A alma guarda o que a mente recorda mentindo.
Esta frase surgiu-me não sei de onde, mas tem-me andado a morder os minutos parados há dias. Escrevi-a numa viagem para o trabalho para que me deixasse trabalhar quando chegasse... mas a verdade é essa: a memória é muito manipuladora, por mentira e omissão. Recorda o que, sendo bom, nos aperta as feridas em nós de sal por dentro do peito. Quanto mais doces as recordações mais amargo é recordá-las. A memória recorda sempre como lhe apetece olhar o passado, mais do que ver o que realmente se passou. Estranho, porque assim o passado custa mais, por não haver, nessa coisa do tempo, a possibilidade de inversão de sentido, ou de repetição... como dizia Kundera, na sua insustentável leveza do ser, cada instante tem em si o peso da eternidade, porque não volta mas às vezes revolta, e afunda-nos o presente no passado - como se rasgasse o tempo já rasgado.
Sem comentários:
Enviar um comentário