terça-feira, 7 de novembro de 2023

[foto @peterwyss]

 Bem sei que dizem que é novembro. Mas a mim já me sabe a dezembro. Não sei porquê, talvez os enfeites precoces de natal que já não suporto e que dantes gostava tanto, ou o frio ter entrado assim de rompante, sem se fazer anunciar. Sem ficar à porta uns tempos enquanto nos habituamos ao empalidecer do sol como dum doce que queremos poupar, mas acaba. Gosto do inverno, mas a minha estação é o outono, é aí que me sinto mais em casa, e que mais me apetece ficar em casa, comigo e  gozar as primeiras chuvas como beijos lentos que se saboreiam devagar e repetidamente. As cores para ir vendo pela janela ou para estalar debaixo dos pés, aqueles tons que aquecem o espírito e puxam sorrisos, enquanto o nariz se começa habituar a gelar devagarinho. A lareira passa a ser um sonho que podemos viver e o chá o melhor companheiro para um bom filme ou livro. É a estação da melancolia, e alguns dizem-no como se fosse mau. Como se alguma vez pudesse ser má a doçura da meia luz que nunca fere, ou a ternura das cores quentes. O cheiro da primeira terra molhada. Eu devo ser feita de outono e a estação está nítidamente em extinção. Não sei que pense disso. Não sei.