segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

E é isto. Tão isto.
(a parte do adorável depende da perspectiva, claro...)
Por muitos anos que passem, por muitas promessas e objectivos que se tentem alcançar a cada virada de calendário, a essência de cada um não muda, adaptamo-nos muitas vezes, isso sim. Mudam os contextos, podem mudar alguns comportamentos (pelo menos durante uns tempos e para servir um qualquer objectivo... e tudo o que é feito assim, é temporário), podemos até mudar de emprego, de companhia, de vida, mas não mudamos aquilo de que somos, ou não, feitos. E é por isso que muitas vezes precisamos de mudar o que está à nossa volta para podermos continuar a ser quem somos, o que acreditamos e mais queremos, mesmo que não o cheguemos a ter. A nossa vida, melhor ou pior, em melhores ou piores alturas, de alguma forma, não pode destoar de nós, de como vemos as coisas, como as sentimos e entendemos, ou a vida parecerá que não é a nossa vida, algo parece errado e terrivelmente deslocado. Como tempo perdido, vida desperdiçada.
Tenho grandes mudanças à porta, quase mal passe a ombreira do 2019. Não sei se boas se más, não sei se vou conseguir responder-lhes como me será pedido, não sei se me conseguirei adaptar, não sei,  sei que muita ansiedade e angústia e medo me esperam, mas uma coisa eu sei, eu para o bem e para o mal (muitas vezes para o mal, porque queria tanto ser diferente...) continuarei a ser eu, centrada na minha essência - construída, destruída e reconstruída sempre a partir daí. 
Bom ano a todos os que por aqui passam,
que eu agora vou para uma esplanada aproveitar o sol e saborear aquele que será, provavelmente, o ultimo café de 2018...
Vemo-nos (ou lemo-nos) em 2019!!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Os olhos ardem e a cabeça estala como se não me coubesse, acabo por adormecer no sofá por volta da meia noite, sem dar por isso, mudo de poiso e não há maneira de poisar. Desacordada mas sem dormir dou voltas ao que não sei dar a volta, não consigo, desisto. E queria tanto desistir, de tudo, sem me saber desistir de nada, sem pensar. A cabeça, essa martela-me por dentro, outra vez, não me cabe, não lhe caibo, uma de nós está mal e tem de se mudar. Está tudo mudado e eu na mesma, e a cabeça.
Fumo mais um cigarro conto os carros que ainda passam para não pensar no que não sei como será. Para não pensar que não sei, e pensar como se soubesse, enganando-me, não o pensando. Nunca nos conseguimos enganar. É como jogar xadrez contra nós.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

[imagem @jean_jullien]

“You are here”
E hoje pode mudar todo o meu próximo ano. Ou não.
Não sei o que será melhor, saberemos, de certeza, alguma vez?
Dois caminhos que vemos, tantos outros que existem e ainda não sabemos.
Tenho as pernas a tremer por dentro mas a andar com a força de quem aparentemente não treme.
Mas tremo.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

[imagem @jesuso_ortiz]
Feliz Natal a todos, aos que merecem e aos que ainda terão de fazer por merecer. 
Estamos sempre todos a tempo, dizem :)
Que seja doce a mesa e quente o olhar da lareira. 
Que estejam perto até os que estão longe, e presentes os que já não podem estar, 
mas guardam sorrisos nossos que o tempo vai desembrulhando na falta que nos fazem.
E de prendas? Bom, comam as uvas antes que virem passas, 
depois só servem para fazer desejos, não para concretizá-los... 
talvez aprender e perceber isto até fazer parte de nós, seja o melhor presente como prenda ;) 
... isso e partilhar esse presente com todos os que gostamos e queremos bem.

Bom Natal, blogosfeéricos ;))
usem e abusem dos doces, dos abraços e dos sorrisos

domingo, 23 de dezembro de 2018

[imagem @virgola_ ]

Easy sweet lazy sundays...
Os meus preferidos. 
Só interromper a ronha para um café invernoso de nariz frio.

