Com essa dinâmica toda?? Que lhe faz?  Nahhh não acredito”...
 (eu devo enganar muito à primeira vista, esta gente não sabe o que diz) 
... danadinha para isso ando eu. nem sabem...só mais uns anos. 
só mais uns anos, e penduro-o no meu futuro novo escritório: 
um alpendre :)) com vistas sem telhados até ao horizonte.

Alguns sonhos ainda tenho. :)

segunda-feira, 22 de julho de 2019

[foto @ryanmuirhead]


Quando ouvidas à distância

Da minha pele silenciada da tua,

De todas as tuas palavras

Escorre vazio

E sobra mentira.



No início ouvia em tudo o que dizias um fundo de verdade

Depois aprendi em tudo o que dizias um fundo de mentira

No fim, nada do que dizias tinha fundo,

Por muito profundamente que o repetisses.

E repetias. Tudo. De novo.



De que vale dizeres-me

Ser a tua sorte grande

se nunca cresceste para a reclamar.

De que valeu repetires-me

Ser eu a mulher da tua vida

Se sei seres homem de muitas vidas e pouca palavra?




(Deves ter alma de gato... das que morrem seis vezes caindo de pé, assistem ao próprio funeral, levantam-se e continuam a percorrer telhados ou vielas, esgueirando-se por entre as sombras das noites pardas)

domingo, 21 de julho de 2019

Gostei.
 As pérolas que a Agustina vai deixando cair ao longo do texto, são tão preciosas quão deliciosas.
 O tema é denso e vasto (devastador às vezes): a culpa, esse grande motor, ou travão. Depende.
E que venha o próximo.

[foto @la.melancolique]

Sentados no murete em frente à tela.
Vinte centimetros entre nós. E eu tive vontade de menos, não sei porquê. Apeteceu-me proximidade, talvez até que me tocasses. Talvez. E no entanto há sempre o medo, o medo de me arrepender, de, se, ou quando, me tocares, eu não esteja lá, não como estive tanto tempo por quem não mereceu. Não te chegaste e eu não me mexi. Rimo-nos, falámos e estivemos, com vinte centímetros de permeio. A medida de alguma coisa, ou de coisa nenhuma.

Cinema Paradiso ao ar livre. 
E fica-se a pensar que muitas vezes as cenas cortadas são as que guardamos, as que ficam até ao fim. E que sem paixão - sem uma paixão -, a vida passa-nos pelos olhos mas não a vemos realmente. Não importa de onde a vemos, ou quão bem instalados estejamos. Não vemos. 
Dizem que a paixão cega, mas sem paixão não se vê verdadeiramente, olha-se apenas.
Há coisas que só a cegueira vê...
E o cego não viu.

O que a última cena guarda é genuinamente delicioso.

sábado, 20 de julho de 2019

Dia disto, ou manhã tardia, vá.
Há que lembrarmo-nos de, de vez em quando, tratarmos de nos tratar bem. 
Numa manhã de fim de semana, com o ritmo dos dias lentos que descansam o tempo.
Coisas de gajas, portanto. 
Nem a cadela se safou... :)))

[ahhh... e nem faltou a banda sonora de ontem, que agora já posso deixar aqui... a música é fixe, faz-nos mexer (paradoxalmente se calhar), até ela gostou, e não costuma ser fácil gostar das músicas que gosto e lhe mostro... a miúda tem a mania que sabe do que gosta, e não é tímida em dizê-lo... mesmo quando tem mau gosto.... ]


Há dias em que falta o beijo de boa noite.
E há noites em que faltam dias inteiros. 
...depois há momentos que não chegam a ser tempo,
onde o sempre e o nunca se tocam em eternidades.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

[foto @zynp]

Hoje acordei cheia de vontade de dormir. Só me apeteceu que o dia acordasse quando entrei no carro  e o Mr Ferry me sacudiu a névoa matinal dos ossos...
 Let’s stick together 
C’mon c’mon let’s stick together
melava-me ele aos ouvidos (que há coisas que nunca concordei ou concordarei, mas com a música certa, e alguma disposição, tudo se come como bom..) 
e o dia adoçava-se na boca que acompanhava a música e a linha do refrão. 
Às vezes só interessam as parangonas, não é mesmo? 
... O resto são pormenores que não queremos mesmo saber (principalmente se já os sabemos..)
Não a consigo agora pôr aqui (no telefone não consigo...) mas ficam as cores da primavera e dos amores-perfeitos que combinam com certos acordares, tantas vezes tanto tempo depois de termos aberto os olhos...

