sábado, 29 de setembro de 2018


Uma espécie de ronha.
Sábado de manhã, tarde, até quando for... era bom, fora dos sonhos. 

(não me apetece sair da cama, vou saltitando entre dormitar em sonhos bons e ler um livro, não me apetece sair daqui, mas o estômago está a dar uma de ditador... o sacana)
[foto @langlent]

A única solidão mal resolvida é a solidão acompanhada, de alguém ou de uma ausência. Não sei qual é a pior, mas sei qual seria a minha escolha. 
Tudo o resto, eu diria que é estar sozinho sem estar só, ou estar com alguém como se está sozinho, perfeitamente. Talvez se possa chamar a isso solidão bem resolvida, ainda que não lhe chamasse solidão. 
Estarmos sozinhos ou sentirmo-nos sozinhos, sós, não é, para mim, o mesmo. Como se a solidão precisasse dum sentimento de falta, até de nós mesmos, uma qualquer parte de nós que alguém traz na algibeira da alma sem saber e sem cuidado.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Milan Kundera, in A brincadeira

... uma imagem de nós mais real que nós próprios, uma imagem que não é a nossa sombra, mas sim nós a sua sombra. 
O que será então mais real? Ou o que será real? A imagem que passamos ou o que não deixamos transparecer nessa imagem? 
Tenho sempre, e sempre tive, a ideia de que o que somos é muitas vezes - a maior parte, provavelmente - o que não mostramos, não para enganar ou para parecer ter o que não temos ou somos - porque isso seria um projectar duma imagem demasiado arquitectada -, mas para nos protegermos. 
Acho que se nos habituarmos a viver só a imagem que damos quase esquecemos o que somos, tornamo-nos uma sombra do que se quer parecer e às vezes convencemo-nos de que somos assim. Porque achamos que o devíamos ser. 
Eu achei durante muito tempo que para gostarem de mim, para não desiludir ninguém, eu tinha de tentar ser uma mulher modelo, aquela que tem uma casa impecável, que dá, ou tenta, dar tudo de si para que a pessoa que tem ao lado seja feliz e viva como gostaria, tentar ser uma boa mãe, e parecer que tudo isso me fazia, também a mim, feliz. Não fazia. Não fez. Nunca fui uma mulher modelo ou o modelo de boa mãe, mais do que ter a casa aprovisionada e arrumada, eu gostava de ler, de pensar, de conversar, de passear-me quieta. E de escrever, o que deixei de fazer uns tempos antes de casar. Porque havia coisas mais importantes, achei. Mas somos o que somos, e tudo o que sou veio ao cimo de tudo isso. Preciso de escrever, tenho fome de conversar o que me faz pensar, sou desarrumada, e terrível dona de casa. Adoro mimo e sofá e silêncio com quem me sinto una e nua - sem medos nem vergonhas. Sou desorganizada mas preciso de lógica e de entender, de percorrer o fio entre a causa e o efeito. Mas sou também o que me fez viver como se fosse a imagem do que queria ser, sou a sua causa - e sou muito, muito disso. Talvez ainda, ainda que muito menos. E agora, ao menos, sei que há coisas que não me conseguem fazer feliz. Mesmo que tente.... e agora acho que felicidade não é tentarmos, a todo o custo, moldar-nos a ela, fazê-la, é ela moldar-se a nós, colar-se a nós sem que  sequer notemos a tempo,  é uma coisa que simplesmente acontece. Talvez depois do acaso de conhecê-la, só nos caiba o caso de mantê-la.
Hoje não sei que imagem passo de mim, não faço ideia. A imagem que se passa talvez mude, eu estou igual, na essência, no fundamental. No que sou e serei. Até no que fui.

[resgatado dos rascunhos, ainda do Kundera na sua Brincadeira...apeteceu-me depois do Impontual o "Nobelizar", aliás, Impontualizar, e bem, parece-me :) ]

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

...mas só se for mesmo uma consulta, e não demasiado prolongada... 
não vá eu passar a precisar de internamento...

[ a brincar, a brincar já deram hoje comigo a falar sozinha mais de uma vez... 
ainda que só coisas mui acertadas...]






quarta-feira, 26 de setembro de 2018

[via @iheartintelligence]

Eiaaaa... tantas notícias boas!!
Parece feito (quase) à minha medida...
Pode ser que haja esperança para mim... ;))

Bom dia!

domingo, 23 de setembro de 2018

O acaso da linha dum ombro acompanhar, um instante, a linha do tempo na pedra, uma ruga, um sulco - como o tempo a abordar a pele num acaso mal despercebido. Ou a pedra perfeita para o acaso de um ombro esquecido à beira-rio. 
Há linhas que se cruzam, outras que se cosem à força de não se soltarem, e há as que se alinham num acaso da sabedoria do caos. Apanham-se sem se saberem apanhadas, alinham-se sem arte ou ofício. Acontece. 
“Conhecia as regras do escrever, sem suspeitar as do amar; 
tinha orgias de latim e era virgem de mulheres.”

