"Sabes, ainda vejo.
Aquele indicador esticado, a enrolar e a desenrolar, o cabelo negro, enquanto lês O. Wilde no sofá, a mostrares as pernas, dobradas, com a minha camisa vestida.
Sabes, ainda vejo.
Aquele olhar, verde, penetrante, cortante, as pupilas dilatadas, as pestanas ainda maiores, que só acabava no quarto, com um suspiro.
Sabes, ainda vejo.
O morder do lábio, em gesto nervoso, sedutor, de quem me quer falar, confidenciar, um pensamento ou um desejo.
Sabes, ainda vejo.
O sorriso, maroto, terno, em busca da minha indignação porque não sabes comer esparguete.
Sabes, ainda vejo.
A pasta dos dentes aberta, porque tu nunca, mas mesmo nunca, a fechavas.
Sabes, ainda vejo.
E sinto. As tuas mãos no meu rosto, quando eu definhava, e tu, fria e assertiva, me gritavas "viver é a coisa mais rara do mundo, a maioria das pessoas apenas existe.", do teu querido O. Wilde.
Sabes, ainda vejo.
Os dias que eu nada dizia, ou quando por tudo, ou por nada, tu vias-me, tu sabias adivinhar o meu pensar, e fazias gala nisso.
Sabes, quando o teu cabelo passou a negro brilhante, o verde dos olhos ficou maior. Sabes, só de olhar-te, a dormir, como dormem os deuses, eu tinha tudo.
Sabes, é claro de sabes. Afinal dei-te tudo.
Sabes como sei? Porque não esqueço, que o que escrevi, disseste-me tu ao ouvido sobre mim, no dia que partiste.
É curioso. Sabemos que estamos perante uma das mulheres da nossa vida, como amiga, ou amante, quando lhe reconhecemos as pequenas coisas do dia-a-dia, e gostamos dos seus pequenos gestos e trejeitos.
Sabemos da importância de alguém, quando esse alguém, nos olha, e sabe, sem nada dizermos, o que se passa cá dentro, o que nos corre no íntimo, sem ser água ou sangue."
conta corrente (aqui), in como olho e as vejo
(lá saiu dos rascunhos, CC)
(lá saiu dos rascunhos, CC)
" só de olhar-te, a dormir, como dormem os deuses, eu tinha tudo"...
...mas sabes, nunca tive nada. Nada de ti, nada teu, nada que me quisesses dar, a não ser o lugar de alguém que tinha tudo só de olhar-te dormir, não tendo nada, não querendo mais nada.
Sabes, estou forrada de memórias de pequenas coisas, em que cada uma é maior que eu, cada uma dessas pequenas coisas, mal me cabe se as recordo,
...mas sabes, nenhuma és tu, nenhuma é tua, nenhuma é sequer pedaço de ti, são todas minhas, em que te imaginei do tamanho dessas pequenas memórias que me forram e transbordam, em que a mais pequena mal me cabe de tão inteira - ou de tão inteira me fazer.
Sabes, eu sempre te disse que fui tua, que desde que tu és tu para mim, sempre fui tua,
...mas sabes, não fui, eu fui de quem me entreguei sem saber, quem me foi tomando o olhar e a pele sem licença, e sem dar conta de não ser precisa licença para me invadires - porque de tão meu, deixei-te entrar como se fosses. Meu. Como eu.
Sabes, o tamanho das coisas que vemos está no nosso olhar, e os meus olhos a ti viram as tuas pequenas coisas com a imaginação do que nunca foste, nem fizeste, nem quiseste fazer,
... mas sabes, fizeste-me sentir - o avesso escondido dos teus pequenos gestos, das tuas pequenas doces sombras, foram-me sempre enormes, avassaladoras de vida. Foram-me tudo o que tu me eras. Agora já não sinto que sinto.
