... nós somos tanto as nossas perdas, como as mastigamos, como as engolimos ou cuspimos.
Como nos levantamos, e o tempo em que, derrubados e arrasados, nem nos mexemos, esperamos só. Ou desesperamos.
Ou desesperados, esperamos forças como chuva.
Ou desesperados, esperamos forças como chuva.
Nós somos tanto, mas tanto, do que já perdemos, do que já não temos, e já não somos.
Do que nos fica do que nos foi levado, do que está perdido, mas guardado nas sombras do nosso olhar sobre tudo.
E como vivemos depois de tudo, como respiramos, sabendo que é tão pouco viver. Como nos mentimos e enganamos, enfeitiçamos com sorrisos a esperança para a trazermos no bolso do avesso dos dias, como quem doira a pílula que nos agoniza.
Como acordamos sabendo que este tempo não é nosso, como se o nosso tempo tivesse morrido noutra vida.
[talvez seja do tempo, deste que vejo do lado de fora das janelas mas onde pareço afundar-me como se fôssemos um só, talvez seja da chuva pequenina a pedir lareira para crescerem rios em nós, que lavem e alimentem a terra dos frutos por vir, ou talvez seja só o cansaço cansado de ser, ou talvez nada, não sei, mas este tempo caiu-me assim em palavras. Ou saiu-me. E a papoila, que gosto tanto - selvagem, duma fragilidade cheia de força, de sobrevivência que agarra a terra, é como uma beleza, mas triste - tão ao jeito das coisas que se ajeitam tão bem no por dentro de mim... e ao escrever isto acabo de me lembrar que sonhei que tinha tido outra filha... e com ela nos braços, acabada de ser, assim pequenina, com um calor imenso e doce, eu estava, ao mesmo tempo, apavorada, porque não sabia que nome lhe dar, não sabia o que lhe chamar. Não tinha nome para ela, como se fosse uma existência em branco que me criava pânico. Como se não soubesse quem ela era, mesmo sendo minha, talvez mais minha ainda por isso. Lembrei-me por causa da papoila, mas não sei porquê. Coisas doidas como eu...]
[talvez seja do tempo, deste que vejo do lado de fora das janelas mas onde pareço afundar-me como se fôssemos um só, talvez seja da chuva pequenina a pedir lareira para crescerem rios em nós, que lavem e alimentem a terra dos frutos por vir, ou talvez seja só o cansaço cansado de ser, ou talvez nada, não sei, mas este tempo caiu-me assim em palavras. Ou saiu-me. E a papoila, que gosto tanto - selvagem, duma fragilidade cheia de força, de sobrevivência que agarra a terra, é como uma beleza, mas triste - tão ao jeito das coisas que se ajeitam tão bem no por dentro de mim... e ao escrever isto acabo de me lembrar que sonhei que tinha tido outra filha... e com ela nos braços, acabada de ser, assim pequenina, com um calor imenso e doce, eu estava, ao mesmo tempo, apavorada, porque não sabia que nome lhe dar, não sabia o que lhe chamar. Não tinha nome para ela, como se fosse uma existência em branco que me criava pânico. Como se não soubesse quem ela era, mesmo sendo minha, talvez mais minha ainda por isso. Lembrei-me por causa da papoila, mas não sei porquê. Coisas doidas como eu...]
“Que dias há que na alma me tem posto
ResponderEliminarUm não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.” Luís Vaz de Camões
Vi, muito ânimo .😊😊
É mesmo isso... Camões bem sabia, uma coisa de alma que vem não sei de onde ou porquê... ele via longe e bem (mesmo tendo perdido uma vista) ;)
EliminarBom dia, Legionário