Machado de Assis, in Dom Casmurro 

Há gente assim, tanta, cheia de grandes orgias, lábia e lata, ou erudição e conhecimentos, mas tão virgem no amar. Nas pessoas, homens e mulheres, no darem-se, no entregar o que se é. No simplesmente ser e viver.
As pessoas que só sabem foder acabam fodidas. Normalmente com a vida, com elas, com tudo. A dúvida é se as que sabem, e querem, amar, acabam amadas. Gostava de acreditar que sim. Gostava.

[acabei com o Casmurro, venha o próximo]

“Assim, apanhados pela mãe, éramos dois e contrários, 
ela encobrindo com a palavra o que eu publicava pelo silêncio”

Machado de Assis, in Dom Casmurro

Há quem use as palavras, as frases, até os factos, para não dizer nada, para esconder debaixo de tudo, e cada coisa, a verdade; e há quem diga tudo, se revele, se confesse, se traia até, calando todas as palavras, na vã esperança de o silêncio nada dizer.

sábado, 22 de setembro de 2018

 
... a beber a noite.
 Copo a copo, lentamente,
como para enganar o tempo, que nunca é enganado...

“- Há letras inúteis e letras dispensáveis - dizia ele. - Que serviço diverso prestam o “d” e o “t” ? Têm quase o mesmo som. (...) Veja os algarismos: não há dois que façam o mesmo ofício; 4 é 4, e 7 é 7. E admite a beleza com que um 4 e um 7 formam esta coisa que se exprime por 11. Agora dobre 11 e terá 22; multiplique por igual número, dá 484, e assim por diante. Mas onde a perfeição é maior é no emprego do zero. O valor do zero é, em si mesmo, nada; mas o ofício deste sinal negativo é justamente aumentar. Um 5 sozinho é um 5; ponha-lhe dois 00, é 500”

Machado de Assis, in Dom Casmurro

Às vezes coisas sem grande nexo ou sentido aparente, entram na minha cabeça de outra maneira, como se atrás do que não diz nada se dissesse alguma coisa, alguma coisa tão clara que se deveria ver. Mas nem sempre vê. Nem sempre vemos o que temos à frente, ou ao lado. Podemos olhar, ou ler, mas ver mesmo, nem sempre vemos. 
Não sei se vi todas as pessoas que por mim passaram, vi algumas, sei que poucas ou nenhuma me viram. 
Mas o que fiquei a pensar, e  me fez fechar o livro, é como é triste viver (ou apenas conviver, ou até só trabalhar) com alguém que nos vê como zero, e não perceber que ao lado de quem (realmente) valha alguma coisa, juntos, se podia valer tanto, ser tanto... é que olharem e verem um zero é nada, mas verem o quanto juntos se pode ser, é também acharem-se no outro. Valerem com o outro num ganho que só fazem juntos.
Há muita gente a achar-se um zero porque são tratadas como valendo nada, um dia percebem que podem servir (ou que têm servido sem perceber) para aumentar os outros, e quando crescem só o aceitam se forem vistos como par. Não como ferramenta ou utilidade.

O zero pode ser nada, mas pode ser aquele pequeno nada que torna um num milhão.

[e agora vou ali ao rio refrescar a alma que o sol ferve no corpo... adorei aquele spot. Não gosto de repetir sítios onde fiquei, mas este sou capaz de um dia abrir uma excepção...]

sexta-feira, 21 de setembro de 2018



Balanço da tarde ;)))




De chávena na mão - que diz "Some fox loves you", prefiro Wolves, mas estas descoincidências são a história da minha vida... - empoleirada, depois do pequeno-almoço a servir de almoço, a beber o café que ontem demorei vinte minutos a ir buscar e duas horas para trazer. O sítio é paradisíaco mas chegar cá é uma espécie de inferno, e o gps e eu discutimos muito, ele pensa que eu ando de burro e não de carro (ainda por cima sou eu que pago os arranjos e coiso não posso dar cabo dele nem ficar atascada, ou enrascada mesmo, no meio do mato...), então discutimos muito. Mas eu sou gaja, ou seja tenho zero de sentido de orientação... o que complicou as coisas. Mas chegámos, de discussão em discussão, duas horas depois de fazer um caminho que, em sendo o certo, demoraria vinte minutos. Há muitas coisas assim na vida. Se calhar encontrar o paraíso na Terra, ao virar duma esquina improvável, por exemplo. 

