terça-feira, 15 de novembro de 2016




[foto @martinrakphoto]

Há dias, como hoje, em que eu deitaria tudo a perder - tudo que é nada, ou um nada que é tudo -, pela vontade de tudo que ninguém sabe nada do que é. E não ganharia nada, absolutamente nada, se do tudo que quero nada sei. Para perder é preciso sentir a perda, sentir uma falta cheia de vazio no sítio onde tínhamos o que nos guardava. Há dias, como hoje, em que não sei o que sentir, em que o horizonte é um borrão sem corpo e o fogo uma miragem em esbatidas aguarelas desenhados por um louco sem destino guardado. Não sinto as garras da vida a esgaçarem-me a pele de dor ou de prazer. Não estou bem mas não estou mal, sabendo miseravelmente que podia estar pior. Como uma espécie de névoa que me envolve a alma, que a protege e a distancia de tudo. Uma coisa sem nervo e sem espinha. Na espessura da indolência nem distingo se me estendem a mão, se me acenam uma vontade ou esboçam um adeus. E não me movo. Deixo o tempo correr pelo corpo como a água do banho que se esquece de me tocar. Nada me toca, como se estivesse meia morta, e isso mata-me. É isso que me mata mais fundo, não chegar à tona de mim, nem esboçar um aceno dessa vontade, ainda que me grite, paralisada, enclausurada por dentro.

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