sexta-feira, 11 de novembro de 2016

[foto @westaywild]
Há dias em que acordo uma pessoa lisa, ou quase. Lisa como quando se pede água lisa, sem froufrous, piquinhos ou complicações. Daquelas que não são rascunho que se reescrevem sucessivamente e incessantemente, sempre à procura da última versão de si mesmas, a melhor, a certamente incerta de ser a última sobre qualquer assunto, em qualquer dia que seja, ou mesmo noite - ou sobretudo nas noites, onde nem todas as sombras são escuridão, onde nem toda a luz sabe iluminar a calor. Há dias em que me levanto e sinto as coisas como música de fundo, a acompanhar a vida, lá quase no horizonte que não é de tocar, onde toca essa música que embala, mas não abala nem ocupa o palco, muito menos quer saber de holofotes. Alturas em que não preciso das letras para largar o lastro que não deixa o dia levantar, ou eu levantar-me inteira do sono que me descansa de mim, como se me desaparecesse entre os segundos que não sinto passar entre os ponteiros do relógio, entre uma e outra frase que não nos atinge nem de raspão. Um estado quase dormente, um conforto quase indolente. Horas estranhamente prosaicas em que os pensamentos não andam pela casa de saltos altos, a seduzirem-nos o tempo como um encantador de serpentes, que depois mordem nos além da pele. Pensamentos que nem batem à porta por não quererem sequer entrar no dia pela porta da frente, rondam o perímetro com uma distância de segurança, tão segura, que me deixam a falar sobre nada.

2 comentários:


  1. Querida Vi...mima-te e desfruta dessa paz e tranquilidade.
    Porque nem sempre é fácil sentir um "oasis"no meio de tormentos da vida.
    Uma boa noite e um beijo
    Nanda'

    ResponderEliminar