segunda-feira, 23 de março de 2020

Pronto, era só isto.
É parvo, eu sei, mas tem piada.
... e temos de nos rir, né?
Senão ainda ficamos maluquinhos...
... e sei lá desatamos a açambarcar papel higiénico
 como se o nosso maior pavor fosse
 o fim do mundo apanhar-nos de calças na mão...

sábado, 21 de março de 2020

[dia mundial da poesia, hoje]
Talvez a Poesia não seja sempre em palavras. às vezes são só pensamentos que fogem ao dono, que voam - longe e alto demais. sem um porto seguro, uma superfície plana, lisa e ordenada onde poisar, onde descansar, onde morrer. restam-se apenas em sorrisos que guardam uma ternura que não tem onde ser arrumada. ou queira.
A poesia é tanta coisa, e vive de nadas para fazer sentir tudo.
E às vezes não há palavras que sobrevivam a isto.

[haverá poesia maior ou melhor que alguém nos achasse mais poesia que mulher? ainda que não o saiba dizer, ainda que não deixe escrito nos muros, mas que nos faça sentir assim? sorrir assim? haverá mais poesia que isso? que esse olhar?  não creio. mas creio que seja a poesia mais difícil de encontrar e de sentir... e de fazer sentir. ]

quinta-feira, 19 de março de 2020

[Roberto Juarroz]

Deitar-me duas horas e meia depois de chegar a casa, exausta. Quando devia e queria vir cedo para casa, nem sequer sair de preferência, é o contrário. Há coisas assim: a vida. O cansaço parece que desfaz os ossos, os olhos parece que ardem, a ansiedade, o medo, aperta-me a garganta. Não sei como serão os próximos tempos, ninguém sabe, mas muitos imaginam e fazem contas. E eu acredito, percebo. E acho algum optimismo, aquele demasiado levezinho e dourado de frases de que “tudo vai correr bem”, só meio tresloucado, pergunto-me: bem para quem? Para que umbigo? Não estou com os meus pais vai fazer duas semanas, não arrisco, estou numa actividade de risco, não posso arriscá-los, e penso se chegaremos todos ao fim destes tempos. Não é pessimismo, no caso é mesmo só lucidez. Da que dói nestes dias em que o (nosso) mundo se resume a sabermos até onde vão os nossos braços de afecto, de preocupação, de querer saber de quem nos toca, mesmo que longe da pele, tão proibida agora. São também os dias de saber que braços nos tentam alcançar, saber, confortar, sorrir pelo telefone. No meio de tudo isto é bom perceber que há preocupação e carinhos recíprocos que são só abraços adiados, mas já dados. Mais do que ouvir “vai correr tudo bem “ gosto de ouvir, ou ler, simplesmente saber, que a verdade pesa e se sente (tão) nítida nos “como estás? Lá em casa tudo ok? Estás bem?”

E vocês, dos que não sei sem ser por aqui? Está tudo bem por aí?
Espero que sim :)

terça-feira, 10 de março de 2020



[Eugenio de Andrade ]


Amor estéril, 
ou filhos dele,
Já tive além da conta.

O tempo passou, 
estão maduros
Agora, de porta aberta,
é deixá-los seguir.
Já caíram todas as vezes 
que precisei de os levantar,
de lhes limpar as lágrimas 
e dizer que tudo ficará bem.
Estenderam,
a cada vez, 
as mãos abertas, 
à espera do que eu tinha 
e não guardava.

Já passou o tempo 
Posso deixá-los seguir 
o caminho da lonjura.
Fechar a porta,
fazer amor e filhos 
que amadureçam
que encontrem sempre 
a minha mão, 
como eu a deles,
até quando choro e caio. 
Daqueles que seguem
mas nunca vão,
voltam sempre 
de portas abertas para mim,
com poesia no olhar
Brilhante
do que não se esquece,
sequer precisa ser lembrado.

sábado, 7 de março de 2020

Um belo dia para o primeiro passeio de trela, da pintarolas Júnior, 
uma russa a quem não falta pinta.. a não ser no pelo... ;))


That’s it!
Custa a aprender. Ninguém o pode fazer por nós.
Só podem ajudar-nos a vermo-nos,
e dar-nos a mão. E às vezes um novo olhar.
Mas só nós podemos abrir os olhos.

quinta-feira, 5 de março de 2020

[Alice Ruiz]

Vagamente.
Quase nada.

