segunda-feira, 5 de junho de 2017

[foto @moniblanco]

A realidade tem a mania de mudar sem nunca nada ter mudado, como uma luz que deixa de iluminar, deixando os olhos cegos para tudo o que permanece igual, assim como o seu contrário - quando a luz incide sobre o que estava oculto sob o manto da escuridão. Tudo permanece igual, só nós vemos diferente. E se às vezes a escuridão traz o medo pela mão, outras é a luz que nos faz temer. O conforto é sempre uma ilusão de ausência de confronto com o que não esperamos. 
Escrevo isto e percebo que ganhei medos por um dia se terem iluminado partes de mim que não conhecia, não o poderia esperar, para depois se terem de conformar com uma nova escuridão: esquecermos o que fomos, o que tivemos, o que sonhámos, até aquele dia em que despertámos. Nesse dia acordamos a perguntarmo-nos se sempre fomos assim e não sabíamos, ou se só somos assim pela luz de alguém que nos ilumina e nos dá sentido. Mas se for assim, então como podemos nós perder uma parte de nós que não é nossa? Que nunca foi? Como é que nos falta uma parte de nós que nunca fomos nós? Que é território estranho a que se chega só por alguém que é ponte para uma margem de nós.
Continuo a ter perguntas que só se vergam ao cansaço, aos vários cansaços que me vestem e isolam a pele, acumulo-os como se acumulam os anos no olhar, na desesperança no sorriso, na solidão dos dias. É curioso como no fim de contas é o cansaço que me salva de mim. De tudo o que já não sou.
Eu já fui outra e não mudei, apenas me apagaram a luz.

2 comentários:

  1. Vi, ainda bem que foi uma luz que se apagou. Quando não contares, tu, ou outro vão acender a luz. É assim a vida, é uma das belezas da vida o apagar e o reacender da luz ;)
    Belive me i've been there :)

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    1. Isto da luz intermitente é uma loucura ... Mas disso tu sabes, nao é, Miguel? ;)

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