segunda-feira, 24 de abril de 2017


Uma aprendizagem ou o Livro dos prazeres, Clarice Lispector

Será real, possível, escolher-se a mediocridade por se ter medo da felicidade?? Será que isto existe mesmo? Será que se consegue escolher a infelicidade? Escolher mesmo, em consciência? Isso não será contra todo o instinto de sobrevivência? Contra toda a essência?
Ou à sobrevivência chamam a intenção de evitar uma dor insuportável, que é a de conjugar a felicidade no passado e ainda lhe sentir o gosto doce a apodrecer na boca? E por isso preferir a mediocridade, desculpando-se com a sobrevivência. E essa mediocridade não será insuportavelmente dolorosa? 

[Não acredito, acredito que por sobrevivência, em tendo escolha, se escolhe sempre o que achamos fazer-nos mais felizes.]

4 comentários:

  1. Ter um sonho e um objectivo é a nossa base de sobrevivência... afinal, quem não luta pelo que quer, perde o sabor da vitória. E, ninguém se sente completo com tão "pouco".

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    1. O que me salta à vista na tua frase é a minha discordância por se lutar pelo que se quer pelo sabor a vitória, não acho, acho que se luta pelo que se quer por isso mesmo por o querermos, se o importante for o sabor a vitória deixam de importar os meios para lá chegar, e até o conseguir o que se diz que se quer parece afinal estar num segundo plano, não o principal... isso mete-me alguma confusão confesso. Há coisas que prefiro perder do que perder-me nos caminhos pela vontade de chegar a uma qualquer vitória...
      Mas no resto, sim, é preciso um sonho para caminhar, mas não fugir quando estivermos ao seu alcance... por medo de vir a ser infeliz com a perda... :)
      Bom dia, Legionário

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  2. acontece que escolhendo sempre o que achamos que nos faz feliz, não quer dizer que não estejamos a caminhar para a mediocridade e infelicidade...

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    1. Concordo, nem me atrevo a argumentar... mas a (minha) questão é que escolhes sempre o que entendes fazer-te mais feliz... ninguém (acho eu), por muito racional que seja (ou queira parecer), escolhe a mediocridade face a uma hipótese de ser feliz, como diz o texto:
      "...minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta. Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade." - é nisto que não acredito, e aliás o livro dá-me razão, ela não resiste. :)
      A felicidade tem aquele gosto inebriante e viciante que não se controla, por isso acho que quando se sente, tudo o resto é esmagado ou quase, e não se consegue contrariar. Ou eu não acredito nisso, acredito que escolhemos sempre o caminho que achamos que nos irá levar precisamente a esse ponto, ou à continuação de o sentir.
      Ninguém, acho eu, escolhe a mediocridade, ainda que as escolhas possam levar à mediocridade (ou então eu ainda não percebi bem como funcionam essas criaturas apelidadas de seres humanos...).

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