(mas não tenho cabelo feito de espinhos, nem que pareça palha de aço graças a todos os santinhos... mesmo que acabada de sair da cama... mas achei a imagem muito gira :)) )

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

[foto via @bnwsouls]

A noite absorve os gestos, os casacões esbatem os movimentos de quem passa - são vultos sem gente. Caímos nas garras da noite, onde todos os gatos são pardos. Gatos que dizem cair sempre de pé, e que morrem seis vezes antes da morte derradeira... e nunca por queda, por que será então? Se há isso do amor duma vida, eles terão sete, se calhar vem daí terem de saber cair sempre de pé, e se não morrem da queda, talvez morram de amor(es), afinal. Sete vidas, sete amores, sete mares para navegar sete dias de cada vez, com sete noites para confundirem quem os vê passar. Vi agora, enquanto fumava o último cigarro, um a atravessar a rua aqui em frente, não sei se estava de volta para cá ou de regresso para lá, nem qual vida caminhava.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Das contradições que não o são.
Idiossincrasias de quem não se disfarça, cada um tem de acordo com o que dá. 
Ou deveria ser assim, nem sempre é.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018


Do que eu tenho mesmo saudades, do que sinto mais falta, de quando eu era viva, é da vontade. Aquela vontade inteira e premente, urgente e permanente de alguém que queremos e iremos ter. Uma vontade que se acalenta devagar, até o poder encostar à parede e fazer-me engolir-me inteira pela boca dele. Ter-me inteira pelas mãos dele, pela pele, pela boca, e assim saber-me de cada canto que sou, sentindo-o, vibrando. Deixar a vontade correr a rédea solta, matando a fome de sede, enganando a sede com mais fome - que assim nenhuma nos mata, e nenhuma nunca se sacia, nos sacia, de nós, da vida, da vontade. Da vontade que corre nas veias, que é motor do coração, que o faz bater e ser, sem tempo, sem conjugação, sem passado e sem futuro, sempre, no infinito do agora que é presente de vida. 
O que me faz falta é uma vontade assim para acalentar, vontade para respirar e viver até tudo sucumbir à minha volta e o mundo se desmoronar na inexistência do que não é feito dessa vontade, desse querer, desse ter daqui a pouco esse muito, esse tudo que se consome todo sem cerimónia e não se gasta, porque a fome não se mata de sede, e a sede de fome não se engana com dias cinzentos, bebe-se da pele com pele. 
As paredes estão vazias. Deram-me como morta. 
O que sinto falta de quando eu era viva é da vontade de querer viver, que não cabendo em mim, era a minha medida perfeita. Vontade de respirar sem estar ligada à máquina duma vida mecânica, respirar por obrigação e não por convicção. Não ter por que respirar agora, se daqui a pouco não vou perder o fôlego nem descompassar o doido do coração a galope doutro coração.
Do que eu tenho mesmo saudades, do que sinto mais falta, de quando eu era viva, é de me sentir viva, sentir como se a vida valesse a pena - essa maluca impossibilidade, fé dos loucos.
... pode ser que chegues mais depressa...
Eheheh... muito BOM!
(a hipocrisia que se sublima nestas alturas do ano dá vontade de dizer umas coisas assim... há pessoas para quem a hipocrisia, a fachada, o que os outros pensam, é tudo, e fazem do politicamente correcto a oração encomendada e paga de cada dia... enfim é Natal, é isso - paz e amor como prescrição da época, que felizes que somos todos, não é?)

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Dos dias de balanço, do que se passou num ano, do que nos passou nesse ano, o que vimos, o que não quisemos ver e o que não vimos até não conseguirmos ver outra coisa, não voltarmos a conseguir ver doutra maneira, e tudo ganha outra realidade. Percebemos o que não queremos, o que nunca sequer merecemos, e as cores transmutam-se no nosso olhar pelo lado de dentro. Como quando lemos alguma coisa pela segunda ou terceira, ou décima vez e só dessa vimos nitidamente o que não tínhamos lido no que está escrito, mas sempre esteve lá. Como uma revelação. Às vezes com a vida é o mesmo. Há um momento de revelação, uma epifania. Que podemos negar, e depois até desprezar, ignorar, voltar atrás, repisar a antiga surdez, mas a vida apanha-nos sempre. E então acontece  percebermos que entre as coisas teimosas que vamos contrariando vamos escoando o que de grande a vida pode ter. 
Hoje ligou-me um amigo que me disse que tudo o que eu lhe disse que achava ir acontecer, está a acontecer. E eu tenho pena que assim seja, porque não foram coisas boas as que lhe disse e porque esta minha apontada lucidez nunca me serviu, ou melhor, tendo-a nunca consegui agir segundo o que me fazia ver. O que me exigia. Nunca. Até eu sentir no vermelho quente do sangue o mesmo que a fria lucidez sempre me repetiu. Como ele hoje o dizia, está a passar-se o que da lucidez ele não quis ouvir. Só quando realmente se sente o que se pensa, é que deixamos de contrariar a simples correnteza natural das coisas. Negá-la não faz com que deixemos de ser arrastados, só nos cansamos mais... até querermos ver em vez de negar o que (vendo) não queremos ver, ou acreditar. 
Este ano, bem vistas as vistas, não mudou nada a não ser o meu olhar sobre tanta coisa que se passou tanto antes. Como se de repente o coração tenha compassado com a razão. E isso, não parecendo, é tanto, se escolhermos não o negar, não inventar desculpas nem justificações. Vendo, simplesmente, sem “mas”, sem “ses”, sem “um dia”, enquanto passam todos os dias.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Euzinha... sagitariana me confesso.
“Cuidado: criatura meio animal, meio humana, 
e a parte humana ainda vem armada de arco e flecha...”
Das melhores definições que li algures...
... a felicidade não costuma bater à porta, nem anunciar-se, parece-me, mas se por acaso acontecer, duvido que insista, é abrir logo e deixar entrar porque não é como o carteiro...
... ou como diz o provérbio o burro só passa duas vezes à tua porta e à segunda já tem dono...
Nós quase ao colo da lareira, 
a cadela meia ao meu colo,
E o livro poisado no lombo dela...
Sossego quente.
Há vidas piores.
... muito piores.
Está-me a faltar um doce para mordiscar, 
só isso.

