Ando estranha, deve ser da altura do ano - aniversário, Natal e passagem de ano é um tríptico do mês que me trespassa como um tridente.
Dou por mim a vaguear pela cidade, a conduzir sem rumo, a soltar a alma, e venho parar aqui. Olho as folhas amarelas pela luz e pela natureza do frio que estala nas veias cansadas. Já não vinha aqui há meses. Acho que vim aqui fazer o que aqui sempre fiz... Fumar um cigarro e namorar, mas desta vez só se for namorar a lua e os pensamentos... Nada mais. Estão três graus, acusa o carro, e eu, se calhar, estou mais fria, estou esquisita... pergunto-me porque estou realmente aqui e isso preocupa-me, estar aqui e não saber bem porquê, apenas que estou esquisita, com uma sensação estranha. O final do ano é sempre uma sensação de balanço de olhar para trás e perceber o que fiz no ano, o que mudou, o que consegui mudar e o que simplesmente não consigo, não consegui. Houve histórias que aconteceram, mesmo que quase de raspão, que mostram, que me dizem alto e bom som, que comecei o caminho que deixa o passado num apeadeiro onde não se retorna, onde já não entra nem sai ninguém, essas coisas de que quero libertar-me, grilhetas que não me deixam deixar de olhar para trás com saudade e tanta mágoa, desprender-me do que me prende os pés e os passos. Histórias que me provam finalmente que quero, que tenho vontade de largar o passado, e principalmente que sou capaz de estar com outras pessoas.
Enfim... Continuo sem perceber porque estou aqui... Quero-me sentir mais perto de quê, de quem? Desse passado? Daquele que quero largar? do passado de que me quero vingar sem ter de quem me vingar?... Engraçada esta palavra vingança, só existe se o outro a sentir e no entanto fazem-se coisas numa espécie de sensação em seu nome, mas de que o outro nunca saberá... Deve ser só necessidade de provar a nós próprios alguma coisa... Mas o quê? Que fui parva e estúpida e agora o reconheci mas já vou tarde? Será isso? Se calhar estou a vingar-me de mim, o que seria de certeza uma coisa dos píncaros da inteligência dum burro...
...Mas agora calar os dedos e olhar a lua a fumar um cigarro...
Cigarro fumado concluo que não posso mais vir aqui, parar aqui, a cada segundo toca uma música que só se ouve por dentro da minha cabeça. E agora eu sei, sei que são só coisas, músicas, da minha cabeça - só da minha cabeça. Sei e sinto. Estou esquisita, não sei porque vim aqui parar. Mas, ao menos, talvez já saiba como vim aqui parar...
ResponderEliminarBem sei, o passado pode atormentar e de que maneira. Minha querida e doce Vi,tenta livrar- te do que te amargura e procura viver o teu presente como uma dádiva.
Faz um bom regresso a casa.
Estamos contigo.
Beijo de Feliz Aniversário e abraço caloroso de Boas Festas!
nanda
que texto bonito...
ResponderEliminarno fim do ano também faço balanços. há dias que também não sei muito bem porque vou onde vou.
mas pelo que li, descobriste porque aí foste. ter percepção das coisas é meio caminho andado para que se possa seguir caminho.
espero que o teu seja bom em 2017.
um beijinho
Obrigada, Laura.
ResponderEliminarEspero que 2017 finalmente seja caminho. Os caminhos levam a algum lado, nos últimos anos acho que tenho caminhado sem caminho...
Que o teu 2017 venha cheio de música no corpo e nas palavras :)
Beijinho
Obrigada, já estou mais velha um ano há umas semanas :D estou quase velha!!!
ResponderEliminarQue 2017 te traga tudo o que precisas para seres muito feliz :))
Beijinhos