Que te despi do calor da minha pele
Como uma segunda pele
Hoje foi o dia em que, vendo-te,
Mal te olhei e não me vi
Não me encontrei
Vi-te despido onde eu nunca fui pele
Nem calor, nem amor,
E no frio da noite em cinzas
Sozinha no silêncio dum cigarro a fumegar
As palavras, a queimar,
soltaram-se da boca
Alto e bom som,
Para ninguém ouvir,
Senão eu e o cigarro a consumir-se pelas mãos do coração,
O que sempre quis pensar sem ter coragem de sentir
Despi-te de mim em palavras
Quando despi as tuas palavras em actos
Que ninguém ouviu
A não ser a minha vida
Desgarraram-se de repente e sem aviso
Num baptismo nocturno que me nasceu na boca,
e disseram o que és,
o que sempre foste,
sem nunca querer acreditar chamar-to com vontade e propriedade
Desejei que morresses todos os dias um bocadinho,
Não, não de repente, não de vez,
apenas o suficiente para que sintas inteira
A morte lenta da vida e do calor
Nos dias que se comem uns aos outros
sem alimentar ninguém,
Nas rasteiras da vida que mordem os calcanhares
Que fazem perder todas as guerras
Quero que sintas a asfixia de cada respiração,
quero que morra todos os dias um bocadinho de ti
Como me mataste da minha própria pele
Como me mataste da minha própria pele
Como me mataste de mim
Como me mataste a esperança em mentiras aguçadas,
Como me enganaste a cada morte que ressuscitaste
Como me mataste a esperança em mentiras aguçadas,
Como me enganaste a cada morte que ressuscitaste
para me agonizar outra vez
Não, não é ódio,
é só a tua nudez das velhas mentiras,
Cozinhadas em fogo e temperadas de doce de amora.
É a tua nudez e a minha.
Despi-te de mim
como se atira ao chão o que trazemos vestido
mas não precisamos.
A nossa pele chega.
Para mim chega.
é só a tua nudez das velhas mentiras,
Cozinhadas em fogo e temperadas de doce de amora.
É a tua nudez e a minha.
Despi-te de mim
como se atira ao chão o que trazemos vestido
mas não precisamos.
A nossa pele chega.
Para mim chega.
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