domingo, 16 de dezembro de 2018


As minhas únicas decorações de Natal...
... e as únicas que me apetecem fazer...
Mas também as mais lindonas do mundo, claro!!

sábado, 15 de dezembro de 2018

[imagem @diego_cusano]

Há alturas em que me sinto tão pequenina...
...mas sem totós.
... será isso doce também?

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

[ foto @jessicaleedoran]

Não foram pesadelos. Não propriamente, mas uma amálgama de angústias corria-me nas veias. E não sei porquê. Repetia aquela frase e olhava para aquela casa, que não era minha. Repetia a frase ou ouvia-a?? Não sei, mas a frase estava dentro de mim, ecoava por dentro, batia-me nas paredes da alma com estrondo. E aquela angústia tremenda... mas porquê? A casa abandonada, cinzenta, janelas cerradas, cores comidas por um sol que já parecia nem existir, também ele a abandonara, deixando um rasto descolorido, seco, morto. O jardim eram só restos mortais de flores, uma antiga opulência feliz em ruínas, tudo estava seco, nem ervas tinham rebentado para ocupar a terra e o olhar. 
Mas o que querias?? Quando se abandona, nunca se regressa para o que se deixou. As casas também se magoam, deixam-nas fechadas, trancadas, ao frio, à chuva, ao vento que arrasta tudo, às vezes começam a pingar por dentro, as paredes começam a ter rugas por fora que nasceram de dentro, e ninguém cuida, ninguém quer saber. Quando se abandona não se quer saber. Mesmo que se regresse. A morada será a mesma, a casa não. A solidão por abandono não é adubo de felicidade, tal como a seca não faz florescer.
Mas o que querias? Quando se abandona nunca se regressa para o que se deixou. - ouvia repetidamente, sem saber se o ouvia por dizê-lo, se por mo dizerem. E a angústia seria por não o sabendo, perceber tão bem o que ouvia, ou por sentir que não o entendiam? Não sei, que angústia.

[será que sinto que estou a abandonar aquela gente, como tanta gente, tantas vezes, me abandonou? será isso?]



Se pudermos, e se conseguirmos.
Ainda assim, de muita coisa que se pode tentar,
 esta talvez seja das melhores... a não ser que os pesadelos nos apanhem.
É que há coisas de que não se consegue fugir, nem a dormir... o que é uma pena.
Eu daria uma fugitiva perfeita.

sábado, 8 de dezembro de 2018

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018


Dezembro chegou. 
Espreguiça-se de manhãzinha na paisagem preguiçosa, 
paira numa neblina sonolenta que demora a acordar o dia. 
Serpenteio os campos, fico-me a olhar e gosto. 
Mesmo que a vista seja mais curta e tudo nos pareça desfocado. 
O horizonte faz-se perto e o tempo tem os tons duma melancolia doce e lenta. 
Gosto. Sinto tudo isto muito meu, muito eu.
É o meu mês. E gosto dele assim.
O mês das mantas, da lareira, das camisolas grossas, 
do calor junto ao corpo a contrastar com a ponta do nariz frio. 
A gratidão pelo calor que se sente por se sentir o frio do lado de fora, 
e o cheiro a lareiras que passeia pelo ar. Fazem-me voar, sem querer,  
pequenos e ariscos sorrisos. 
Gosto. Gosto muito.
Só tenho de ter cuidado para uma manhã destas, a
inda sonolenta e com metade da alma ainda debaixo de cobertores, 
não atropelar um qualquer D. Sebastião saído do nevoeiro... 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

