quarta-feira, 31 de outubro de 2018

[foto @snake72]

Há quem diga que só ama verdadeiramente quem amadureceu. Que o verdadeiro amor é coisa de gente madura. Eu dou por mim a pensar que só amadurece quem tiver capacidade de amar. De sair de si. O que nos amadurece é doer-nos a tristeza de quem amamos, é rirmos a alegria dos que chamamos nossos, é a todo custo evitar-lhes sofrimentos e semear-lhes o que colherá felicidade, é tremermos de medo quando o risco não é nosso. É crescermos para fora de nós, é sairmos do nosso umbigo, alargarmos o mundo para além da pele que forra o nosso. Enquanto não amarmos não amadureceremos, podemos até fazer o que de nós é esperado ou não fazer nada do que esperam, mas será feito por obrigação ou mero prazer, por vontade ou preguiça, por culpa ou insensatez. Talvez amadurecer seja a aprendizagem de fazer-se por amor, por amar.

[e não sei, mas parece-me que anda por aí muita muita criança fora do tamanho. Será amar uma coisa rara? Ou caiu em desuso? Ou não dá jeito? ]

6 comentários:

  1. As relações precisam ser cultivadas, regadas, cuidadas e as vezes, remendadas e consertadas. Olhemos para a pessoa que está ao nosso lado, ela não é perfeita. Nem nós. Então, aprendamos a ser mais tolerantes com as faltas do outro, aprendamos a ser paciente quando o outro não está conseguindo, aprendamos a perdoar os erros que sabemos que cometemos também. Relacionamento perfeito nem em conto de fadas. Não tratemos o outro como objecto e não façamos dele mero realizador das nossas vontades. Á nossa frente temos uma pessoa, que também sofre, chora, se alegra, erra, cai, levanta.Há que saber, que o que foi feito para ser usado e jogado fora são as coisas e não as pessoas.

    Bom dia, Vi:)

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    1. hum?? não percebi, ou melhor, percebi o que escreveste não percebi foi a relação com o amadurecimento ou não, e o amadurecimento poder estar relacionado com o amar ou ter amado, como forma de crescermos enquanto pessoas, enquanto forma de ver o outro, e isso ser o processo que nos amadurece...
      E realmente do que escreveste salta-me À vista que as pessoas não são nunca para ser usadas, mas algumas são para ser deitadas fora, quando não prestam, quando não nos fazem bem, quando nos fazem infelizes. Não devemos ficar a vida toda com algo que não nos serve só para não sermos acusados dessa coisa que me parece muito discutível, mas muito na moda do "amor líquido" do Bauman ( que ao que já li dele parece-me, em grande parte ainda que não tudo, uma compilação de entendimentos de senso comum onde não percebo onde estará a novidade...). Nem toda a mudança é uma insensatez, ligeireza, desistência, às vezes é precisamente o contrário. Às vezes não mudar nada é que é desistir de algo melhor. E, às vezes, a ideia de que amar é um risco muito grande ( e, isto sim, é verdade) faz provavelmente muita gente fugir dele, ter medo dele, porque sabes deixamos de ser inteiros em nós mesmos, depois precisamos de quem amamos para ser inteiros outra vez ( e não, não falo só no que os psicólogos chamam amor-paixão, mas também o amor que se tem por filhos, irmãos e aqueles amigos que escolhemos para serem família).
      Bom dia, Legionário

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  2. Há muito amor, amores plásticos do séc XXI os chamados fogachos de amor.

    ps: Amadureci e muito, falta saber se estou mais humano hoje em dia ou, por sua vez, mais frio e mais distante da Humanidade do que nunca!!! É que isto de amadurecer e perder a capacidade de acreditar, de ter esperança, fé...se calhar mais vale não conhecer o amor e continuar muito Humano...


    bfs Olvido


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    1. Amores plásticos sempre houve, parece-me, só que agora talvez esses não cheguem, talvez chegue a um ponto em que as pessoas percebem que querem mais, que não se contentam com esse brilhante por fora, e então tentam, mas muito desse processo de aprendizagem (até de perceber que afinal não era o que se pensava que é plástico quando pensávamos que não, isso também é uma aprendizagem, não nascemos ensinados dessa distinção que tem de ser, acima de tudo, sentida) passa por tentativa-erro, não desistir de encontrar é talvez a maior dificuldade, mas é muitas vezes confundida com essa ligeireza do descartável. Haverá disso e haverá quem reconheça que não é o que quer, o que lhe serve, o que lhe traz felicidade, bem estar, e não se acomode... isso será mau?... Não acho. Não acho que uma geração que reconhece que quer mais e melhor e está disposto a tentar de novo seja pior do que aquela que fica com a primeira coisa que apareceu porque sim, porque dá trabalho e chatice mudar, porque assumir uma escolha errada, um engano, é uma derrota nossa e uma perda, porque não há garantias de encontrar melhor ou sequer de se voltar a encontrar... Mas isso não quer dizer que sejam sempre coisas desprovidas de razão, de consciência, de sensatez. Nem sempre é facilitismo e superficialidade, liquidez de sentimentos, muitas vezes é precisamente o contrário... Eu mudei quando achei que não estava bem, nem seria por ali que ia ficar bem. Custou? ahh com'ócaraças... estou arrependida? Não. E não andei a saltitar, e isso dos fogachos de amor... juro... a este ponto adorava saber o que são e ao que sabem... ;))
      A dificuldade de amadurecer, é fazê-lo sem apodrecer. Porque amar dá-nos tanto como nos faz doer. É o preço que se paga por conhecer algumas plenitudes, há quem nunca chegue a saber o que isso é ( e isso nunca sei se é bom, ou mau, depende do meu dia...). Eu sei do que falas, da falta de esperança, sei, mas a última coisa que quero e que vou permitir, é que me tenham levado a eu deixar amargar-me, a entregar assim os pontos À vida que aconteceu acontecer-me. Não quero. Não é fácil, mas enquanto puder, tento por tudo não cair nesse buraco negro. Porque isso é que impede de depois, um dia, poderes voltar a amar pelo lado bom :) e se vires ser humano é essa possibilidade de poder apodrecer e amargar no processo... já viste que os animais não têm nada disso, não são rancorosos os bichos, e amargar é uma espécie de rancor pela vida, pela injustiça que às vezes sentimos. Isso é ser humano, nem só de qualidades o humano se faz, como está bem À vista do mundo em que vivemos...

      ... sabes do meu problema grave e crónico de falta de sintese, não sabes? se não sabias já deves ter notado :D

      bom fds, Corvo, fica bem :)

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    2. Gostava de ver o mundo dessa tua maneira ou, pelo menos, da forma como já o vi! Usam-se mais as pessoas no amor do que o amor nas pessoas!

      há uma frase que li hoje que me deixou a pensar e é mais ou menos assim " Os mortos recebem mais flores do que os vivos porque o remorso é mais forte que a gratidão..!"


      -____-


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    3. Curiosamente também passei por essa frase hoje... e deu-me um sorriso triste, pela forma como retrata o que é muitas vezes uma verdade muito infeliz. Não sei se sempre, mas provavelmente muitas vezes será verdade, sim.
      Mas não concordo contigo, quando se usam pessoas, não é amor. Quando há manipulação, o único amor que existe, é o amor próprio e exacerbado, selvagem. Já o amor, quando "usado" nas pessoas penso que as pode tornar o melhor que poderão ser... mas não te engano também estou muito céptica, mas sei que é possível, quero acreditar que sim, senão amargo, apodreço de dentro para fora, e não quero. Não quero.
      boa noite, para ti, Corvo :)

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