sexta-feira, 16 de junho de 2017

[foto @s_fantine]

Às vezes dou por mim a escrever sobre as coisas como se ainda fossem reais, como se algumas vez tivessem sido, como se não houvesse recantos da memória que se inventam e reinventam sem nunca terem nascido na curva dum dia que se viveu, que foi. É (também) nessas alturas que as palavras desprezam a realidade e correm soltas para onde querem, mesmo onde nunca estiveram. Dou por mim a pairar sobre pensamentos e rastos de memórias, donde avisto algumas histórias como tendo servido ao menos para isso: para encantar as palavras e ser-lhes musa e mote, ponto de partida onde nunca se chega ou chegou, mas sempre algo que me vai acompanhando. Mesmo que eu me pareça cada vez mais distante, estou ainda terrivelmente perto, como um quadro por que passamos todos os dias... nuns paramos e admiramos, noutros quase o veneramos, noutros a pressa e o resto da vida asfixia qualquer encantamento ou contemplação. Qualquer que seja o dia o quadro está perto, mas tão longe que nunca faremos parte, nunca seremos ou fomos o quadro, mesmo que esteja na nossa parede... Tão perto que se alcança todos os pormenores, tão longe que as mãos não podem tocar. Talvez tudo isto seja parecido. Estou longe, mas, ao mesmo tempo, é esse o único encantamento interior que bebo, que me nutre e me afoga, em que me refugio e em que me perco, que me toca sem me aflorar. Reinvento-me a cada dia em palavras filhas de memórias que não inventei (tenho a certeza que não) mas que, aparentemente, não chegaram a ser reais. Um grande amor, forte, à prova de tempo e de todas as provas, é feito e vivido a dois. Eu sempre o vivi sozinha, sei-o agora... então quanto de realidade tem esse sonho? Não sei, mas vou-o escrevendo como sinto que o vivi, indiferente a qualquer outra realidade, ou talvez, à realidade... terá sido só uma realidade sonhada, ou um sonho mal vivido que corrijo escrevendo, o que vivendo, não chegou a realidade... mesmo que o tenha saboreado... e haverá diferença? Qual será a verdadeira diferença entre o realmente sentido e o vivido que nos submerge a pele num sonho que se sente?

2 comentários:

  1. Gosto como fazes isso, como as palavras te correm livres entre a realidade e sonho :)
    Bom fim de semana menina sonhadora, não esqueças mas é de viver o melhor da realidade!
    Beijo, Vi

    Nanda

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    Respostas
    1. É o que ando a ver se aprendo ;) acho que estou melhor nessa matéria devo dizer...
      bom fim‑de‑semana, Nanda :)

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