sexta-feira, 21 de abril de 2017




Almoço com escapatória na vista. 
Escapar de quê?
Escapar para onde?
Tenho de voltar a apaziguar-me depois de tantas constatações e clarividências e sonhos reveladores de verdades sabidas e não sentidas até agora. Tenho de voltar ao antes com os olhos do depois, com que agora olho tudo. Tenho de voltar a arredar sentimentos com a força do pensar, e arredar pensamentos na força do sentir, como se arredam móveis para limpezas mais fundas, para apagar as provas do tempo que passou e se esqueceu de ser, de nos ser.
Ocupar a cabeça, limpar anos inteiros e afastar palavras antigas embrulhadas em papel de rebuçado, que afinal são doces baratos para todas as mãos. Mas não é novidade. Nada é novidade. Não há novidades que se aproveitem nos dias. Nao, não posso dizer isto, é injusto, algumas novidades vão sendo boas, por não piorarem nada, por serem bons sinais e nos deixarem poisar e respirar um pouco. Há coisas boas. Que há. Pena haver ainda tantas más agarradas ao sangue que sente e circula vezes sem conta por dia, pelo corpo acima, pela alma abaixo. Precisava de purgar a vida disto tudo. Ou talvez ela mesma o faça. As palavras só já não chegam, precisava de mais, de muito mais, que é tão pouco.

2 comentários:

  1. “O quotidiano contém em si o abuso do quotidiano: o quotidiano tem a tragédia do tédio da repetição. Mas há uma escapatória: é que a grande realidade é fora de série, como um sonho nas entranhas do dia.” Clarice Lispector

    Bom fim-de-semana, com escapatórias Vi:))

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    1. Escapatória era mesmo o que hoje eu precisava, uma escapatória deste dia, deste mês na verdade, isso era capaz de melhorar, isso era capaz de ser fora de serie...
      Bom fim de semana, Legionário. :)

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