quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

[ foto @jessicaleedoran]

Não foram pesadelos. Não propriamente, mas uma amálgama de angústias corria-me nas veias. E não sei porquê. Repetia aquela frase e olhava para aquela casa, que não era minha. Repetia a frase ou ouvia-a?? Não sei, mas a frase estava dentro de mim, ecoava por dentro, batia-me nas paredes da alma com estrondo. E aquela angústia tremenda... mas porquê? A casa abandonada, cinzenta, janelas cerradas, cores comidas por um sol que já parecia nem existir, também ele a abandonara, deixando um rasto descolorido, seco, morto. O jardim eram só restos mortais de flores, uma antiga opulência feliz em ruínas, tudo estava seco, nem ervas tinham rebentado para ocupar a terra e o olhar. 
Mas o que querias?? Quando se abandona, nunca se regressa para o que se deixou. As casas também se magoam, deixam-nas fechadas, trancadas, ao frio, à chuva, ao vento que arrasta tudo, às vezes começam a pingar por dentro, as paredes começam a ter rugas por fora que nasceram de dentro, e ninguém cuida, ninguém quer saber. Quando se abandona não se quer saber. Mesmo que se regresse. A morada será a mesma, a casa não. A solidão por abandono não é adubo de felicidade, tal como a seca não faz florescer.
Mas o que querias? Quando se abandona nunca se regressa para o que se deixou. - ouvia repetidamente, sem saber se o ouvia por dizê-lo, se por mo dizerem. E a angústia seria por não o sabendo, perceber tão bem o que ouvia, ou por sentir que não o entendiam? Não sei, que angústia.

[será que sinto que estou a abandonar aquela gente, como tanta gente, tantas vezes, me abandonou? será isso?]


2 comentários:

  1. O sub consciente tem uma forma estranha de nos fazer ver ou sentir certas coisas.
    :)
    Boa tarde Olvido

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  2. É verdade, como se nos obrigasse a ver de olhos fechados o que não vemos de olhos abertos...
    Boa tarde, JI

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