domingo, 27 de novembro de 2016


Sleep tight don't let the bed bugs bite. - repetia isto, como lho haviam repetido em criança, do coração, às filhas, como se assim repetido nenhum mal lhes chegasse, nada lhes inquietasse a inocência dos sonhos. Repetia-o como uma oração a um Deus maior, aquele que afasta os primeiros medos dos corações puros. Os medos dos monstros que um dia viriam a ser homens como os outros, e medo de ter medo de não saber aprender a fazer como os outros, como dantes não sabiam apertar os atacadores, medo que não as amem - medo de um dia deixarem de ouvir a frase que as fazia sorrir um sono descansado, na sensação tranquila de que alguém as protegia, enquanto lhes velava os sonhos e os sonos.
Um dia as meninas cresceram aos olhos e, talvez por acreditar nisso, deixou de o dizer, mas os medos não se afugentaram, só já não viviam nessa sensação de que alguém as protegia. Os monstros viraram homens incompreensíveis, que se repetiam como um só sempre diferente; e os apertares de outros  atacadores eram tarefas dignas de Hércules,  como segurar as pontas do sobreviver ao mundo, dia após dia. Aprenderam a viver com a sensação de não serem amadas, o que interessava era chegarem ao dia seguinte inteiras. E chegavam. Inteiras, só não completas. Alguém tinha deixado de lhes velar os sonhos porque já não eram de meninas os medos, que continuavam a ser, debaixo das noites por dormir e apesar dos dias por viver. Cada menina precisa de continuar a ouvir uma frase que faça sorrir um sono descansado.
Sleep tight don't let the bed bugs bite.

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