quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

"No sé tu nombre, sólo sé la mirada con que me lo dices"

Mario Benedetti

...porque há nomes que se chamam sem falar, e chamamentos que se sentem sem terem de ser ouvidos. Porque há conversas em silêncio numa língua que ninguém fala e poucos entendem. Conversas onde não há ruído ou mal-entendidos, onde nada se entende com a razão e tudo se sente percebido. Tudo se percebe sentindo - sabe-se porque se sente, só.

[escrevi isto a meio da noite, porque não me largava, como não me larga a contradição de saber isto, sentir isto, e saber que o que se sente saber muitas das vezes está errado. pelo menos é o que me acontece a mim, mas sei que é possível - se eu o sinto, mais haverá que o sentem, que o sabem por sentir, e se entregam assim, apenas por sentir. Espero que nem todos se reduzam a cacos como eu. Ainda assim, faria tudo de novo. Há cacos que são relíquias e há cacos que são lixo para descartar. Eu prezo as minhas cicatrizes, lembram-me o que vivi, o que deveria ter aprendido, as lições que não aprendi logo, que desafiei arriscando mais cicatrizes, dores e mágoas. Descobri ilusões no sítio das verdades, que viraram cacos e cicatrizes de alma.. Todos as temos, há quem as negue, as esconda, as tape, eu rego-as para algo florescer no meio da tristeza. Um dia algo há-de nascer, algo para além destas palavras que me nascem dentro e saem dos dedos, algo para além de passado, de futuro ausente, órfão de presente. Um dia terei um presente presente, cheio de futuro dentro dum olhar poisado num horizonte que dá as mãos. Se não tiver, não foi por ter fugido dele. Também não o persigo, porque há coisas que só podem ser fruto de um encontro, de um olhar recíproco, que não se procura e não se persegue. E isso eu posso perdoar-me, fugir não. ]

6 comentários:

  1. e esse teu presente respirará bem o passado e mil futuros que venham, Olvido.
    um noite boa para ti.

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  2. há poucos dias escrevi que as minhas cicatrizes, embora doridas, são belas, e não as trocava por nada, porque delas florescem vida com aromas jasmim.

    temos tantas conversas em silêncio, que o próprio silêncio nem acredita que as temos dentro de nós!


    boa noite

    -____-

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  3. Laura,
    Bem o espero, só o espero há demasiado, a ponto de já não esperar grande coisa de nada.
    Há dias piores que outros, amanhã será melhor... Espero eu, ainda.
    Boa noite para ti :)

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  4. :)
    É engraçado como às vezes leio coisas tuas e me reconheço.
    Hoje já penso menos, ou sinto menos, a beleza das marcas da vida que não cresceu como eu gostaria, mas quando escrevi isto, que já parece que foi noutra vida, acreditava muito nisso...Que podia nascer beleza, e sustê-la, depois das cicatrizes amadurecerem e fecharem. Hoje já não sou tão romântica se calhar...
    Boa noite, Moonchild

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  5. Os budistas têm uma filosofia de desapego para isto. Funciona. Mas também acredito que há que ter orgulho na nossa história.

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  6. Sim, há uma filosofia de desapego que me parece muito prática e proveitosa, eu é que não a consigo pôr em prática, pelo menos até agora.
    Orgulho na nossa história pode nem sempre se ter, mas aprendizagem penso que é seguro dizer que há sempre, e ainda bem.
    Bem vindo António, :)

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