quarta-feira, 22 de setembro de 2021

[@davidbenolielphotography]

Quando bruscamente, nas trevas da noite,
Ouvires passar o tropel invisível das vozes puras,
O coro celeste das sublimes harmonias,
Abandonado definitivamente pela fortuna,
Desfeitas em pó as últimas esperanças,
Esvaída em fumo uma vida de desejo.
Ah! não sucumbas lastimando um passado
Que te traiu, mas como um homem
Que se prepara há muito tempo,
Despede-te corajosamente
De Alexandria que te abandona.
Não te deixes iludir e não digas
Que foi sonho ou um logro dos teus sentidos,
Deixa as súplicas e os lamentos para os poltrões,
Abandona vãs esperanças.
E como um homem que se prepara há muito tempo,
Resignado, altivo, como te compete
E a uma cidade como esta,
Abre a janela e olha para a rua
E bebe a taça inteira da amargura
E a derradeira embriaguez da multidão mística
E despede-te de Alexandria que te abandona.

Konstandinos Kavafis
[justine, lawrence durrell]


não é Alexandria que te abandona
as noites, os cheiros, o desejo,
os sonhos em vão
és tu que deixas que te abandonem
que o pedes, que o provocas
foste, sem saber, há muito,
quem a abandonou
quando já não a distinguias de ti
se ela estava em ti, ou tu nela
se te inebriava, ou se te querias inebriar dela
se ela te envolvia, ou se te envolvias com ela
se a amavas, ou amavas como a amavas
tão única como o amor que lhe tinhas,
que tinhas

envolvente de tão intensa
embriagas de desejo
não abandonas
preparas-te para que Alexandria 
te abandone
e fiques nela onde fores
o que Alexandria tinha de ti
era teu
sempre foi 
só teu
o sonho, o cheiro, o desejo
as noite que agora te não cegam,
e vês o tempo 
e tão longe já Alexandria,
um amor como os outros

não abandonas,,
nunca abandonaste
nunca se abandona onde já não se está.

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