'tá bem.
Parece-me um bom plano... desde que sem planeamentos, 
que seja sempre a qualquer hora o que apetecer. 
Parece-me bem... Só falta quem.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

[foto @seeavton]

Nos dias de neblina parda 
surgem por vezes,
 com uma nitidez desconcertante,
  palavras com boca de beijo,
que mordiscam atrevimentos imaginários 
 e acordam a alma. 
Há quem lhes chame poesia, 
outros chamam-lhes sonhos. 
A mim dão-me vontade de ter vontade 
de beijar com palavras
 a poesia da pele, 
que acorda sem querer, 
num corpo que só deseja continuar um sono dormente.
Há acordares que custam como partos.

Palavras com boca de beijo, 
promessas sempre por cumprir.
Realidades por acordar.


sexta-feira, 30 de novembro de 2018

[foto de Bernhard Luettmer]
Vim no comboio em contramão, de frente para a origem que me vai fugindo dos olhos e de costas para o destino. Percebi que há pessoas assim também na vida - eu. Vejo primeiro passar a imagem que já passou, em vez de ver a imagem que me irá passar - vejo depois o antes e não antes o que depois será. Ponho o olhar no que foi, o que me deixou, o que deixei, e não no que me espera, o que espero. Vejo afastar-se de onde venho, de costas voltadas para onde vou. 
Difícil seria chegar se não tivesse embarcado no destino certo. Vim no comboio certo, cheguei. 
Onde consultamos as linhas e os horários da vida?

quarta-feira, 28 de novembro de 2018


e na palma da tua mão
busco ternura
sem contar meses,
anos, dias,
sem saber dizer
se já te chorei
por inteiro
o suficiente
para não voltar
a perder-te

Vasco Gato

[perder por inteiro para nada ter a perder. 
para nada mais restar para abrir mão,
para buscar, para chorar. 
em tempo algum,
por tempo nenhum.]

domingo, 25 de novembro de 2018

Sunday. Sun-day.
(Domingo não parece dizer tanto, nem será o mesmo, ainda que sendo... )

Quando o sol tem barba de preguiça  e o dia é lareira de cama.
Quando o abraço é o quarto donde não queremos sair.
A chuva lá fora, miudinha, não cresce em nós, mas ouvi-la faz dançarem os beijos na boca, pela pele.
Quando o tempo aconchega os olhos fechados e os sorrisos calados num calor sem ruído.

Mas quando a realidade não encaixa no calendário,
a preguiça não tem barba, a lareira não arde em lençóis,
o abraço é do vento e do relento,
a chuva adulta só molha os tolos,
o ruído cinzento ensurdece-nos
e não há tempo que seja o nosso tempo.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

[foto de Mikael Sundberg]

Há tempestades que nos extinguem. Primeiro o fogo, depois a vida. Duram demais duras demais, sobrevivem à vida que nasceu connosco, mas que morre antes de nós. Uma só gota transborda o copo. A voz de certas palavras como que, outra vez, nos puxa pelos colarinhos, arrasta-nos além do limiar da sobrevivência funcional. Deixamos de funcionar. Quebram-nos a ilusão duma possibilidade mecânica de realidade, onde nos movemos disfarçando normalidades que não nos cabem. Não funcionamos, o botão não liga, não obedecemos aos comandos, desligaram-se os fios que nos desligavam de nós, que nos mantinham distantes dos sítios onde nos sentimos - onde se sente a dor e a felicidade. 
"Tens de fazer pela vida"... e os fios desligam-se. 
Há anos - já lhes perdi a conta - que faço pela vida, por a continuar a manter, por acordar, por me forçar a funcionar, trabalhar e pagar as minhas contas. Por não me entregar à falta que me faz a vida. Mas não chega, tenho de fazer mais pela vida pelos vistos, é pouco. E tenho de concordar, porque vida isto não é. E as palavras, com voz e mote próprio voltam sempre, e sempre sem licença, vão tocando em pontos que vão doendo. Somos atirados para o abismo da solidão profunda, aquela que não se escolhe, mas se quer -  cada vez mais -, onde o silêncio é bálsamo, é a armadura que nos defende, que nos protege de nos tocarem por dentro das feridas e nos rasgarem os finos fios que nos prendem às rodas do mundo. Aquela frase, não sei porquê (ou talvez sim) trouxe-me a história do burro, que quando finalmente estava habituado à fome, a lidar bem com não ter o que o alimentasse... curiosamente, morreu. De fome.
O copo transbordou. Abri mão, algo se partiu em mim, menos a vontade de partir. Tudo se inunda de água. E ninguém para apanhar os cacos.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

