segunda-feira, 7 de novembro de 2016



"gosto de pessoas que dançam. daquelas que se abanam ao primeiro ritmo que lhes salta ao ouvido. que é diferente das pessoas que vão dançar. as pessoas que dançam fazem-no a toda a hora, no carro no meio do trânsito, no balcão da cozinha a fazer o jantar, apenas no corredor enquanto se vestem, na janela durante o cigarro. ou, ainda melhor, enquanto namoram a caminho do quarto. (...) 

as pessoas que dançam não sabem como o fazem. não tem coreografia ou técnica. sai-lhes, solto, em forma inconsciente de movimento. às vezes ficam sem jeito, no meio da rua, com o vizinho a olhar. mas que se lixe, sabe tão bem, dançar no carro, na rua, no meio das vinhas, em cima do muro. ou tirar os sapatos e dançar na terra, na praia, na relva fresca.(...) gosto especialmente de ver alguém a dançar sem saber que estou ali (ou mesmo sabendo, puramente a ignorar que estou), mas no maior gozo de quem se sabe bonita apenas por ser assim, solta. 

atraem-me em particular as pessoas que sorriem enquanto dançam. que puramente estão a divertir-se, naquele bocado de corpo que mexe. ou mais bonito, quando nos fitam e se riem primeiro no olhar, e só depois no rosto, enquanto se aproximam. há pessoas que dançam assim o dia todo, estejam longe ou perto, visíveis ou afastadas. basta uma mensagem, um beijo, uma telefonema e sente-se o braço a puxar, a embalar no ritmo. a melhor dança? é essa, a dois. noite dentro entre jantar, um copo demorado, muitos beijos longos e amores prometidos. ou depois, no fim, a dança dos meus dedos nas tuas costas, lentos, até adormeceres, também com um sorriso, solto."

Momentos tirados daqui... e o que eu gosto destes momentos...

Hoje de manhã a minha pequenitates pede... "mamã põe aquela música em que começas sempre a dançar, põe alto, até à escola..." E assim foi, a mãe pôs e cantou e dançou até à escola, percebendo um ou dois sorrisos fugidios de alguns rostos que nos apanhavam em tamanhas tontices boas logo pela manhã... realmente a vida sem música não faria sentido. Adoro dançar, acho que é uma das duas maneiras de se libertar o corpo, soltar a alma, fechar as janelas ao mundo. Dançar de olhos fechados, de sorriso rasgado no ritmo da música que faz o corpo ondular, abanar, vibrar ao som que parece só ser ouvido por nós. Há algo que renasce, que floresce, que acorda. Que nos lembra que há vida, mesmo na maior escuridão, se houver uma música que nos acorde o acorde da vontade - da vontade de ser ritmo e movimento e um sorriso que dança. Mesmo que o mundo nos paralise, ou apesar de.

[E a caminho do trabalho foi esta, que também não me deixa quieta e que combina tanto com o caminho... tanto. E com alguns dias também, como hoje.  Lift me up lift me up... higher and higher...]

2 comentários:

  1. Essas inquietações aceleradas são sem dúvida nenhuma um lenitivo indispensável. Acontece-me-não raras vezes - ir no transito, vidros abertos, colunas no máximo, a cantarolar por cima do CD de Sinatra que por ali vai tocando até romper.

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  2. :))
    E não é tão bom romper a normalidade dormente dos dias??

    Bom dia cheio de música, Impontual

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