(mas passada passada fiquei quando o carro no meio de sei lá de onde, só com árvores à volta, e sem vivalma que se avistasse, acendeu a luz do motor... Valhamedeus, quase reaprendi a rezar... e acho que rezei, mas sem protocolos...)

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Às vezes à noite há um grilo que se manifesta, durante o dia os pássaros conversam entre o silêncio do rio, que nunca se cala.
O som é sempre o mesmo, contínuo, o rio corre como se corresse sempre da mesma maneira. Como se tudo fosse o mesmo tempo, ou não houvesse tempo, não houvesse tempos. Não aqui. A manhã como a tarde como a noite. Como se por trás de tudo o que se vê estivesse algo imutável, sempre, que segura e acolhe todas as mudanças, sem mudar. Ainda que nada se repita. Nem o tempo. Nem o rio.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Eheheh
... de tacha arreganhada...
Quase eu...
...finalmente é sábado, bora lá... ;)))

segunda-feira, 17 de setembro de 2018


[foto @tarasovm]

Fugir para o longe que nos aconchega
Fugir para onde sozinhos estamos menos sós.
Fugir para onde a solidão não tem espelhos que devolvem o que nos falta
Fugir para onde o silêncio nos mima e a escuridão nos dá a mão
Fugir para um sítio onde ninguém nos tira as dores, mas não nos afia as feridas.
Fugir para onde nos chegamos regressados.

[em contagem decrescente... quero pirar-me daqui. tanto. parece que os kms a percorrer já me fazem cócegas na pele]

sábado, 15 de setembro de 2018

Deve ser impossível acordar mal com a vida num cenário destes.
... e o tanto que me apetece isto... 
quanto menos tempo falta mais longe me parece,  
 a vontade aumenta mais e mais rápido do que o tempo passa...
Aguentar mais um bocadinho... 
e depois lá vou eu para dias de paradeiro desconhecido... 
ahhh coisa tão boa, já sinto tanta falta do silêncio em sossego.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

[via @33thirdmedia]

As cicatrizes fazem-nos a espinha. 
Não tem de ser feio, não temos de ficar pessoas feias ou vazias ou amargas. Não temos, e não devemos deixar, mas podemos mudar de águas e continuar a nadar, corrente acima, corrente abaixo. Deixarmo-nos só boiar, às vezes, também é bom... 

Bom dia!

quarta-feira, 12 de setembro de 2018


Estou tão preguiçosa de escrever. Não me apetece, penso nisso e deixo esse pensamento pousado nalgum sítio a ganhar pó, há coisas em que penso, outras que sinto, e que noutras alturas dariam coisas escritas. Agora não me apetece, as palavras são demasiado líquidas para as tentar agarrar, seria preciso muita paciência, muita vontade de pôr preto no branco, ou branco no preto - de me desfiar e discernir. Mas não sinto essa necessidade, como se sentisse que não tenho em mim já nada para discernir, compreender ou dizer.  Como se eu estivesse concluída. Feita, resolvida. Não sei, qualquer coisa com uma sensação fechada, de escuridão cerrada que já nem se fere com a luz, ou de luz que sabe das sombras e as aconchega. Estou meia apática e quase paralisada, não sinto grande coisa e não me mexo para lado algum. E parece uma benção. Estranhamente abençoada é como me sinto. Tenho a sensação de estar a conseguir viver a vida só em partes de mim, plenas em si mas esquartejadas dum todo, como se algum fecho estanque tivesse descido e produzido um clique. Como um fecho de segurança (realmente, por segurança, talvez, agora que penso nisso). Era isso ou enlouquecer. Mais ainda.
E comecei a escrever, aqui, hoje, porque dei por mim a pensar no último livro que li, e a esplanada onde o li nalgumas manhãs, e faltaram-me as palavras onde soletrar essa tranquilidade dos barquinhos que me navegavam o olhar parado. E o livro, tanto que me fez pensar, na importância dos erros, ou melhor, na total irrelevância dos erros. Porque não há justiça, não há o reparar erros, não há significados implícitos ou truncados nas asneiras que fazemos, mesmo que as façamos de coração. Não, nada disso, tal como não há castigos. Há vida e os erros são meros passos, tal como todos aqueles que não são. Têm consequências relevantes uns, outros não - sendo erros ou não. Justiça não há, a lógica é totalmente inexistente, não nos prendamos a isso, e não entendamos o que nos acontece como castigo ou como significante, porque não há justiça, logo, não há castigos nem um qualquer equilíbrio devido ou por devir. Há vida. Mais nada. Há vivê-la, se tanto conseguirmos. Mesmo que só em partes de nós. Como eu. Agora. Porque isto é tudo uma brincadeira, e tão bem Kundera mo mostrou. 