... quando não há vontade, quando não se quer, inventa-se tudo para não chegar, ou chegar o mais tarde possível. Adia-se de todas as formas e feitios, sob todas as desculpas e justificações disfarçadas de coisa nenhuma. Quem não quer inventa desculpas, quem quer combate todas as desculpas e obstáculos, com impulso na vontade, com os olhos no objectivo e as mãos sedentas do futuro que querem agarrar. 
Quem quer faz, quem não quer empaleia até ao esquecimento. 
Leio e reconheço isto, sou assim em algumas coisas, reconheço-o à distância, tal como reconheço o seu contrário -  quando tenho vontade real, daquela que não se amorna, nem esbate, nem duvida. Houve muita coisa que adiei na vida porque, apesar de saber ser o melhor para mim, não tinha em mim a vontade. Nessas alturas inventamos caminho que não tem se ser percorrido, damos voltas e voltas para prolongar o caminho que leva ao fazer do que dizemos ser o melhor para nós... pode ser o melhor...mas não nos apetece, dá-nos preguiça nas vontades. Porque ser o melhor para nós, a razão aconselhar-nos e bem, não nos faz ter vontade de ir a correr.... como largar velhos rituais a que me acomodei, como alterar rotinas e horários, como ser mais arrumada e organizada, como passear a cadela todos os dias sem excepção ou desculpas, como a velha história entre mim e o ginásio... mas hoje vou. Isto tudo porque hoje vou! Temos de começar por algum lado, eu vou começar(-me) por aqui se calhar. Os pequenos passos fazem-nos perceber e sentir que podemos sair do sítio onde estamos, que podemos caminhar. Mas talvez não perceber isto (ou não querer perceber, percebendo) seja também tomar o caminho mais longo... e eu faço isso muitas - tantas - vezes. 
Quando não me apetece chegar. 
Ou quando não me apetece partir para outra chegada.
 Quando sabemos que a chegada será boa para nós, mas não nos puxa...

domingo, 18 de novembro de 2018

[foto @ranbeneli]

Como lutar essa luta do luto pela vida que nos morreu? 
... nós somos tanto as nossas perdas, como as mastigamos, como as engolimos ou cuspimos.
Como nos levantamos, e o tempo em que, derrubados e arrasados, nem nos mexemos, esperamos só. Ou desesperamos.
Ou desesperados, esperamos forças como chuva.
Nós somos tanto, mas tanto, do que já perdemos, do que já não temos, e já não somos.
Do que nos fica do que nos foi levado, do que está perdido, mas guardado nas sombras do nosso olhar sobre tudo.
E como vivemos depois de tudo, como respiramos, sabendo que é tão pouco viver. Como nos mentimos e enganamos, enfeitiçamos com sorrisos a esperança para a trazermos no bolso do avesso dos dias, como quem doira a pílula que nos agoniza.
Como acordamos sabendo que este tempo não é nosso, como se o nosso tempo tivesse morrido noutra vida.


[talvez seja do tempo, deste que vejo do lado de fora das janelas mas onde pareço afundar-me como se fôssemos um só, talvez seja da chuva pequenina a pedir lareira para crescerem rios em nós, que lavem e alimentem a terra dos frutos por vir, ou talvez seja só o cansaço cansado de ser, ou talvez nada, não sei, mas este tempo caiu-me assim em palavras. Ou saiu-me. E a papoila, que gosto tanto - selvagem, duma fragilidade cheia de força, de sobrevivência que agarra a terra, é como uma beleza, mas triste - tão ao jeito das coisas que se ajeitam tão bem no por dentro de mim... e ao escrever isto acabo de me lembrar que sonhei que tinha tido outra filha... e com ela nos braços, acabada de ser, assim pequenina, com um calor imenso e doce, eu estava, ao mesmo tempo, apavorada, porque não sabia que nome lhe dar, não sabia o que lhe chamar. Não tinha nome para ela, como se fosse uma existência em branco que me criava pânico. Como se não soubesse quem ela era, mesmo sendo minha, talvez mais minha  ainda por isso. Lembrei-me por causa da papoila, mas não sei porquê. Coisas doidas como eu...]

