“Um grande amor aquele vazio inominável, em que se debatiam tantas atitudes contraditórias de atracção e de repulsa? Na verdade, eu detestava a Mercedes e desejava-a sequiosamente. Não. Amava-a profundamente, e não a desejava senão como uma ocasião de precisamente esquecer, nos braços dela, que a amava. Tanto. Tão dolorosamente. Tão enciumadamente. Tão orgulhosamente. Tão envergonhadamente de continuar a amá-la e desejá-la.”
Jorge de Sena, in Sinais de fogo
[Será assim o amor? De atitudes contraditórias? De detestar e desejar e amar?
É um pouco assim que sinto amor, entre detestar tanta coisa e ao mesmo tempo amar por algumas dessas mesmas razões, que não me beneficiam ou facilitam a vida, mas que aprecio, e todas as outras sem razão nenhuma... ama-se só porque sim, porque o amor nos tem, e mais nada. Há algo que aqui é dito que me faz muito sentido, é quando estamos nos braços de quem amamos que nos esquecemos que amamos, como se precisássemos desses momentos para descansar do amor que temos vivendo-o. Se calhar só se descansa do amor vivendo-o. Ou talvez nesses momentos não tenhamos consciência de que amamos, porque o amor nos absorve, nos consome, nos engole - entregamo-nos inteiros e nada resta de tão nosso que chegue para ter consciência lúcida do que for. Talvez por isso esses momentos sejam de liberdade total, libertamo-nos até de nós e da consciência dum amor que nos leva, ainda que momentaneamente, a consciência de ser. E isto é coisa para ser uma sensação viciante.
Falha-me a vida, tão indiscutível e rigorosamente como um relógio que nunca perde o tempo certo do tempo, e eu volto a mergulhar em palavras que não são minhas para escapar à minha vida e encontrá-la nas palavras dos outros.]
Falha-me a vida, tão indiscutível e rigorosamente como um relógio que nunca perde o tempo certo do tempo, e eu volto a mergulhar em palavras que não são minhas para escapar à minha vida e encontrá-la nas palavras dos outros.]
Às vezes acontece-me odiar porque amo. Enfim. Um destes passa, não é muito grave.
ResponderEliminarDeixo um beijo no teu coração, Vi. :)
Às vezes acontece dar uma certa raiva o chamado amor-desperdício... será isso?
Eliminarum beijo para ti, Alaska :)
*dia
Eliminaré, Vi., penso que tens razão.
um beijo de boa noite. :)
(* eu percebi ;) )
Eliminarboa noite, sonha muito mas não os vivas (só) de olhos fechados ;))
beijo
Às vezes o amor é assim, obsessivo, e às vezes o maior ato de amor é afastarmo-nos da obsessão. Porque antes de amarmos os outros, convém amarmo-nos. E isso de nos encontrar-mos nas palavras dos outros pode ser uma coisa muito interessante, não pode? :)
ResponderEliminarEu acho muito interessante, sim, faz-nos pensar, mas assim não nos conseguimos afastar da nossa própria realidade... e às vezes é mesmo o objectivo quando me enfio num livro ;)
EliminarBem vinda, carpe vitam