Ahhh... e se alguém vir por aí, fugido, o sacana do verão solarengo, mandem-no falar comigo sa’xavor, que temos de ter uma conversinha séria... e que não me venha cá com a história do “ não és tu, sou eu” para ter desaparecido sem combate, que isso eu sei. Claro que não sou eu... homessa! O moço tem de cumprir as suas obrigações, ora! Tem até certo dia de agosto para dar à costa. Considere-se notificado, portanto. 

Bom dia!

segunda-feira, 15 de julho de 2019

... e ligam-me a dizer que me cortaram a água... #%^*&@... lindo!!
O almoço passei-o na fila da loja do cidadão. Volto para o escritório e como no vizinho, com vista para o viaduto. Ao menos dantes quando a comida era de plástico a paisagem era Atlântico puro. Agora engorda mas não lava a alma, agora é o viaduto e os minutos a contarem-se no relógio. Nem a alma se sente. Enfim, coisas... 
(nem todas más, dantes teria de pedir a alguém para me tratar do assunto, agora já posso ser eu. Mas a neura ninguém me tira. Mas isso não mudou...)

domingo, 14 de julho de 2019

Agustina Bessa-Luis, in Antes do Degelo 

Há coisas tão particulares e imensas que as palavras não cabem. Não há diálogo possível, nada consegue, ou pode, ser dito, depois de tudo que ficou por dizer no que foi dito, e desdito.


Acordámos mais cedo que o costume domingueiro. Sapatilhas e uns calções para combinar com o sol que chamava pelas janelas. Fomos indagar um sítio que me falaram ontem à noite, na minha própria cidade , tão perto de minha casa, e não conhecia. Tem baloiço com vista para o rio e tudo. Continuámos a nossa passeata e o sol começa a apertar a esta hora. De regresso a casa, paramos num jardim para tomar um café, água, e deixar as pernas respirar à sombra. E agora regressar, passar pelo jardim do costume a caminho de casa para a pintarolas correr... se ainda conseguir. 


Deve ser arte dizer-se a uma pessoa o contrário do que se diz a outra, 
conseguindo mentir às duas. 
Se não for arte há-de ser pelo menos coisa de um grande artista...

[Hoje, já não sei porquê dei comigo a pensar isto, enquanto as mãos pensavam outras coisas. Talvez haja sítios na nossa cabeça que as mãos atarefadas não ocupam sempre. 
Agora, chegada a casa, aqui parada e a degustar o frio da noite ao som dos carros que passam e das vozes de esplanada, surge-me outra vez. Agora, as mãos quietas, mexem na memória do dia para me relembrar isto. Não sei porquê, é apenas uma constatação, não uma conclusão. Deve ser pela curiosa duplicidade da coisa, dos contrários que não se anulam nem se reforçam... ou porque há que dar reconhecimento aos artistas. Não sei.]

sábado, 13 de julho de 2019

[foto de Jacqueline Illemann]

Há que seguir o destino à risca.
Ou o vento que enfuna o mar em grandes ondas.
Ou o mar, sem ondas.
Ou a vontade desalinhada. Ou nada.
...Não seguir nada à risca.
Arriscar tudo. Mas o quê?

Bom dia :)

quinta-feira, 11 de julho de 2019



Vou fumar um cigarro a outra vida,
a um país distante, que é lá fora,
vou à varanda ver-me, de fugida,
correr pelo passado que demora.


