quinta-feira, 1 de junho de 2017


E agora fiquei a pensar que há coisas estranhas que me podiam parecer coisas que na verdade não podem ser, que não haveria maneira de poderem ser, nem lógica, nem razão, mas fica-me uma sensação estranha, como em tanta coisa fica mas que não é nada, que depois passa e leva a estranheza na correnteza dos dias. Aprendi a não querer pensar nelas, ou ando a aprender. Porque não são estranhas, estranha sou em estranhá-las, por de repente me lembrarem outras que já morreram, mas que, mais vezes que gostaria, me surpreendem em saudades do que sei que nunca existiu. Do que existiu mesmo -  da realidade que se me cravou na pele até à alma -, não tenho saudades. Talvez tenha saudades do sonho e de o sonhar, como de uma droga que nos mata mas nos extasia de vida, que sabemos sugar-nos em dobro do que dá.
Hoje o cansaço e as chatices vergaram-me, nem a varanda me puxa, e o cigarro já me mora nas mãos enquanto a bicha me habita os pés, como todas as noites enquanto me sento aqui. Talvez o dia, tão acelerado e amargo, me tenha levado as palavras, ou talvez eu fuja delas por comodismo, não sei. Sei que quero dormir e com o fechar dos olhos desligar do dia, de mim, de tudo o que não chega a ser nada. E depois percebo que tudo é nada, todos os dias.

4 comentários:

  1. Vi, a vida é mãe nem sempre carinhosa, mas tem uma varinha de condão especial: o mistério com que embrulha todas as coisas, e algumas deixa invisíveis;)

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    1. Que imagem bonita, Legionário, essa de o mistério embrulhar todas as coisas, é verdade realmente, e esse mistério se às vezes nos embrulha numa manta que acalenta, outras parece esfriar-nos os sentidos e o olhar. Mas até deixarem de ser invisíveis, até deixarem o mistério para se mostrarem como presente, não saberemos se é de ter frio ou calor... ;)

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  2. Então, querida Vi! Olha que nem sempre (que tragédia!) Nem sempre tudo é nada. Andas muito cansada, mas é. Espero que tenhas tido um soninho descansado.
    Sabes Vi, grande parte da minha vida teve e tem dessas coisas e sensações estranhas sombrias sem lógica. Fugidias...E olha que giro: algo no teu post me faz lembrar a "Carta" dos Toranja. Curiosamente ainda hoje e de regresso a casa cantarolei "...Saudade é o ar que vou sugando e aceitando como fruto de Verão... Mas sinto que sabes que sentes também que num dia maior serás trapézio sem rede a pairar sobre o mundo e tudo o que vejo..." Coisa linda! não é? Adoro:)
    Beijo grande
    Nanda

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    1. Sim, nisso tens razão anda cansada e mesmo quando paro não quer dizer que descanse, precisava de uns tempos sozinha longe de tudo para me chegar perto por dentro, mas não pode ser!!... e talvez me falte um poiso que me tranquilize e acalente, me faça esquecer os dias, ou alguns deles.
      :) Trapézio sem rede fui eu tempo demais tenho ainda os ossos colados a lágrimas secas para o provar. Não me parece que me vá meter em mais malabarismos, agora pé no chão e rede no coração, que estou fartinha disto ;))
      beijo, querida Nanda já te sentia a falta, moça :)

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