segunda-feira, 23 de maio de 2022


 Bom conselho. Acho que a moça tem razão... se não for antes de sair de casa, acho que no carro enquanto o semáforo não cai em si também é um bom começo de conversa com o dia... :)
Dançar é sempre uma boa solução, ou um bom começo para qualquer coisa, ou o melhor fecho para momentos que ficam. 
Dancemos enquanto a alma ainda ouvir...

Bom dia!

quarta-feira, 18 de maio de 2022


Dos sorrisos 
Da cumplicidade.
Do aconchego.
Do adormecer aninhado.
Da proximidade que não é invasão.
Do amor, mesmo que estranho.
Do não ser estranho amar.
Do amar não ser estranho.

quarta-feira, 11 de maio de 2022

 Aqui o céu ainda não acordou, está sonolento e sem cor, mas o dia promete calor nas previsões do telefone esperto. Paro no semáforo e reparo que estão a vestir com a coleção da nova estação aquele canteiro onde há tempos presenciei a paixão em movimento. Um mocinho apaixonado, sai do carro a correr para ir arrancar uma flor amarela como o sol que agora falta no céu, e correr outra vez para o carro. Não lhe vi a cara, mas sempre que penso nele acho que teria um sorriso sem tamanho que o rosto pudesse comportar. Será que ainda sorri? E sorrio eu a pensar em tudo isto. E o semáforo vira verde. Bom dia! Temos de acordar o céu :)

segunda-feira, 9 de maio de 2022



 O antes e o depois. 

Ohh mãe estas cores no meu quarto já são muito infantis... e então, tal como há alguns anos atrás, com uma cómoda, uma caminha de grades e uns espelhos em madeira em bruto que resolvi pintar com as próprias mãos - manias de querer coisas “com alma” e gostar de as fazer... - resolvi tirar uma semana de férias para lhe tratar do quarto. Regressadas do fim‑de‑semana estrelado no Alentejo, pus mãos à obra. Comprei abat-jours e tapetes, empoleirei-me em cima dum banco em cima da cama para passar de dois candeeiros a um, e não morri: nem de queda, nem de choque (desliguei o quadro geral, pois)... e olhem que não foi fácil voltar a ligar os fios, mas ficou feito, com a minha filha a agarrar-me as pernas para cairmos mais aconchegadinhas caso fosse dar-se essa eventualidade macaca... findo a parte “fácil” do processo foi pegar na nova companheira de guerra comprada para o efeito e ficar lixadinha da vida a lixar a cómoda para acomodar cores “mais adultas”. Uma dor no polegar e pulso depois, temos tudo lixado - o que convenhamos não é novidade, só não costuma deixar-me a mão direita meio inutilizada para a vida... - então começa a parte mais gira de pintar. Ainda por cima ia experimentar uma técnica que nunca tinha experimentado nestas lides - stencil. As primeiras saíram uma cagada, nos espelhos - cobaias - que dantes eram de cores alegres e vivas, mas que foram mais rápidos de lixar... há casos assim... é a vida! No último espelho a técnica maravilha, combinação das várias que tinha pesquisado, estava descoberta :) ! Portanto hoje depois duma caminhada com a tracção às quatro que me soube pela vida - e ainda tive um carro a parar ao meu lado e a afirmar muito convictamente: “que belo animal” e eu agradecer mas não saber bem se tinha sido um elogio para a bela cadela, ou um insulto velado para mim... fica a dúvida - lá consegui terminar a empreitada!! E gostei do resultado. Gostei. Adoro fazer estas coisas. Estou com as mãos numa lástima, é certo, mas gosto. Embrenho-me nisto, ponho música ou as vezes até me esqueço, e ponho-me a fazer coisas que me saem das mãos, mas me nascem muito mais dentro. Gosto e gostei que depois do trabalho de uma semana de férias, e todas as horas livres da semana de trabalho seguinte, tudo estivesse pronto na véspera de aniversário. Que por acaso - ou não tanto, há coisas que a razão apenas desconhece...- é dia de aniversário do meu pai. Sim, a minha vida é uma tourada, muitos touros na arena, eu sei... e então foi todo um outro corrupio, mas tudo se fez. E agora estou aqui, em frente ao último copo deste vinho que adoro, a fazer um resumo do dia, das emoções e da trabalheira das duas últimas semanas, com as mãos a precisar de creme e as unhas de verniz e eu... eu de acabar o copo de vinho, de que bebi toda a garrafa... menos um copo e meio que bebeu o aniversariante. E ele deu conta. Que eu bebi o resto tudo, quer isto dizer... vou dormir bem é o que é, mas eu mereço! :) e amanhã, amanhã tenho uma filha com 16 anos. Não me acordem, por favor.

sábado, 7 de maio de 2022

 Deito-me com a estranha sensação de estar poisada no sorriso branco e cúmplice da lua, e enrolada no manto negro costurado de estrelas que trouxe do Alentejo. Como um sorriso que só nos entendemos, sem conseguir explicar. Como a estranha sensação que me abraça sem braços, que me envolve como quem paira por dentro, sem licença ou aviso. Como uma esperança com medo de ser que já respira. E não é que esta estranheza me seja estranha, mas é estranha a sensação de quase me ser conhecida, e quase esquecida... como quem reconhece ao longe um velho conhecido que já nos foi tão perto, e nos lembrarmos que já não nos lembrávamos dele, mas que reconhecemos. Ainda. 
Ou então foram as duas garrafas de vinho, as gargalhadas, a companhia, não sei. Do outro lado da janela, enquanto fumava o último cigarro às escuras da luz da lua, ela sorria-me, mas não me disse... mas sabia, tinha todo o ar disso, penso agora. Estava com ar de gozo a danada. 

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Antonio Barahona

 Agora volta-se para casa sem eternidades no bolso e cheios de tempo para apagar. A paixão tem esse sangue que nos faz pulsar de vida, deixando-nos ao mesmo tempo sem ideia do marchar do tempo, como se tudo fosse agora, como se tudo se reduzisse ao agora, e o agora fosse pleno, de passado e futuro. Tudo agora, já. Mas neste momento, o tempo é indistinto de ontem ou amanhã, e o agora é só uma espera na transição do que não muda, ou chega. Meras folhas de calendário rabiscadas de marasmos quotidianos que não ficam para contar nenhuma história. Então entretemo-nos a ver o sol descer o céu, as árvores a acenar ao vento e a escrever sobre eternidades perdidas nos sítios onde foram agoras, sempre.