Sabes, às vezes, ainda sou dessa imaginação, ainda sou uma das mulheres da tua vida, aquela de quem notavas os pequenos jeitos e trejeitos, como eu ainda vejo aqueles que em ti imaginei,
...mas sabes, disseste-me que podia ter sido a mulher da tua vida, podia... se podia, falhaste em imaginar o mesmo que eu, não me sentiste como te senti, como se tu já fosses parte de mim antes de nós, e sempre continuasses a ser, porque não havia depois. Não havia depois de nós. Não havia, mas houve, mas há.
Sabes ainda me pergunto o que imaginavas tu, quando, no silêncio, eu imaginava que te adivinhava e me adivinhavas só por nos olharmos,
...mas sabes, o que vemos é do tamanho do nosso olhar e tu nunca me chegaste a ver.
...mas sabes, nunca tive nada. Nada de ti, nada teu, nada que me quisesses dar, a não ser o lugar de alguém que tinha tudo só de olhar-te dormir, não tendo nada, não querendo mais nada.
Sabes, estou forrada de memórias de pequenas coisas, em que cada uma é maior que eu, cada uma dessas pequenas coisas, mal me cabe se as recordo,
...mas sabes, nenhuma és tu, nenhuma é tua, nenhuma é sequer pedaço de ti, são todas minhas, em que te imaginei do tamanho dessas pequenas memórias que me forram e transbordam, em que a mais pequena mal me cabe de tão inteira - ou de tão inteira me fazer.
Sabes, eu sempre te disse que fui tua, que desde que tu és tu para mim, sempre fui tua,
...mas sabes, não fui, eu fui de quem me entreguei sem saber, quem me foi tomando o olhar e a pele sem licença, e sem dar conta de não ser precisa licença para me invadires - porque de tão meu, deixei-te entrar como se fosses. Meu. Como eu.
Sabes, o tamanho das coisas que vemos está no nosso olhar, e os meus olhos a ti viram as tuas pequenas coisas com a imaginação do que nunca foste, nem fizeste, nem quiseste fazer,
... mas sabes, fizeste-me sentir - o avesso escondido dos teus pequenos gestos, das tuas pequenas doces sombras, foram-me sempre enormes, avassaladoras de vida. Foram-me tudo o que tu me eras. Agora já não sinto que sinto.
Sabes, às vezes, ainda sou dessa imaginação, ainda sou uma das mulheres da tua vida, aquela de quem notavas os pequenos jeitos e trejeitos, como eu ainda vejo aqueles que em ti imaginei,
...mas sabes, disseste-me que podia ter sido a mulher da tua vida, podia... se podia, falhaste em imaginar o mesmo que eu, não me sentiste como te senti, como se tu já fosses parte de mim antes de nós, e sempre continuasses a ser, porque não havia depois. Não havia depois de nós. Não havia, mas houve, mas há.
Sabes ainda me pergunto o que imaginavas tu, quando, no silêncio, eu imaginava que te adivinhava e me adivinhavas só por nos olharmos,
...mas sabes, o que vemos é do tamanho do nosso olhar e tu nunca me chegaste a ver.
ResponderEliminarSabes, às vezes até o impossível acontece. Acho mesmo que sim... Ou então, o mais provável é ser eu uma eterna sonhadora sem emenda. É que quase o vejo: a alma dele voa para o teu lado só para te ver dormir.
Beijo doce Vi
:)
nanda
Ai...Nanda, és mesmo uma eterna sonhadora, e ainda bem, admiro-te isso, muito :).... Mas já nada dele voa para mim, voou de mim, isso sim, e já não sou uma sonhadora, emendei-me, alguém me emendou, alguém que não me vela o sono...
EliminarBeijo, querida nanda :)
Acontece que nem sei o que te dizer :)
ResponderEliminarObrigado, sinceramente.
Acontece que tinhas razão sobre a foto, está ali tão bem.
Sabes que as tuas palavras a seguir às minhas, são fortes e sentidas, e que por vezes há histórias assim.
Sabes que gosto de te ler, e acontece que gosto de gostar de te ler :)
Beijo Vi
... As vezes há coisas que acontecem :)
EliminarE como disseste não há lugar a agradecimentos, e sim, acho a foto linda demais... E tão ajustada ao teu texto. Que adorei. Que me tocou, que tive de roubar :)
Beijo, CC