sexta-feira, 2 de dezembro de 2016


[foto: @paradoxos]

"Já não escrevo poesia para mudar o mundo 
mas tão-só para evitar que o mundo me mude a mim."

Manuel António Pina

... mas muda, vai mudando, pétalas vão caindo, as pequenas memórias vão morrendo, os sorrisos perdem elasticidade, o coração encarquilha, a poesia voa-nos do olhar. Vão-se arranjando e aplicando pensos rápidos para dores lentas, vamos enganando a vida com o tempo disfarçado de dias, mas em que o tempo não chega a ser tempo, e os dias não chegam a contar. O tempo só faz de conta de alguma coisa que não sabemos, mas que nesse jogo de faz de conta que conta já perdemos, ainda que os dias não passem porque não acertam contas com o tempo que conta... Mas já nem queremos saber o que, ou como, perdemos, são contas que queremos perder sem fazer de conta. Vamos, a pensos rápidos, tentando enganar lentamente a mágoa a prestações. A mágoa que não faz de conta e nos muda, lentamente, o mundo a cada dia, que nos sufoca a poesia que não nos respira, e isso muda-nos o poema da vida.

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