terça-feira, 3 de janeiro de 2017


[foto: @_mylight_]

Hoje li, num dos blogs que gosto de ler (o de dentro para fora), um diálogo entre uma menina bonita - como lhe chamaram, e eu concordo - e alguém que tem um nome capícua, o que diz muito se calhar, porque pode-se ler da frente para trás e de trás para a frente: é consistente, olhe-se por onde se olhar vê-se o mesmo, lê-se o mesmo (eu gosto muito de capícuas, pronto, sou suspeita, admito). E ao lê-la tem-se a noção de haver ali a solidez do tempo que viu o essencial. E então dizia-se, a páginas tantas, que quando começamos a gostar mais de nós os outros acompanham a tendência, começam a gostar mais de nós; que quando nos respeitamos mais e sem condescendências, os outros passam a olhar-nos com mais respeito. E que isto é um processo lento e duro, e eu concordo, acho que é tão lento que eu às vezes acho que ainda não saí da casa de partida, e é duro porque se calhar temos de estar sempre a lutar para sair de sucessivas casas de partida. O que eu não sei é se realmente será verdade esse efeito espelho que se fala em relação aos outros, ou se afinal é esse o reflexo do espelho que passamos a ver, se não é apenas a maneira como vemos o reflexo que muda, porque - lá está - temos tendência a ver as coisas, não como são, mas como somos (como dizia Anaïs Nin), então nem gostam mais de nós quando aprendemos a amar-nos acima de tudo, nem gostavam tão pouco quando achávamos que não havia grande coisa que amar em nós. É sempre, e só, a nossa perspectiva que altera... Mas na realidade nada disso interessa, porque os outros sim, são sempre o reflexo do que vemos no espelho, nós temos é de tratar de limpar e embelezar e apreciar e valorizar o que vemos no espelho, e isso faz-se operando o nosso olhar, operando por dentro o nosso olhar, onde fabricamos o mundo que podemos ver e com que nos vemos. Agora gaita... Como raio fazer isso? Chegamos a uma só rua depois de bem medido o mapa, mas essa, essa é uma rua sem respostas nem saídas. É um beco forrado a muros e todos são espelhos. Acontece-me sempre isto. Chegar a um lugar que não dá para lugar nenhum e não ser sítio de abancar. Reduzir-me a uma pergunta de que não sei respostas. Nenhumas.
Vou fumar o último cigarro e esperar que amanhã me nasçam dons de cirurgia interna de olhares... Estava precisada estava.

6 comentários:

  1. Muito obrigada Olvido, muito.
    (estava eu aqui a comer papas de aveia e até parei).
    Ninguém disse que é fácil. A parte mais dificil é essa. Nós próprios. E não te digo que cheguei lá, mas todos os dias trabalho nisso, com recuos e avanços.
    Obrigada por me ajudares a ver.
    Beijo

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  2. Ana,
    Eu é que agradeço, gosto muito dos teus textos, são despretensiosos como tanto admiro, são bons naturalmente, sem artifícios... não te sei explicar, mas fazem-me pensar muitas vezes e sentir sempre, por estranho que possa soar cheiram a casa os textos que escreves.
    Fiquei a pensar no que li nos vossos comentários, e foi isto que saiu. Bem sei que não é fácil mas eu nem sei por onde começar. Há coisas que se começam sem dar conta, essa deve ser uma delas.
    Beijo, ana

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  3. quando me refiro a um espelho, é a imagem que ele reflecte de nós. a imagem distorcida que nos chega ao olhar. no meu caso, pelo menos. porque eu tenho o hábito de colocar-me sempre em causa, sou a minha pior inimiga. e é um percurso duro, sim. sei porque sou assim, tenho todas as ferramentas de análise dispostas numa mesa, só não descobri ainda o que fazer com isso. como posso com aquilo que sei chegar ao outro lado da ponte. é um percurso solitário. e de nada adianta outras pessoas descreverem-me com uma das melhores que alguma vez conheceu, por exemplo. não vais acreditar. é uma luta só tua. enfim, mas isto daria para uma longa discussão, há sempre uma história por trás que nos leva agir ou comportar de determinada forma.

    muito obrigada, Vi., pelo carinho. :)

    deixo-te um beijo no coração. :)

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  4. começa-se quando se toma consciência disso. estás a começar. assim como eu :)

    beijo

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  5. Alaska,
    ... Percebo-te tão perfeitamente menina... Parece que falas de mim, também ouço coisas que acho inacreditáveis, que nem sequer entendo! Ou melhor só entendo que as dizem porque é o olhar enviesado de quem nos gosta e quer bem. Porque eu olho e não vejo nada, mas nada, daquilo que me dizem!!
    O que eu fiquei a pensar é que quando nós começamos a gostar mais de nós também começamos a acreditar que os outros possam ver mais em nós... Ou seja começamos a ver também pelos olhos dos outros o que nós mesmos começamos finalmente a ver quando nos vemos ao espelho. A opinião dos outros também é ferida do nosso olhar e das feridas dele, quando o começarmos a curar começamos a ver tudo melhor!... Agora como raio fazer isso... Beats me!! ;)
    Beijinho :)

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  6. Ana,
    Será?... Às vezes acho que sim, outras tenho a certeza que não... Uma monotonia portanto este carrossel ;)

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