Miguel Martins

[vou à varanda fugir-me, porque lá não me escapo... vou fumar um cigarro longe do fumo do dia, revisitar tempos distantes que são agoras futuros, e são já agora]

quarta-feira, 10 de julho de 2019


E ao terceiro dia chegou a falta da paisagem no caminho, que nos mostra que o tempo passa mesmo quando não damos conta que passa, que passou. Falta-me a viagem de manhã e o regresso com as cores quentes que fazem o olhar respirar fundo. Falta-me o cigarro a meio caminho a fazer ponte entre o dia e o receber a noite. Faltam-me os rituais que eram meus. Gosto de rituais, não gosto de hábitos, que parece terem gasto o propósito ou o gosto. O ritual cumpre-se por gosto, não por obrigação ou quando o sentido se esvazia. Talvez por isso ao terceiro dia o sentido se tenha ressentido do vazio que lhe dei. Resta-me a varanda e a noite de verão na pele.
A lua está baixa, os sapatos no chão, fora dos pés, o cigarro ainda está na caixa e a cadela ainda não sossega o olfacto, cheira tudo sem descanso. Eu descanso na brisa que passa, deitada na varanda. Há uma música ao fundo que preenche os vazios. No fundo não é preciso muito mais. Ainda sou a mesma. Até quando não pareço. Respiro fundo. Há agora um véu de nuvem sobre a lua, deixa passar a luz, não o brilho. Não é preciso mais. Que o cigarro saia da caixa, talvez.

terça-feira, 9 de julho de 2019



Às vezes ainda me pergunto se pensarás se estragaste a tua vida quando me conheceste, ou  quando não ficaste comigo, até ser já tarde demais para haver essa hipótese. Depois lembro-me que não pensas nada disto: não estragaste a tua vida, nem pensas sequer se estragaste em alguém alguma coisa, e lembro-me, de vez e para sempre, que não pensas em nada disto, que provavelmente nem pensas, que foges de perguntas a que tenhas de dar resposta. E de respostas que não te dêem o que queres. Fazes só o que sempre fizeste: nada. Nada, a não ser fazer o contrário que disseste vezes sem conta. O contrário, sempre. Em tudo e em todos os lados, a toda a gente. Cumpres todas as promessas ao contrário. É curioso, pareces o contrário de ti mesmo.
Às vezes esqueço-me que já esqueci isto tudo e tropeço-me no tempo enrolado nos dedos parados. Aquieto aqui as palavras e ponho-os a mexer a outras músicas. Que eu possa dançar.
Às vezes não me pergunto nada. E a música é boa. E eu deixo-me ir.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

[foto @veziphoto]

Bom dia, alegria!
Quem inventou e usa com gosto esta expressão antes do meio dia tem o relógio biológico adiantado...
E eu tenho demasiado sono atrasado....irra! 
Domingo vou dormir todo o dia...
Domingo vou dormir todo o dia...
Domingo vou dormir todo o dia...
Domingo vou dormir todo o dia...
Domingo vou dormir todo o dia...
Domingo, a ver se não me esqueço...
Bahhh






[foto @nicoladavisonreed]

Estou completamente exausta,
mas não infeliz.
Nada infeliz.
E isso é toda uma nova vida para mim.
Uma janela aberta com uma brisa de futuro,
uma aragem que me levanta a pele,
que me sorri para dentro de alguma forma.
Posso constipar. Eu sei.
Mas ao menos está-me a saber bem esvaziar de mim o tempo,
para que me reste apenas eu. 
O que quer, ou quem quer, que eu seja.

terça-feira, 2 de julho de 2019

[imagem @jesuso_ortiz]

Há vários dias consecutivos que me parece sexta feira - se calhar desde sexta mesmo - mas nunca mais é sábado... bahhh
E o verão solarengo está como este sábado para mim... bahhhh está tudo bolchevizado como dizem que dizia a minha avó.

Um dia destes acontece acontecer um sábado solarengo de Verão. De certeza. 

segunda-feira, 1 de julho de 2019



... mesmo que sejam Cherry.
... ainda assim, é sempre melhor tê-los no sítio, chérie :)
(melhor que nada, porque ao que parece é mesmo difícil...
coração ao alto ao pé disso é para meninos...)

Bom dia!