quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

 Neste final de dia, debaixo duma árvore despida com o frio a entrar pela janela, dou por mim a pensar que ando afastada de escrever. Ou talvez não, talvez não seja isso, talvez ande a afastar-me de me ler. Porque uma coisa leva à outra. Dou por mim nestas últimas semanas a repetir a frase “ a única coisa que sei fazer é trabalhar” para evitar o resto tudo. A vida talvez, ou o que não queríamos que ela fosse, mas perante isso só sabemos fazer uma coisa: trabalhar para gastar o tempo que não gastamos como gostaríamos. E talvez isso seja a vida, ou só uma forma de mediocridade a que nos habituamos. Mas não paramos para pensar para não o concluir. Carro parado, a respirar o frio que o isolamento não me deixava experimentar fora de casa. E de certa forma já nem sei se sentia falta. Às vezes o mundo fecha-se, ou nós fechamo-nos e dizemos que foi ele, as circunstâncias e o contexto e … e… mas parte seremos nós a fechar, a perder interesse. A passar o dia a trabalhar para não o perceber. Porque perante tudo isto, a única coisa que sabemos fazer é enfiar a cabeça no trabalho, e depois na cama. É certo que depois os sonhos tramam-nos, porque a única coisa que eles sabem fazer é trabalhar-nos, ou seja, sonhar. 

[Mas disso não vou falar agora, mesmo tendo um sonho a perseguir-me desde o fim‑de‑semana. Escrever… dá nisto, faz assentar-nos na pele, no olhar, na maldita consciência, o que anda em suspensão nas entrelinhas curtas, muito curtas dos dias.]

4 comentários:

  1. Se a vida fosse suficiente, a escrita não era necessário já dizia o poeta :)

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  2. "É certo que depois os sonhos tramam-nos, porque a única coisa que eles sabem fazer é trabalhar-nos, ou seja, sonhar."
    Nem todos os sonhos são bons, mas os que são seria muito bom serem reais, não era Vi';)

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    1. Se calhar até os que não são bons servem para trabalharmos medos, ou para nos alertar para algumas coisas... acho que arranjam sempre maneira de nos ir "trabalhando". Os bons, ora dos bons é pena acordar, principalmente para uma realidade onde não se vivem.
      Boa semana, Legionário :)

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