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

[foto @ranbeneli]

Tenho fome de azul no céu da boca,
Alguém me arranja uma fatia?
Não quero nuvens, mas pode ter pássaros a riscar o céu de mil caminhos, ou riscado a giz pelas mãos duma criança que ri. Quero um azul donde chovam beijos límpidos, e que em cada manhã da língua orvalhada se colha uma alvorada de palavras que amanheçam sorrisos - assim como quem sabe ao que sabe o céu.

Tenho fome de azul no céu da boca,
Alguém me dá uma colher de azul?
Quero um azul que se respire e que nos molhe, por dentro e por fora, quero o azul onde se navegam sonhos em barcos a remos e onde somos pescados à linha por almas que nos enredam para sempre - assim, como quem sabe ao que sabe a liberdade de partir, escolhendo ficar.


[acordei com a primeira frase deste texto, acordei no momento em que a dizia num sonho. acordei com a sensação de ter de a escrever, porque como que me aguava a boca. tenho sonhado muito nos últimos tempos - já largos, meses talvez, o que é cansativo -, não sei o que anda o meu subconsciente a tramar, mas cansa-me o sono. Não me lembro dos sonhos, nem das sessões de cinema que me parecem durar toda a noite dentro de mim, mas às vezes acordo com frases, como esta que aqui ficou e deu nisto. fico com a sensação que as escrevo porque alguém me manda, me impele, me sussurra, depois fico a pensar que parece plágio, como se não fossem frases minhas... ainda que saiam duma qualquer parte da minha cabeça com quem nem sempre falo... é muito esquisito, a sério. como se fosse eu noutra versão, uma versão distante de mim mesma, mas tão próxima como o avesso que me forra os pensamentos que não me lembro de ter, nocturna, talvez.]

terça-feira, 13 de novembro de 2018


[foto @seeavton]

Quando as palavras já não dizem nada, não servem de nada, não são nada 
...o que fazemos com elas?
Silêncio?
E se as calamos não é uma forma de falar? de gritar?
...como nos sonhos em que gritamos em aflição sem que som algum risque o silêncio,
como raios de luz que nem beliscam a escuridão.
...e quando as palavras se dissolvem nas lágrimas dum grito
que ficou por nascer, não falam? não gritam?

Se as palavras já não dizem nada, não servem de nada, não são nada
...dirá o silêncio mais?
Será o silêncio a cristalização perfeita dum discurso que disse tudo,
 porque tudo ficou por dizer?
porque já não vale a pena as palavras, ou o que elas quereriam dizer.

sábado, 10 de novembro de 2018

[foto @yilmaz_photography]

E no meio dum cinzento como os outros, as mãos tropeçam num qualquer gesto de sempre, param, caem da superfície do estar, os olhos fecham-se, mergulham por trás do que foi, o olhar acorda para o adormecido, e sem razão que se destrince a alma chove pela pele, e as mãos, essas, sem tropeços, apagam a alma da pele, num gesto que atravessa do ser ao estar. Sem tropeços. E voltamos à superfície dum cinzento feito cimento de quotidiano.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

[foto @paeulini]

“apenas preciso de alguém que me sorria e reponha o mesmo disco sempre a tocar e escute comigo o vento nas janelas e sinta a tristeza que têm os gladíolos murchando em cima da mesa.”

Al Berto

[preciso de pouco, mas preciso de tudo.
parece paradoxo, mas não é]

terça-feira, 6 de novembro de 2018

[foto @paeulini]

Olhei o espelho e apeteceu-me fechar-lhe os olhos, 
mas os olhos são meus
 e o espelho deles. 

Não me apetece ver, ver-me, vê-los.

Dias há que parecem semeados na névoa dos olhos;
que só apetecem fechar.

Não me apetece ver.

Quero um espelho de olhos desenevoados,
claros, desentorpecidos
 para poder olhar sem me ver.

Para não querer fechar-lhe os olhos,
que são meus.



domingo, 4 de novembro de 2018


Ahahahah... 
aventuras de sábado à noite na manhã de domingo, titulo talvez assim:
Marido procura dona, ou possível adoptante 
(mas se calhar só quer mesmo cama, até parece clichê...) 
ou então, em busca da mulher perdida, 
ou melhor, da casa, não me parece que seja bem da mulher que quer saber...

