segunda-feira, 2 de janeiro de 2017



... Hoje resolvi tirar uma fotografia antes, ainda cheia a chávena, mexida com pau de canela, que se eu não estivesse completamente entupida ia conseguir cheirar... Assim, pronto, é só o sabor que é ligeiramente diferente, porque me apetecia uma coisa diferente, às vezes tenho estas coisas, apetece-me fazer o que sempre faço, mas com qualquer coisa diferente. Começar a escrever com a chávena cheia em vez de vazia, como nos últimos dias, pintá-la de canela como me apeteceu... Idiossincrasias tontas, é o que é. Gosto de manter os hábitos só não gosto que seja sempre igual. E aqui estou, ainda em casa, a curar o vírus - ou melhor a ver se me livro dele. Preferia tomar este café à lareira, era o que me apetecia, mas só tenho quatro bocados de madeira e, além da preguiça costumeira, o vírus não aconselha ir lá fora buscar mais - resigno-me à mesa da cozinha e à falta de uns braços que me fossem buscar a lenha lá fora, para depois me darem também abrigo em frente ao crepitar dançante da lareira. Resigno-me. Aqui fico. 
Tive uma boa notícia, uma amiga vem para cá para o burgo trabalhar, tão bom!! Fiquei contente, é como uma irmã de alma, faz-me muita falta. Acho que as minhas pessoas me fazem sempre mais falta, que me apego sempre um tico a mais. É assim com toda a gente, mesmo depois do fim das coisas, dos apeadeiros da vida, lembro-me mais, sofro mais, tenho saudades mais fundas do que do outro lado. Não sei por que é assim, mas é. Um amigo uma vez descreveu-me e foi na mouche... "Cuidado, é difícil entrar no coração dela, mas é muito mais difícil sair"... E esta é uma verdade plena e tramada. Muito tramada. Para mim, claro. Porque é de facto muito mais difícil sair, ainda que não seja por isso que vá atrás de alguém, mas é por isso que me lembro, que tenho pena, que a saudade às vezes se abre num sorriso de nostalgia... Mas isto tudo porque vou ter perto alguém que tenho tão dentro, e isso também quer dizer que as minhas fugas para longe vão acabar, o que na verdade era um hábito que eu gostava. Era uma sensação de rede, de quando me quisesse atirar, só para fugir da tarefa de me equilibrar, atirava-me, e ela apanhava-me à porta de casa e dava-me para abrigo o quarto vizinho do céu. Gosto do céu por vizinho no seu guarda chuva de estrelas que me abriga do olhar do mundo e me desobriga de tudo durante um luar ou dois.
O café está bebido, a chávena está vazia. O texto está cumprido e até comprido.

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