Há tantas vidas
numa vida.
E tão pouca 
nos entretantos

Sábios os que não esperam
e também não sentem,
sem saber.

quarta-feira, 4 de março de 2020

... e se não for, nós fazemos.
Tantas vezes de nada se faz alguma coisa.
Tantas vezes do que resta fica tudo.
Tudo o que não se pode, ou sequer consegue, perder,
a essência.
Tantas vezes o que temos é só o que precisamos, 
e nem sabemos.
Saber é talvez, tantas vezes,
o fim feliz com bons começos. Essenciais.


segunda-feira, 2 de março de 2020

... também a esta hora nada bate certo.... é muito cedo, quero dormir... buaaaaaa
E não me apetece esta semana, preciso de férias... buaaaaa
Apetece-me chorar não sei se já perceberam...
Sento-me no chão, em frente à janela e enquanto acendo um cigarro, oiço o vento e vejo-o nos braços das árvores, na chuva tombada antes de cair no chão. Há quem tenha medo das grandes chuvadas. Eu tenho medo do vento. O vento que uiva entre os espaços que invade e percorre e agarra tudo o que não tiver raízes; o vento que sopra a ira que nunca parece esgotar-se, quando parece que amaina vem uma rajada que quase nos tira os pés do chão. Arraste tudo, arrasa tudo, se para isso estiver disposto. Não parece o mesmo que nos afaga a pele e acaricia os cabelos quando respira sem ira e refresca o calor do sol. Tudo é sempre tanta coisa, de bom e de mau. Protegemo-nos do que temos medo, por trás das janelas, e procuramos  brisa fresca quando o calor aperta. Às vezes esqueço-me que a brisa também é vento, outras que o vento também é brisa. Outras quero esquecer, mesmo, mas não sei qual parte.

domingo, 1 de março de 2020

[foto @kate.simple.life]

Assim são sorrisos de bandeja :)...
...Das minhas preferidas...
...mas não gosto dos vários nomes que têm, deviam chamar-se domingos de manhã, acordares ou amanheceres... ou flocos de ternura, qualquer coisa com doçura e luz. E não precisam de ser só acompanhamento, podem ser servidos como prato principal para quem gostar da simplicidade, não para compor o ramo, mas como essência. Podem ser servidos de bandeja , ou sem, a qualquer hora do dia, sempre colherão sorrisos silvestres dos apreciadores... são doçura pura que só engorda a felicidade do momento  ;)

Sento-me aqui, à beira da noite molhada e parece que nada mudou. A mesma varanda, o mesmo cadeirão, os mesmos desenhos de sombras nas paredes, até a chuva parece dizer o mesmo que dantes dizia. Como se a noite não tivesse mudado, e no entanto tudo mudou. Já não digo à noite o que dizia, ela não me esmaga como já esmagou, já não me fala espantando o sono e chamando o mesmo exército de medos armados de angústias várias, e a luz já não me fere tão fundo. Fico aqui atenta à rua, aos sons, às sombras, e tudo por fora parece não conhecer o tempo, mas de dentro para fora tudo parece diferente. E não percebo, porque eu não mudei nada. Houve só coisas que desapareceram de onde nunca estiveram, nunca foram. Como se o mundo nunca as tivesse conhecido, sequer ouvido falar delas. O mundo está igual, lá fora, eu estou na mesma, cá dentro, mas nesse mundo imutável sinto que vejo tudo diferente. Só não sei se sinto diferente. Ou se já não sinto. Sento-me aqui, à beira da noite, como de um abismo onde sempre me deixo cair, e donde nunca caio.