Bom dia!

sábado, 3 de novembro de 2018

... até deixar de se medir, e o tempo já não importar, porque já nada importa, nada nos importa depois de amar e não amar mais. Tudo é só uma amálgama indistinta de coisas a que deram nomes ou datas ou razões, com ou sem razão. O tempo diluiu-se no tempo e nós com ele. Sem tempo não há ausências ou presenças, passado ou futuro. Mas o tempo segue, só não sabemos onde ficámos ou nos perdemos, ninguém lhe deu nome. Foi o tempo.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018


[apaixonei-me por esta foto há tempos, nem vos digo quanto, estive para pô-la aqui no header, optei por não a pôr aqui, mas adoro tudo na foto, tudo - e de certa forma, agora depois de ler o post, acho que encaixa bem aqui]


" quando nos juntávamos o tema era sempre o mesmo. mas muitas vezes discutiam-se outros, e até ideias como a imortalidade ou não da alma: e fumar tornava-se mais pertinente. as conclusões ficavam sempre com cada um, ou então deixadas em cima da mesa, à espera que alguém as limpasse. eram longos e luminosos os dias, apesar do preto que predominava nas nossas roupas e em alguns poetas que líamos, de quem decorávamos sempre alguns versos. como por exemplo estes: «Par délicatesse j’ai perdu ma vie». "
Manuel A. Domingos


às vezes perde-se a vida por delicadeza para com outros, ou por medo de confrontos, ou até por vergonha de lutar  (de uma forma que poderá ser entendida como egoísta) por aquilo que queremos,
como se estivéssemos com isso a ferir alguém, a roubar algo nosso de alguém.
... e essa perda de vida - da nossa própria vida, ainda que às vezes tão pouco nossa e própria - da única que temos, ainda que seja uma perda muitíssimo delicada, nunca é delicadamente perdida,
...é brutal, brutal como quem arranha as paredes com as unhas, como quem esgaça a própria pele com os dentes, exibindo um sorriso rasgado que esconde uma dor de que não se regressa. 
A vida que se perdeu não volta nem se recupera, talvez apenas se recupere do medo de a perder depois de estar perdida e passada. Talvez aí se possa viver delicadamente, mas não por delicadeza.
Não esperemos que alguém venha limpar as nossas conclusões, ou apagá-las como quem nos apaga um cigarro que fumámos até à exaustão, porque a alma não esquece, mesmo que emudeça.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

[foto @snake72]

Há quem diga que só ama verdadeiramente quem amadureceu. Que o verdadeiro amor é coisa de gente madura. Eu dou por mim a pensar que só amadurece quem tiver capacidade de amar. De sair de si. O que nos amadurece é doer-nos a tristeza de quem amamos, é rirmos a alegria dos que chamamos nossos, é a todo custo evitar-lhes sofrimentos e semear-lhes o que colherá felicidade, é tremermos de medo quando o risco não é nosso. É crescermos para fora de nós, é sairmos do nosso umbigo, alargarmos o mundo para além da pele que forra o nosso. Enquanto não amarmos não amadureceremos, podemos até fazer o que de nós é esperado ou não fazer nada do que esperam, mas será feito por obrigação ou mero prazer, por vontade ou preguiça, por culpa ou insensatez. Talvez amadurecer seja a aprendizagem de fazer-se por amor, por amar.

[e não sei, mas parece-me que anda por aí muita muita criança fora do tamanho. Será amar uma coisa rara? Ou caiu em desuso? Ou não dá jeito? ]

sábado, 27 de outubro de 2018

[imagem via @ourclickdays]

Sábado. Dia bom para pôr a escrita em dia. A escrita de dentro que não se dá a ler, a escrita que se esconde no silêncio das frases que não dizemos, que calamos, que guardamos para escrever quando o por dentro, sozinho, se põe a falar com os sonhos que morreram, com os medos que todos os dias acordam, com o futuro que vê no horizonte a arder e que já queima por dentro. Conversas com a dor que está para vir e já chegou, conversas que queremos acalentar com uma alegria que o sol aquece porque faz florir a alegria nos corpos, como nas flores. Vamos ajeitando os dias, compondo as horas, com aquela ideia essência dos girassóis e procuramos o nosso sol longe do horizonte que preferimos não ver, mas que vai chegar - sabemo-lo como a inevitavilidade do sentir, mesmo o estúpido, ou principalmente esse -, que nos apanhe com um girassol numa mão e tantas palavras guardadas por dentro da outra. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

ahahhaha... 
Muito bom!!
...quem se lembra destas coisas deve ser muito interessante de conhecer...
Já me ri, já valeu a pena!!

