sexta-feira, 18 de novembro de 2016


Tenho saudades de tantas coisas que já não sei se são saudades ou só avidez provocada por miragens de vidas que nunca cheguei a ter. Dizem que as saudades do que não chegou a ser são as que mais nos doem, talvez porque à falta se junte a noção de termos podido fazer mais, ou alguma coisa, ou algo que ninguém sabe o quê, mas que virasse os dias e entornasse a miragem vida adentro. Ou talvez seja aquela sensação de incompletude, de amputação, de dor fantasma de algo que só imaginámos ter, mas que nos dói perdê-la como se a tivéssemos perdido por excesso de uso. Por ter usado e abusado das ganas de viver, por ter vivido com ganas e rasgado a vida com coragem, audácia e chegado mesmo a roçar a plenitude que alma e corpo nos concedem. Se calhar talvez haja, apenas e só, um excesso de sonhos, uma avidez esfomeada que não tem o que mate a fome. Talvez eu seja dessas criaturas sempre insatisfeitas, sempre à procura das coisas grandes nas mais pequenas coisas, missão que em si não passa de miragem. Talvez a insatisfação seja grande porque se prende com coisas pequenas, tão pequenas e fáceis que se torna difícil a pontaria afinada para lhes acertar e caçar-me o coração. Quisera eu muitas, e grandes, coisas e qualquer um conseguiria acertar nalguma coisa que me contentasse... assim é difícil. Não é para qualquer um. Mas eu também não sou.

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