terça-feira, 11 de setembro de 2018


Duas garrafas de vinho tinto, do bom, depois aterro na cama e resumo a noite como a viragem entre o chegar a casa com a sensação que a vida não tem grande sentido, e achar que uma pessoa que conheci há oito anos numa situação engraçada é hoje um bom amigo com quem partilho valores e princípios, ( e garrafas de bom vinho que traz debaixo do braço, quando passa aqui pelo burgo, e às vezes um jantar como há umas noites atrás) uma pessoa que admiro e acompanho, de quem gosto, e que de repente faz parecer com que acasos muitas vezes sejam casos de muito sentido. Ou de se tornarem com muito sentido, só temos de deixar o tempo fazer a sua magia, e as pessoas serem quem são. Ouvi coisas que gostei, que me tocaram verdadeiramente, coisas em grande, que não sei onde as desenterrou ou  pensa que as foi buscar, mas eu registei, e tocou-me. Não tinha como não. Dizer-me que só não sou namorada dele porque não quero e ele entende porque sou trabalho para tempo inteiro e ele está longe, não me toca ou diz nem metade do que deixou escapar.
Deixa-me uma sensação boa, que não sei explicar, saber que há no mundo meia dúzia de pessoas (não mais e talvez nem tantos) que se eu morresse amanhã tentaria dizer, contar, explicar à minha filha a mulher que eu tentei ser, que eu gostaria de ser. Mesmo que não tenha chegado a ser, a não ser aos olhos de meia dúzia de pessoas (não mais e talvez nem tantos). Não sei o que faço para algumas pessoas me dizerem sobre mim coisas que não só me surpreendem como não sei onde as vão fundamentar. Mas essa era a mulher que eu realmente gostava de conseguir ser. Sempre. Em tudo. Mas sei que não sou. Sei, isso sei, que pelo menos há pessoas que têm a certeza que podem contar comigo e que confiam em mim, em como sou. E isso é tão bom e reconfortante. No meio do caos da minha vida de repente há um desnorte que ganha uma bússola. Um sentido. Um qualquer porquê. E eu sou uma pessoa de porquês... acabo a noite melhor do que a comecei. E isso é bom. E o vinho também era. Muito.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018


- o que é que te falta?
- tudo o que está aí dentro...

E ela ficou a pensar naquela resposta. Tão clara. Tão verdadeira.
Realmente deve ser isso, ela percebeu que ele verdadeiramente tinha toda a razão, sem sequer saber... Ele sente a falta dele. Dele inteiro, da alma dele que ela trazia entranhada, emaranhada na sua.
Percebeu ali, naquele instante de meio sorriso, que ela não estaria alguma vez entranhada nele, era apenas a sua droga, o seu vício, o seu porto de abrigo em épocas de tempestade, o calor nos tempos frios, era o seu alimento de ego e auto estima. E o sarcasmo, a ironia daquilo de que se apercebia, deu-lhe o outro meio sorriso quando lhe veio à ideia e à boca pelo lado de dentro, que sabia também haver disso em comprimidos...

quarta-feira, 5 de setembro de 2018


Há títulos que se puxam sozinhos da prateleira, ou assim me pareceu. Isso e “as memórias das pancadas do coração naquele instante”, a emoção de cada primeiro amor (ainda assim espero, não sempre, mas às vezes). Todos são o primeiro amor para sempre, não é? Talvez o verdadeiro seja o último, e por isso, verdadeiramente o primeiro. 
Vamos lá ser casmurros juntos durante uns tempos...

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Milan Kundera, A Brincadeira
Parece, às vezes, para algumas pessoas, que apesar de tudo hão-de ser compreendidas e por isso perdoadas. E muitas vezes assim é, mas não sempre, não para sempre. E muitas dessas vezes estas pessoas não tentam compreender quem querem que os compreenda, como se só eles existissem ou importassem ou sentissem. Um dia, que às vezes chega, as pessoas que sempre tentam compreender e perdoar tudo, mudam de morada. Outras vezes fingem não saber ou perdoar porque não sabem mudar, e perdoar ou fingir é só um evitar tomar consciência que existem abaixo da linha de água do viver. Debaixo de uma mão, de que não se libertam,  que os empurra e mantém lá.
A Brincadeira acabou.
Venha o próximo.

domingo, 2 de setembro de 2018