Bom dia.

[acho que hoje vou finalmente inscrever-me no ginásio, temos de nos dar a volta, não é mesmo? neste caso também tenho de dar a volta à minha preguiça... mas vai daí talvez se vejam por lá pessoas interessantes, duvido, mas nunca se sabe...]


[foto (espectacular) de Arno Rafael Minkkinen]

Não existem no mundo palavras que falando de mim não sejam minhas.
É talvez uma forma de solidão.
 Talvez não das piores, ou se calhar sim... afinal, palavras 
não não só letras, são pensamentos, são lembranças, são expressão de sentires.



[a semana que passou foi-me tão dura por tantas, tantas, razões, 
ferida duma solidão aguda que deixa marcas, tanto que só quero estar sozinha quieta calada,
 não estou preparada para que comece mais outra, não estou, não quero. 
O tempo parece só um coador de desilusões.]

domingo, 21 de outubro de 2018

Domingos. 
Ia dizer domingos de manhã, mas não, não estaria certo porque poderia ser a qualquer hora do dia. Domingo é dia de ronha preguiçosa, de respirar a vida devagar, de acelerar o coração a sorrisos com mãos. De viver. Ia dizer domingos de manhã, mas não, estes são domingos perfeitos.

Era bom uma noite de sono a escuridão, como esta que vejo no céu, aqui sentada nas minhas palettes a ouvir e a ver a chuva cair, uma escuridão fechada, um sono sem pesadelos de que se quer acordar,  e sem sonhos que fazem do acordar para a realidade um pesadelo. Há dias, tal como me acontece de vez em quando, acordei a chorar  - tenho essa coisa de o subconsciente me fazer chorar a sonhar, castigando-me por recusar-me a chorar acordada - , e quando comentei que não tinha dormido bem, que tinha tido sonhos esquisitos, disseram-me que devia tentar programar os sonhos, antes de adormecer pensar só nas coisas com que queria sonhar, coisas boas, e que se pensasse com  muita força (como é que se pensaria com muita força?) talvez sonhasse com essas coisas. 
Fiquei a pensar que se quiser muito que o coração pare, se pensar nisso com muita força e vontade, se ele parará... ou se ele só faz o que lhe apetece. Como os sonhos, ou os sonhos como ele. Fazem o que querem, como querem, o resto não interessa, os outros não interessam, eu não interesso. Mesmo que o sonho seja meu, ou o coração. Talvez nalguns casos a propriedade não dê direito à disposição e pleno usufruto. Não sei. 

sábado, 20 de outubro de 2018

[foto @ryanmuirhead]

Tenho coisas a bailarem-me na cabeça, coisas para escrever que não me apetece escrever. Tenho preguiça de seguir as palavras para um sentido. Com um sentido, um fim. Sinto-as e basta, baralho-as para que não me baralhem, sei o que dizem, sinto-o, mas não o digo. Nem o quero guardar, quero que se desfaçam, que se gastem, que me desapareçam, que se percam, não as escrevo, não quero. Não me apetece, tenho pensamentos a esvoaçar-me por todo o canto de cada hora, mas não quero ouvi-los, nem sabê-los. Quero esquecer-me que sei. Tanta coisa. Quero esquecer tudo sem saber ter esquecido o que quer que fosse. Como se nunca nada, nunca nada de coisa nenhuma. Apetecem-me distâncias de dentro para para fora, mas não sei caminhar sem mim. Ainda que me sinta despida pelo avesso, nua por dentro dos olhos, descalça de alma. Mas ainda assim, estar vazia de mim, não é não ser eu. Antes fosse.
[via @cuddleupnow]

Às vezes uma imagem diz(nos) tanto que só o silêncio compreende.

sábado, 13 de outubro de 2018

[foto @moniblanco]

Há uma vontade avassaladora de sair de mim mesma. De me deixar para trás, com a certeza de que não quero nada do que fica sem mim e que mais inteira me sou se me desfizer dos pedaços que lembram o que fui. Sem alguma vez ter sido alguma coisa, alguém. Ninguém quer em si a certeza de nunca ter sido. Mas há sempre alguém que no-la dá.